Os Sacramentos

Capítulo Vinte e Três (Chapter Twenty-Three)

Jesus só deu à Igreja dois sacramentos: batismo nas águas (veja Mt. 28:19) e a Santa Ceia (veja 1 Co. 11:23-26). Estudaremos primeiro o batismo nas águas.

Debaixo na nova aliança, todo crente deve experimentar três batismos diferentes. Eles são: o batismo no corpo de Cristo, batismo nas águas e batismo no Espírito Santo.

Quando uma pessoa renasce, ela é automaticamente batizada no corpo de Cristo. Isto é, se torna membro do corpo de Cristo, a Igreja:

Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito (1 Co. 12:13; veja também Rm. 6:3; Ef. 1:22-23; Cl. 1:18, 24).

Ser batizado no Espírito Santo é uma experiência subsequente à salvação, e esse batismo pode e deve ser recebido por todos o crentes.

Todo crente deve ser batizado nas águas o mais cedo possível depois de se arrepender e crer no Senhor Jesus. O batismo deve ser o primeiro ato de obediência do novo crente:

E [Jesus] disse-lhes: “Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado (Mc. 16:15-16, ênfase adicionada).

A igreja primitiva considerava o mandamento do batismo de Jesus muito importante. Quase sem exceção, novos convertidos eram batizados quase imediatamente depois de suas conversões (veja At. 2:37-41; 8:12-16, 36-39; 9:17-19; 10:44-48; 16:31-33; 18:5-8; 19:1-5).

Algumas Ideias Não-Bíblicas Sobre o Batismo (Some Unscriptural Ideas About Baptism)

Alguns batizam aspergindo algumas gotas de água sobre o novo convertido. Isso está correto? O verbo traduzido batizar no Novo Testamento é a palavra grega baptizo, que significa literalmente “imergir”. Portanto, os que são batizados na água devem ser imersos e não simplesmente aspergidos com algumas gotas. O simbolismo do batismo cristão, que estudaremos logo mais, também sustenta a ideia de imersão.

Alguns batizam bebês, mas não há exemplos bíblicos de bebês sendo batizados. Tal prática tem origem na falsa doutrina de “regeneração batismal” — a ideia de que uma pessoa renasce no momento em que é batizada. As Escrituras deixam bem claro que as pessoas devem primeiramente crer em Jesus antes de serem batizadas. Portanto, crianças que são crescidas o suficiente para se arrependerem e seguirem a Jesus se qualificam ao batismo, mas não bebês e crianças pequenas.

Alguns ensinam que, mesmo que alguém creia em Jesus, não é salvo até que seja batizado nas águas. Isso não é verdade de acordo com as Escrituras. Lemos em Atos 10:44-48 e 11:17 que a casa de Cornélio foi salva e batizada no Espírito Santo antes de qualquer um deles ter sido batizado nas águas. É impossível que alguém seja batizado no Espírito Santo sem antes ser salvo (veja Jo. 14:17).

Outros ensinam que, a menos que alguém seja batizado de acordo com o seu método em particular, não é salvo. As Escrituras não dão rituais específicos a serem seguidos para batismos corretos. Por exemplo, alguns dizem que um crente não é salvo se for batizado “no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt. 28:19) ao invés de “no nome do Senhor Jesus” (At. 8:16). Essas pessoas demonstram o mesmo espírito que dominava os escribas e fariseus, coando as moscas e engolindo os camelos. É uma tragédia que cristãos discutam por causa das palavras corretas a se dizer durante o batismo enquanto o mundo espera para ouvir o evangelho.

O Simbolismo Bíblico do Batismo (The Scriptural Symbolism of Baptism)

O batismo na água simboliza várias coisas que já acontecerem na vida do novo convertido. Ele representa o simples fato de termos nossos pecados lavados e agora estamos limpos diante de Deus. Quando Ananias foi enviado a Saulo (Paulo) logo depois de sua conversão, Saulo disse a ele:

E agora, que está esperando? Levante-se, seja batizado e lave os seus pecados, invocando o nome dele (At. 22:16, ênfase adicionada).

Segundo, o batismo nas águas simboliza nossa identificação com Cristo em Sua morte, enterro e ressurreição. Uma vez que renascemos e somos colocados no corpo de Cristo, Deus nos considera “em Cristo” deste ponto em diante. Por Jesus ter sido nosso substituto, Deus atribui a nós tudo o que Ele fez. Portanto, “em Cristo” morremos, fomos enterrados e ressuscitamos para vivermos como novas pessoas:

Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova (Rm. 6:3-4).

Isso aconteceu quando vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Cl. 2:12).

Cada novo crente deve aprender essa verdades importantes quando é batizado nas águas, e deve ser batizado o mais cedo possível depois de crer em Jesus.

A Santa Ceia (The Lord’s Supper)

A Santa Ceia tem origem na Páscoa do Velho Testamento. Na noite em que Deus libertou Israel da escravidão do Egito, instruiu que cada casa matasse uma ovelha de um ano e passasse o sangue no batente das portas de suas casas. Quando o “anjo da morte” passasse pela nação naquela noite, matando todos os primogênitos do Egito, veria o sangue nas casas dos israelitas e passaria adiante.

Além do mais, os israelitas iam celebrar a festa naquela noite comendo o cordeiro da Páscoa e pães sem fermento por sete dias. Esta deveria ser uma ordenança permanente a Israel, celebrado no mesmo tempo cada ano (veja Ex. 12:1-28). Obviamente, o cordeiro da Páscoa representava a Cristo, que é chamado de “nosso Cordeiro pascoal” em 1 Coríntios 5:7.

Quando Jesus instituiu a Santa Ceia, Ele e Seus discípulos estavam celebrando a Páscoa. Jesus foi crucificado durante a Páscoa, verdadeiramente cumprindo Seu chamado como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo. 1:29).

O pão que comemos e o vinho que tomamos são simbólicos ao corpo de Jesus, que foi partido por nós, e Seu sangue, que foi derramado pela remissão de nossos pecados:

Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo: “Tomem e comam; isto é o meu corpo”. Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: “Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai” (Mt. 26:26-29).

O apóstolo Paulo contou a história desta maneira:

Pois recebi do Senhor o que também lhes entreguei: Que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim”. Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso sempre que o beberem em memória de mim”. Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha (1 Co. 11:23-26).

Quando e Como (When and How)

As Escrituras não nos dizem de quanto em quanto tempo devemos tomar a Santa Ceia, mas deixam claro que na igreja primitiva era feito com regularidade em reuniões nas casas, como refeição (veja 1 Co. 11:20-34). Por causa da Santa Ceia ter origem na refeição de Páscoa, era parte de uma refeição completa quando instituída por Jesus, e era comida como refeição pela igreja primitiva, e é assim que deve ser praticada hoje. Mesmo assim, uma grande parte da igreja segue “as tradições dos homens”.

Devemos nos aproximar da Santa Ceia com reverencia. O apóstolo Paulo ensinou que era uma ofensa séria tomar da Santa Ceia de maneira indigna:

Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram. Mas, se nós tivéssemos o cuidado de examinar a nós mesmo, não receberíamos juízo. Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo (1 Co. 11:27-32).

Somos encorajados a examinar e julgar a nós mesmos antes de tomarmos da Ceia do Senhor, e se descobrirmos algum pecado, devemos nos arrepender e confessá-lo. Caso contrário, seremos culpados “de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor”.

Por Jesus ter morrido e derramado Seu sangue para nos libertar do pecado, certamente não iremos querer tomar dos elementos que representam Seu corpo e sangue se estivermos com algum pecado não confessado. Se quisermos, podemos comer e beber trazendo julgamento sobre nós mesmos em forma de doenças e morte prematura, como os cristãos de Corinto. A maneira de evitarmos a disciplina de Deus é “examinar a nós mesmos”, isto é, reconhecer e nos arrepender de nossos pecados.

O principal pecado dos cristãos de Corinto era a falta de amor; eles argumentavam e brigavam uns com os outros. Aliás, sua falta de consideração até se manifestava durante a Santa Ceia quando alguns comiam enquanto outros ficavam com fome e alguns até se embebedavam (veja 1 Co. 11:20-22).

O pão que comemos representa o corpo de Cristo, que agora é a Igreja. Partimos um pão, representando nossa unidade como um corpo (veja 1 Co. 10:17). É um crime tomar o que representa o corpo de Cristo enquanto estamos envolvidos em brigas e desarmonia com outros membros daquele corpo! Antes de tomarmos a Santa Ceia, precisamos ter certeza de que nossos relacionamentos com nossos irmãos e irmãs em Cristo estão corretos.

Louvor e Adoração

Capítulo Vinte (Chapter Twenty)

Disse a mulher: “Senhor, vejo que é profeta. Nossos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”. Jesus declarou: “Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”. (Jo. 4:19-24).

Essas palavras dos lábios de Jesus lançaram o alicerce para o nosso entendimento dos aspectos mais importantes da adoração. Ele falou de “verdadeiros adoradores” e descreveu suas qualificações. Isso indica que há adoradores, que não são verdadeiros. Eles podem pensar que estão adorando a Deus, mas na verdade não estão, pois não preenchem Seus requisitos.

Jesus declarou o que caracteriza verdadeiros adoradores — eles adoram “em espírito e em verdade”. Portanto, pode ser dito que falsos adoradores são aqueles que adoram “em carne e insinceridade”. Adoradores falsos e carnais podem parecer verdadeiros, mas é tudo mentira, já que não têm um coração que ama a Deus.

A verdadeira adoração só pode vir de um coração que ama a Deus. Portanto, a adoração não é somente algo que fazemos quando a igreja se reúne, mas algo que fazemos a cada momento de nossas vidas enquanto obedecemos aos mandamentos de Cristo. O que é interessante é que a mulher com quem Jesus estava falando tinha sido casada cinco vezes, estava vivendo com um homem e queria debater sobre o local próprio para adorar a Deus! Ela é um perfeito exemplo de muitas pessoas religiosas que vão aos cultos enquanto em seu viver diário se rebelam contra Deus. Elas não são adoradores verdadeiros.

Uma vez, Jesus repreendeu os escribas e fariseus por sua falsa adoração:

Hipócritas! Bem profetizou Isaías acerca de vocês, dizendo: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em, vão me adoram. Seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens” (Mt. 15:7-9, ênfase adicionada).

Os judeus e samaritanos nos dias de Jesus enfatizavam muito o local onde o povo adorava, mas Jesus disse que o local não é importante. O que importa é a condição dos corações das pessoas para com o Senhor; isso sim, determina a qualidade de sua adoração.

Muito do que é chamado “adoração” nas igrejas de hoje não passa de um ritual morto encenado por adoradores mortos. As pessoas repetem, sem pensar, as palavras de outras pessoas sobre Deus quando cantam “canções de adoração”, e seu louvor é em vão, pois seus estilos de vida mostram o que realmente está em seus corações.

Deus prefere ouvir um simples “eu te amo” de coração de um de Seus filhos obedientes e verdadeiros a aguentar a monotonia de mil crentes em um domingo de manhã cantando “Quão Grande És Tu”.

Adorando em Espírito (Worshipping in Spirit)

Alguns dizem que adorar “em espírito” significa orar e cantar em outras línguas, mas essa interpretação parece forçada, se vista à luz das palavras de Jesus. Ele disse que “está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade”, indicando que já havia pessoas que O adoravam “em espírito” quando disse isso. É claro que ninguém falou em línguas até o dia de Pentecoste. Portanto, qualquer crente, podendo falar em línguas ou não, pode adorar a Deus em espírito e em verdade. Certamente, orar e falar em línguas pode ajudar um cristão em sua adoração, mas até orar em línguas, pode se tornar um ritual superficial.

Temos uma perspectiva interessante do louvor da igreja primitiva em Atos 13:1-2:

Na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo. Enquanto adoravam o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado” (ênfase adicionada).

Note que esta passagem diz que “adoravam o Senhor”. Parece razoável pensar que estavam ministrando a Ele; e portanto, aprendemos que a verdadeira adoração ministra ao Senhor. Contudo, isso só é real quando o Senhor é o objeto de nosso louvor e afeição.

Formas de Adorar (Ways to Worship)

O livro de Salmo, que pode ser chamado de hinário de Israel, nos encoraja a adorar ao Senhor de várias formas diferentes. Por exemplo, lemos em Salmos 32:

Cantem de alegria, todos vocês que são retos de coração (Sl. 32:11b, ênfase adicionada).

Mesmo que a adoração quieta e reverente tenha a sua hora, cantar de alegria também tem.

Cantem de alegria ao Senhor, vocês que são justos; aos que são retos fica bem louvá-lo. Louvem o Senhor com harpa; ofereçam-lhe música com lira de dez cordas. Cantem-lhe uma nova canção; toquem com habilidade ao aclamá-lo (Sl. 33:1-3, ênfase adicionada).

Devemos, é claro, cantar ao Senhor em adoração, mas nossa canção deve ser de alegria, que é outra indicação da condição do coração de alguém. Também podemos acompanhar nossa canção de alegria com vários instrumentos musicais. Contudo, devo mencionar que em muitas reuniões nas igrejas, os instrumentos musicais elétricos são tão altos que abafam as canções por completo. Eles devem ser abaixados ou desligados. O salmista nunca teve esse problema!

Enquanto eu viver te bendirei, e em teu nome levantarei as minhas mãos (Sl. 63:4, ênfase adicionada).

Como sinal de rendição e reverência, podemos levantar nossas mãos a Deus.

Aclamem a Deus, povos de toda terra! Cantem louvores ao seu glorioso nome; louvem-no gloriosamente! Digam a Deus: “Quão temíveis são os teus feitos! Tão grande é o teu poder que os teus inimigos rastejam diante de ti! Toda a terra te adora e canta louvores ao teu nome (Sl. 66:1-4, ênfase adicionada).

Devemos dizer ao Senhor quão magnífico Ele é e adorá-Lo por Seus maravilhosos atributos. O livro de Salmos é um ótimo lugar para encontrarmos palavras apropriadas com as quais possamos adorar a Deus. Precisamos ir além da repetição contínua de “Eu te louvo Senhor!” Há tantas outras coisas para dizermos a Ele.

Venham! Adoremos prostrados e ajoelhados diante do Senhor, o nosso Criador (Sl. 95:6, ênfase adicionada).

Até nossa postura pode ser uma expressão de adoração, seja de pé, de joelhos ou prostrados.

Regozijem-se os seus fiéis nessa glória e em seus leitos cantem alegremente (Sl. 149:5, ênfase adicionada)!

Não precisamos estar em pé ou ajoelhados para adorar — podemos estar deitados, na cama.

Entrem por suas portas com ações de graças, e em seus átrios, com louvor; dêem-lhe graça e bendigam o seu nome (Sl. 100:4, ênfase adicionada).

Com certeza, dar graças deve ser parte de nossa adoração.

Louvem eles o seu nome com danças (Sl. 149:3a, ênfase adicionada).

Podemos adorar a Deus até com danças. Mas não devem ser danças carnais, sensuais ou por simples diversão.

Louvem-no ao som de trombeta, louvem-no com lira e a harpa, louvem-no com tamborins e danças, louvem-no com instrumentos de cordas e com flautas, louvem-no com címbalos sonoros, louvem-no com címbalos ressonantes. Tudo o que tem vida louve ao Senhor! Aleluia (Sl. 150:3-6, ênfase adicionada)!

Graças a Deus por aqueles que têm dons musicais. Seus dons podem ser usados para glorificar a Deus se tocarem seus instrumentos com os corações cheios de amor.

Canções Espirituais (Spiritual Songs)

Cantem ao Senhor um novo cântico, pois ele fez coisas maravilhosas (Sl. 98:1a, ênfase adicionada).

Não há nada de errado em cantar músicas antigas, a menos que isso se torne um ritual. Então precisamos de um novo cântico que vem de nossos corações. Aprendemos no Novo Testamento que o Espírito Santo nos ajuda a compor novas músicas:

Habite em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração (Cl. 3:16).

Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito, falando entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor, dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (Ef. 5:18-20).

Paulo escreveu que devemos falar uns com os outros com “salmos, hinos e cânticos espirituais”, portanto, deve haver uma diferença entre os três. Um estudo das palavras gregas originais acrescenta pouco, mas talvez, “salmos” significasse cantar os salmos da Bíblia acompanhados de instrumentos musicais. “Hinos”, por outro lado, podem ter sido músicas de ação de graças em geral compostas por vários cristãos das igrejas. “Cânticos espirituais” eram provavelmente, canções espontâneas dadas pelo Espírito Santo e parecidas ao simples dom de profecia, com a diferença de que as palavras seriam cantadas.

Louvor e adoração devem ser parte de nossa vida diária — não somente algo que fazemos quando a igreja se reúne. Durante os dias, podemos ministrar ao Senhor e experimentar uma comunhão muito próxima com Ele.

Louvor — Fé em Ação (Praise — Faith in Action)

Louvor e adoração são expressões normais de nossa fé em Deus. Se realmente acreditamos nas promessas da Palavra de Deus, seremos pessoas alegres, cheias de louvor a Deus. Josué e o povo de Israel tiveram que gritar primeiro, e então os muros caíram. A Bíblia nos adverte a nos alegrarmos “sempre no Senhor” e a dar “graças em todas as circunstâncias” (1 Ts. 5:18a).

Um dos maiores exemplos do poder da adoração é encontrado em 2 Crônicas 20, quando a nação de Judá estava sendo invadida pelos exércitos moabitas e amonitas. Em resposta às orações do rei Josafá, Deus instruiu Israel:

Não tenham medo nem fiquem desanimados por causa desse exército enorme. Pois a batalha não é de vocês, mas de Deus. Amanhã, desçam contra eles…Vocês não precisarão lutar nessa batalha. Tomem suas posições, permaneçam firmes e vejam o livramento que o Senhor lhes dará, ó Judá, ó Jerusalém (2 Cr. 20:15b-17a).

A narrativa continua:

De madrugada partiram para o deserto de Tacoa. Quando estavam saindo, Josafá lhes disse: “Escutem-me, Judá e povo de Jerusalém! Tenham fé no Senhor, o seu Deus, e vocês serão sustentados; tenham fé nos profetas do Senhor, e terão a vitória”. Depois de consultar o povo, Josafá nomeou alguns homens para cantarem ao Senhor e louvarem pelo esplendor de sua santidade, indo à frente do exército, cantando: “Dêem graças ao Senhor, pois o seu amor dura para sempre”. Quando começaram a cantar e a entoar louvores, o Senhor preparou emboscadas contra os homens de Amom, de Moabe e dos montes e Seir, que estavam invadindo Judá, e eles foram derrotados. Os amonitas e os moabitas atacaram os dos montes de Seir para destruí-los e aniquilá-los. Depois de massacrarem os homens de Seir, destruíram-se uns aos outros. Quando os homens de Judá foram para o lugar onde se avista o deserto e olharam para o imenso exército, viram somente cadáveres no chão; ninguém havia escapado. Então Josafá e os seus soldados foram saquear os cadáveres e encontraram entre eles grande quantidade de equipamentos e roupas, e também objetos de valor; passaram três dias saqueando, mas havia mais do que eram capazes de levar (2 Cr. 20:20-25, ênfase adicionada).

Louvor cheio de fé traz proteção e provisão!

Para maior aprofundamento no estudo sobre o poder do louvor, veja Filipenses 4:6-7 (o louvor traz paz), 2 Crônicas 5:1-14 (o louvor traz a presença de Deus), Atos 13:1-2 (o louvor traz os propósitos e planos de Deus à luz) e Atos 16:22-26 (o louvor traz a preservação de Deus e libertação de prisões).

A Família Cristã

Capítulo Vinte e Um (Chapter Twenty-One)

Deus é claro, foi quem teve a ideia de famílias. Portanto, parece lógico que Ele possa nos oferecer uma visão interna a respeito de como as famílias devem funcionar e possa nos avisar das dificuldades que destroem famílias. O Senhor realmente tem nos dado muitos princípios em Sua Palavra a respeito da estrutura familiar e a parte que cabe a cada membro realizar individualmente. Quando essas instruções bíblicas são seguidas, as famílias experimentam todas as bênçãos que Deus preparou a elas. Quando são violadas, o resultado é caos e aflição.

O Papel de Marido e Mulher (The Role of Husband and Wife)

Deus planejou que a família cristã se encaixasse em certa estrutura. Por essa estrutura prover a estabilidade para a vida familiar, Satanás tenta perverter o plano de Deus.

Primeiro, Deus ordenou que o marido fosse o cabeça da unidade familiar. Isso não dá ao marido o direito de dominar egoisticamente sobre sua esposa e filhos. Deus chamou os maridos para amarem, protegerem, proverem e liderarem suas famílias como cabeças. Deus também planejou que as esposas fossem submissas à liderança de seus maridos. Isso fica bem claro nas Escrituras:

Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como ao Senhor, pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos (Ef. 5:22-24).

O marido não é o cabeça espiritual de sua esposa — é Jesus quem faz essa parte. Jesus é o cabeça espiritual da Igreja e a esposa cristã é membro da Igreja, assim como seu esposo cristão. Contudo, na família, o marido cristão é o cabeça de sua esposa e filhos, e eles devem se submeter a sua autoridade dada por Cristo.

Até que ponto a esposa deve se submeter ao seu esposo? Ela deve se submeter a ele em tudo, assim como Paulo disse. A única exceção a essa regra seria se o esposo esperasse que ela desobedecesse a Palavra de Deus ou fizesse algo que violasse sua consciência. É claro que nenhum esposo cristão esperaria que sua esposa fizesse algo que violasse a Palavra de Deus ou sua consciência. O esposo não é o senhor de sua esposa — somente Jesus ocupa esse lugar em sua vida. Se ela deve escolher a quem obedecer, deve escolher a Jesus.

Os esposos devem se lembrar de que Deus não está necessariamente sempre “do lado do marido”. Uma vez, Deus disse a Abraão para fazer o que sua esposa Sara lhe disse (veja Gn. 21:10-13). As Escrituras também dizem que Abigail desobedeceu a Nabal, seu tolo marido, e preveniu uma catástrofe (veja 1 Sm. 25:2-38).

A Palavra de Deus aos Esposos (God’s Word to Husbands)

Aos maridos, Deus diz:

Maridos, ame cada um a sua mulher, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela… Da mesma forma, os maridos devem amar cada um a sua mulher como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama a si mesmo. Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros do seu corpo… Portanto, cada um de vocês também ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher trate o marido com todo o respeito (Ef. 5:25, 28-30, 33).

Os maridos devem amar suas esposas como Cristo ama a Igreja. Essa responsabilidade não é pequena! Qualquer mulher se submeterá alegremente a alguém que a ama assim como Cristo — que entregou sua própria vida, se sacrificando por amor. Assim como Cristo ama seu próprio corpo, a Igreja, da mesma forma um marido deve amar a mulher com quem é “uma só carne” (Ef. 5:31). Se um marido ama a sua esposa como deve, ele proverá para ela, cuidará dela, a honrará, a ajudará, a encorajará e gastará tempo com ela. Se ele falhar em sua responsabilidade de amá-la, o marido corre perigo de prejudicar a resposta de suas próprias orações:

Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não sejam interrompidas as suas orações (1 Pd. 3:7, ênfase adicionada).

É claro que nunca houve um casamento que fosse completamente sem conflitos e desentendimentos. Contudo, através do comprometimento e desenvolvimento dos frutos do Espírito em nossas vidas, maridos e esposas podem aprender a viver em harmonia e experimentar a bênção crescente do casamento cristão. Através dos problemas inevitáveis que aparecem em todos os casamentos, cada cônjuge pode aprender a crescer em maturidade para ser cada vez mais como Cristo.

Para estudos mais abrangentes sobre os deveres dos maridos e mulheres, veja Gênesis 2:15-25; Provérbios 19:13; 21:9, 19; 27:15-16; 31:10-31; 1 Coríntios 11:3; 13:1-8; Colossenses 3:18-19; 1 Timóteo 3:4-5; Tito 2:3-5; 1 Pedro 3:1-7.

Sexo no Casamento (Sex in Marriage)

Foi Deus quem criou o sexo, e Ele obviamente o criou com o propósito de prazer assim como o de procriação. Contudo, a Bíblia deixa claro que relações sexuais devem ser praticadas somente por aqueles que se uniram em uma aliança de casamento para a vida toda.

Relações sexuais que acontecem fora dos laços matrimoniais são consideradas fornicação ou adultério. O apóstolo Paulo disse que aqueles que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus (veja 1 Co. 6:9-11). Mesmo que um cristão possa ser tentado e possivelmente venha a cometer um ato de fornicação ou adultério, ele sentirá grande condenação em seu espírito que o levará ao arrependimento.

Paulo também deu algumas instruções específicas a respeito das responsabilidades sexuais de maridos e mulheres:

Mas, por causa da imoralidade, cada um deve ter sua esposa, e cada mulher o seu próprio marido. O marido deve cumprir os seus deveres conjugais para com a sua mulher, e da mesma forma a mulher para com o seu marido. A mulher não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim o marido. Da mesma forma, o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Não se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante certo tempo, para se dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo, para que Satanás não os tente por não terem domínio próprio (1 Co. 7:2-5).

Esse versículo mostra que o sexo não deve ser usado como “recompensa” pelo marido ou esposa, pois nenhum tem autoridade sobre seu próprio corpo.

Além do mais, sexo é um presente dado por Deus e não é profano ou pecaminoso desde que seja restrito ao casamento. Paulo encorajou casais cristãos a se unirem em relações sexuais. Além do mais, encontramos esse conselho aos maridos no livro de Provérbios:

Seja bendita a sua fonte! Alegre-se com a esposa da sua juventude. Gazela amorosa, corça graciosa; que os seios de sua esposa sempre o fartem de prazer, e sempre o embriaguem os carinhos dela (Pv. 5:18-19).[1]

Se casais cristãos devem desfrutar de relações sexuais mutuamente gratificantes, maridos e esposas devem entender que há uma grande diferença entre a natureza sexual masculina e a feminina. Em comparação, a natureza sexual masculina é mais física, enquanto a feminina é ligada às suas emoções. Homens se excitam por estimulação visual (veja Mt. 5:28), enquanto mulheres se excitam pelo relacionamento e toque (veja 1 Co. 7:1). Homens são sexualmente atraídos a mulheres que atraem seus olhos; e mulheres, a homens que admiram por motivos além da atração física. Portanto, esposas sábias fazem o melhor para parecerem agradáveis aos seus maridos em todo o tempo. E maridos sábios mostram sua afeição por suas esposas todo o tempo com abraços e atos de bondade, ao invés de esperarem que se excitem em um instante no final do dia.

O grau de desejo sexual de um homem tende a aumentar com a acumulação de sêmen em seu corpo, enquanto o desejo sexual de uma mulher aumenta ou diminui dependendo de seu ciclo menstrual. Homens têm a capacidade de ficar excitados e experimentar o clímax sexual em questão de segundos ou minutos; as mulheres demoram muito mais. Ele pode se preparar fisicamente para o ato sexual em segundos, mas o corpo dela pode não ficar pronto por meia hora. Portanto, maridos sábios empregam tempo em jogos sexuais com carinhos, beijos e estimulação manual das áreas do corpo dela que resultarão em sua preparação para a relação sexual. Se ele não sabe onde ficam essas partes do corpo dela, deve perguntar. Além do mais, ele deve saber que, mesmo que tenha a capacidade de alcançar somente um clímax sexual, sua esposa tem capacidade de alcançar mais. Ele deve lhe dar o que ela deseja.

É vital que maridos e esposas cristãos discutam suas necessidades com honestidade um com o outro e aprendam o quanto possível sobre o funcionalismo do sexo oposto. Com meses e anos de comunicação, descoberta e prática, relações sexuais entre maridos e esposas podem resultar em bênçãos crescentes.

Filhos de uma Família Cristã (Children of a Christian Family)

As crianças devem ser ensinadas a se submeterem e a serem completamente obedientes a seus pais cristãos. E se assim o fizerem, têm como promessa longa vida e outras bênçãos.

Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo. “Honra teu pai e tua mãe” — este é o primeiro mandamento com promessa — “para que tudo te corra bem e tenhas longa vida sobre a terra” (Ef. 6:1-3).

Pais cristãos, como cabeças de suas famílias, recebem a responsabilidade principal de treinar seus filhos:

Pais, não irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do Senhor (Ef. 6:4).

Note que a responsabilidade do pai é dupla: criar seus filhos segundo a instrução e conselho do Senhor. Vamos primeiro considerar a necessidade de disciplinar as crianças.

Disciplinando os Filhos (Child Discipline)

A criança que nunca é disciplinada crescerá sendo egoísta e rebelde para com autoridades. As crianças devem ser disciplinadas a qualquer hora que desobedecerem desafiadoramente regras lógicas que foram colocadas de antemão por seus pais. Crianças não devem ser punidas por irresponsabilidade ou erros infantis. Contudo, deve ser requerido que enfrentem as consequências de seus erros e irresponsabilidades, ajudando assim a prepará-las para a realidade da vida adulta.

Crianças pequenas devem ser disciplinadas com a vara, como a Palavra de Deus instrui. É claro que bebês não devem apanhar com a vara, mas isso não significa que devam ter tudo do jeito que quiserem. Na verdade, desde o nascimento deve ficar claro que a mãe e o pai estão no controle. Eles podem aprender, desde muito cedo, o que a palavra “não” significa por simplesmente restringi-los de fazer o que estão fazendo ou vão fazer. Uma vez que começam a entender o que o “não” significa, um leve tapa no bumbum os ajudará a entender melhor durante as vezes que não obedecerem. Se isso for feito consistentemente, a criança aprenderá a ser obediente desde cedo.

Os pais também podem estabelecer suas autoridades não reforçando comportamentos indesejáveis em seus filhos, como dar a eles o que querem toda vez que choram. Ceder é ensinar a criança a chorar para ter suas vontades feitas. Ou, se os pais cedem às demandas de seus filhos todas as vezes que ficam de mal-humor ou manhosos, tais pais estão encorajando esse comportamento indesejável. Pais sábios só recompensam comportamentos desejáveis em seus filhos.

A disciplina não deve fazer mal fisicamente, mas certamente deve doer o suficiente para fazer com que a criança desobediente chore por certo tempo. Deste modo, a criança aprenderá a associar desobediência à dor. A Bíblia afirma isso:

Quem se nega a castigar seu filho não o ama; quem o ama não hesita em discipliná-lo… A insensatez está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a livrará dela… Não evite disciplinar a criança; se você a castigar com a vara, ela não morrerá. Castigue-a, você mesmo, com a vara, e assim a livrará da sepultura… A vara da correção dá sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe (Pv. 13:24; 22:15; 23:13-14; 29:15).

Quando os pais impõem suas regras, não precisam ameaçar as crianças para fazê-las obedecer-lhes. Se uma criança desobedecer desafiadoramente, deve ser disciplinada. Se um pai só ameaça disciplinar seu filho desobediente, ele só está reforçando a desobediência contínua de seu filho. Como resultado, a criança aprende a não se preocupar em ser obediente até que as ameaças verbais de seus pais alcancem certo ponto.

Depois da disciplina ser administrada, a criança deve ser abraçada e os pais devem reafirmar seu amor por ela.

Instruindo a Criança (Train Up a Child)

Pais cristãos devem perceber que têm a responsabilidade de instruir seus filhos, assim como lemos em Provérbios 22:6: “Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles” (ênfase adicionada).

Instruir envolve não só punição pela desobediência, mas recompensa por bom comportamento. Crianças devem ser constantemente elogiadas por seus pais para reforçar seu bom comportamento e características desejáveis. As crianças devem ser reasseguradas várias vezes de que são amadas, aceitas e apreciadas por seus pais. E estes podem mostrar seu amor através de elogios, abraços e beijos, como também do tempo que passam com seus filhos.

“Instruir” significa “fazer obedecer”. Portanto, pais cristãos não devem dar aos seus filhos a opção de ir ou não a igreja ou orar todos os dias e assim por diante. Crianças não são responsáveis o suficiente para saberem o que é melhor para elas — e é por isso que Deus deu pais a elas. Aos pais que investem esforço e energia para verem que seus filhos estão sendo instruídos corretamente, Deus promete que seus filhos não se desviarão do caminho certo quando forem mais velhos, como lemos em Provérbios 22:6.

Crianças devem receber cada vez mais responsabilidades enquanto crescem. O objetivo de criar filhos da maneira correta é preparar a criança gradualmente para as responsabilidades da vida adulta. Enquanto a criança cresce, deve receber cada vez mais liberdade para tomar suas próprias decisões. Além do mais, o adolescente deve entender que assumirá a responsabilidade pelas consequências de suas decisões e que seus pais não estarão sempre lá para tirá-lo dos problemas.

A Responsabilidade dos Pais de Instruir (Parents’ Responsibility to Instruct)

Como lemos em Efésios 6:4, os pais não são responsáveis somente pela disciplina de seus filhos, mas também pela instrução deles no Senhor. Não é responsabilidade da igreja dar à criança instrução sobre moralidade bíblica, caráter cristão ou teologia — esse é o trabalho do pai. Os pais que passam toda a responsabilidade para o professor da Escola Dominical ensinar a seus filhos sobre Deus estão cometendo um erro muito sério. Deus deu uma ordem a Israel através de Moisés:

Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar (Dt. 6:6-7, ênfase adicionada).

Pais cristãos devem apresentar Deus a seus filhos desde cedo, dizendo-lhes quem Ele é e o quanto Ele os ama. As crianças devem aprender a história do nascimento, vida, morte e ressurreição de Jesus. Muitas podem entender a mensagem do Evangelho aos cinco ou seis anos e podem fazer a decisão de servir ao Senhor. Logo depois (aos seis ou sete anos, e às vezes mais cedo), podem receber o batismo no Espírito Santo com a evidência de falar em línguas. É claro que nenhuma regra sobre isso pode ser feita, pois cada criança é diferente. O que quero dizer é que pais cristãos devem fazer do treinamento espiritual de seus filhos sua maior prioridade.

Dez Regras Para Amar Seus Filhos (Ten Rules for Loving Your Children)

1) Não irrite seu filhos (veja Ef. 6:4). Não podemos esperar que as crianças ajam como adultos. Se esperar muito delas, desistirão de tentar agradá-lo, sabendo que é impossível.

2) Não compare seus filhos com outras crianças. Diga a eles o quanto aprecia suas características únicas e dons de Deus.

3) Dê a eles responsabilidades em casa para que saibam que são uma parte importante da unidade familiar. Elogios são os tijolos de uma autoestima saudável.

4) Gaste tempo com seus filhos. Isso lhes mostra que são importantes para você. Dar presentes a eles não substitui dar você mesmo. Além do mais, as crianças são mais influenciadas por aqueles que passam mais tempo com elas.

5) Se precisar falar algo negativo, tente falar de uma forma positiva. Nunca disse aos meus filhos que eram “maus” quando me desobedeciam. Ao invés disso, dizia ao meu filho: “Você é um bom menino, e bons meninos não fazem o que você fez!” (Então, eu o disciplinava).

6) Perceba que a palavra “não” significa “eu me importo com você”. Quando as crianças sempre têm o que querem, sabem instintivamente que você não se importa o suficiente para restringi-las.

7) Espere que seus filhos o imitem. As crianças aprendem com o exemplo de seus pais. Um pai sábio nunca dirá ao seu filho: “Faça o que eu mando, não faça o que eu faço”.

8). Não tire seus filhos de todos os problemas deles. Só remova as pedras de tropeço; deixe as outras em seu caminho.

9) Sirva a Deus de todo o coração. Notei que filhos de pais espiritualmente mornos raramente continuam a servir ao Senhor quando adultos. Filhos cristãos de pais incrédulos e filhos de pais cristãos completamente comprometidos normalmente continuam a servir a Deus uma vez que estão “fora do ninho”.

10) Ensine aos seus filhos a Palavra de Deus. Muitas vezes, os pais priorizam a educação de seus filhos, mas fracassam em dar a eles a educação mais importante que podiam ter, uma educação na Bíblia.

As Prioridades do Ministério, Casamento e Família (The Priorities of Ministry, Marriage and Family)

Talvez, o erro mais comum cometido por líderes cristãos é o de negligenciar seus casamentos e famílias por devoção aos seus ministérios. Eles se justificam dizendo que seu sacrifício é “para o trabalho do Senhor”.

Esse erro é remediado quando o ministro discipulador percebe que sua verdadeira obediência e devoção a Deus é refletida por seu relacionamento com sua esposa e filhos. Um ministro não pode dizer ser devoto a Deus se não ama a sua esposa como Cristo ama a Igreja, ou se negligencia passar o tempo necessário com seus filhos para criá-los na educação e admoestação do Senhor.

Além do mais, alguém negligenciar sua esposa e filhos “pelo bem do ministério” é normalmente um sinal certo de ministério carnal que está sendo feito pelas forças da própria pessoa. Muitos pastores que carregam pesadas cargas de trabalho exemplificam isso quando se esgotam para manter todos os programas da igreja funcionando.

Jesus prometeu que Seu jugo é suave e Seu fardo é leve (veja Mt. 11:30). Ele não está chamando ministros para mostrarem sua devoção pelo mundo ou pela igreja ao custo de amar sua família. Na verdade, um requisito para presbítero é que “ele deve governar bem sua própria família” (1 Tm. 3:4). Seu relacionamento com sua família é um teste de encaixe ao ministério.

Aqueles que são chamados para ministérios em que precisam viajar e precisam ficar algumas vezes longe de casa, devem passar mais tempo focando em suas famílias quando estão em casa. Companheiros, membros do corpo de Cristo, devem fazer o que está ao seu alcance para fazer essa combinação possível. O discipulador percebe que seus próprios filhos são seus principais discípulos. Se fracassar nessa tarefa, não tem direito de tentar fazer discípulos fora de casa.

 


[1] Para mais provas de que Deus não é puritano, veja Cânticos de Salomão 7:1-9 e Levítico 18:1-23.

Os Dons Ministeriais

Capítulo Dezoito (Chapter Eighteen)

E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo… E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à plenitude de Cristo (Ef. 4:7, 11-13, ênfase adicionada).

Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que têm dons de curar, os que têm dom de prestar ajuda, os que têm dons de administração e os que falam diversas línguas (1 Co. 12:28, ênfase adicionada)

Os dons ministeriais, como são muitas vezes chamados, são os chamados e várias habilidades dadas a certos cristãos, que os capacita a permanecer no posto de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores ou mestres. Ninguém pode se colocar em um desses postos; a pessoa deve ser chamada e presenteada por Deus.

É possível que a mesma pessoa possa ocupar mais de um desses cinco postos, mas somente certas combinações são possíveis. Por exemplo, é possível que um crente possa ser chamado para ocupar a posição de pastor e mestre ou de profeta e mestre. Contudo, é pouco provável que alguém possa ocupar a posição de pastor e evangelista simplesmente porque o ministério do pastor requer que ele permaneça em um lugar servindo ao rebanho local e, portanto, não poderia cumprir o chamado de um evangelista que deve viajar com frequência.

Mesmo que essas cinco posições recebam dons diferentes para propósitos diferentes, todas foram dadas à igreja para um propósito geral — o “de preparar os santos para a obra do ministério” (Ef. 4:12).[1] O objetivo de cada ministro deve ser preparar os santos para a obra do ministério. Contudo, muitas vezes aqueles no ministério agem, não para preparar os santos para o ministério, mas para entreter pessoas do mundo que vão aos cultos — cultos da igreja. Cada pessoa chamada para um desses ministérios deve avaliar constantemente sua contribuição ao preparo “dos santos para a obra do ministério”. Se todos os ministros se avaliassem, muitos eliminariam várias atividades erroneamente consideradas “ministério”.

Alguns Dons Ministeriais eram só para a Igreja Primitiva? (Were Some Ministry Gifts Only for the Early Church?)

Por quanto tempo esses dons ministeriais serão dados à Igreja? Jesus os dará enquanto Seus santos precisarem de preparação para a obra, que é, pelo menos, até Ele voltar. A igreja está sempre recebendo novos cristãos que precisam crescer, e o resto de nós sempre tem necessidade de amadurecer espiritualmente um pouco mais.

Infelizmente, alguns chegaram a conclusão que somente dois tipos de ministério existem hoje — pastoral e evangelista — como se Deus tivesse mudado de ideia. Não. Ainda precisamos de apóstolos, profetas e mestres assim como a igreja primitiva precisava. A razão de não vermos exemplos desses dons entre a maioria das igrejas pelo mundo é simplesmente porque Jesus os dá somente à Sua Igreja, não à igreja falsa e profana. Na falsa igreja só podem ser encontrados aqueles que fazem uma fraca tentativa de preencher os papéis de alguns dos dons ministeriais (a maioria pastores e talvez alguns evangelistas), mas mal se lembram dos dons ministeriais ungidos e chamados por Deus que Jesus dá à Sua Igreja. Com certeza não estão preparando os santos para as obras do ministério, porque o próprio evangelho que proclamam não resulta em santidade; somente engana as pessoas a pensarem que são perdoadas. E essas pessoas não têm desejo de serem preparadas para o ministério. Elas não têm a intenção de se negarem e levarem a sua cruz.

Como Saber se Você Foi Chamado? (How do You Know if You are Called?)

Como alguém sabe se foi chamado para um desses cargos na igreja? Primeiro e mais importante, ele sentirá um chamado divino de Deus. Ver-se-á encarregado a cumprir certa tarefa. Isto é muito mais que simplesmente ver uma necessidade que pode ser preenchida. É uma fome dada por Deus que compele uma pessoa a certo ministério. Se realmente for chamado por Deus, não poderá se satisfazer até começar a cumprir seu chamado. Isto nada tem a ver com ser apontado por um homem ou comitê de pessoas. Deus é quem faz o chamado.

Segundo, a pessoa que realmente for chamada se verá preparada por Deus para cumprir sua tarefa. Cada um dos cinco cargos carrega uma unção sobrenatural que permite que o indivíduo faça o que Deus o chamou para fazer. Com o chamado, vem a unção. Se não há unção, não há chamado. Uma pessoa pode aspirar certo ministério, fazer faculdade teológica por quatro anos se educando e se preparando para esse ministério; mas sem a unção de Deus, não há chance de sucesso verdadeiro.

Terceiro, ele verá que Deus abriu uma porta a uma oportunidade para que exercite seus dons em particular. Desse modo, poderá provar ser fiel e, eventualmente, será encarregado com maiores oportunidades, responsabilidades e dons.

Se uma pessoa não sentiu uma compulsão e chamado interior para um dos cinco dons ministeriais, ou se não está ciente de qualquer unção especial para cumprir uma tarefa dada por Deus, ou se nenhuma oportunidade apareceu para que exercite os dons que acha que tem, ela não deve tentar algo que Deus não a chamou para fazer. Ela deve tentar ser bênção no corpo de sua igreja local, sua vizinhança e lugar de trabalho. Mesmo não sendo chamada ao ministério “quíntuplo”, ela é chamada para servir usando os dons que recebeu de Deus e deve tentar se mostrar fiel.

O fato das Escrituras mencionarem cinco dons ministeriais, não significa que todas as pessoas que ocupam o mesmo cargo terão ministérios idênticos. Paulo escreveu que “há diferentes tipos de ministérios” (1 Co. 12:5), fazendo diferenciações entre ministros que ocupam o mesmo cargo. Além do mais, parece haver vários níveis de unção sobre os que ocupam tais cargos; portanto, podemos categorizar cada cargo por grau de unção. Por exemplo, existem alguns mestres que parecem ser mais ungidos que outros. O mesmo se aplica aos outros dons ministeriais. Pessoalmente, acredito que qualquer ministro possa fazer coisas que resultarão no aumento da unção sobre seu ministério, como se mostrar fiel por certo tempo e se consagrar profundamente ao Senhor.

Uma Olhada Mais Profunda no Cargo de Apostolo (A Closer Look at the Office of Apostle)

A palavra grega traduzida como apóstolo é apostolos e significa literalmente “o que é enviado”. Um verdadeiro apóstolo do Novo Testamento é um cristão enviado divinamente a um ou mais lugares para plantar igrejas. Ele lança o alicerce espiritual do “edifício” de Deus e pode ser comparado a um “mestre de obras”, como Paulo mesmo escreveu:

Pois nós somos cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus. Conforme a graça de Deus que me foi concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele (1 Co. 3:9-10a, ênfase adicionada).

Um “construtor”, ou mestre de obras supervisiona todo o processo de construção — ele vê o produto terminado. Não é um especialista como o carpinteiro ou o pedreiro. Ele pode fazer o trabalho do carpinteiro ou pedreiro, mas provavelmente não tão bem quanto eles. Da mesma forma, o apóstolo tem a habilidade de fazer o trabalho de um evangelista ou pastor, mas somente por tempo limitado, já que planta igrejas. (O apóstolo Paulo normalmente ficava no mesmo lugar de seis meses a três anos).

O apóstolo é melhor no plantar e supervisionar de igrejas com o fim de mantê-las no curso de Deus. Ele é responsável por apontar líderes/pastores/presbíteros para pastorear cada congregação que planta (veja At. 14:21-23; Tt. 1:5).

Verdadeiros e Falsos Apóstolos (True and False Apostles)

Parece que alguns ministros hoje, sedentos por autoridade sobre igrejas, rapidamente declaram seus supostos chamados para serem apóstolos, mas a maioria tem um grande problema. Como não plantaram igrejas (ou talvez uma ou duas) e não têm os dons e unção de um apóstolo bíblico, precisam encontrar pastores ingênuos que lhes permitirão ter autoridade sobre suas igrejas. Se você for pastor, não se deixe enganar por apóstolos falsos, egocêntricos e famintos por poder. Normalmente, são lobos em peles de ovelhas e a maioria das vezes, querem dinheiro. As Escrituras nos exortam sobre falsos apóstolos (veja 2 Co. 11:13; Ap. 2:2). Se alguém lhe disser que é apóstolo, esta é uma provável indicação de que não é. Seu fruto deve falar por si só.

Um pastor que planta sua própria igreja e a pastoreia por anos não é apóstolo. Talvez, tais pastores possam ser chamados de “pastores apostólicos”, já que foram pioneiros e plantaram suas próprias igrejas. Mesmo assim, não são apóstolos, pois apóstolos plantam igrejas continuamente.

Um verdadeiro “missionário” (como são muitas vezes chamados hoje), chamado e ungido por Deus, que tem como chamado plantar igrejas, seria um apóstolo. Por outro lado, missionários que fundam faculdades teológicas ou treinam pastores não seriam apóstolos, mas mestres.

O verdadeiro ministério de um apóstolo é caracterizado por sinais e maravilhas sobrenaturais, que são instrumentos para ajudá-lo a plantar igrejas. Paulo escreveu:

Em nada sou inferior aos “super-apóstolos”, embora eu nada seja. As marcas de um apóstolo — sinais, maravilhas e milagres — foram demonstradas entres vocês, com grande perseverança (2 Co. 12:11b-12).

Se alguém não tem sinais e maravilhas acompanhando seu ministério, não é apóstolo. Obviamente, verdadeiros apóstolos são raros e não existem na igreja falsa e profana. Eu os encontro principalmente nos lugares do mundo que ainda tem território virgem para o evangelho.

A Alta Posição do Apóstolo (The High Rank of the Apostle)

Em ambas as listas de dons ministeriais do Novo Testamento, o posto de apóstolo é listado primeiro, indicando que é o maior chamado (veja Ef. 4:11; 1 Co. 12:28).

Ninguém começa o ministério como apóstolo. Alguém pode ser chamado para ser apóstolo, mas não começará neste posto. Ele deve primeiramente, se mostrar fiel por alguns anos no pregar e ensinar, e, eventualmente, ocupará a posição que Deus preparou para ele. Paulo foi chamado desde o ventre de sua mãe para ser apóstolo, mas gastou muitos anos no ministério em tempo integral antes de finalmente ocupar esse cargo (veja Gl. 1:15-2:1). Na verdade, ele começou como mestre e profeta (veja At. 13:1-2), e mais tarde foi promovido a apóstolo quando foi enviado pelo Espírito Santo (veja At. 14:14).

Encontramos menções de outros apóstolos além de Paulo e dos primeiros doze em Atos 1:15-26; 14:14; Romanos 16:7; 2 Coríntios 8:23; Gálatas 1:17-19; Filipenses 2:25 e 1 Tessalonicenses 1:1 juntamente com 2:6. (A palavra traduzida mensageiro em 2 Coríntios e Filipenses 2:25 é a palavra grega apostolos.) Isto cancela a teoria de que o posto apostólico era limitado a somente doze homens.

Contudo, somente doze apóstolos podem ser classificados como “Apóstolos do Cordeiro”, e somente aqueles doze terão um lugar especial no reinado milenar de Cristo (veja Mt. 19:28; Ap. 21:14). Não precisamos mais de apóstolos como Pedro, Tiago e João que foram especialmente inspirados para escrever as Escrituras, pois a revelação da Bíblia está completa. Contudo, hoje ainda precisamos de apóstolos que plantem igrejas pelo poder do Espírito Santo, assim como Paulo e outros apóstolos fizeram, como está escrito no livro de Atos.

O Cargo de Profeta (The Office of Prophet)

Um profeta é alguém que recebe revelações sobrenaturais e fala por inspiração divina. Ele é usado frequentemente com o dom espiritual da profecia assim como os de revelação: a palavra de sabedoria, a palavra de conhecimento e o discernimento de espíritos.

Qualquer crente pode ser usado por Deus com o dom de profecia como o Espírito deseja, mas isto não faz dele um profeta. Em primeiro lugar, um profeta é um ministro que pode pregar ou ensinar com unção. Por parecer ser o segundo maior chamado (veja a ordem em que está listado em 1 Coríntios 12:28), mesmo um ministro de tempo integral não seria colocado no posto de profeta até que estivesse no ministério por alguns anos. Se ocupar o cargo, terá a unção sobrenatural que o acompanhará.

Dois homens que são chamados profetas no Novo Testamento são Judas e Silas. Lemos em Atos 15:32 que entregaram uma longa profecia à igreja de Antioquia:

Judas e Silas, que eram profetas, encorajaram e fortaleceram os irmãos com muitas palavras.

Outro exemplo de profeta no Novo Testamento seria Ágabo. Lemos em Atos 11:27-28:

Naqueles dias alguns profetas desceram de Jerusalém para Antioquia. E um deles, Ágabo, levantou-se e pelo Espírito predisse que uma grande fome sobreviria a todo o mundo romano, o que aconteceu durante o reinado de Cláudio.

Note que Ágabo recebeu uma palavra de conhecimento — algo sobre o futuro que foi revelado a ele. É claro, que Ágabo não sabia tudo o que aconteceria no futuro, somente o que o Espírito Santo escolheu revelar a ele.

Em Atos 21:10-11, há outro exemplo da palavra de conhecimento operando através do ministério de Ágabo. Desta vez, era para uma pessoa, Paulo:

Depois de passarmos ali vários dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo. Vindo ao nosso encontro, tomou o cinto de Paulo e, amarrando as suas próprias mãos e pés, disse: “Assim diz o Espírito Santo: ‘Desta maneira os judeus amarrarão o dono deste cinto em Jerusalém e o entregarão aos gentios’”.

É bíblico debaixo da nova aliança buscar a direção dos profetas? Não. O motivo é que todos os cristãos têm o Espírito Santo para guiá-los. Um profeta deve somente confirmar a um crente o que este já sabe em seu próprio espírito que é a direção de Deus. Por exemplo, quando Ágabo profetizou a Paulo, não deu direção sobre o que devia fazer; somente confirmou o que Paulo já sabia havia algum tempo.

Como dito anteriormente, Paulo ocupava o cargo de profeta (e mestre) antes de ser chamado para o ministério de apóstolo (veja At. 13:1). Sabemos que Paulo recebia revelações do Senhor, de acordo com Gálatas 1:11-12, e que também tinha várias visões (veja At. 9:1-9; 18:9-10; 22:17-21; 23:11; 2 Co. 12:1-4).

Assim como não encontramos verdadeiros apóstolos, também não encontramos verdadeiros profetas na falsa igreja. Ela afastaria (e afasta) verdadeiros profetas como Silas, Judas e Ágabo. Isto, porque verdadeiros profetas trariam revelação do descontentamento de Deus por sua desobediência (assim como fez João à maioria das igrejas da Ásia Menor nos primeiros dois capítulos de Apocalipse). A falsa igreja não está aberta a isto.

O Cargo de Mestre (The Office of Teacher)

De acordo com a ordem listada em 1 Coríntios 12:28, o cargo de mestre é o terceiro maior chamado. Um mestre é alguém ungido de forma sobrenatural para ensinar a Palavra de Deus. O fato de alguém ensinar a Bíblia não significa que é um mestre do Novo Testamento. Muitos ensinam simplesmente por se sentirem obrigados, mas alguém que ocupa o cargo de mestre é ungido para ensinar. Muitas vezes, recebe revelações sobrenaturais a respeito da Palavra de Deus e pode explicar a Bíblia de forma que a faz compreensível e aplicável.

Apolo é um exemplo no Novo Testamento de alguém que ocupou esse cargo. Paulo comparou seu ministério apostólico e o de ensino de Apolo em 1 Coríntios dizendo:

Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer… lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele (1 Co. 3:6, 10b, ênfase adicionada).

Apolo, o mestre, não plantou ou lançou o alicerce do edifício. Ao invés disso, ele regou as novas mudas com a Palavra de Deus e construiu muros no alicerce já existente.

Apolo também é mencionado em Atos 18:27-28:

Querendo ele [Apolo] ir para a Acaia, os irmãos o encorajaram e escreveram aos discípulos que o recebessem. Ao chegar, ele auxiliou muitos dos que pela graça haviam crido, pois refutava vigorosamente os judeus em debate público, provando pelas Escrituras que Jesus é o Cristo.

Note que Apolo “auxiliou” a muitos que já eram cristãos e que seu ensino era vigoroso. Ensino ungido é sempre poderoso.

Para a igreja, o ministério de ensino é ainda mais importante que milagres ou dons de cura. Por isto é que ele está listado antes desses dons em 1 Coríntios 12:28:

Assim, na igreja, Deus estabeleceu primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois os que realizam milagres, os que têm dons de curar (ênfase adicionada).

Infelizmente, às vezes, cristãos são mais atraídos a curas do que a ouvir o claro ensino da Palavra, que produzirá crescimento espiritual e santidade em suas vidas.

A Bíblia fala de ambos, pregação e ensino. Ensino é mais lógico e instrucional, enquanto pregação tende a inspirar e motivar mais. Normalmente, evangelistas pregam; mestres e pastores ensinam; apóstolos pregam e ensinam. É uma pena que alguns crentes não reconhecem o valor do ensino. Alguns até pensam que os palestrantes só estão ungidos se pregarem alto e rápido! Não é assim que funciona.

Jesus é o melhor exemplo de um mestre ungido. Seu ensino era uma parte tão predominante de Seu ministério que muitos se referiam a Ele como “Mestre” (Mt. 8:19; Mc. 5:35; Jo. 1:28).

Para maior estudo sobre mestres e ensino, veja Atos 2:42; 5:21, 25, 28, 42; 11:22-26; 13:1; 15:35; 18:11; 20:18-20; 28:30-31; Romanos 12:6-7; 1 Coríntios. 4:17; Gálatas 6:6; Colossenses 1:28; 1 Timóteo 4:11-16; 5:17; 6:2; 2 Timóteo 1:11; 2:2 e Tiago 3:1. A última passagem listada nos diz que mestres serão julgados de forma mais rígida; portanto, devem tomar muito cuidado com o que ensinam. Devem ensinar somente a Palavra.

A Função de Evangelista (The Office of Evangelist)

O evangelista é aquele que é ungido para pregar o evangelho. Suas mensagens têm por objetivo levar pessoas ao arrependimento e fé no Senhor Jesus Cristo. São acompanhadas por milagres que atraem a atenção dos ímpios e os convence da verdade de sua mensagem.

Sem dúvida, havia muitos evangelistas na igreja primitiva, mas somente um homem está no livro de Atos como evangelista. Seu nome era Filipe: “ficamos na casa de Filipe, o evangelista, um dos sete” (At. 21:8, ênfase adicionada).

Filipe começou seu ministério como um servo (ou talvez “diácono”) que servia às mesas (veja At. 6:1-6). Foi promovido à função de evangelista por volta do tempo da perseguição da Igreja que se levantou com o martírio de Estevão; e pregou o evangelho primeiramente em Samaria:

Indo Filipe para uma cidade de Samaria, ali lhes anunciava o Cristo. Quando a multidão ouviu Filipe e viu os sinais maravilhosos que ele realizava, deu unânime atenção ao que ele dizia. Os espíritos imundos saíam de muitos, dando gritos, e muitos paralíticos e mancos foram curados. Assim, houve grande alegria naquela cidade (At. 8:5-8).

Note que Filipe tinha uma mensagem — Cristo. Seu objetivo era começar a fazer discípulos, isto é, seguidores obedientes de Cristo. Ele proclamava Cristo como um fazedor de milagres, Filho de Deus, Senhor, Salvador e Juiz. Ele chamava as pessoas a se arrependerem e seguirem ao seu Senhor.

Note também que Filipe foi equipado com sinais e maravilhas sobrenaturais que autenticavam sua mensagem. Alguém que ocupa o cargo de evangelista será ungido com dons de cura e outros dons espirituais. A falsa igreja só tem falsos evangelistas que proclamam um falso evangelho. O mundo está cheio de evangelistas assim hoje, e é óbvio que Deus não está confirmando suas mensagens com milagres e curas. A simples razão é que não estão pregando Seu evangelho. Não pregam realmente a Cristo. Normalmente pregam sobre as necessidades das pessoas e como Cristo pode dar-lhes vida abundante, ou pregam uma fórmula de salvação que não inclui arrependimento. Levam pessoas a uma falsa conversão que as livra de culpa, mas não as salva. O resultado de sua pregação é que pessoas têm menos chance de renascer, pois não veem necessidade de receber o que acham que já têm. Na verdade, tais evangelistas ajudam a construir o reino de Satanás.

O cargo de evangelista não está listado com os outros dons ministeriais em 1 Coríntios 12:28 como está em Efésios 4:11. Contudo, estou assumindo que a referência aos que “realizam milagre, os que têm dons de curar” se aplica ao cargo de evangelista, já que caracterizavam o ministério evangelístico de Filipe e dariam autenticação sobrenatural ao ministério de qualquer evangelista.

Muitos que viajam de igreja em igreja nomeando-se evangelistas não o são realmente, pois só pregam a cristãos em prédios de igrejas, e não estão equipados com os dons de cura ou milagres. (Alguns fingem ter tais dons, mas só podem enganar aos ingênuos. Seus maiores milagres são fazer pessoas cair por certo tempo quando os empurram.) Esses ministros podem ser mestres, pregadores ou exortadores (veja Rm. 12:8), mas não ocupam o cargo de evangelista. No entanto, é possível que Deus possa começar o ministério de alguém como exortador ou pregador e, mais tarde, promovê-lo ao cargo de evangelista.

Para maior estudo a respeito do cargo de evangelista, leia Atos 8:4-40, um registro do ministério de Filipe. Note a importância da interdependência dos dons ministeriais (veja os versículos 14-25 em particular) e como Filipe não só pregou o evangelho às multidões, mas foi levado por Deus para ministrar a indivíduos também (veja At. 8:25-39).

Parece que evangelistas são comissionados a batizar seus convertidos, mas não são necessariamente comissionados a ministrar o batismo no Espírito Santo a novos crentes. Isto seria de responsabilidade principal dos apóstolos ou pastores/presbíteros/bispos.

A Função de Pastor (The Office of Pastor)

Dois capítulos atrás, comparei o papel bíblico do pastor com aquele do pastor institucional normal. Contudo, há ainda mais a dizer sobre o ministério do pastor.

Para entender completamente o que as Escrituras ensinam sobre o cargo de pastor, precisamos entender três palavras gregas. No grego elas são (1) poimen, (2) presbuteros e (3) episkopos. São consecutivamente traduzidas (1) pastor, (2) presbítero e (3) bispo.

A palavra poimen é encontrada dezoito vezes no Novo Testamento e é traduzida por pastor (de ovelhas) dezessete vezes e pastor (de igreja) uma vez. O verbo poimaino, é encontrado onze vezes e a maioria das vezes é traduzida como pastorear (ovelhas).

A palavra grega prebuteros é encontrada sessenta e seis vezes no Novo Testamento, sendo sessenta dessas vezes traduzida por presbítero ou presbíteros.

Por último, a palavra grega episkopos é encontrada cinco vezes no Novo Testamento, e é traduzida por bispo quatro vezes.

Todas essas palavras se referem ao mesmo cargo na igreja, e são usadas de forma alternada. Sempre que o apóstolo Paulo plantava igrejas, apontava presbíteros (presbuteros) que eram encarregados das congregações locais (veja Ac. 14:23, Tt. 1:5). A responsabilidade deles era de agir como bispos (episkopos) e pastorear (poimaino) seus rebanhos. Por exemplo, lemos em Atos 20:17:

De Mileto, Paulo mandou chamar os presbíteros [presbuteros] da igreja de Éfeso (ênfase adicionada).

E o que Paulo disse a esses presbíteros?

Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos [episkopos], para pastorearem [poimaino] a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue (At. 20:28, ênfase adicionada).

Note o uso alternado das três palavras gregas. Não são cargos diferentes. Paulo disse aos presbíteros que eles eram os bispos que deveriam agir como pastores (de ovelhas).

Pedro escreveu em sua primeira epístola:

Portanto, apelo para os presbíteros [presbuteros] que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, como alguém que participará da glória a ser revelada: pastoreiem [poimaino] o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória (1 Pd. 5:1-4, ênfase adicionada).

Pedro disse aos presbíteros que pastoreassem seu rebanho. O verbo que foi traduzido aqui como pastorear, foi traduzido (como substantivo) por pastor em Efésios 4:11:

E Ele [Jesus] designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres (ênfase adicionada).

Isso também nos leva a acreditar que presbíteros e pastores são a mesma coisa.

Paulo também usou as palavras presbítero (presbuteros) e bispo (episkopos) alternadamente em Tito 1:5-7:

A razão de tê-lo deixado em Creta foi para que você pusesse em ordem o que ainda faltava e constituísse presbíteros em cada cidade, como eu o instruí…é necessário que o bispo seja irrepreensível (ênfase adicionada).

Portanto, não pode ser debatido de modo lógico que o cargo de pastor, presbítero e bispo não sejam o mesmo cargo. Qualquer coisa escrita sobre bispos e presbíteros nas epístolas do Novo Testamento é, portanto, aplicável a pastores.

Controle da Igreja (Church Governance)

As Escrituras citadas acima deixam bem claro que os presbíteros/pastores/bispos recebem poder para supervisionar a igreja, assim como autoridade de liderança. Deixando bem simples, os presbíteros/pastores/bispos estão no controle e os membros das igrejas devem se submeter a eles:

Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas (Hb. 13:17).

É claro que nenhum cristão deve se submeter a um pastor que não é submetido a Deus, mas ele deve reconhecer que nenhum pastor é perfeito.

Os pastores/presbíteros/bispos têm autoridade sobres suas igrejas assim como um pai tem autoridade sobre sua família:

É necessário, pois, que o bispo [pastor/presbítero] seja irrepreensível… Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus? (1 Tm. 3:2-5, ênfase adicionada).

Paulo continuou dizendo:

Os presbíteros [pastores/bispos] que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino (1 Tm. 5:17, ênfase adicionada)

Está claro que presbíteros devem governar a igreja.

Presbíteros Não-Bíblicos (Unscriptural Elders)

Muitas igrejas acreditam que suas estruturas governamentais são bíblicas porque têm um grupo de presbíteros que lideram, mas o problema é que seu conceito de presbíteros está errado. Normalmente os presbíteros são eleitos e rotativos dentro das congregações. São muitas vezes chamados de “Corpo de Presbíteros”. Mas tais pessoas não são presbíteros por definição bíblica. Se simplesmente examinarmos os requisitos que Paulo enumerou para que um homem seja presbítero, isso se torna bem claro. Paulo escreveu que um presbítero ocupa um cargo integral e, portanto, pago, de ensino/pregação e governo na igreja (veja 1 Tm. 3:4-5; 5:17-18; Tt. 1:9). Poucas pessoas, se há alguma no “corpo de presbíteros”, se encaixam nessas qualificações. Elas não são pagas; não pregam ou ensinam; não trabalham em tempo integral na igreja; e mal sabem como liderar uma igreja.

O governo não-bíblico de uma igreja pode muito bem ser a causa de mais problemas na igreja local do que qualquer outra coisa. Quando as pessoas erradas estão liderando uma igreja, problemas aparecem. Isso pode abrir a porta para disputas, desacordos e completo extermínio de uma igreja. Uma estrutura governamental de igreja não-bíblica é como dar as boas vidas à Satanás.

Sei que estou escrevendo a pastores de igrejas institucionais assim como de igrejas nos lares. Alguns pastores de igrejas institucionais podem estar pastoreando igrejas que têm estruturas governamentais não-bíblicas onde presbíteros são escolhidos pela congregação. Normalmente, essas estruturas governamentais não-bíblicas não podem ser alteradas sem brigas se desenvolverem.

Meu conselho a tais pastores é que façam o melhor com a ajuda de Deus para mudar a estrutura governamental da igreja e encarar o possível conflito temporário inevitável, já que conflitos regulares serão inevitáveis se ele nada fizer. Se obtiver sucesso encarando disputas temporárias, terá evitado todas as futuras disputas. Se fracassar, sempre poderá começar uma nova igreja e fazê-la de acordo com as Escrituras desde o início.

Mesmo doloroso, no final, provavelmente terá dado mais frutos para o Reino de Deus. Se aqueles que estão atualmente governando suas igrejas são verdadeiros discípulos de Cristo, eles têm chance de convencer os membros a mudarem a estrutura, se puder convencê-los respeitosamente através das Escrituras a fazer as mudanças necessárias.

Presbíteros no Plural? (The Plurality of Elders?)

Alguns gostam de enfatizar que a Bíblia sempre se refere a presbíteros no plural, mostrando, aparentemente, que não é bíblico ter somente um presbítero/pastor/bispo liderando o rebanho. Contudo, em minha opinião, isto não é prova conclusiva. Realmente, a Bíblia menciona que, em algumas cidades, mais de um presbítero liderava a igreja, mas não diz que esses presbíteros atuavam como iguais sobre uma única congregação. Por exemplo, quando Paulo reuniu os presbíteros de Éfeso (veja At. 20:17), é bem óbvio que aqueles presbíteros eram de uma cidade em que o corpo total consistia de milhares e talvez dezenas de milhares de pessoas (veja At. 19:19). Portanto, devia haver vários rebanhos em Éfeso e é bem possível que cada presbítero liderasse uma igreja no lar.

Não há exemplo nas Escrituras de que Deus tenha chamado um comitê para cumprir uma tarefa. Quando quis libertar Israel do Egito, chamou um homem, Moisés, para ser o líder. Outros foram chamados para ajudá-lo, mas eram-lhe todos inferiores; como ele, cada um tinha responsabilidade sobre um sub-grupo de pessoas. Esse padrão é encontrado repetidamente nas Escrituras. Quando Deus tem uma tarefa, chama uma pessoa para ter a responsabilidade e chama outros para ajudar essa pessoa.

Portanto, parece improvável que Deus chamasse um comitê de presbíteros de igual autoridade para liderar uma pequena igreja no lar de vinte pessoas. Parece um convite a discussões.

Isso não quer dizer que todas as igrejas nos lares devem ser lideradas por somente um presbítero. Contudo, significa que se há mais de um presbítero, o mais novo e menos maduro espiritualmente deve se submeter ao mais velho e espiritualmente mais maduro. Espiritualmente, são as igrejas, não as faculdades teológicas, que devem treinar novos pastores/presbíteros/bispos e, portanto, é bem possível e até desejável que hajam vários presbíteros/pastores/bispos em uma igreja no lar, com os espiritualmente mais novos sendo discipulados pelos espiritualmente mais maduros.

Tenho observado esse fenômeno até em igrejas que são supostamente lideradas por líderes que atuam como “iguais”. Sempre há um que é admirado pelos outros. Ou há alguém que é dominante enquanto os outros são mais passivos. Caso contrário, eventualmente haverá divisões. É fato que até comitês elegem um líder. Quando um grupo de iguais decide realizar uma tarefa, reconhecem que deve haver um líder. E assim é na igreja.

Além do mais, a responsabilidade dos presbíteros é comparada à responsabilidade dos pais por Paulo em 1 Timóteo 3:4-5. Presbíteros devem cuidar de suas próprias casas, caso contrário não são qualificados para cuidar da igreja. Mas será que uma família com dois pais seria bem administrada? Acho que haveria problemas.

Presbíteros/pastores/bispos devem estar interligados em um corpo local maior para que possam prestar conta de suas ações entre companheiros que possam ajudar, caso problemas surjam. Paulo escreveu sobre um “presbitério” (veja 1 Tm. 4:14), que deve ter sido uma reunião de presbuteros (presbíteros) e possivelmente outros homens com dons ministeriais. Se houver um apóstolo fundador, ele também pode ajudar, se houver problemas em um corpo local gerados pelo erro de um presbítero. Quando pastores institucionais se desviam, o resultado é sempre grandes problemas por causa da estrutura da igreja. Há um prédio e programas a serem mantidos. Mas igrejas nos lares podem ser instantaneamente desfeitas quando um pastor se desvia. Os membros podem simplesmente se juntar a outro corpo.

Autoridade para Servir (Authority to Serve)

O fato de Deus dar ao pastor autoridade espiritual e governamental em sua igreja, não dá a ele o direito de dominar Seu rebanho. Ele não é Senhor deles — Jesus é. Eles não são seu rebanho — são rebanho do Senhor.

Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória (1 Pd. 5:2-4, ênfase adicionada).

Cada pastor terá que dar contas de seu ministério algum dia diante do trono de julgamento de Cristo.

Além do mais, sobre a questão financeira, um único pastor/presbítero/bispo não deve agir sozinho. Se houver dinheiro sendo coletado regularmente ou esporadicamente por qualquer motivo, outros dentro do corpo devem ajudar para que não haja falta de confiança a respeito do manejo dos fundos (veja 2 Co. 8:18-23). Esse pode ser um grupo apontado ou eleito.

Pagando os Presbíteros (Paying Elders)

As Escrituras deixam claro que pastores/presbíteros/bispos devem ser pagos, já que trabalham na igreja por tempo integral. Paulo escreveu:

Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino, pois a Escritura diz: “Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal”, e “o trabalhador merece o seu salário” (1 Tm. 5:17-18)

O assunto é claro — Paulo até usa a palavra salário. Sua frase mais vaga sobre dar dupla honra aos presbíteros que lideram bem é facilmente entendida quando o contexto é considerado. Nos versículos anteriores, Paulo inequivocamente escreveu sobre a responsabilidade da igreja de sustentar financeiramente viúvas que, caso contrário, não seriam sustentadas, e começou usando a mesma expressão: “Honre as viúvas que são realmente necessitadas” * (1 Tm. 5:3-16). Portanto, nesse contexto, “honrar” significa sustentar financeiramente. Presbíteros que lideram bem devem ser duplamente honrados, recebendo pelo menos duas vezes mais do que é dado às viúvas e ainda mais se tiverem filhos.

A igreja institucional ao redor do mundo sustenta a maioria de seus pastores (até mesmo em nações pobres), mas parece que muitas igrejas nos lares, especialmente aquelas do Ocidente, não. Acredito que isso é parte por causa do fato de que os motivos de muitas pessoas do mundo ocidental para se unirem a igrejas nos lares é que são na verdade rebeldes de coração e estão procurando, e encontraram, a forma de cristianismo menos exigente existente no planeta. Dizem que se juntaram a uma igreja no lar porque queriam fugir da escravidão da igreja institucional, mas na verdade, queriam fugir de qualquer compromisso com Cristo. Encontraram igrejas que não pedem por compromisso financeiro, igrejas muito diferentes do que Cristo espera de Seus discípulos. Aqueles que têm o dinheiro como deus e provam isso acumulando seus tesouros na terra ao invés de no céu não são verdadeiros discípulos de Cristo (veja Mt. 6:19-24; Lc. 14:33). Se o cristianismo de alguém não afeta o que faz com seu dinheiro, ele não é um verdadeiro cristão.

Igrejas nos lares que dizem ser bíblicas devem sustentar seus pastores, assim como cuidar dos pobres e contribuir com missões. No dar e em todos os assuntos financeiros, eles devem ser bem melhores que igrejas institucionais, já que não têm prédios ou equipe para pagar. Não é preciso mais que dez pessoas que dizimam para sustentar um pastor. Dez pessoas que dão 20% de seus salários podem sustentar integralmente um pastor e um missionário que tenha o mesmo padrão que seu pastor.

O que os Pastores Fazem? (What do Pastors do?)

Imagine-se perguntando a um membro de igreja, “De quem é o trabalho de fazer as seguintes coisas?”

Quem deve compartilhar o evangelho com os incrédulos? Ter uma vida santa? Orar? Exortar, encorajar e ajudar outros crentes? Visitar os doentes? Impor as mãos sobre os doentes e curá-los ? Levar os fardos dos outros? Exercitar seus dons pelo bem do corpo?Negar a si mesmo sacrificando-se pelo bem do Reino de Deus? Fazer e batizar discípulos, ensinando-os a obedecer os mandamentos de Cristo?

Muitos crentes responderão sem hesitação: “Todas essas são responsabilidades do pastor”. Mas são mesmo?

De acordo com as Escrituras, todos os crentes devem compartilhar o evangelho com os ímpios:

Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhe pedir a razão da esperança que há em vocês (1 Pd. 3:15).

Todos os salvos devem ter uma vida santa:

Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem. Pois está escrito: “Sejam santos, porque eu sou santo” (1 Pd. 1:15-16).

Todos os salvos devem orar:

Alegrem-se sempre. Orem continuamente (1 Ts. 5:16-17).

Todos os salvos devem exortar, encorajam e ajudar outros crentes:

Exortamos vocês, irmãos, a que advirtam os ociosos, confortem os desanimados, auxiliem os fracos, sejam pacientes para com todos (1 Ts. 5:14, ênfase adicionada).

Todos os salvos devem visitar os doentes:

Necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso e vocês me visitaram (Mt. 25:36).

Mais Responsabilidades (More Responsibilities)

Mas isso não é tudo. Todos os salvos devem impor as mãos e curar os doentes:

Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os doentes, e estes ficarão curados (Mc. 16:17-18, ênfase adicionada).

Todos os crentes devem carregar os fardos de seus companheiros cristãos:

Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo (Gl. 6:2)

É esperado que todos os salvos exerçam seus dons em favor de outros:

Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi dada. Se alguém tem o dom de profetizar, use-o na proporção da sua fé. Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; se é dar ânimo, que assim faça; se é contribuir, que contribua generosamente se é exercer liderança, que a exerça com zelo; se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria (Rm. 12:6-8).

Todos os crentes devem negar a si mesmos, sacrificando-se pelo evangelho:

Então ele chamou a multidão e os discípulos e disse: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará (Mc. 8:34-35, ênfase adicionada).

E é esperado que todos os salvos façam e batizem discípulos, ensinando-os a obedecer os mandamentos de Cristo:

Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus (Mt. 5:19, ênfase adicionada).

Embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido (Hb. 5:12, ênfase adicionada)!

Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarem sempre com vocês, até o fim dos tempos (Mt. 28:18-20, ênfase adicionada).[2]

Todas essas responsabilidades são entregues a todos os salvos, mesmo assim, a maioria dos que frequentam igrejas acham que essas tarefas pertencem somente aos pastores. O motivo é provavelmente porque os próprios pastores acham que essas são responsabilidades somente deles.

Então, o que os Pastores Devem Fazer (So What are Pastors Supposed to do?)

Se todas essas responsabilidades são entregues a todos os crentes, o que os pastores devem fazer?Eles são simplesmente chamados para equipar os santos para fazerem todas essas coisas (veja Ef. 4:11-12). São chamados para ensinar os santos a obedecerem todos os mandamento de Cristo (veja Mt. 28:18-20) por instrução e exemplo (veja 1 Tm. 3:2; 4:12-13; 5:17; 2 Tm. 2:2; 3:16-4:4; 1 Pd. 5:1-4).

É impossível que as Escrituras deixem isso mais claro. O papel bíblico do pastor não é reunir o maior número possível de pessoas para o culto de domingo de manhã, mas apresentar “todo homem perfeito em Cristo” (Cl. 1:28). Pastores bíblicos não causam coceira nos ouvidos das pessoas (veja 2 Tm. 4:3); eles ensinam, treinam, exortam, admoestam, corrigem, censuram e repreendem, tudo de acordo com a Palavra de Deus (veja 2 Tm. 3:16-4:4).

Em sua primeira carta a Timóteo, Paulo listou algumas qualificações para que um homem ocupe o cargo de pastor. Das quinze qualificações, quatorze são a respeito de seu caráter, mostrando que o exemplo de vida é o mais importante:

Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus?Não pode ser recém-convertido, para que não se ensoberbeça e caia na mesma condenação em que caiu o Diabo. Também deve ter boa reputação perante os de fora, para que não caia em descrédito nem na cilada do Diabo (1 Tm. 3:1-7).

Quando comparamos essas qualificações com aquelas listadas por muitas igrejas institucionais que buscam um novo pastor descobrimos o principal problema de tantas igrejas. Elas estão procurando um gerenciador/humorista/pregador de sermões curtos/administrador/psicologista/diretor de programas e atividades/arrecadador de recursos/amigo de todos/uma máquina de trabalho. Elas querem alguém que “leve adiante o ministério da igreja”. Contudo, o administrador bíblico deve ser, acima de tudo, um homem de grande caráter e completamente comprometido com Cristo, um verdadeiro servo, porque seu objetivo é reproduzir a si mesmo. Ele deve ser capaz de dizer ao seu rebanho: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou do Cristo” (1 Co. 11:1).

Para um estudo mais detalhado a respeito da função do pastor, veja também Atos 20:28-31; 1 Timóteo 5:17-20 e Tito 1:5-9.

O Cargo de Diácono (The Office of Deacon)

Concluindo, deixe-me mencionar algo a respeito dos diáconos. O cargo de diácono é o único outro cargo na igreja local e não faz parte dos cinco dons ministeriais. Diferente dos anciãos, os diáconos não têm autoridade administrativa na igreja. A palavra grega traduzida como diácono é diakonos, que literalmente significa “servo”.

Os sete homens escolhidos para a tarefa diária de alimentar as viúvas da igreja de Jerusalém são considerados os primeiros diáconos (veja At. 6:1-6). Eles foram escolhidos pela congregação e comissionados pelos apóstolos. Mais tarde, pelo menos dois deles, Filipe e Estevão, foram promovidos por Deus para serem poderosos evangelistas.

Diáconos também são mencionados em 1 Timóteo 3:8-13 e Filipenses 1:1. Aparentemente, esse cargo pode ser preenchido tanto por homens quanto por mulheres (veja 1 Tm. 3:11).

 


[1] Esta é somente uma maneira de dizer: “De fazer discípulos para Jesus Cristo”.

* Nota do tradutor: versículo traduzido do inglês.

[2] Se era esperado que os discípulos de Jesus ensinassem seus discípulos a fazer tudo o que Ele havia mandado, eles consequentemente teriam ensinados seus discípulos a fazerem discípulos, batizando-os e ensinando-os a obedecer a tudo o que Cristo ensinou. Portanto, o fazer, batizar e ensinar discípulos teria sido um mandamento perpétuo obrigatório a todos os discípulos subsequentes.

Realidades em Cristo

Capítulo Dezenove (Chapter Nineteen)

Ao longo das epístolas do Novo Testamento, encontramos frases como: “em Cristo”, “com Cristo”, “através de Cristo” e “nEle”. Normalmente, elas revelam algum benefício que nós, como crentes, temos por causa do que Jesus fez por nós. Quando vemos a nós mesmos como Deus nos vê, “em Cristo”, isso nos ajuda a viver como Deus quer que vivamos. O discipulador desejará ensinar aos seus discípulos quem são em Cristo para ajudá-los a crescer até a maturidade espiritual.

Primeiro, o que significa estar “em Cristo”?

Quando renascemos, somos enxertados no corpo de Cristo e nos tornamos um com Ele em espírito. Vamos dar uma olhada em alguns versículos das epístolas do Novo Testamento que afirmam isso:

Assim também em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo (Rm. 12:5, ênfase adicionada).

Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele (1 Co. 6:17, ênfase adicionada).

Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês individualmente, é membro desse corpo (1 Co. 12:27, ênfase adicionada).

Nós que temos crido no Senhor Jesus Cristo devemos nos ver unidos a Ele, membros de Seu corpo e um em espírito com Ele. Ele está em nós e nós nEle.

Aqui está um versículo que nos diz alguns dos benefícios que temos em virtude de estarmos em Cristo:

É, porém, por iniciativa dele que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção (1 Co. 1:30, ênfase adicionada).

Em Cristo fomos justificados (declarados “inocentes” e agora fazemos o que é certo), santificados (separados para o uso santo de Deus), e redimidos (comprados da escravidão). Não estamos esperando para sermos justificados, santificados ou redimidos no futuro. Muito pelo contrário, temos todas essas bênçãos agora, pois estamos em Cristo.

Em Cristo, tivemos nossos pecados do passado perdoados:

Pois ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados (Cl. 1:13-14, ênfase adicionada).

Note que essa passagem também nos diz que não estamos mais no reino de Satanás, o domínio das trevas, mas estamos agora em um reino de luz, no Reino de Jesus.

Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas (2 Co. 5:17, ênfase adicionada).

Louve a Deus por agora ser seguidor de Cristo, você é “nova criação”, como uma lagarta transformada em borboleta! Seu espírito recebeu uma nova natureza. Anteriormente, você possuía a natureza egoísta de Satanás em seu espírito, mas agora, todas as coisas de sua vida antiga “já passaram”.

Mais Bênçãos em Cristo (More Blessings in Christ)

Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Gl. 3:26, ênfase adicionada).

Não é maravilhoso saber que somos na verdade filhos de Deus, nascidos de Seu Espírito? Quando oramos, nos aproximamos dEle não só como nosso Deus, mas também como nosso Pai!

Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos (Ef. 2:10, ênfase adicionada).

Deus não só nos criou, mas nos criou em Cristo. Além do mais, Deus predestinou cada um de nós para cumprir um ministério, “boas obras, as quais Deus preparou antes”. Cada um de nós tem um destino individual divino.

Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus (2 Co. 5:21, ênfase adicionada).

A justiça que temos por estarmos em Cristo é na verdade, a própria justiça de Deus. Isso é porque Deus habita em nós e nos transformou através do Espírito Santo. Nossas boas obras são na verdade, as boas obras de Deus através de nós.

Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou (Rm. 8:37, ênfase adicionada).

O que são “todas estas coisas” de que Paulo escreveu? Os versículos em Romanos que precedem esse versículo revelam que são tribulações e angústias pelas quais os crentes passam. Até no martírio somos vitoriosos, mesmo que o mundo nos considere vítimas. Somos mais que vencedores por meio de Cristo, pois quando morrermos iremos para o céu!

Tudo posso naquele que me fortalece (Fp. 4:13, ênfase adicionada).

Nada é impossível a nós por meio de Cristo porque Deus nos dá habilidade e força. Podemos realizar qualquer tarefa que Ele nos der.

O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus (Fp. 4:19, ênfase adicionada).

Podemos esperar que Deus irá suprir nossas verdadeiras necessidades se buscarmos Seu Reino em primeiro lugar. O Senhor é o nosso pastor e Ele cuida de Suas ovelhas!

Concordando com o que Deus Diz (Agreeing With What God Says)

Infelizmente, alguns de nós não acreditam no que a Palavra de Deus diz a respeito de nós mesmos, o que é provado quando falam coisas que contradizem a Bíblia. Ao invés de dizerem “tudo posso naquele que me fortalece” dizem: “Acho que não consigo”.

Afirmações dessa espécie são o que a Bíblia chama de “relatório negativo”, pois discordam do que Deus diz (veja Nm. 13:32). Contudo, se nossos corações estão cheios da Palavra de Deus, ficamos cheios de fé, cremos e dizemos somente o que está de acordo com as Escrituras.

Algumas Declarações Bíblicas (Some Biblical Declarations)

Devemos acreditar e dizer que somos quem Deus diz que somos.

Devemos acreditar e dizer que podemos fazer o que Deus diz que podemos.

Devemos acreditar e dizer que Deus é quem diz ser.

Devemos acreditar e dizer que Deus fará o que disse que fará.

Abaixo estão algumas frases bíblicas que todos os cristãos podem declarar com ousadia. Nem todas são realidades “em Cristo”, mas são todas verdadeiras de acordo com as Escrituras.

Sou redimido, santificado e justificado em Cristo (veja 1 Co. 1:30).

Fui transferido do reino de trevas para o Reino do Filho de Deus, o Reino de Luz (veja Cl. 1:13).

Todos os meus pecados foram perdoados em Cristo (Ef. 1:7).

Sou nova criatura em Cristo — minha vida antiga já se passou (veja 2 Co. 5:17).

Deus predestinou boas obras para que eu as realize (veja 2 Co. 5:17).

Tornei-me justiça de Deus em Cristo (veja 2 Co. 5:21).

Sou mais que vencedor em todas as coisas por meio de Cristo que me amou (veja Rm. 8:37).

Tudo posso naquele que me fortalece (Fp. 4:13).

Meu Deus supre todas as minhas necessidades de acordo com Suas gloriosas riquezas em Cristo (Fp. 4:19).

Sou chamado para ser santo (veja 1 Co. 1:2).

Sou filho de Deus (veja Jo. 1:12, 1 Jo. 3:1-2).

Meu corpo é templo do Espírito Santo (veja 1 Co. 6:19).

Não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim (veja Gl. 2:20).

Fui tirado da autoridade de Satanás (veja At. 26:18).

O amor de Deus foi espalhado em meu coração pelo Espírito Santo (veja Rm. 5:5).

Maior é o que está em mim do que o que está no mundo (Satanás) (veja 1 Jo. 4:4).

Sou abençoado com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (veja Ef. 1:3).

Estou sentado nos lugares celestiais com Cristo, muito acima das forças espirituais de Satanás (veja Ef. 2:4-6).

Por amar a Deus e ser chamado de acordo com Seu propósito, Ele faz com que todas as coisas cooperem para o bem (veja Rm. 8:28).

Se Deus é por mim, quem poderá ser contra mim? (veja Rm. 8:31).

Nada pode me separar do amor de Cristo (veja Rm. 8:35-39).

Tudo é possível para mim, pois eu creio (veja Mc. 9:23).

Sou sacerdote de Deus (veja Ap. 1:6).

Por ser Seu filho, Deus me guia através de Seu Espírito (veja Rm. 8:14).

Enquanto sigo ao Senhor, o caminho de minha vida brilha cada vez mais (veja Pv. 4:18).

Deus me deu dons especiais para usar no Seu serviço (veja 1 Pd. 4:10-11).

Posso expulsar demônios e impor as mãos sobre doentes para que sejam curados (veja Mc. 16:17-18).

Deus me conduz vitoriosamente em Cristo (veja 2 Co. 2:14).

Sou embaixador de Cristo (veja 2 Co. 5:20).

Tenho a vida eterna (veja Jo. 3:16).

Recebo tudo o que peço em oração, crendo (veja Mt. 21:22).

Sou curado pelas feridas de Jesus (veja 1 Pd. 2:24).

Sou o sal da terra e a luz do mundo (veja Mt. 5:13-14).

Sou herdeiro de Deus e co-herdeiro com Jesus Cristo (veja Rm. 8:27).

Sou parte de uma geração eleita, sacerdócio real, nação santa e povo exclusivo de Deus (veja 1 Pd. 2:9).

Sou membro do corpo de Cristo (veja 1 Co. 12:27).

O Senhor é meu pastor; de nada terei falta (veja Sl. 23:1).

O Senhor é meu refúgio forte; a quem temerei? (veja Sl. 27:1)

O Senhor me dará vida longa (veja Sl. 91:16).

Cristo tomou sobre si minhas enfermidades e sobre si levou minhas doenças (veja Is. 53:4-5).

O Senhor é meu ajudador, não temerei (veja Hb. 13:6).

Lancei minhas ansiedades no Senhor porque Ele cuida de mim (veja 1 Pd. 5:7).

Eu resisto ao Diabo e ele foge de mim (veja Tg. 4:7).

Estou encontrando minha vida perdendo-a por causa de Jesus (veja Mt. 16:25).

Sou escravo de Cristo (veja 1 Co. 7:2).

Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro (veja Fp. 1:21).

Minha cidadania está no céu (veja Fp. 3:20).

Deus completará a obra que começou em mim (veja Fp. 1:6).

Deus está trabalhando em mim para fazer Sua boa vontade (veja Fp. 2:13).

Fui redimido da maldição da Lei (veja Gl. 3:13).

Este é um simples exemplo de declarações positivas que podemos fazer baseando-nos na Palavra de Deus. Seria uma boa ideia criar o hábito de recitar essas declarações até que as verdades que afirmam fiquem enraizadas em nossos corações. E devemos monitorar cada palavra que sai de nossas bocas para termos certeza de que não estamos falando algo contrário ao que Deus disse.

O Ministério de Cura de Jesus

Capítulo Dezesseis (Chapter Sixteen)

Muitos pensam que porque Jesus era o Filho divino de Deus, podia fazer milagres sempre que quisesse. Mas quando examinamos as Escrituras de perto, descobrimos que mesmo sendo divino, Ele era aparentemente limitado durante Seu ministério terreno. Uma vez, Ele disse: “O Filho não poder fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer” (Jo. 5:19). Isto mostra claramente que Jesus era limitado e dependente de Seu Pai.

De acordo com Paulo, quando Jesus se tornou um ser humano, Ele “esvaziou-se a si mesmo” de certas coisas que tinha anteriormente como Deus:

Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo. Vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens (Fp. 2:5-7, ênfase adicionada).

Jesus “esvaziou-se a si mesmo” de quê? Não foi de Sua divindade. Não foi de Sua santidade. Não foi de Seu amor. Deve ter sido de seu poder sobrenatural. Obviamente Ele não era mais onipresente (presente em todos os lugares). Da mesma forma, Ele não era onisciente (conhecedor de todas as coisas), ou onipotente (todo-poderoso). Jesus se tornou homem. Em Seu ministério, operou como um homem ungido pelo Espírito Santo. Isso se torna abundantemente claro quando olhamos de perto os quatro evangelhos.

Por exemplo, podemos perguntar: Se Jesus era o divino Filho de Deus, por que foi necessário que Ele fosse batizado no Espírito Santo quando começou Seu ministério aos trinta anos? Por que Deus precisaria ser batizado com Deus?

Claramente, Jesus precisou do batismo do Espírito Santo para que fosse ungido para o ministério. É por isso que, logo depois de Seu batismo, lemos que Ele prega com estas palavras: “O Espírito do Senhor está obre mim, porque ele me ungiu para pregar…para proclamar…para libertar…” (Lc. 4:18, ênfase adicionada).

Também é por este motivo que Pedro pregou: “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, e como ele andou por toda parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo Diabo, porque Deus estava com ele” (At. 10:38).

Também é por este motivo que Jesus não fez milagres até ser batizado no Espírito Santo aos trinta anos. Ele era o Filho de Deus aos vinte e cinco anos? Com certeza. Então, por que não fez milagres até a idade de trinta anos? Simplesmente, porque Jesus “esvaziou-se a si mesmo” do poder sobrenatural que Deus tem, e teve que esperar pelo tempo em que iria ser ungido pelo Espírito.

Mais Provas que Jesus Ministrou como um Homem Ungido pelo Espírito (More Proof that Jesus Ministered as a Man Anointed by the Spirit)

Quando lemos os evangelhos, notamos que algumas vezes Jesus tinha uma sabedoria sobrenatural e outras não. Na verdade, muitas vezes Jesus fez perguntas para obter informação.

Por exemplo, Ele disse à mulher no poço de Samaria que ela tinha cinco maridos e o homem com quem morava não era seu marido (veja Jo. 4:17-18). Como Jesus sabia disso? Será que é porque Ele era Deus e Deus sabe todas as coisas? Não, se este fosse o caso, Jesus teria demonstrado essa habilidade consistentemente. Mesmo Ele sendo Deus e Deus sabendo todas as coisas, Jesus se esvaziou de Sua onisciência quando se tornou homem. Jesus sabia a história marital da mulher no poço porque o Espírito Santo deu a Ele naquele momento o dom de “palavra de conhecimento” (1 Co. 12:8), que é a habilidade sobrenatural de saber algo sobre o presente ou o passado. (Estudaremos mais detalhadamente o assunto de dons do Espírito no próximo capítulo.)

Jesus sabia todas as coisas o tempo inteiro? Não, quando a mulher com o problema de hemorragia tocou a borda do manto de Jesus e Ele sentiu poder sair dEle, perguntou: “Quem tocou em meu manto?” (Mc. 5:30b). Quando Jesus viu uma figueira à distância em Mc. 11:13, “foi ver se encontraria nela algum fruto”.

Por que Jesus não sabia quem O tinha tocado? Por que não sabia se havia figos na figueira? Porque Jesus estava operando como um homem ungido pelo Espírito Santo com os dons do Espírito. Os dons do Espírito operam como o Espírito deseja (veja 1 Co. 12:11; Hb. 2:4). Jesus não sabia as coisas sobrenaturais, a menos que o Espírito Santo quisesse dar a Ele o dom da “palavra de conhecimento”.

A mesma coisa se aplica ao ministério de cura de Jesus. As Escrituras deixam claro que Jesus não podia curar todo o tempo. Por exemplo, lemos no evangelho de Marcos que quando Jesus visitou Sua cidade natal de Nazaré, não foi capaz de completar tudo o que queria fazer.

Jesus saiu dali e foi para a sua cidade, acompanhado dos seus discípulos. Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam ficavam admirados. “De onde lhe vêm estas coisas?”, perguntavam eles. Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E estes milagres que ele faz? Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? Não estão aqui conosco as suas irmãs?” E ficavam escandalizados por causa dele. Jesus lhes disse: “Só em sua própria terra, entre os seus parentes e em sua própria casa, é que um profeta não tem honra”. E não pôde fazer ali nenhum milagre, exceto impor as mãos sobre alguns doentes e curá-los. E ficou admirado com a incredulidade deles (Mc. 6:1-6, ênfase adicionada).

Note que Marcos não disse que Jesus não quis fazer nenhum milagre ali, mas que não pôde. Por quê? Porque as pessoas de Nazaré eram descrentes. Elas não receberam Jesus como o ungido Filho de Deus, mas somente como o filho de um carpinteiro local. Assim como Jesus mesmo advertiu: “Só em sua própria terra, entre os seus parentes e em sua própria casa, é que um profeta não tem honra” (Mc. 6:4). Como resultado, o máximo que pôde fazer foi curar algumas pessoas de “pequenas dores” (como diz uma tradução). Com certeza, se houvesse um lugar em que Jesus quisesse fazer milagres e curar muitas pessoas, seria na cidade em que viveu a maior parte de Sua vida. Contudo, a Bíblia diz que não pôde.

Mais Vislumbres de Lucas (More Insight from Luke)

Jesus curou principalmente por dois métodos diferentes: (1) ensinando a palavra de Deus para encorajar pessoas doentes a terem fé para serem curadas e (2) operando com “dom de cura” como o Espírito Santo escolhesse. Portanto, Jesus era limitado por dois fatores em Seu ministério de cura: (1) a descrença dos doentes e (2) a vontade do Espírito Santo de Se manifestar através do “dom de cura”.

Obviamente, a maioria das pessoas na cidade natal de Jesus não tinha fé nEle. Mesmo que já tivessem ouvido de Seus milagres em outras cidades, não acreditaram que Ele tivesse poder para curar, e consequentemente, Ele não pôde curá-los. Além do mais, aparentemente, o Espírito Santo não quis dar a Jesus nenhum “dom de cura” em Nazaré — por um motivo que ninguém conhece.

Lucas registra com ainda mais detalhes que Marcos exatamente o que aconteceu quando Jesus visitou Nazaré:

Ele [Jesus] foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor”. Então ele fechou o livro… [e] começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir”. Todos falavam bem dele, e estavam admirados com as palavras de graça que saíam de seus lábios. Mas perguntavam: “Não é este o filho de José?” (Lc. 4:16-22).

Jesus queria que Sua audiência acreditasse que Ele era o prometido e ungido da profecia de Isaías, esperando que cressem e recebessem todos os benefícios de Sua unção, que de acordo com Isaías, incluía libertar cativos e oprimidos assim como dar visão aos cegos. [1] Mas eles não acreditaram, e mesmo que estivessem impressionados por Sua habilidade de falar, não acreditavam que o filho de José fosse alguém especial. Reconhecendo seu cepticismo, Jesus respondeu:

É claro que vocês me citarão este provérbio: “Médico, cura-te a ti mesmo! Faze aqui em tua terra o que ouvimos que fizeste em Cafarnaum”… Digo-lhes a verdade: Nenhum profeta é aceito em sua terra (Lc. 4:23-24).

As pessoas na cidade natal de Jesus estavam esperando para ver se Ele faria o que ouviram que tinha feito em Cafarnaum. Sua atitude não era de expectativa de fé, mas de cepticismo. Por sua falta de fé, eles O impediram de executar milagres e curas maiores.

Outra Limitação de Jesus em Nazaré (Jesus’ Other Limitation in Nazareth)

As próximas palavras de Jesus à multidão de Nazaré revela que também foi limitado pelo querer do Espírito Santo de Se manifestar através dos “dons de cura”:

Asseguro-lhes que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu foi fechado por três anos e meio, e houve uma grande fome em toda a terra. Contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, senão a uma viúva de Sarepta, na região de Sidom. Também havia muitos leprosos em Israel no tempo de Eliseu, o profeta; todavia, nenhum deles foi purificado — somente Naamã, o sírio (Lc. 4:25-27).

O propósito de Jesus era mostrar que Elias não podia multiplicar óleo e farinha para sustentar qualquer viúva que ele quisesse durante os três anos e meio de fome de Israel (veja 1 Rs. 17:9-16). Mesmo havendo muitas viúvas sofrendo em Israel naquele tempo, o Espírito ungiu a Elias para ajudar uma única viúva que nem era israelita. Da mesma forma, Eliseu não pôde purificar qualquer leproso que ele quisesse. Isto é provado pelo fato de que existiam muitos leprosos em Israel quando Naamã foi curado. Se tivesse sido sua escolha, Eliseu provavelmente tentaria curar seus companheiros israelitas que eram leprosos antes de curar a Naamã, um adorador de ídolos.

Ambos Elias e Eliseu eram profetas — homens ungidos por Deus que eram usados em vários dons como o Espírito Santo desejava. Por que Deus não mandou Elias a algumas outras viúvas? Eu não sei. Por que Deus não usou Eliseu para curar alguns outros leprosos? Eu não sei. Ninguém sabe, exceto Deus.

Contudo, essas duas histórias familiares do Velho Testamento não provam que não era a vontade de Deus suprir as necessidade de todas as viúvas ou curar todos os leprosos. O povo de Israel poderia ter trazido um fim a sua fome durante o tempo de Eliseu se eles e seu rei perverso Acabe tivessem se arrependido de seus pecados. A fome era uma forma de julgamento de Deus. E todos os leprosos em Israel poderiam ter sido curados se obedecessem e acreditassem nas palavras da aliança dada por Deus, que, como vimos, incluía cura física.

Jesus revelou a sua audiência em Nazaré que estava debaixo das mesmas limitações que Elias e Eliseu estavam. Por algum motivo, o Espírito Santo não deu a Jesus nenhum dos “dons de cura” em Nazaré. Este fato, unido à descrença do povo de Nazaré, resultou no não desempenho de maiores milagres através de Jesus em Sua terra natal.

Uma Olhada em Um “Dom de Cura” Através de Jesus (A Look at One “Gift of Healing” Through Jesus)

Se estudarmos os relatos dos evangelhos das várias curas executadas por Jesus, veremos que a maioria das pessoas foram curadas, não através de “dons de cura”, mas através de sua fé. Vamos considerar as diferenças entre esses dois tipos de cura olhando para exemplos de ambos. Primeiro, estudaremos a história do homem aleijado no tanque de Betesda, curado não por sua fé, mas por um “dom de cura” através de Jesus.

Há em Jerusalém, perto da porto das Ovelhas, um tanque que, em aramaico, é chamado Betesda, tendo cinco entradas em volta. Ali costumava ficar grande número de pessoas doentes e inválidas: cegos, mancos e paralíticos. Eles esperavam um movimento nas águas. De vez em quando descia um anjo do Senhor e agitava as águas. O primeiro que entrasse no tanque, depois de agitada as águas, era curado de qualquer doença que tivesse. Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos. Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: “Você quer ser curado?” Disse o paralítico: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim”. Então Jesus lhe disse: “Levante-se! Pegue a sua maca e ande”. Imediatamente o homem ficou curado, pegou a maca e começou a andar (Jo. 5:2-9).

Como sabemos que esse homem foi curado, não por sua fé, mas através de um “dom de cura”? Existem várias indicações.

Primeiro, note que este homem não estava buscando a Jesus. Pelo contrário, Jesus o encontrou sentado perto do tanque. Se o homem estivesse buscando a Jesus, seria uma indicação de fé por parte dele.

Segundo, Jesus não disse ao homem que a fé dele o tinha curado, como fazia quando curava outras pessoas.

Terceiro, quando o homem curado foi questionado mais tarde pelos judeus sobre quem lhe disse para “levantar e andar”, ele respondeu que nem sabia quem era o Homem. Portanto, com certeza, não foi sua fé em Jesus que o curou. Este foi um caso claro de que alguém foi curado através de um “dom de cura”, manifestado pelo querer do Espírito.

Note também que mesmo que houvesse uma multidão de pessoas doentes esperando pelo mover das águas, Jesus só curou um indivíduo e deixou os outros da multidão doentes. Por que? Novamente, eu não sei. Contudo, este incidente não prova que é a vontade de Deus que alguns continuem doentes. Qualquer uma e todas aquelas pessoas doentes poderiam ter sido curadas através da fé em Jesus. Aliás, esta pode ter sido a razão deste homem ter sido curado de modo sobrenatural — para chamar a atenção de todas aquelas pessoas doentes para Jesus, que poderia e iria curá-los se somente cressem.

Muitas vezes, os “dons de cura” ficam na categoria de “sinais e maravilhas”, isto é, milagres designados para chamar a atenção para Jesus. É por isto que os evangelistas do Novo Testamento, como Filipe, eram equipados com vários “dons de cura”, porque os milagres que executavam chamavam atenção ao evangelho que estavam pregando (veja At. 8:5-8).

Crentes doentes não devem esperar que alguém com “dons de cura” apareça e os cure, porque esta pessoa e dom podem nunca vir. A cura está disponível através da fé em Jesus e, mesmo que nem todos sejam curados através de dons de cura, todos podem ser curados através de sua fé. Dons de cura são colocados na igreja principalmente para que incrédulos possam ser curados e suas atenções sejam chamadas ao evangelho. Isto não quer dizer que cristãos nunca serão curados através de dons de cura. Contudo, Deus espera que Seus filhos recebam cura através da fé.

Um Exemplo de uma Pessoa Curada por Sua Fé (One Example of a Person Healed By His Faith)

Bartimeu era um homem cego que foi curado por sua fé em Jesus. Vamos ler sua história no evangelho de Marcos.

Então chegaram a Jericó. Quando Jesus e seus discípulos, juntamente com uma grande multidão, estavam saindo da cidade, o filho de Timeu, Bartimeu, que era cego, estava sentado à beira do caminho pedindo esmolas. Quando ouviu que era Jesus de Nazaré, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” Muitos o repreendiam para que ficasse quieto, mas ele gritava ainda mais: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” Jesus parou e disse: “Chamem-no”. E chamaram o cego: “Ânimo! Levante-se! Ele o está chamando”. Lançando sua capa para o lado de um salto pôs-se em pé e dirigiu-se a Jesus. “O que você quer que eu lhe faça?”, perguntou-lhe Jesus. O cego respondeu: “Mestre, eu quero ver!” “Vá”, disse Jesus, “a sua fé o curou”. Imediatamente ele recuperou a visão e seguiu Jesus pelo caminho (Mc. 10:46-52).

Primeiro, note que Jesus não foi até Bartimeu. (Isto é exatamente o oposto do que aconteceu com o homem no tanque de Betesda). Na verdade, Jesus estava passando por ele, e se Bartimeu não O tivesse chamado, Jesus continuaria andando. Isto significa que Bartimeu não teria sido curado.

Agora pense sobre isso. E se Bartimeu tivesse ficado sentado e dito a si mesmo: “Bom, se for da vontade de Jesus que eu seja curado, Ele virá e me curará”. O que teria acontecido? Bartimeu nunca teria sido curado, mesmo que esta história revele claramente que era a vontade de Jesus que ele fosse curado. O primeiro sinal da fé de Bartimeu é que ele chamou Jesus.

Segundo, note que Bartimeu não se desencorajou pelas pessoas que o mandaram ficar quieto. Quando tentaram silenciá-lo, ele gritou “ainda mais” (Mc. 10:48). Isto mostra sua fé.

Terceiro, note que Jesus não respondeu aos primeiros chamados de Bartimeu. É claro que é possível que Ele não tivesse ouvido, mas se ouviu, não respondeu. Em outras palavras, Jesus deixou que a fé do homem fosse testada.

Se Bartimeu tivesse desistido de gritar depois de um tempo, não seria curado. Às vezes, nós também precisamos perseverar na fé, porque muitas vezes parece que nossa oração não será atendida. É aí que nossa fé é testada; portanto, precisamos continuar em pé, recusando-nos a sermos desencorajados pelas circunstâncias adversas.

Mais Indicações da Fé de Bartimeu (Further Indications of Bartimaeus’ Faith)

Quando Jesus finalmente o chamou para se aproximar, a Bíblia diz que Bartimeu lançou “sua capa para o lado”. É do meu conhecimento que os cegos nos tempos de Jesus usavam certo tipo de capa que os identificava como cego ao público. Se isto for verdade, talvez Bartimeu tenha lançado sua capa para o lado quando Jesus o chamou porque acreditava que não precisaria mais ser identificado como tal. Portanto, sua fé é evidente novamente.

Além do mais, quando Bartimeu lançou sua capa, a Bíblia diz que “de um salto pôs-se em pé”, uma indicação de animação antecipada que algo de bom estava para acontecer a ele. Pessoas que têm fé para a cura ficam animadas quando oram para que Deus os cure porque esperam receber cura.

Note que Jesus testou a fé de Bartimeu mais uma vez enquanto este estava na Sua frente. Ele perguntou a Bartimeu o que desejava, e por sua resposta, fica claro que acreditava que Jesus poderia curá-lo de sua cegueira.

Finalmente, Jesus lhe disse que sua fé o curou. Se Bartimeu pôde ser curado pela fé, qualquer pessoa pode, porque Deus “não trata as pessoas com imparcialidade”.

Para Mais Estudo (For Further Study)

Listei abaixo vinte e um casos específicos de curas executadas por Jesus como registradas nos quatro evangelhos. Jesus, é claro, curou muito mais que vinte e uma pessoas, mas em todos estes casos sabemos alguns detalhes sobre o indivíduo doente e como ela ou ele foi curado.

Dividi a lista em duas categorias principais — aqueles que foram curados por fé e aqueles que foram curados através dos dons de cura. Notei que em vários casos quando as pessoas foram curadas por fé, Jesus lhes disse para não falarem sobre suas curas. Isto indica ainda mais que estes não eram “dons de cura” porque os doentes não eram curados para anunciar a Jesus ou ao evangelho.

Casos Onde Fé ou Crença é Mencionada como Causa de Cura(Cases Where Faith or Believing is Mentioned as the Cause of Healing:)

1. O servo do centurião: Mateus 5-13; Lucas 7:2-10 “Como você creu, assim lhe acontecerá!”

2. O paralítico baixado pelo telhado: Mateus 9:2-8; Marcos 2:3-11; Lucas 5:18-26 “Vendo a fé que eles tinham…ele disse…vá para casa”.

3. A filha de Jairo: Mateus 9:18-26; Marcos 5:22-43; Lucas 8:41-56 “Não tenha medo; tão somente creia…Ele deu ordens expressas para que não dissessem nada a ninguém”.

4. A mulher com problema de hemorragia: Mateus 9:20-22; Marcos 5:25-34; Lucas 8:43-48 “A sua fé a curou”.

5. Dois homens cegos: Mateus 9:27-31 “Que seja feito de acordo com a fé que vocês têm!…Cuidem para que ninguém saiba disso”.

6. O cego Bartimeu: Marcos 10:46-52; Lucas 18:35-43 “A sua fé o curou”.

7. Os dez leprosos: Lucas 17:12-19 “A sua fé o salvou”.

8. O filho do oficial: João 4:46-53 “O homem confiou na palavra de Jesus”.

Nos próximos quatro casos, a fé das pessoas doentes não é mencionada especificamente, mas está implícita por suas palavras e ações. Por exemplo, os dois homens cegos (no número 10) chamaram a Jesus enquanto Ele passava, assim como fez Bartimeu. Todos os doentes nestes quatro exemplos buscaram a Jesus, uma indicação clara de sua fé. Em três dos quatro casos, Jesus disse aos que curou para não contarem a ninguém sobre o que aconteceu, indicando que nestes casos não havia “dons de cura”.

9. O leproso que não conhecia a vontade de Deus: Mateus 8:2-4; Marcos 1:40-45; Lucas 5:12-14 “Olhe, não conte isso a ninguém”.

10. Os dois homens cegos (um deles era provavelmente Bartimeu): Mateus 20:30-34 “[Eles] puseram-se a gritar: ‘Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós!”

11. O homem surdo e mudo: Marcos 7:32-36 “Jesus ordenou-lhe que não o contassem a ninguém”.

12. Um homem cego: Marcos 8:22-26 “Não entre no povoado”.

Estes dois últimos casos de pessoas que foram curadas através da fé, não foram na verdade curadas — foram libertas de demônios. Mas Jesus deu crédito à fé deles por sua libertação.

13. O menino endemoninhado: Mateus 17:14-18; Marcos 9:17-27; Lucas 9:38-42 “Disse Jesus…‘Tudo é possível àquele que crê’. Imediatamente o pai do menino exclamou: ‘Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!’”

14. A filha da mulher siro-fenícia: Mateus 15:22-28; Marcos 7:25-30 “Mulher, grande é a sua fé! Seja conforme você deseja.”

O Caso de Pessoas Curadas Através dos “Dons de Cura”: (Cases of People Healed Through “Gifts of Healings”:)

Estes últimos sete casos são de pessoas que, aparentemente, foram curadas através de dons de cura. Contudo, nos primeiros três casos, obediência a um comando específico de Jesus foi exigida antes de a pessoa doente poder ser curada. Em nenhum destes casos Jesus disse à pessoa curada para não contar a ninguém sobre sua cura. E em nenhum desses casos a pessoa doente buscou a Jesus.

15. O homem com a mão atrofiada: Mateus 12:9- 13; Marcos 3:1-5; Lucas 6:6-10 “Levante-se e venha para o meio…Estenda a mão”.

16. O homem no tanque de Betesda: João 5:2-9 “Levante-se! Pegue a sua maca e ande”.

17. O homem cego de nascença: João 9:1-38 “Vá lavar-se no tanque de Siloé”.

18. A sogra de Pedro: Mateus 8:14-15; Marcos 1:30-31; Lucas 4:38-39.

19. A mulher que ficou encurvada por 18 anos: Lucas 13:11-16.

20. O homem curado de edema: Lucas 14:2-4.

21. O servo do sumo sacerdote: Lucas 22:50-51.

Note que em todos os vinte e um exemplos acima, não há casos de um adulto ser curado somente pela fé de outro adulto. Em todos os casos quando alguém era curado pela fé de outra pessoa, era sempre uma criança sendo curada pela fé de seus pais (veja exemplo 1, 3, 8, 13 e 14).

As únicas exceções possíveis seriam os exemplos 1 e 2, o servo do centurião e o paralítico baixado pelo telhado. No caso do servo do centurião, a palavra grega traduzida servo é a palavra pais, que também pode ser traduzida menino como em Mateus 17:18: “Jesus repreendeu o demônio; este saiu do menino que, daquele momento em diante, ficou curado” (ênfase adicionada).

Se realmente foi o servo do centurião e não seu filho, seu servo devia ser um menino. Portanto, o centurião era responsável pelo menino como guardião legal e podia exercer fé em seu nome, assim como qualquer pai por seu filho.

No caso do paralítico baixado pelo telhado, note que o paralítico teve que ter fé, caso contrário, nunca teria permitido que seus amigos o baixassem pelo telhado. Portanto, não foi salvo somente pela fé de seus amigos.

Tudo isso indica que é improvável que a fé de um adulto possa resultar na cura de outro que esteja doente se este adulto não tem fé por si mesmo. Sim, um adulto pode orar em concordância com outro que precise de cura, mas a falta de fé da pessoa doente pode anular os efeitos da fé do outro adulto.

Contudo, nossos próprios filhos podem ser curados através de nossa fé até certa idade. Eventualmente chegarão à idade onde Deus espera que recebam dEle, baseados em sua própria fé.

Eu os encorajo a estudarem de perto cada exemplo listado acima em sua própria Bíblia para fortalecer sua fé na provisão de cura de nosso Senhor.

A Unção de Cura (The Healing Anointing)

Finalmente, é importante saber que Jesus foi ungido com poder real de cura durante Seu ministério terreno. Isto é, Ele realmente podia sentir aquela unção de cura sair de Seu corpo, e em alguns casos a pessoa doente que estava sendo curada pôde sentir esta unção quando entrava em seu corpo. Por exemplo, Lucas 6:19 diz: “e todos procuravam tocar nele, porque dele saía poder que curava todos”.

Aparentemente, esta unção de cura até saturava as roupas de Jesus para que, se uma pessoa doente tocasse em Suas vestes com fé, a unção de cura fluiria em seu corpo. Lemos em Marcos 6:56:

E aonde quer que ele fosse, povoados, cidades ou campos, levavam os doentes para as praças. Suplicavam-lhe que pudessem pelo menos tocar na orla de suas vestes; e todos os que nele tocavam era curados.

A mulher com problema de hemorragia (veja Mc. 5:25-34) foi curada por simplesmente tocar a borda da veste de Jesus e esperar com fé que fosse curada.

Não só Jesus foi ungido com unção real de cura, mas também Paulo, durante os últimos anos de seu ministério:

Deus fazia milagres extraordinários por meio de Paulo, de modo que até lenços e aventais que Paulo usava eram levados e colocados sobre os enfermos. Estes eram curados de suas doenças, e os espíritos malignos saíam deles (At. 19:11-12).

A unção real de cura saturava quaisquer panos que fossem presos ao corpo de Paulo, indicando evidentemente que pano é um bom condutor de poder de cura!

Deus não mudou desde os dias de Jesus ou Paulo; portanto, não devemos nos surpreender se Deus ungir a alguns de Seus servos hoje com tal unção de cura, como fez com Jesus e Paulo. Contudo, esses dons não são normalmente dados a ministros novos, mas somente para aqueles que provam ser fiéis e generosos em sua motivação por certo período de tempo.

 


[1] Tudo isso pode se referir à cura física. Doenças definitivamente podem ser consideradas opressões, como as Escrituras dizem que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e poder, e…ele andou por toda a parte fazendo o bem e curando todos os oprimidos pelo Diabo” (At. 10:38).

Os Dons do Espírito

Capítulo Dezessete (Chapter Seventeen)

A Bíblia está cheia de momentos em que homens e mulheres receberam habilidades sobrenaturais do Espírito Santo. No Novo Testamento, essas habilidades são chamadas de “dons do Espírito”. São dons, no sentido de que não podem ser merecidos. Contudo, não devemos esquecer de que Deus promove aqueles em quem pode confiar. Jesus disse: “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (Lc. 16:10). Portanto, esperaríamos que os dons do Espírito fossem mais provavelmente entregues àqueles que têm provado sua fidelidade diante de Deus. Ser inteiramente consagrado e rendido ao Espírito Santo é importante, já que é mais provável que Deus use este tipo de pessoa de forma sobrenatural. Por outro lado, Deus usou um burro para profetizar; portanto, pode usar a quem quiser. Se tivesse que esperar até que estivéssemos perfeitos para usar-nos, não poderia contar com nenhum de nós! No Novo Testamento, os dons do Espírito estão listados em 1 Coríntios 12 e existem nove ao todo:

Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de curar, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas (1 Co. 12:8-10).

Saber definir cada dom individualmente não é crucial para ser usado por Deus com dons espirituais. Todos os profetas, sacerdotes e reis do Velho Testamento, assim como os ministros da igreja primitiva do Velho Testamento, operaram os dons do Espírito sem conhecimento de como categorizá-los ou defini-los. No entanto, porque os dons do Espírito estão categorizados para nós no Novo Testamento, deve ser algo que Deus quer que entendamos. De fato, Paulo escreveu: “Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que vocês sejam ignorantes” (1 Co. 12:1).

Os Nove Dons Categorizados (The Nine Gifts Categorized)

Os nove dons do Espírito têm sido categorizados nos tempos modernos em três grupos: (1) dons de discurso, que são: vários tipos de línguas, interpretação de línguas e profecia; (2) dons de revelações, que são: palavras de sabedoria, palavras de conhecimento, e discernimento de espíritos; e (3) dons de poder, que são: milagres, fé especial e dons de cura. Três desses dons dizem algo; três deles revelam algo; e três deles fazem algo. Todos esses dons foram manifestados debaixo da antiga aliança com a exceção de vários tipos de línguas e a interpretação de línguas. Esses dois dons são distintos da nova aliança.

O Novo Testamento não dá instruções a respeito do uso próprio de qualquer dos “dons de poder” e poucas sobre o uso dos “dons de revelação”. Contudo, uma quantidade significante de instrução é dada por Paulo a respeito do uso correto dos “dons de discurso”, e a razão disto é provavelmente dupla.

Primeiro, os dons de discurso são manifestados na maioria das vezes em reuniões de igrejas, enquanto dos dons de revelação se manifestam com menos regularidade e os dons de poder, menos ainda. Portanto, precisaríamos de mais instruções sobre os dons que se manifestam com mais frequência em reuniões de igrejas.

Segundo, os dons de discurso parecem requerer maior cooperação humana e são, portanto, os mais prováveis de serem usados de forma errada. É bem mais fácil aumentar e arruinar uma profecia que destruir um dom de cura.

Como o Espírito Quer (As the Spirit Wills)

É importante entender que os dons do Espírito são dados como o Espírito deseja e não como a pessoa quer. A Bíblia deixa bem claro:

Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer (1 Co. 12:11, ênfase adicionada).

Deus também deu testemunho dela por meio de sinais, maravilhas, diversos milagres e dons do Espírito Santo distribuídos de acordo com a sua vontade (Hb. 2:4, ênfase adicionada).

Certa pessoa pode ser usada frequentemente com alguns dons, mas não possuir nenhum deles. O fato de você ser ungido uma vez para fazer um milagre não significa que pode fazer milagres sempre que quiser; e também não garante que possa ser usado novamente para fazer outro milagre.

Vamos estudar e considerar alguns exemplos bíblicos de cada dom. Contudo, lembre-se de que Deus pode manifestar Sua graça e poder de infinitas maneiras; portanto, é impossível definir exatamente como cada dom será operado todas as vezes. Além do mais, não há definições dos nove dons nas Escrituras — tudo o que temos são suas classificações. Assim sendo, tudo o que podemos fazer é olhar exemplos na Bíblia e tentar determinar a que categoria cada dom pertence, definindo-os, por fim, por suas diferenças aparentes. Por existirem tantas maneiras pelas quais o Espírito Santo pode Se manifestar através dos dons sobrenaturais, pode ser insensatez tentar ser restrito demais em nossas definições. Na verdade, alguns dons podem ser combinações de vários outros. Sobre o mesmo assunto, Paulo escreveu:

diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação [ou operação], mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum (1 Co. 12:4-7, ênfase adicionada).

Os Dons de Poder (The Power Gifts)

1) Os dons de cura: Obviamente, os dons de cura têm algo a ver com pessoas doentes sendo curadas. Muitas vezes, são definidos como dons sobrenaturais repentinos para curar fisicamente pessoas doentes, e não vejo razão de questionar isso. No capítulo anterior vimos um exemplo de um dom de cura sendo manifestado através de Jesus quando este curava o homem aleijado no tanque de Betesda (veja Jo. 5:2-17).

Deus usou Eliseu para curar Naamã, o leproso sírio, que era um adorador de ídolos (veja 2 Rs. 5:1-14). Como aprendemos quando examinamos as palavras de Jesus a respeito da cura de Naamã em Lucas 4:27, Eliseu não podia curar qualquer leproso quando quisesse. De repente, ele foi inspirado de forma sobrenatural a instruir Naamã a mergulhar no Rio Jordão sete vezes, e quando este finalmente obedeceu, foi limpo de sua lepra.

Deus usou Pedro para curar o homem paralitico na porta do templo chamada Formosa através de um dom de cura (At. 3:1-10). Além de curar o homem, o ato sobrenatural atraiu muitas pessoas para ouvir o evangelho através de Pedro, e mais ou menos cinco mil pessoas se juntaram à Igreja naquele dia. Muitas vezes, dons de cura têm o propósito duplo de curar pessoas doentes e atrair incrédulos a Cristo.

Quando Pedro estava pregando para aqueles que se reuniram naquele dia, ele disse:

Israelitas, por que isto os surpreende? Por que vocês estão olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar por nosso próprio poder ou piedade? (At. 3:12).

Pedro reconheceu que não foi por poder algum que possuía ou por sua grande santidade que Deus o usou para curar o aleijado. Lembre-se de que apenas dois meses antes desse milagre, Pedro negou que conhecia a Jesus. O fato de Deus ter usado Pedro milagrosamente nas primeiras páginas de Atos deve reforçar nossa convicção de que Deus também nos usará como desejar.

Quando Pedro tentou explicar como o homem havia sido curado, é bem improvável que tenha categorizado o dom como “dom de cura”. Tudo o que sabia é que ele e João estavam passando por um homem aleijado e de repente se viu ungido com fé para que o homem fosse curado. Então, mandou que o homem andasse no nome de Jesus; segurou-o pela mão direita e o levantou. O aleijado os seguiu “andando, saltando e louvando a Deus”. Pedro explicou desta forma:

Pela fé no nome de Jesus, o Nome curou este homem que vocês vêem e conhecem. A fé que vem por meio dele lhe deu esta saúde perfeita, como todos podem ver (At. 3:16).

Pegar um homem aleijado pela mão, levantá-lo e esperar que ande requer uma fé especial! Juntamente com este dom de cura em particular, o fornecimento de fé também seria necessário para que ele acontecesse.

Alguns sugeriram que a razão desse dom estar no plural (isto é, “dons” de cura) é porque existem diferentes dons que curam diferentes tipos de doenças. As pessoas que têm sido usadas frequentemente com dons de cura, às vezes, descobrem que, através de seus ministérios, algumas doenças em particular são curadas com mais frequência que outras. Por exemplo, o evangelista Filipe parecia ter mais sucesso em curar paralíticos e mancos (At. 8:7). Alguns evangelistas do século passado, por exemplo, eram melhores com cegueira, surdez, problemas de coração e assim por diante, dependendo de quais dons de cura eram manifestados através deles mais frequentemente.

2) O dom de fé e o dom de fazer de milagres: O dom de fé e o de fazer milagres parecem bem próximos. O indivíduo que é ungido com ambos os dons, de repente recebe fé para o impossível. Várias vezes, a diferença entre os dois é descrita da seguinte forma: com o dom de fé, o ungido recebe fé para receber um milagre para si mesmo; enquanto com o dom de fazer milagres, o indivíduo recebe fé para fazer um milagre para outros.

Às vezes, o dom de fé é mencionado como “fé especial” porque é uma concessão repentina de fé que vai além da fé habitual. Normalmente a fé vem ao ouvir uma promessa de Deus, enquanto a fé especial é uma concessão repentina pelo Espírito Santo. Os que já experimentaram esse dom de fé especial dizem que coisas que antes consideravam impossíveis se tornam possíveis de repente, e na verdade, eles acham impossível duvidar. O mesmo se aplica ao dom de fazer milagres.

A história dos três amigos de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego nos dá um ótimo exemplo de como a “fé especial” faz com que duvidar se torne impossível. Quando foram lançados na fornalha em chamas por se recusarem a se ajoelhar diante do ídolo do rei, todos os três receberam o dom de fé especial. Seria necessário mais que fé normal para sobreviver às chamas ardentes! Vamos dar uma olhada nesses três jovens apresentados diante do rei:

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego responderam assim: Ó rei nós não vamos nos defender. Pois, se o nosso Deus, a quem adoramos, quiser, ele poderá nos salvar da fornalha e nos livrar do seu poder, ó rei. E mesmo que o nosso Deus não nos salve, o senhor pode ficar sabendo que não prestaremos culto ao seu deus. Nem adoraremos a estátua de ouro que o senhor mandou fazer (Dn. 3:16-18, ênfase adicionada).

Note que o dom estava operando mesmo antes de serem lançados na fornalha. Não havia dúvida em suas mentes de que Deus os salvaria.

Elias operou o dom de fé especial quando foi alimentado diariamente por corvos durante os três anos e meio de fome do reinado do malvado rei Acabe (veja 1 Rs. 17:1-6). É necessário mais que fé normal para confiar que Deus usará pássaros para lhe trazer comida todas as manhãs e noites. Mesmo que Deus não nos tenha prometido em Sua Palavra que corvos nos trarão comida todos os dias, podemos usar nossa fé normal para confiar que Deus suprirá nossas necessidades — pois essa é uma promessa (veja Mt. 6:25-34).

A operação de milagres foi bem frequente durante o ministério de Moisés. Ele operou com esse dom quando abriu o Mar Vermelho (veja Ex. 14:13-31) e quando as várias pragas sobrevieram no Egito.

Jesus operou milagres quando alimentou os 5.000 multiplicando alguns pães e peixes (veja Mt. 14:15-21).

Outro exemplo da operação de milagres seria quando Paulo fez com que Elimas, o mago, ficasse cego durante certo tempo por estar atrapalhando seu ministério na ilha de Chipre (veja At. 13:4-12).

Os Dons de Revelação (The Revelation Gifts)

1) A palavra de conhecimento e a palavra de sabedoria: O dom da palavra de conhecimento é, muitas vezes, definido como uma concessão sobrenatural de alguma informação, passada ou presente. Deus, que possui todo o conhecimento, às vezes concede uma pequena porção dele, e talvez por isso, seja chamada de palavra de conhecimento. Uma palavra é uma porção fragmentada de uma frase , e uma palavra de conhecimento seria uma porção fragmentada do conhecimento de Deus.

A palavra de sabedoria é bem parecida com a palavra de conhecimento, mas às vezes, é definida como uma concessão sobrenatural repentina de conhecimento de eventos futuros. O conceito de sabedoria normalmente envolve algo a respeito do futuro. Novamente, essas definições são um tanto especulativas.

Vamos dar uma olhada em um exemplo do Velho Testamento sobre a palavra de conhecimento. Depois de Eliseu ter limpado Naamã, o leproso sírio, este ofereceu a Eliseu uma grande quantia de dinheiro em gratidão pela sua cura. Eliseu recusou o presente, para que ninguém pensasse que a cura de Naamã tivesse sido comprada, ao invés de dada graciosamente por Deus. Contudo, Geazi, servo de Eliseu, viu uma oportunidade para ganhar riqueza pessoal e recebeu secretamente parte do pagamento de Naamã. Depois de Geazi ter escondido seu ganho fraudulento, ele apareceu diante de Eliseu. Então, lemos:

Este [Eliseu] perguntou: “Onde é que você foi?” “Eu não fui a lugar nenhum!”, respondeu Geazi. Mas Eliseu disse: “O meu espírito estava com você quando aquele homem desceu do carro para falar com você.” (2 Rs. 5:25b-26a).

Deus, que conhecia bem a obra suja de Geazi, a revelou de forma sobrenatural a Eliseu. Contudo, essa história deixa claro que Eliseu não “possuía” o dom da palavra de conhecimento; isto é, ele não sabia tudo sobre todos, o tempo inteiro. Se esse fosse o caso, Geazi nunca teria imaginado que poderia esconder seu pecado. Eliseu só sabia das coisas de forma sobrenatural quando Deus as revelava a ele ocasionalmente. O dom operava como o Espírito desejava.

Jesus operou o dom da palavra de conhecimento quando disse à mulher no poço de Samaria que ela havia tido cinco maridos (veja Jo. 4:17-18).

Pedro foi usado com esse dom quando soube de forma sobrenatural que Ananias e Safira estavam mentindo para a congregação sobre dar à igreja todo o dinheiro que tinham recebido pela terra recém-vendida (veja At. 5:1-11).

Quanto ao dom da palavra de sabedoria, vemos frequentes manifestações desse dom através de todos os profetas do Velho Testamento. Sempre que prediziam um evento futuro, a palavra de sabedoria estava sendo operada. Jesus também recebia esse dom com bastante frequência. Ele predisse a destruição de Jerusalém, Sua própria crucificação e eventos que aconteceriam ao mundo antes de Sua segunda vinda (veja Lc. 17:22-36; 21:6-18).

O apóstolo João foi usado com esse dom quando os julgamentos do período de Tribulação foram revelados a ele. Esses, ele registrou para nós no livro de Apocalipse.

2) O dom de discernimento de espíritos: O dom de discernir espíritos é muitas vezes definido como uma repentina habilidade sobrenatural de ver ou discernir o que está acontecendo no reino espiritual.

Uma visão recebida através dos olhos ou mente de um crente pode ser classificada como discernimento de espíritos. Esse dom pode permitir que um crente veja anjos, demônios ou até mesmo Jesus, como aconteceu com Paulo em várias ocasiões (veja At. 18:9-10; 22:17-21; 23:11).

Quando Eliseu e seu servo estavam sendo perseguidos pelo exército sírio, se encontraram em uma armadilha na cidade de Dotã. Nesse momento, o servo de Eliseu olhou por cima do muro da cidade e, vendo a quantidade de soldados reunidos, ficou preocupado:

O profeta respondeu: “Não tenha medo. Aqueles que estão conosco são mais numerosos do que eles”. E Eliseu orou: “Senhor, abre os olhos dele para que veja”. Então o Senhor abriu os olhos do rapaz, que olhou e viu as colinas cheias de cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu (2 Rs. 6:16-27).

Você sabia que anjos podem andar em cavalos e carruagens espirituais? Um dia você os verá no céu, mas o servo de Eliseu recebeu a habilidade de vê-los na terra.

Através desse dom, um crente pode discernir um espírito maligno oprimindo alguém e ter a habilidade de identificar qual é o tipo de espírito.

Esse dom incluiria mais que somente ver o reino espiritual, mas também discernir coisas dentro dele. Por exemplo, pode envolver ouvir algo do reino espiritual, como a própria voz de Deus.

Por ultimo, não é, como muitos pensam, “o dom de discernimento”. Muitas vezes, as pessoas que dizem tê-lo pensam que podem discernir o motivo dos outros, mas isso poderia ser descrito como o “dom de criticismo e julgamento de outros”. A verdade é que você provavelmente teve esse dom antes de ser salvo e, agora que é, Deus quer te libertar dele permanentemente!

Os Dons de Discurso (The Utterance Gifts)

1) O dom de profecia: O dom de profecia é a habilidade sobrenatural repentina de falar por inspiração divina na própria língua. Pode começar assim: “Assim diz o Senhor”.

Este dom não é de pregação ou ensino. Pregação e ensino inspirados têm um pouco de profecia por serem ungidos pelo Espírito, mas não são profecia em seu sentido mais estrito. Muitas vezes, um pregador ou professor ungido dirá coisas por repentina inspiração que não planejou dizer; mas mesmo sendo profético, não é profecia.

O dom de profecia por si só serve para edificar, encorajar e consolar:

Mas quem profetiza o faz para edificação, encorajamento e consolação dos homens (1 Co. 14:3).

Assim sendo, o dom de profecia não contém revelação. Isto é, ele não revela algo sobre o passado, presente ou futuro como a palavra de sabedoria e a palavra de conhecimento. Contudo, como afirmei anteriormente, os dons do Espírito podem trabalhar em combinação com um outro dom e, portanto, a palavra de sabedoria ou a palavra de conhecimento podem ser expressadas por meio de profecia.

Quando ouvimos em uma reunião alguém profetizar sobre coisas futuras, não ouvimos somente a profecia; ouvimos uma palavra de sabedoria sendo expressada através do dom de profecia. O simples dom de profecia será muito parecido com alguém lendo exortações da Bíblia, como: “Sejam fortes no Senhor e na força de Seu poder” e “Eu nunca o deixarei ou abandonarei”.

Alguns acreditam que a profecia do Novo Testamento nunca deve conter algo de negativo, caso contrário ela supostamente não preenche os parâmetros de “edificação, encorajamento e consolação”. Contudo, isto não é verdade. Limitar o que Deus pode dizer ao Seu povo, permitindo que Ele só diga coisas que consideram “positivas” mesmo que mereçam alguma repreensão, é exaltar-se acima de Deus. Definitivamente, exortação se encaixa em ambas as categorias de edificação e encorajamento. Percebi que as mensagens do Senhor às sete igrejas da Ásia, registradas no Apocalipse de João, com certeza têm exortação. Devemos descartá-las? Acho que não.

2) O dom de variedade de linguas e a interpretação de línguas: O dom de vários tipos de línguas é a repentina habilidade sobrenatural de falar uma língua desconhecida ao falante. Esse dom seria normalmente acompanhado do dom de interpretação de línguas, que é uma habilidade sobrenatural de interpretar o que foi dito em uma língua desconhecida.

Ele é chamado de interpretação de línguas e não a tradução de línguas. Portanto, não devemos esperar traduções de palavra por palavra das mensagens em línguas. Por este motivo, é possível ter uma “mensagem em línguas” curta e uma interpretação maior e vice-versa.

O dom de interpretação de línguas é muito parecido com a profecia, pois também não contém revelação e normalmente serve ao propósito de edificação, encorajamento e consolação. Quase podemos dizer que de acordo com 1 Coríntios 14:5, línguas mais interpretação é igual a profecia:

Gostaria que todos vocês falassem em línguas, mas prefiro que profetizem. Quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que as interprete, para que a igreja seja edificada.

Como disse anteriormente, não há instruções na Bíblia a respeito de como usar os dons de poder; poucas, sobre como usar os dons de revelação, mas muitas instruções sobre como usar os dons de discurso. Por causa da confusão na igreja de Corínto a respeito do uso dos dons de discurso, Paulo dedicou quase todo o capítulo quatorze de 1 Coríntios ao assunto.

O maior problema era sobre o uso próprio das línguas, porque como já aprendemos no capítulo sobre batismo no Espírito Santo, todos os crentes que são batizados no Espírito Santo têm a habilidade de orar em línguas na hora que desejar. Os coríntios estavam falando muito em línguas durante seus cultos, mas, muitas vezes, fora de ordem.

Os diferentes Usos de Outras Línguas (The Different Uses of Other Tongues)

É de importância vital que entendamos a diferença entre o uso público de línguas desconhecidas e o uso privado. Mesmo que todos os crentes batizados no Espírito possam falar em línguas a qualquer hora, não significa que Deus os usará com o dom de línguas em público. O objetivo principal de se falar em línguas é a vida devocional privada de cada crente. Contudo, os coríntios estavam se reunindo e falando em línguas simultaneamente sem qualquer interpretação, e, é claro, ninguém era edificado com isto (veja 1 Co. 14:6-12, 16-19, 23, 26-28).

Uma maneira de diferenciar entre o uso de línguas em público e privado é classificar o privado como orar em línguas e o público como falar em línguas. Paulo menciona ambos os usos no capítulo quatorze de sua primeira carta aos coríntios. Quais são as diferenças?

Quando oramos em línguas, nossos espíritos estão orando a Deus (1 Co. 14:2, 14). Contudo, quando alguém é repentinamente ungido com o dom de vários tipos de línguas, é uma mensagem de Deus para a congregação (veja 1 Co. 14:5) e é entendida, uma vez que a interpretação é entregue.

De acordo com as Escrituras, podemos orar em línguas quando nós quisermos (veja 1 Co. 14:15), mas o dom de vários tipos de línguas só opera quando o Espírito Santo deseja (veja 1 Co. 12:11).

O dom de vários tipos de línguas seria normalmente acompanhado pelo dom de interpretação de línguas. Contudo, o uso privado de orar em línguas não seria normalmente interpretado. Paulo disse que quando orava em línguas sua mente ficava infrutífera (veja 1 Co. 14:14).

Quando alguém ora em línguas, somente ele é edificado (veja 1 Co. 14:4), mas toda a congregação é edificada quando o dom de vários tipos de línguas é manifestado acompanhado do dom de interpretação de línguas (veja 1 Co. 14:4b-5).

Cada crente deve orar em línguas todos os dias como parte de sua comunhão com o Senhor. Uma das maravilhas de orar em línguas é que não requer o uso de sua mente. Isto significa que você pode orar em línguas mesmo quando sua mente tem que estar ocupada com trabalho ou outras coisas. Paulo disse aos coríntios: “Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês” (1 Co. 14:18, ênfase adicionada). Ele devia passar bastante tempo falando em línguas para falar mais que toda a igreja de Corinto!

Paulo também disse que quando oramos em línguas podemos, às vezes, “louvar a Deus” (1 Co. 14:16-17). Tive minha língua de oração entendida três vezes por alguém presente que conhecia a língua em que eu estava orando. Todas as três vezes eu estava falando em japonês. Uma vez eu disse ao Senhor em japonês: “O Senhor é tão bom”. Outra vez, disse: “Muito obrigado”. Em outra ocasião, disse: “Venha depressa, venha depressa; estou esperando”. Isto não é maravilhoso? Nunca aprendi se quer uma palavra em japonês, mas pelo menos três vezes “louvei ao Senhor” em japonês.

As Instruções de Paulo sobre o Falar em Línguas (Paul’s Instructions for Speaking in Tongues)

As instruções de Paulo para a igreja de Corinto foram bem específicas. Em qualquer reunião, o número de pessoas que poderiam falar em línguas em público era limitado a dois ou três. Eles não deveriam falar todos ao mesmo tempo, mas deveriam esperar por sua vez (veja 1 Co. 14:27).

Paulo não quis dizer necessariamente que somente três “mensagens em línguas” eram permitidas, mas que somente três pessoas deveriam falar em línguas em qualquer culto. Alguns acham que se mais de três pessoas fossem usadas frequentemente pelo dom de vários tipos de línguas, qualquer um poderia render-se ao Espírito e receber uma “mensagem em línguas” que o Espírito desejasse que fosse manifestada na igreja. Se isto for verdade, a instrução de Paulo estaria, na verdade, limitando o Espírito Santo por limitar o número de mensagens em línguas que poderiam ser manifestadas nas reuniões. Se o Espírito Santo não desse mais de três dons de vários tipos de línguas em uma reunião, não haveria necessidade de Paulo ter dado tal instrução.

O mesmo pode ser verdade para a interpretação de línguas. Pensam que talvez, mais de uma pessoa na assembleia pode ceder ao Espírito e dar a interpretação de uma “mensagem em línguas”. Tais pessoas seriam consideradas “intérpretes” (veja 1 Co. 14:28), já que seriam usadas com frequência com o dom de interpretação de línguas. Se isto for verdade, talvez seja a isto que Paulo se referia quando instruiu: “alguém deve interpretar” (1 Co. 14:27). Talvez não estivesse dizendo que somente uma pessoa deve interpretar todas as mensagens em línguas, mas estava exortando contra “interpretações competitivas” da mesma mensagem. Se alguém interpretasse uma mensagem em línguas, não era permitido que outro interpretasse a mesma mensagem, mesmo que pensasse que poderia dar uma interpretação melhor.

Em geral, tudo deve ser feito “com decência e ordem” em reuniões de igrejas — elas não devem ser uma bagunça com declarações simultâneas e confusas ou até mesmo com intenções competitivas. Além do mais, crentes devem ser sensíveis a quaisquer incrédulos que possam estar presentes em suas reuniões, assim como Paulo escreveu:

Assim, se toda a igreja se reunir e todos falarem em línguas, e entrarem alguns não instruídos ou descrentes, não dirão que vocês estão loucos? (1 Co. 14:23).

Era exatamente este o problema em Corinto — todos falavam em línguas simultaneamente, e muitas vezes não havia interpretações.

Algumas Instruções a Respeito de Dons de Revelação (Some Instruction Concerning Revelation Gifts)

Paulo deixou algumas instruções a respeito das manifestações dos “dons de revelação” através dos profetas:

Tratando-se de profetas, falem dois ou três, e os outros julguem cuidadosamente o que foi dito. Se vier uma revelação a alguém que está sentado, cale-se o primeiro. Pois vocês todos podem profetizar, cada um por sua vez, de forma que todos sejam instruídos e encorajados. O espírito dos profetas está sujeito aos profetas. Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz. Como em todas as congregações dos santos (1 Co. 14:29-33).

Assim como havia membros do corpo em Corinto que aparentemente eram usados frequentemente com o dom de interpretação de línguas e eram conhecidos como “intérpretes”, assim também havia aqueles que eram usados com frequência com os dons de profecia e revelação e eram considerados “profetas”. Estes não eram profetas na mesma classe que os do Velho Testamento ou mesmo alguém como Ágabo no Novo Testamento (veja At. 11:28; 21:10). Seus ministérios eram limitados ao corpo de suas igrejas locais.

Mesmo podendo haver mais de três profetas presentes em uma reunião de igreja, Paulo novamente colocou restrições, limitando o ministério profético a “dois ou três” profetas. Novamente, isto sugere que quando o Espírito estava dando dons espirituais em uma reunião, mais de uma pessoa poderia render-se ao Espírito para receber esses dons. Se não for desta maneira, as instruções de Paulo poderiam resultar em que o Espírito estaria dando dons que nunca seriam aproveitados pelo corpo, já que Paulo limitou quantos profetas poderiam falar.

Se houvesse mais de três profetas presentes, os outros, mesmo restringidos de falar, poderiam ajudar julgando o que foi dito. Isto também mostraria suas habilidades em discernir o que o Espírito estava falando e possivelmente indicar que poderiam ter se rendido ao Espírito para serem usados com os mesmos dons que estavam sendo manifestados por outros profetas. Caso contrário, só poderiam julgar profecias e revelações de modo geral, vendo se concordavam com as revelações que Deus já havia dado (como as Escrituras), algo que qualquer cristão maduro pode fazer.

Paulo também disse que esses profetas poderiam profetizar sequencialmente (veja 1 Co. 14:31) e que “o espírito dos profetas está sujeito aos profetas” (1 Co. 14:32), indicando que cada profeta poderia se conter de interromper outro, mesmo quando recebe uma profecia ou revelação do Espírito para compartilhar com a congregação. Isto mostra que o Espírito pode dar dons ao mesmo tempo a vários profetas presentes em uma reunião, mas cada profeta pode e deve controlar quando suas revelações ou profecias devem ser compartilhadas com o corpo.

Isso também se aplica a qualquer dom de discurso que possa ser manifestado através de qualquer cristão. Se uma pessoa recebe uma mensagem em línguas ou profecia do Senhor, ele pode guardá-la até a hora oportuna em uma reunião. Seria errado interromper a profecia ou o ensino de outra pessoa para dar a sua profecia.

Quando Paulo disse: “todos podem profetizar, cada um por sua vez” (1 Co. 14:31), lembre-se que ele estava falando no contexto de profetas que tinham recebido profecias. Infelizmente, alguns tiram as palavras de Paulo do contexto, dizendo que todos os crentes podem profetizar em todas as reuniões do corpo. O dom de profecia é dado como o Espírito quer.

Hoje, assim como sempre, a Igreja precisa da ajuda, poder, presença e dons do Espírito Santo. Paulo instruiu os crentes de Corinto: “busquem com dedicação os dons espirituais, principalmente o dom de profecia” (1 Co. 14:1). Isto mostra que nosso nível de busca tem algo a ver com a manifestação dos dons do Espírito, caso contrário, Paulo não teria dado tal instrução. O discipulador, desejando ser usado por Deus para a Sua glória, buscará com dedicação os dons espirituais e ensinará seus discípulos a fazerem o mesmo.

Capítulo Quinze (Chapter Fifteen)

Mesmo sendo esse assunto um tanto polêmico, com certeza não é obscuro às Escrituras. Na verdade, um décimo de tudo o que foi escrito nos quatro evangelhos é a respeito do ministério de cura de Jesus. Há promessas de cura divina no Velho Testamento, nos evangelhos e nas epístolas do Novo Testamento. Aqueles que estão doentes podem encontrar encorajamento em uma variedade de passagens construtoras de fé.

Minha observação geral ao redor do mundo tem sido que onde igrejas são cheias de crentes altamente comprometidos (verdadeiros discípulos), a cura divina é bem mais comum. Onde a igreja é morna e sofisticada, a cura divina ocorre com raridade. [1] Tudo isso não deve nos surpreender, já que Jesus disse que um dos sinais que seguirá futuros crentes é que colocarão as mãos sobre os doentes e eles serão curados (veja Mc. 16:18). Se fôssemos julgar igrejas pelos sinais que Jesus declarou que seguiriam os cristãos, teríamos que concluir que muitas igrejas consistem de descrentes:

E disse-lhes [Jesus]: “Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os doentes, e estes ficarão curados” (Mc. 16:15-18).

O ministro discipulador, imitando o ministério perfeito de Cristo, certamente usará seus dons para promover o ministério de cura divina dentro de sua esfera de influência. Ele sabe que cura divina aumenta o Reino de Deus em pelo menos duas formas: primeiro, curas milagrosas são uma boa propaganda ao evangelho, já que qualquer criança que lesse os evangelhos ou o livro de Atos entenderia (mas que muitos ministros com cursos superiores não conseguem compreender). Segundo, discípulos saudáveis não são impedidos de trabalhar no ministério por suas doenças.

O discipulador também precisa ser sensível aos membros do corpo de Cristo que desejam cura, mas que têm dificuldade de recebê-la. Muitas vezes precisam de instruções mais cuidadosas e encorajamento gentil, especialmente se ficaram adversos a qualquer mensagem de cura. O discipulador se depara com uma escolha: pode evitar ensinar sobre o assunto de cura divina, e no caso ninguém ficará ofendido nem será curado, ou pode amorosamente ensinar sobre o assunto e arriscar ofender alguns enquanto ajuda outros a experimentar a cura. Pessoalmente, eu escolhi a segunda opção, crendo que segue o exemplo de Jesus.

Cura na Cruz (Healing on the Cross)

Um bom lugar para começar o estudo de cura divina é o quinquagésimo terceiro capítulo de Isaías, universalmente considerado uma promessa messiânica. Através do Espírito Santo, Isaías descreveu com detalhes a morte de sacrificial de Jesus e o trabalho que realizaria na cruz:

Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos (Is. 53:4-6).

Pela inspiração do Espírito Santo, Isaías declarou que Jesus levou nossas enfermidades e doenças. Uma melhor tradução do grego original indica que Jesus carregou nossas doenças e dores, como muitas traduções confiáveis indicam em suas notas referenciais.

A palavra hebraica traduzida por enfermidades em Isaías 53:4 é a palavra choli, que também é encontrada em Deuteronômio 7:15; 28:61; 1 Reis 17:17; 2 Reis 1:2; 8:8, e 2 Crônicas 16:12; 21:25. Em todos estes casos ela é traduzida como doença ou enfermidade.

A palavra traduzida doenças é a palavra hebraica makob, que pode ser encontrada em Jó 14:22 e Jó 33:19. Em ambos os casos ela é traduzida como dor.

Tudo isso sendo verdade, Isaías 53:4 é melhor traduzido assim: “Certamente ele tomou sobre si as nossas doenças e sobre si levou as nossas dores”. Este fato é confirmado pela citação direta de Mateus a Isaías 53:4 em seu evangelho: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças” (Mt. 8:17).

Incapaz de escapar destes fatos, alguns tentam nos convencer de que Isaías estava se referindo as nossas supostas “doenças espirituais” e “enfermidades espirituais”. Contudo, a citação de Mateus a Isaías 53:4 não deixa dúvida de que Isaías estava se referindo ao sentido literal físico de doenças e enfermidades. Vamos lê-la dentro do contexto:

Ao anoitecer foram trazidos a ele muitos endemoninhados, ele expulsou os espíritos com uma palavra e curou todos os doentes. E assim se cumpriu o que fora dito pelo profeta Isaías: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças” (Mt. 8:16-17, ênfase adicionada).

Mateus disse claramente que as curas físicas executadas por Jesus eram um cumprimento de Isaías 53:4. Portanto, não há dúvida de que Isaías 53:4 é uma referência a Cristo levar nossas enfermidades físicas e doenças. [2] Assim como as Escrituras dizem que Jesus levou nossas iniquidades (veja Is. 53:11), também dizem que Ele levou nossas enfermidades e doenças. Estas são notícias que devem fazer qualquer pessoa doente feliz! Através de Seu sacrifício expiado, Jesus providenciou nossa salvação e cura.

Uma Pergunta Feita (A Question Asked)

Mas se isso for verdade, alguns perguntam, então por que não somos todos curados? Esta pergunta é melhor respondida fazendo-se outra pergunta: Por que nem todas as pessoas nascem de novo? Nem todos renascem porque ou não ouviram o evangelho ou não creram nele. Da mesma forma, cada indivíduo deve tomar posse de sua cura através de sua própria fé. Muitos ainda não ouviram a maravilhosa verdade que Jesus levou suas enfermidades; outros ouviram, mas rejeitaram.

A atitude de Deus Pai para com doenças tem sido claramente revelada pelo ministério de Seu Filho amado, que testificou a respeito dEle:

Eu lhes digo verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer, porque o que o Pai faz o Filho também faz (Jo. 5:19).

Lemos no livro de Hebreus que Jesus era “a expressão exata do seu [Pai] ser” (Hb. 1:3). Não há dúvida de que a atitude de Jesus para com enfermidades era idêntica a de Seu pai.

Qual era a atitude de Jesus? Nem uma vez Ele mandou qualquer pessoa embora, que foi a Ele pedindo cura. Nem uma vez Ele disse a uma pessoa doente que desejava ser curada: “Não, não é da vontade de Deus que você seja curada; portanto, deverá continuar doente”. Jesus sempre curou os doentes que iam a Ele, e uma vez que eram curados, muitas vezes dizia a eles que a sua fé os curou. Mais adiante, a Bíblia declara que Deus nunca muda (veja Ml. 3:6) e que “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre” (Hb. 13:8).

A Cura Proclamada (Healing Proclaimed)

Infelizmente, hoje a salvação tem sido reduzida a pouco mais do que perdão pelos pecados. Mas as palavras gregas que, na maioria das vezes, são traduzidas por “salvo” ou “salvação” implicam nos conceitos não só de perdão, mas de entrega e cura.[3] Vamos considerar um homem na Bíblia que experimentou a salvação em seu sentido mais completo. Ele foi salvo por sua fé enquanto ouvia Paulo pregar o evangelho em sua cidade.

Quando eles souberam disso, fugiram para as cidades licaônicas de Listra e Derbe, e seus arredores. Onde continuaram a pregar as boas novas. Em Listra havia um homem paralítico dos pés, aleijado desde o nascimento, que ouvira Paulo falar. Quando Paulo olhou diretamente para ele e viu que o homem tinha fé para ser curado, disse em alta voz: “Levante-se! Fique em pé!” Com isso, o homem deu um salto e começou a andar (At. 14:6-10).

Note que, embora Paulo estivesse pregando “as boas novas”, o homem ouviu algo que produziu fé em seu coração para receber cura física. No mínimo, ele deve ter ouvido Paulo dizer algo sobre o ministério de cura de Jesus e como curou a todos os que Lhe pediram com fé. Talvez Paulo também tenha mencionado a profecia de Isaías sobre Jesus carregando nossas enfermidades e doenças. Não sabemos, mas já que a “fé vem por se ouvir” (Rm. 10:17), o paralítico deve ter ouvido algo que estimulou a fé em seu coração para ser curado. Algo que Paulo disse o convenceu de que Deus não queria que continuasse paralítico.

Paulo deve ter acreditado que Deus queria que o homem fosse curado, ou suas palavras nunca teriam convencido o homem a ter fé para a cura, e não teria dito ao homem para ficar em pé. E se Paulo tivesse dito o que tantos pregadores modernos dizem? E se tivesse pregado: “Não é da vontade de Deus que todos sejam curados”? O homem não teria tido fé para ser curado. Talvez isto explique por que tantos não são curados hoje em dia. Os mesmos pregadores que deveriam inspirar as pessoas a terem fé para a cura estão destruindo sua fé.

Note novamente que esse homem foi curado por sua . Se ele não tivesse acreditado, teria continuado paralítico, mesmo que fosse óbvio que era a vontade de Deus que fosse curado. Além disso, provavelmente havia outras pessoas doentes entre a multidão naquele dia, mas não temos registro de mais ninguém que tenha sido curado. Se isto for verdade, por que não foram curados? Pelo mesmo motivo de muitos incrédulos na multidão não terem renascido — porque não creram na mensagem de Paulo.

Nunca devemos concluir que não é da vontade de Deus curar a todos baseando-nos no fato de que algumas pessoas nunca foram curadas. Isto seria o mesmo que concluir que não é da vontade de Deus que todos nasçam de novo simplesmente porque algumas pessoas nunca renasceram. Cada pessoa deve crer no evangelho por si mesma para ser salva, e cada pessoa deve crer por si só para que seja salva.

Mais Provas da Vontade de Deus de Curar (Further Proof of God’s Will to Heal)

Debaixo da antiga aliança, cura física estava inclusa na aliança de Israel com Deus. Apenas alguns dias depois do Êxodo, Deus fez a Israel esta promessa:

Se vocês derem atenção ao Senhor, o seu Deus, e fizerem o que ele aprova, se derem ouvidos aos seus mandamentos e obedecerem a todos os seus decretos, não trarei sobre vocês nenhuma das doenças que eu trouxe sobre os egípcios, pois eu sou o Senhor que os cura (Êx. 15:26).

Qualquer pessoa honesta terá que concordar que a cura estava inclusa na aliança de Israel com Deus e que dependia da obediência do povo. (Casualmente, Paulo deixa claro em 1 Coríntios 11:27-31 que a cura física debaixo na nova aliança também depende de nossa obediência.)

Deus também prometeu aos israelitas:

Prestem culto ao Senhor, o Deus de vocês, e ele os abençoará, dando-lhes alimento e água. Tirarei a doença do meio de vocês. Em sua terra nenhuma grávida perderá o filho, nem haverá mulher estéril. Farei completar-se o tempo de duração da vida de vocês (Êx. 23:25-26, ênfase adicionada).

Vocês serão mais abençoados do que qualquer outro povo! Nenhum dos seus homens ou mulheres será estéril, nem mesmo os animais do seu rebanho. O Senhor os guardará de todas as doenças. Não infligirá a vocês as doenças terríveis que, como sabem, atingiram o Egito, mas as infligirá a todos os seus inimigos (Dt. 7:14-15, ênfase adicionada).

Se cura física estava inclusa na antiga aliança, me pergunto como ela pode não estar inclusa na nova aliança, se de fato a nova aliança é melhor que a antiga, como as Escrituras dizem:

Agora, porém, o ministério que Jesus recebeu é superior ao deles, assim como também a aliança da qual ele é mediador é superior à antiga, sendo baseada em promessas superiores (Hb. 8:6, ênfase adicionada).

Ainda Mais Provas (Yet Further Proof)

A Bíblia contém muitas passagens que oferecem provas indiscutíveis que é a vontade de Deus curar a todos. Deixe-me listar três das melhores:

Bendiga o Senhor a minha alma! Bendiga o Senhor todo o meu ser! Bendiga o Senhor a minha alma! Não esqueça nenhuma de suas bênçãos! É ele que perdoa todos os seus pecados e cura todas as suas doenças (Sl. 103:1-3, ênfase adicionada).

Que cristão se oporia à declaração de Davi que Deus deseja perdoar todas as nossas iniquidades? Contudo, Davi cria que Deus também deseja curar o mesmo número de nossas doenças — todas elas.

Meu filho, escute o que lhe digo; preste atenção às minhas palavras. Nunca as perca de vista; guarde-as no fundo do coração, pois são vida para quem as encontra e saúde para todo o seu ser (Pv. 4:20-22, ênfase adicionada).

Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará. E se houver cometido pecados, ele será perdoado (Tg. 5:14-15, ênfase adicionada)

Note que esta última promessa pertence a qualquer um que esteja doente. E note que não é o presbítero ou o óleo que traz a cura, mas a “oração feita com fé”.

Mas é a fé dos presbíteros ou da pessoa doente? De ambos. A fé da pessoa doente é expressa, pelo menos em parte, quando chama os presbíteros da igreja. A descrença da pessoa doente pode anular os efeitos das orações dos presbíteros. O tipo de oração sobre a qual Tiago escreveu é um bom exemplo de oração de concordância que Jesus menciona em Mateus 18:19. Ambas as partes envolvidas neste tipo de oração devem “concordar”. Se uma pessoa concordar e a outra não, não estão em concordância.

Também sabemos que, em várias passagens, a Bíblia dá crédito a Satanás pelas doenças (veja Jó 2:7; Lc. 13:16; At. 10:38; 1 Co. 5:5). Desta maneira, seria lógico que Deus se opusesse ao trabalho de Satanás nos corpos de Seus filhos. Nosso Pai nos ama muito mais que qualquer pai terreno já amou seu filho (veja Mt. 7:11), e nunca conheci um pai que desejasse que seu filho ficasse doente.

Todas as curas executadas por Jesus durante Seu ministério terreno, e todas as curas registradas no livro de Atos, devem nos encorajar a acreditar que Deus quer que sejamos saudáveis. Frequentemente, Jesus curou pessoas que iam a Ele buscando cura, e deu crédito à fé delas pelo milagre. Isto prova que Jesus não escolheu pessoas exclusivas a quem queria curar. Ele queria curar a todas, mas pedia fé da parte delas.

Respostas a Algumas Objeções Comuns (Answers to Some Common Objections)

Talvez a objeção mais comum a tudo isso é a que não é baseada na Palavra de Deus, mas nas experiências das pessoas. Normalmente, é algo assim: “Eu conheci uma mulher cristã maravilhosa que orou para ser curada de câncer; mesmo assim, ela morreu. Isto prova que não é da vontade de Deus curar a todos”.

Nunca devemos tentar determinar a vontade de Deus por qualquer outra coisa além da Sua Palavra. Por exemplo, se viajasse de volta no tempo e assistisse aos israelitas vagando pelo deserto por quarenta anos enquanto a terra que fluía leite e mel esperava por eles do outro lado do Rio Jordão, você poderia ter concluído que não era da vontade de Deus que Israel entrasse na terra prometida. Mas se conhece a Bíblia, sabe que este não era o caso. Com certeza, era da vontade de Deus que entrassem na terra prometida, mas não entraram por causa de sua descrença (veja Hb. 3:19).

E todas as pessoas que estão agora no inferno? Era a vontade de Deus que todas estivessem no céu, mas não preencheram os requisitos de arrependimento e fé no Senhor Jesus. Da mesma forma, não podemos determinar a vontade de Deus a respeito de cura só olhando para pessoas doentes. O fato de um cristão orar por cura e não ser curado, não prova que não é a vontade de Deus curá-lo. Se aquele cristão tivesse preenchido os requisitos de Deus, teria sido curado, ou então, Deus é um mentiroso. Quando não recebemos cura e culpamos a Deus com a desculpa de que a cura não era da vontade dEle, não somos diferentes dos israelitas descrentes que morreram no deserto dizendo que não era da vontade de Deus que entrassem na terra prometida. Seria melhor se simplesmente engolíssemos nosso orgulho e admitíssemos que somos culpados.

Como disse no capítulo anterior sobre fé, muitos cristãos sinceros têm terminado suas orações de cura de forma errada com a frase destruidora de fé: “Se for da Tua vontade”. Isso revela claramente que não estão orando com fé, pois não têm certeza da vontade de Deus. A respeito da cura, a vontade de Deus é bem clara, como já vimos. Se você sabe que Deus quer te curar, não há razão de dizer “se for da Tua vontade” em sua oração de cura. Seria o equivalente a dizer: “Senhor, eu sei que prometeu me curar, mas caso estivesse mentindo, eu peço que me cure somente se for da Tua vontade”.

Com certeza, também é verdade que Deus pode disciplinar crentes desobedientes permitindo que doenças os aflijam, até chegar ao ponto de permitir sua morte prematura em alguns casos. Obviamente, tais crentes devem se arrepender antes de receberem cura (veja 1 Co. 11:27-32). Existem outros que, negligenciando cuidar de seus corpos, se abrem a doenças. Crentes devem ser inteligentes o suficiente para manter uma dieta saudável, comer moderadamente, exercitar-se regularmente e descansar o necessário.

Uma Segunda Objeção Comum (A Second Common Objection)

É muitas vezes dito: “Paulo tinha um espinho na carne e Deus não o curou”.

Contudo, a ideia de que o espinho de Paulo era uma doença é simplesmente uma má teoria teológica sob a luz do fato de que Paulo nos disse exatamente o que era seu espinho — um anjo de Satanás.

Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar. Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. Mas ele me disse: Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim (2 Co. 12:7-9, ênfase adicionada).

A palavra traduzida mensageiro é a palavra grega “aggelos”, traduzida por anjo ou anjos em mais de 160 lugares, onde é encontrada no Novo Testamento. O espinho na carne de Paulo era um anjo de Satanás enviado para lutar com ele; não era uma doença ou enfermidade.

Note também que não há registro de que Paulo tenha orado para ser curado e nem há indicação de que Deus se recusou a curá-lo. Em três ocasiões, Paulo simplesmente pediu a Deus se poderia remover o anjo, e Deus disse que Sua graça era suficiente.

Quem deu a Paulo seu espinho? Alguns acreditam que foi Satanás, já que o espinho foi chamado um “anjo de Satanás”. Outros creem que foi Deus, porque o espinho foi aparentemente dado para que Paulo não se orgulhasse. Paulo mesmo disse: “Para impedir que eu me exaltasse”.

A versão King James traduz esses versículos um pouco diferente. Ao invés de dizer: “para impedir que eu me exaltasse”, ela diz: “a fim de que não seja exaltado sobremaneira”. Esta é uma diferença importante, porque Deus não se opõe a sermos exaltados. Portanto, é bem possível que Deus estava exaltando e Satanás tentando parar a exaltação de Paulo, designando um anjo específico de luta para provocar confusão por onde Paulo viajasse. Mesmo assim, Deus disse que usaria as circunstâncias para Sua glória, porque Seu poder poderia ser melhor manifestado na vida de Paulo como resultado de sua fraqueza.

Independente disso, dizer que Paulo estava doente e que Deus Se recusou a curá-lo é uma distorção bruta do que a Bíblia realmente diz. Na passagem sobre seu espinho na carne, Paulo nunca menciona doença alguma, e não há nada parecido com uma recusa da parte de Deus para curá-lo de sua suposta doença. Se uma pessoa honesta ler a lista de todas as provas pelas quais Paulo passou em 2 Coríntios 11:23-30, não encontrará enfermidades ou doenças mencionadas uma única vez.

Uma Elaboração do Mesmo Tema (An Elaboration on the Same Theme)

Alguns se opõem a minha explicação do espinho de Paulo, dizendo: “Mas Paulo não disse aos Gálatas que estava doente da primeira vez que pregou o evangelho a eles? Ele não estava falando de seu espinho na carne?”

Isto é o que Paulo realmente escreveu em sua carta aos Gálatas:

Como sabem, foi por causa de uma doença que lhes preguei o evangelho pela primeira vez. Embora a minha doença lhes tenha sido uma provação, vocês não me trataram com desprezo ou desdém; ao contrário, receberam-me como se eu fosse um anjo de Deus, como o próprio Cristo Jesus (Gl. 4:13-14).

A palavra grega traduzida doença aqui em Gálatas 4:13 é asthenia, que literalmente significa “fraqueza”. Ela pode significar fraqueza por causa de doença, mas não necessariamente.

Por exemplo, Paulo escreveu: “a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem” (1 Co. 1:25, ênfase adicionada). A palavra que é traduzida fraqueza neste versículo também é a palavra asthenia. Não faria sentido se os tradutores tivessem deixado “a doença de Deus é mais forte que a força do homem”. (Veja também Mt. 26:41 e 1 Pd. 3:7, onde a palavra asthenia é traduzida como fraqueza e não pode ser traduzida por doença).

Quando Paulo visitou a Galácia pela primeira vez no livro de Atos, não há menção dele estar doente. Contudo, há menção de ter sido apedrejado e abandonado à morte, e foi ressuscitado ou miraculosamente reavivado (veja At. 14:5-7, 19-20). Com certeza, o corpo de Paulo, depois de ter sido apedrejado e considerado morto, estava em péssima condição com cortes e hematomas em todos os lugares.

Paulo não tinha uma doença na Galácia que foi uma provação a seus ouvintes. Seu corpo estava cansado de seu recente apedrejamento. Provavelmente, ainda tinha lembranças de suas perseguições na Galácia quando escreveu sua carta aos Gálatas, pois terminou sua epístola com estas palavras:

Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus (Gl. 6:17).

Outra Contestação: “Estou Sofrendo para a Glória de Deus” (Another Objection: “I’m Suffering for the Glory of God”)

Esta réplica é usada por alguns que pegaram um versículo da história da ressurreição de Lázaro como base para dizer que estão sofrendo com doenças para a glória de Deus. Jesus disse a respeito de Lázaro:

Essa doença não acabará em morte; é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por meio dela (Jo. 11:4).

Jesus não estava dizendo que Deus estava sendo glorificado como resultado da doença de Lázaro, mas que Deus seria glorificado quando Lázaro fosse curado e ressuscitado dos mortos. Em outras palavras, o resultado final da doença não seria a morte, pelo contrário, Deus seria glorificado. Deus não é glorificado em doenças; Ele é glorificado na cura. (Veja Mt. 9:8; 15:31; Lc. 7:16; 13:13 e 17:15, onde a cura trouxe glória a Deus.)

Outra Objeção: “Paulo Disse que Deixou Trófimo Doente em Mileto” (Another Objection: “Paul Said He Left Trophimus Sick at Miletum”)

Por acaso, estou escrevendo esta frase em uma cidade da Alemanha. Quando saí de minha cidade natal nos Estados Unidos na semana passada, deixei várias pessoas doentes para trás. Deixei hospitais cheios de doentes. Mas isto não significa que não era da vontade de Deus que todos eles fossem curados. O fato de Paulo ter deixado um homem doente em uma cidade que visitou não é prova de que não era da vontade de Deus que aquele homem fosse curado. E o monte de incrédulos que Paulo também deixou para trás? Isto prova que não era da vontade de Deus que fossem salvos? Absolutamente não.

Outra Objeção: “Eu Sou como Jó!” (Another Objection: “I’m Just Like Job!”)

Glória ao Senhor! Se você leu o fim da história de Jó, sabe que foi ele curado. Não era a vontade de Deus que ele continuasse doente, e também não é a vontade de Deus que você continue doente. A história de Jó reafirma que a vontade de Deus é sempre de curar.

Outra Objeção: “O conselho de Paulo a Timóteo Sobre Seu Estômago” (Another Objection: Paul’s Advice to Timothy About His Stomach)

Sabemos que Paulo disse a Timóteo para beber um pouco de vinho por causa do seu estômago e frequentes dores (veja 1 Tm. 5:23).

Na verdade, Paulo disse a Timóteo para parar de beber água e beber um pouco mais de vinho para seu estômago e frequentes dores. Isto parece indicar que algo estava errado com a água. Obviamente, se estiver bebendo água contaminada, deve parar de bebê-la e começar a beber outra coisa, ou provavelmente terá problemas de estômago, como Timóteo.

Outra Objeção: “Jesus só Curou para Provar Sua Divindade” (Another Objection: ”Jesus Only Healed to Prove His Deity.”)

Algumas pessoas querem que acreditemos que a única razão de Jesus ter curado foi para provar Sua divindade. Agora que ela está bem estabelecida, Ele supostamente não cura mais.

Isso está completamente incorreto. É verdade que os milagres de Jesus autenticaram Sua divindade, mas este não é o único motivo de ter curado pessoas durante Seu ministério terreno. Ele, muitas vezes, proibiu as pessoas a quem curou de dizer a qualquer um o que aconteceu com elas (veja Mt. 8:4; 9:6, 30; 12:13-16; Mc. 5:43; 7:36; 8:26). Se Jesus curasse pessoas pelo propósito único de provar sua divindade, teria que dizer àquelas pessoas para dizerem a todos o que tinha feito por elas.

Qual era a motivação por trás das curas de Jesus? Muitas vezes, as Escrituras dizem que curava por “ter compaixão” (veja Mt. 9:35-36; 14:14; 20:34; Mc. 1:41; 5:19; Lc. 7:13). A razão de Jesus ter curado é porque amava as pessoas e estava cheio de compaixão. A compaixão de Jesus foi reduzida desde Seu ministério terreno? Seu amor diminuiu? Absolutamente não!

Outra Objeção: “Deus Quer que Eu Fique Doente por Algum Motivo” (Another Objection: “God Wants Me to be Sick for Some Reason.”)”.

Isto é impossível, à luz das Escrituras que consideramos. Se você tem persistido na desobediência, pode ser verdade que Deus permitiu sua doença para que ela o traga ao arrependimento. Mas não é da vontade dEle que você continue doente. Ele quer que se arrependa e seja curado.

Além do mais, se Deus quer que você continue doente, por que está indo a um médico e tomando remédios, esperando ser curado? Está tentando sair da “vontade de Deus”?

Uma Objeção Final: “Se Nunca Ficarmos Doentes, Como Morreremos?” (A Final Objection: “If We Never Suffer Disease, How Will We Die?”)

Sabemos que a Bíblia ensina que nossos corpos físicos estão decaindo (veja 2 Co. 4:16). Não há nada que possamos fazer que pare nossos cabelos de ficarem brancos e nossos corpos de envelhecerem. Finalmente, nossa visão e audição não são tão boas como eram quando éramos mais jovens. Não podemos correr tão rápido como antes. Nossos corações não são tão fortes. Estamos lentamente nos desgastando.

Mas isto não significa que temos que morrer de doenças ou enfermidades. Nossos corpos podem simplesmente se desgastar completamente, e quando isto acontecer, nossos espíritos deixarão nossos corpos quando Deus nos chamar para casa, no céu. Muitos cristãos morreram assim. Por que não você?

 


[1] Em algumas igrejas na América do Norte, um ministro se arriscaria muito para ensinar esse assunto devido à grande resistência que encontraria dos supostos crentes. Jesus também encontrou resistência e, às vezes, descrença que prejudicaram Seu ministério de cura (veja Mc. 6:1-6).

[2] Agarrando-se a qualquer coisa em que possam se segurar, alguns tentam nos convencer de que Jesus realizou Isaías 53:4 completamente quando curou as pessoas naquela noite em Cafarnaum. Mas Isaías disse que Jesus levou nossas enfermidades, assim como também disse que Jesus foi esmagado por nossas iniquidades (compare Is. 53:4 e 5). Jesus levou as enfermidades das mesmas pessoas de quem levou aquelas iniquidades. Ele foi esmagado; portanto, Mateus estava somente indicando que o ministério de cura de Jesus em Cafarnaum validou que Ele era o Messias a quem Isaías 53 se referia, aquele que levaria nossas iniquidades e enfermidades.

[3] Por exemplo, Jesus disse a uma mulher a quem tinha curado de hemorragia interna: “Filha, a sua fé a curou” (Mc. 5:34). A palavra grega traduzida por “curou” neste versículo (sozo) e em outras dez vezes no Novo Testamento é traduzida por “salvar” ou “salva” mais de oitenta vezes no Novo Testamento. É, por exemplo, a mesma palavra que é traduzida por “salvos” em Efésios 2:5, “pela graça vocês são salvos”. Portanto, vemos que cura física está embutida no significado da palavra grega que é traduzida, na maioria das vezes como “salvo”.

Fundamentos da Fé

Capítulo Quatorze (Chapter Fourteen)

Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam (Hb. 11:6).

Como crentes, nossa fé é construída sobre o fundamento de que Deus existe, e que trata os que O buscam de forma diferente dos que não O buscam. Desde que realmente acreditemos nessas duas coisas, começamos a agradar a Deus, pois começamos a buscá-Lo imediatamente. Buscar a Deus implica (1) aprender a Sua vontade, (2) obedecer a Ele e (3) crer em Suas promessas. Todos os três devem ser componentes de nossa caminhada diária.

Esse capítulo focaliza nossa caminhada de fé. Infelizmente, muitos têm enfatizado a fé com pontos extremos não-bíblicos, focando em particular a área da prosperidade material. Por esse motivo, alguns têm receio de abordar o assunto. Mas o fato de alguém se afogar no rio não é motivo para pararmos de beber água. Podemos continuar balanceados e bíblicos. A Bíblia tem muito a ensinar sobre o assunto e Deus quer que exercitemos nossa fé em Suas muitas promessas.

Jesus deixou o exemplo de sua fé em Deus e esperou que Seus discípulos seguissem Seu exemplo. Da mesma forma, o ministro discipulador se esforça para deixar o exemplo de confiança em Deus e ensina seus discípulos a crerem nas promessas de Deus. Isto é de vital importância. Sem fé, não somente é impossível agradar a Deus, como também é impossível receber respostas de oração (veja Mt. 21:22; Tg. 1:5-8). As Escrituras ensinam claramente que os que duvidam estão destituídos das bênçãos que os salvos recebem. Jesus disse: “Tudo é possível àquele que crê” (Mc. 9:23).

Definição de Fé (Faith Defined)

A definição bíblica de fé é encontrada em Hebreus 11:1:

Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos.

Dessa definição, aprendemos várias características de fé. Primeiro, alguém que tem fé tem certeza, ou confiança. Isso é diferente de esperança, porque a fé é “a certeza daquilo que esperamos”. Esperança sempre deixa espaço para dúvida. A esperança sempre diz “talvez”. Por exemplo, posso dizer: “Espero que chova hoje para que meu jardim seja regado”. Eu desejo a chuva, mas não tenho certeza de que choverá. Por outro lado, a fé é sempre certa, “a certeza daquilo que esperamos”.

Muitas vezes, o que as pessoas chamam ou crença, não é fé pela definição bíblica. Elas podem olhar para as nuvens escuras no céu, por exemplo, e dizer: “Acredito que choverá”. Contudo, não estão certas de que irá chover — elas acham que há uma boa possibilildade que possa chover. Isso não é fé bíblica. Nela não há dúvida. Ela não deixa espaço para qualquer outro resultado a não ser o que Deus prometeu.

Fé é a Certeza das Coisas que não Vemos (Faith is the Conviction of Things Not Seen)

A definição encontrada em Hebreus 11:1 também diz que fé é “a certeza…das coisas que não vemos”. Portanto, se podemos ver ou perceber algo com um de nossos cinco sentidos físicos, a fé não é necessária.

Suponha que alguém lhe dissesse agora: “Por algum motivo que não posso explicar, tenho fé que há um livro em suas mãos”. É claro que você acharia que há algo errado com essa pessoa. Você diria: “Ora, você não precisa crer que tenho um livro em minhas mãos, pois pode ver que estou segurando um livro”.

A fé pertence ao reino invisível. Por exemplo, enquanto estou escrevendo estas palavras, acredito que há um anjo ao meu lado. Na verdade, tenho certeza disso. Como posso ter tanta certeza?Eu vi um anjo?Não. Eu o ouvi ou senti voando por perto?Não. Se tivesse, visto, ouvido ou sentido um, não teria que acreditar que há um anjo ao meu lado — eu saberia.

Então, o que me dá tanta certeza da presença de um anjo?Minha certeza vem de uma das promessas de Deus. Em Salmos 34:7, Ele prometeu: “O anjo do Senhor é sentinela ao redor daqueles que o temem, e os livra”. Não tenho prova, além da Palavra de Deus, para o que creio. Essa é a verdadeira fé bíblica — a “certeza…das coisas que não vemos”. Muitas vezes, as pessoas do mundo usam a expressão: “Ver é crer”. Mas no reino de Deus, a verdade é o oposto: “Crer é ver”.

Quando exercitamos fé em uma das promessas de Deus, às vezes encontramos circunstâncias que nos tentam a duvidar, ou passamos por um tempo em que parece que Deus não está mantendo Sua promessa, pois nossas circunstâncias não estão mudando. Nesses casos, precisamos simplesmente resistir às dúvidas, perseverar na fé e continuar convencidos em nossos corações de que Deus sempre cumpre Sua palavra; é impossível que Ele minta (veja Tt. 1:2).

Como Obtemos Fé?(How Do We Acquire Faith?)

Porque a fé é baseada somente nas promessas de Deus, só existe uma fonte de fé bíblica — a Palavra de Deus. Romanos 10:17 diz: “a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo” (Rm. 10:17, ênfase adicionada). A Palavra de Deus revela Sua vontade. Somente quando conhecemos a vontade de Deus podemos crêr nela.

Portanto, se quiser ter fé, você deve ouvir (ou ler) as promessas de Deus. Fé não vem atravez da oração, jejum ou imposição de mãos sobre você. Ela só vem pelo ouvir da Palavra de Deus, e uma vez que a tiver ouvido, deve fazer a decisão de crêr nela.

Além da aquisição de fé, nossa fé também pode crescer. A Bíblia menciona vários tipos de fé — desde a pequena até a que move montanhas. A fé cresce à medida que é alimentada e exercitada, assim como um músculo humano. Devemos continuar a alimentar nossa fé meditando na Palavra de Deus. Isso inclui aquelas vezes que temos problemas e preocupações. Deus não quer que Seus filhos se preocupem sobre coisa alguma, mas que confiem nEle em todas as situações (veja Mt. 6:25-34, Fp. 4:6-8; 1 Pd. 5:7). Recusarmos a nos preocuparmos é somente uma das maneiras de exercitarmos nossa fé.

Se realmente cremos no que Deus disse, falaremos e agiremos como se fosse verdade. Se você acredita que Jesus é o Filho de Deus, irá falar e agir como alguém que crê nisso. Se você acredita que Deus suprirá todas as suas necessidades, falará e agirá de acordo. Se acredita que Deus quer que você seja saudável, falará e agirá nos conformes. A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas que, em meio a circunstâncias adversas, agiram na fé em Deus e receberam milagres como resultado. Consideraremos alguns mais tarde nesse capítulo e em outro sobre cura divina. (Para alguns outros bons exemplos, veja 2 Rs. 4:1-7; Mc. 5:25-36; Lc. 19:1-10 e At. 14:7-10).

A Fé é do Coração (Faith is of the Heart)

A fé bíblica não opera em nossas mentes, mas em nossos corações. Paulo escreveu: “Pois com o coração se crê” (Rm. 10:10a). Jesus disse:

Eu lhes asseguro que se alguém disser a este monte: “Levante-se e atire-se ao mar”, e não duvidar em seu coração, mas crer que acontecerá o que diz, assim lhe será feito (Mc. 11:23, ênfase adicionada).

É bem possível ter dúvidas em sua mente, mas ter fé em seu coração e receber o que Deus prometeu. Na verdade, a maioria das vezes que nos esforçamos para crer nas promessas de Deus, nossas mentes, influenciadas por nossos sentidos físicos e pelas mentiras de Satanás, serão atacadas com dúvidas. Durante esses tempos, devemos substituir os pensamentos duvidosos pelas promessas de Deus e nos apegarmos a fé sem exitação.

Erros Comuns da Fé (Common Faith Mistakes)

Às vezes, quando tentamos exercitar nossa fé em Deus, não recebemos o que desejamos porque não estamos agindo de acordo com a Palavra de Deus. Um dos erros mais comuns ocorre quando tentamos crer em algo que Deus não nos prometeu.

Por exemplo, é bíblico que casais creiam em Deus para ter filhos, pois a Palavra de Deus contém uma promessa em que podem permanecer. Conheço casais que ouviram de médicos que nunca poderiam ter filhos. Contudo, escolheram acreditar em Deus, permanecendo nas duas promessas listadas abaixo, e hoje, são pais de crianças saudáveis:

Prestem culto ao Senhor, o Deus de vocês, e ele os abençoará, dando-lhes alimento e água. Tirarei a doença do meio de vocês. Em sua terra nenhuma grávida perderá o filho, nem haverá mulher estéril. Farei completar-se o tempo de duração da vida de vocês (Ex. 23:25-26).

Vocês serão mais abençoados do que qualquer outro povo! Nenhum dos seus homens ou mulheres será estéril, nem mesmo os animais do seu rebanho (Dt. 7:14).

Essas promessas devem incentivar casais sem filhos! Contudo, tentar crer especificamente em um menino ou menina é outra história. Não há promessas específicas na Bíblia que dizem que podemos escolher o sexo de nossos futuros filhos. Devemos permanecer dentro dos limites das Escrituras para que nossa fé tenha efeito. Só podemos confiar em Deus para o que Ele nos prometeu.

Vamos considerar uma promessa da Palavra de Deus e determinar o que podemos acreditar baseando-nos nessa promessa:

Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (1 Ts. 4:16).

Baseando-nos nessa passagem, podemos crer com toda a certeza que Jesus voltará.

Contudo, podemos orar crendo que Jesus voltará amanhã?Não, porque nem essa, nem qualquer outra passagem nos promete isso. Aliás, Jesus disse que ninguém sabe o dia ou a hora de Sua volta.

Podemos orar, é claro, esperando que Jesus volte amanhã, mas não teríamos a garantia de que isso aconteceria. Quando oramos com fé, temos certeza de que, o que estamos orando, vai acontecer, pois temos a promessa de Deus.

Baseados nessa mesma passagem, podemos crer que os corpos dos crentes que morreram serão ressuscitados na volta de Jesus. Mas será que podemos ter fé de que os que estiverem vivos na volta de Cristo receberão corpos ressurretos na mesma hora ou talvez ainda antes que “os mortos em Cristo”?Não, porque as Escrituras nos prometem o contrário: Os “mortos em Cristo ressuscitarão primeiro”. Aliás, o próximo versículo diz: “Depois, nós os que estivemos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens (1 Ts. 4:17). Portanto, não há possibilidade de que os “mortos em Cristo” não sejam os primeiros a receber corpos ressurretos quando Jesus voltar. É isso que a Palavra de Deus promete.

Se formos confiar em Deus para algo, devemos ter certeza que é a vontade dEle que recebamos o que desejamos. A vontade de Deus só pode ser determinada com segurança examinando Suas promessas registradas na Bíblia.

A fé funciona da mesma maneira no reino natural. Seria tolice sua acreditar que eu te visitaria amanhã ao meio-dia a não ser que eu lhe prometesse estar lá a essa hora.

Fé, sem promessa em que se firmar, não é fé — é tolice. Então, antes de pedir a Deus por qualquer coisa, faça a si mesmo a seguinte pergunta — que passagem da Bíblia me promete o que quero?A menos que tenha uma promessa, você não tem base para sua fé.

Um Segundo Erro Comum (A Second Common Mistake)

Muitas vezes, cristãos esperam que uma das promessas de Deus aconteça em suas vidas sem que preencham todos os requisitos que acompanham a promessa. Por exemplo, já ouvi cristãos citarem Salmo 37 e dizer: “A Bíblia diz que Deus me dará os desejos do meu coração. É nisso que creio”.

Contudo, a Bíblia não diz apenas que Deus nos dará os desejos de nossos corações. Na verdade, é isso o que ela diz:

Não se aborreça por causa dos homens maus e não tenha inveja dos perversos; pois como o capim logo secarão, como a relva verde logo murcharão. Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá (Sl. 37:1-5).

Existem várias condições para crermos que Deus nos dará os desejos dos nossos corações. Contei pelo menos oito na promessa acima. A menos que preenchamos os requisitos, não temos direito de receber a bênção prometida. Nossa fé não tem base.

Cristãos também gostam de citar a promessa encontrada em Filipenses 4:19: “O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus”. Contudo, existem requisitos a essa promessa?Com certeza, sim.

Se examinar o contexto da promessa encontrada em Filipenses 4:19, verá que não é uma promessa a todos os cristãos, mas aos cristãos doadores. Paulo sabia que Deus supriria todas as necessidades dos filipenses porque eles tinham enviado uma oferta a ele. Por estarem buscando em primeiro lugar o reino de Deus, como Jesus mandou, Deus supriria todas as suas necessidades, como Jesus prometeu (veja Mt. 6:33). Muitas das promessas na Bíblia que são relacionadas a Deus suprir nossas necessidades materias tem a condição de sermos doadores.

Não temos o direito de pensar que podemos confiar em Deus para suprir nossas necessidades se não estamos obedecendo aos Seus mandamentos a respeito de dinheiro. Debaixo da velha aliança, Deus disse ao Seu povo que foram amaldiçoados por não estarem dizimando, mas prometeu abençoá-los se entregassem os dízimos e dessem ofertas obedientemente.

Muitas das bênçãos prometidas a nós na Bíblia estão condicionadas a nossa obediência a Deus. Portanto, antes de nos esforçarmos para acreditar que Deus nos dará alguma bênção, devemos primeiro perguntar a nós mesmo: “Estou preenchendo todos os requisitos que acompanham essa promessa?”

Um Terceiro Erro Comum (A Third Common Mistake)

No Novo Testamento, Jesus deixou uma condição que se aplica a todas as vezes que orarmos e pedirmos por algo:

Tenham fé em Deus. Eu lhes asseguro que se alguém disser a este monte: “Levante-se e atire-se ao mar”, e não duvidar em seu coração, mas crer que acontecerá o que diz, assim lhe será feito. Portanto, eu lhes digo: Tudo o que vocês pedirem em oração, creiam que já o receberam, e assim lhes sucederá (Mc. 11:22-24, ênfase adicionada).

A condição que Jesus deixou é acreditar que recebemos quando oramos. Muitos cristãos tentam exercitar a fé erroneamente, crendo que estão recebendo quando veem a resposta de suas orações. Eles acreditam que vão receber e não que já receberam.

Quando pedimos a Deus por algo que nos prometeu, devemos crer que recebemos a resposta quando oramos e começar a agradecer a Deus pela resposta imediatamente. Devemos crer que temos a resposta antes de vê-la e não depois. Devemos fazer nossos pedidos a Deus com ação de graças, como Paulo escreveu:

Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus (Fp. 4:6).

Como já disse antes, se temos fé em nossos corações, naturalmente, nossas palavras e ações corresponderão com o que acreditamos. Jesus disse: “a boca fala do que está cheio o coração” (Mt. 12:34).

Alguns cristãos cometem o erro de pedir repetidamente pela mesma coisa, o que revela que ainda não creram que já receberam. Se cremos que recebemos quando oramos, não há razão de repetirmos o mesmo pedido. Pedir repetidamente pela mesma coisa é duvidar que Deus nos ouviu na primeira vez que pedimos.

Jesus não Fez o Mesmo Pedido Mais de Uma Vez?(Didn’t Jesus Make the Same Request More Than Once?)

É claro, Jesus fez o mesmo pedido três vezes em seguida quando orou no jardim do Getsêmani (veja Mt. 26:39-44). Mas lembre-se de que ele não estava orando em fé de acordo com a vontade revelada de Deus. Na verdade, enquanto orava três vezes por algum escape da cruz, Ele sabia que Seu pedido era contrário à vontade de Deus. É por isso que se submeteu à vontade de Seu Pai três vezes na mesma oração.

Essa mesma oração de Jesus é muitas vezes usada de forma errada como modelo para todas as orações, como alguns ensinam que sempre devemos terminar nossas orações com as palavras: “Seja feita a Tua vontade” ou “Contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”, seguindo o exemplo de Jesus.

Novamente, devemos nos lembrar que Jesus estava pedindo algo que sabia não ser a vontade de Deus. Seguir Seu exemplo, quando oramos de acordo com a vontade de Deus, seria um erro e uma mostra de falta de fé. Por exemplo, orar: “Senhor, eu confesso meu pecado a Ti e lhe peço que me perdoes se for da Tua vontade”, seria inferir que pode não ser a vontade de Deus perdoar meu pecado. Sabemos, é claro, que a Bíblia promete que Deus nos perdoará se confessarmos nossos pecados (veja 1 Jo. 1:9). Portanto, tal oração revelaria a falta de fé na vontade revelada de Deus.

Jesus não terminou todas as Suas orações com as palavras: “Contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”. Só há um exemplo em que ora dessa maneira, e foi quando orava para se entregar à vontade de Seu Pai, conhecendo o sofrimento que passaria por causa disso.

Por outro lado, se não conhecemos a vontade de Deus a respeito de certa situação, por Ele ainda não ter revelado, então, é apropriado terminar nossas orações com as palavras “se for da Tua vontade”. Tiago escreveu:

Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecera amanhã! Que é a sua vida?Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna (Tg. 4:13-16).

O que devemos fazer, uma vez que pedimos baseando-nos em uma promessa de Deus e preenchemos todas as qualificações?Devemos agradecer a Deus continuamente pela resposta que cremos já tê-la recebido, até que possamos vê-la. É atraves de fé e paciência que herdamos as promessas de Deus (Hb. 6:12). Com certeza, Satanás tentará nos derrotar colocando dúvidas em nossas mentes, e devemos perceber que nossas mentes são o campo de batalha. Quando pensamentos duvidosos invadem nossas mentes, devemos substituí-los por pensamentos baseados nas promessas de Deus e declarar a Palavra de Deus em fé. Quando assim o fizermos, Satanás fugirá (veja Tg. 4:7; 1 Pd. 5:8-9).

Um Exemplo de Fé em Ação (An Example of Faith in Action)

Um dos exemplos bíblicos clássicos de fé em ação é a história de Pedro andando sobre as águas. Vamos ler sua história e ver o que podemos aprender com ela.

Logo em seguida, Jesus insistiu com os discípulos para que entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado, enquanto ele despedia a multidão. Tendo despedido a multidão, subiu sozinho a um monte para orar. Ao anoitecer, ele estava ali sozinho, mas o barco já estava a considerável distância da terra, fustigado pelas ondas, porque o vento soprava contra ele. Alta madrugada, Jesus dirigiu-se a eles, andando sobre o mar. Quando o viram andando sobre o mar, ficaram aterrorizados e disseram: “É um fantasma!” E gritaram de medo. Mas Jesus imediatamente lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo!” “Senhor”, disse Pedro, “se és tu, manda-me ir ao teu encontro por sobre as águas”. “Venha”, respondeu ele. Então Pedro saiu do barco, andou sobre as águas e foi na direção de Jesus. Mas, quando reparou no vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me!” Imediatamente Jesus estendeu a mão e o segurou. E disse: “Homem de pequena fé, por que você duvidou?” Quando entraram no barco, o vento cessou. Então os que estavam no barco o adoraram, dizendo: “Verdadeiramente tu és o Filho de Deus” (Mt. 14:22-33).

É significante o fato que os discípulos de Jesus tinham estado em outra tempestade violenta em um barco no Mar da Galileia algum tempo antes (veja Mt. 8:23-27). Durante esse incidente, Jesus estava com eles e depois de ter repreendido a tempestade, repreendeu Seus discípulos pela falta de fé deles. Antes de começarem aquela jornada, Ele lhes disse que era a Sua vontade que fossem para o outro lado do lago (veja Mt. 14:35). Contudo, quando a tempestade começou eles foram mais influenciados pelas circunstâncias e chegaram a acreditar que iriam morrer. Jesus esperava que pelo menos não tivessem medo.

Contudo, dessa vez Jesus mandou que atravessassem o Mar da Galileia sozinhos. Com certeza, Ele foi levado pelo Espírito a fazer isso, e certamente, Deus sabia que um vento contrário surgiria à noite. Portanto, o Senhor permitiu que a fé deles enfrentasse um pequeno desafio.

Por causa daqueles ventos contrários, o que normalmente levaria somente algumas horas levou a noite inteira. Temos que dar crédito aos discípulos por sua persistência, mas não podemos deixar de nos perguntar se algum deles tentou ter fé de que os ventos se acalmariam, algo que tinham visto Jesus fazer apenas alguns dias atrás.

É interessante que o evangelho de Marcos registra que quando Jesus andava sobre as águas, “estava já a ponto de passar por eles” (Mc. 6:48). Ele ia deixá-los para enfrentar o problema sozinhos, enquanto caminhava por eles! Isso parece indicar que não estavam orando ou olhando para Deus. Pergunto-me quantas vezes o Fazedor de Milagres passa por nós enquanto nos esforçamos com os remos da vida contra os ventos dos problemas.

Princípios de Fé (Principles of Faith)

Jesus respondeu ao desafio de Pedro com uma única palavra: “Venha”. Se Pedro tivesse tentado andar na água antes dessa palavra, teria afundado instantaneamente, já que não teria promessa em que basear sua fé. Ele teria pisado por presunção ao invés de por fé. Mesmo depois de Jesus ter dito aquela palavra, se qualquer um dos outros discípulos tivesse tentado andar na água, também teria afundado instantaneamente, já que Jesus deu Sua promessa somente a Pedro. Nenhum deles poderia ter preenchido os requisitos da promessa, já que nenhum era Pedro. Da mesma forma, antes de qualquer de nós tentar confiar em uma das promessas de Deus, devemos ter certeza de que ela se aplica a nós e que preenchemos os requisitos da promessa.

Pedro pisou na água. Essa foi a hora em que confiou, mesmo que não haja dúvidas de que ele, que estava gritanto de medo de um fantasma alguns segundo antes, também tinha dúvidas quando tomou o primeiro passo. Mas para receber o milagre, teve que agir em fé. Se tivesse se segurado no mastro do barco e colocado o dedão para fora do barco para ver se a água suportaria seu peso, nunca teria experimentado o milagre. Da mesma forma, antes de recebermos milagres, devemos nos comprometer em confiar na promessa de Deus e então agir no que acreditamos. Sempre há uma hora em que nossa fé é testada. Às vezes, esse tempo é curto; às vezes não. Mas haverá um período de tempo que teremos de negligenciar nossos sentidos e agir pela Palavra de Deus.

Pedro iniciou bem. Mas quando considerou a impossibilidade do que estava fazendo, levando em conta o vento e as ondas, teve medo. Talvez tenha parado de andar, com medo de dar o outro passo. E ele, que estava experimentando um milagre, se encontrou afundando. Devemos continuar em fé uma vez que começamos agindo em fé. Continue persistindo.

Pedro afundou porque duvidou. Normalmente, as pessoas não gostam de se culpar por sua falta de fé. Preferem passar a culpa para Deus. Mas como você acha que Jesus teria reagido se ouvisse Pedro dizendo aos outros discípulos, uma vez que estava a salvo no barco: “Era a vontade de Deus que eu só andasse parte do caminho até Jesus”?

Pedro fracassou porque teve medo e perdeu a fé. São esses os fatos. Jesus não o condenou, mas esticou a mão imediatamente para que Pedro tivesse algo firme em que se apegar. E em seguida questionou Pedro por ter duvidado. Ele não teve razão para duvidar, porque a palavra do Filho de Deus é mais certa do que qualquer coisa. Nenhum de nós tem bons motivos para duvidar da Palavra de Deus, ter medo ou se preocupar.

As Escrituras estão cheias de vitórias que foram resultado de fé, e fracassos que foram resultado de dúvidas. Josué e Calebe tomaram posse da terra prometida por causa de sua fé, quando a maioria de seus colegas morreu no deserto por causa de suas dúvidas (veja Nm. 14:26-30). Os discípulos de Jesus tiveram suas necessidades supridas quando viajaram de dois em dois para pregar o evangelho (veja Lc. 22:35), mas uma vez não conseguiram expulsar um demônio porque duvidaram (veja Mt. 17:19-20). Muitos receberam milagres debaixo no ministério de Cristo, enquanto a maioria dos doentes de Sua cidade natal, Nazaré, continuaram doentes por causa de sua descrença (veja Mc. 6:5-6).

Como todos eles, já experimentei sucessos e fracassos de acordo com minha fé ou dúvidas. Mas não vou ficar chateado por causa de minhas dúvidas ou culpar a Deus. Não vou me justificar culpando a Ele. Não procurarei um explicação teológica complicada que reinventa a vontade revelada de Deus. Sei que é impossível que Deus minta. Então, quando fracassei, simplesmente me arrependi de minha descrença e comecei a andar na água mais uma vez. Notei que Jesus sempre me perdoa e me salva do afogamento!

O veredito foi selado: crentes são abençoados; os duvidosos não! O ministro discipulador segue o exemplo de Jesus. Ele está cheio de fé e adverte seus discípulos: “Tenham fé em Deus” (Mc. 11:22).

Divórcio e Recasamento

Capítulo Treze (Chapter Thirteen)

Os temas de divórcio e recasamento são sempre debatidos entre cristãos sinceros. Duas perguntas fundamentais formam a base deste debate: (1) Quando o divórcio é permitido aos olhos de Deus? e (2) Quando o recasamento é permitido aos olhos de Deus? A maioria das denominações e igrejas independentes tem posições doutrinarias oficiais sobre o que é permitido e o que não é, baseadas em suas interpretações particulares das Escrituras. Devemos respeitr a todas por terem convicções e viverem por elas — se suas convicções forem baseadas em seu amor por Deus. Contudo, com certeza seria melhor se todos nós tivéssemos convicções 100% bíblicas. O ministro discipulador não quer ensinar o que não alcança o propósito de Deus. Ele também não quer colocar cargas sobre as pessoas que Deus nunca quis que carregassem. Com esse objetivo em mente, farei o melhor para interpretar as Escrituras neste tópico polêmico e deixá-lo decidir se concorda ou não.

Deixe-me começar dizendo-lhe que estou, assim como você, aflito pelo divórcio estar tão implacável no mundo hoje. Pior ainda, é o fato de muitos cristãos professos estarem se divorciando, incluindo aqueles no ministério. Esta é uma grande tragédia. Devemos fazer todo o possível para impedir que isto aconteça mais ainda, e a melhor solução para o problema do divórcio é pregar o evangelho e chamar pessoas ao arrependimento. Quando duas pessoas casadas são genuinamente renascidas e ambas seguem ao Senhor, nunca se divorciarão. O ministro discipulador fará todo o possível para que seu próprio casamento seja forte, sabendo que seu exemplo é seu meio mais influente de ensinar.

Deixe-me também adicionar que sou casado e feliz há mais de vinte e cinco anos, e que antes disso nunca fui casado. Não posso me imaginar divorciado. Portanto, não tenho motivo para amaciar passagens difíceis sobre o divórcio pelo meu próprio bem. Contudo, tenho grande simpatia por pessoas divorciadas, sabendo que eu mesmo poderia ter feito uma má decisão quando jovem, casando-me com alguém que, mais tarde, seria tentado a pedir o divórcio, ou com alguém menos tolerante comigo que a maravilhosa mulher com quem me casei. Em outras palavras, poderia ter me divorciado, mas isso não aconteceu pela graça de Deus. Acho que a maioria das pessoas casadas pode se identificar com o que estou dizendo; portanto, devemos nos refrear de jogar pedras em pessoas divorciadas. Quem somos nós, que temos casamentos desgastados, para acusar pessoas divorciadas, sem termos ideia do que possam ter passado? Deus pode considerá-los muito mais santos que nós, já que sabe que nós, debaixo das mesmas circunstâncias, poderíamos ter nos divorciado muito antes.

Ninguém se casa esperando se divorciar, e acho que ninguém odeia mais o divórcio que aqueles que sofreram por causa dele. Portanto, devemos ajudar pessoas casadas a continuarem casadas, e pessoas divorciadas a encontrarem a graça que Deus estiver oferecendo. É neste espírito que escrevo.

Farei o possível para permitir que passagens interpretem passagens. Percebi que versículos sobre esse assunto são muitas vezes interpretados de tal modo, que contradizem outras passagens, que é uma indicação certa que tais versículos foram mal-interpretados, pelo menos em parte.

Uma Base (A Foundation)

Vamos começar com uma verdade fundamental que todos possamos concordar. A mais fundamental é que as Escrituras afirmam que Deus é contra o divórcio em geral. Durante um tempo em que homens israelitas estavam se divorciando de suas esposas, Ele declarou através do profeta Malaquias:

“Eu odeio o divórcio…e também odeio homem que se cobre de violência como se cobre de roupas…Por isso, tenham bom senso; não sejam infiéis” (Ml. 2:16).

Isso não deve surpreender alguém que conheça algo sobre o caráter amoroso e justo de Deus, ou alguém que saiba algo sobre como o divórcio danifica maridos, esposas e crianças. Teríamos que questionar o caráter moral de qualquer um que fosse a favor do divórcio de modo geral. Deus é amor (veja 1 Jo. 4:8) e, portanto, odeia o divórcio.

Uma vez, alguns fariseus fizeram uma pergunta a Jesus sobre a legalidade do divórcio “por qualquer motivo”. Sua resposta revela Sua reprovação ao divórcio. Aliás, o divórcio nunca foi Sua intenção para alguém:

Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo à prova. E perguntaram-lhe: “É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo?” Ele respondeu: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe” (Mt. 19:3-6).

Historicamente, sabemos que existiam duas linhas de pensamento entre os líderes religiosos judeus nos dias de Jesus. Examinaremos estas duas linhas mais detalhadamente mais tarde; mas é suficiente dizer, por enquanto, que uma era conservadora e a outra liberal. Os conservadores acreditavam que era permitido que um homem se divorciasse de sua esposa somente por sérias razões morais. Já os liberais acreditavam que um homem podia se divorciar por qualquer motivo, incluindo encontrar uma mulher mais atraente. Essas convicções contraditórias foram a base para a pergunta dos fariseus a Jesus.

Jesus recorreu aos versículos das Escrituras, às primeiras passagens de Gênesis que mostram que o plano original de Deus era unir homem e mulher permanentemente, e não temporariamente. Moisés declarou que Deus criou os dois sexos tendo o casamento em mente, e que este é um relacionamento tão significante que se torna o mais importante de todos. Uma vez que é oficializado, é mais importante até que o relacionamento de alguém com seus pais. Os homens deixam seus pais para se unirem a suas esposas. E depois, então, a união sexual entre homem e mulher mostra sua unidade ordenada por Deus.

Obviamente, tal relacionamento, que resulta em filhos, não foi intencionado por Deus para durar temporariamente, e sim permanentemente. Eu acho que o tom da resposta de Jesus aos fariseus indicava Sua grande decepção por tal pergunta ter sido feita. Com certeza, Deus não queria que homens se divorciassem de suas esposas “por qualquer motivo”.

É claro que Deus queria que ninguém pecasse, de modo algum; mas todos pecamos. Com grande misericórdia, Deus tomou providências para nos resgatar da escravidão do pecado. Além do mais, Ele tem coisas para nos dizer depois de termos feito o que Ele não queria que fizéssemos. Da mesma maneira, Deus nunca quis que alguém se divorciasse, mas o divórcio era inevitável entre humanos não submissos a Deus. Ele não ficou surpreso com o primeiro divórcio ou com os milhões subsequentes. E, portanto, Ele não só declara Seu ódio pelo divórcio, mas também tem algo a dizer às pessoas depois de terem se divorciado.

No Princípio (In the Beginning)

Com este alicerce posto, podemos começar a explorar mais especificamente o que Deus declarou sobre divórcio e recasamento. Já que as afirmações mais polêmicas sobre o divórcio e recasamento são ditas por Jesus aos israelitas, nos ajudará estudarmos primeiro o que Deus disse há centenas de anos antes sobre o mesmo assunto aos israelitas. Se acharmos que o que Deus disse através de Moisés e o que disse através de Jesus são contraditórios, podemos ter certeza que ou a Lei de Deus mudou, ou estamos interpretando mal algo dito por Moisés ou Jesus. Então, vamos começar com o que Deus revelou primeiro a respeito do divórcio e recasamento.

Já mencionei a passagem em Gênesis 2 que, de acordo com Jesus, tem alguma relevância ao assunto do divórcio. Desta vez, vamos lê-la diretamente da descrição de Gênesis:

Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a levou até ele. Disse então o homem: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada”. Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne (Gn. 2:22-24).

Então, esta é a origem do casamento. Deus fez a primeira mulher do primeiro homem e para o primeiro homem, e a levou a ele pessoalmente. Nas palavras de Jesus, “Deus [os] uniu” (Mt. 19:6, ênfase adicionada). Este primeiro casamento ordenado por Deus estabeleceu o modelo para todos os casamentos subsequentes. Deus cria, mais ou menos, o mesmo número de mulheres que homens, e os cria para que se sintam atraídos ao sexo oposto. Assim, pode ser dito que Deus ainda providencia casamentos em grande escala (mesmo que existam muitos mais possíveis companheiros para cada indivíduo que existia para Adão e Eva). Portanto, como Jesus disse, nenhum humano deve separar o que Deus uniu. Não era a intenção de Deus que o casal original tivesse vidas separadas, mas que encontrassem bênçãos vivendo juntos em dependência mútua. A violação da vontade tão claramente revelada de Deus, constituiria pecado. Dessa maneira, desde o segundo capítulo da Bíblia, é estabelecido o fato que o divórcio não era a intenção de Deus para casamento algum.

A Lei de Deus Escrita em Corações (God’s Law Written in Hearts)

Também gostaria de sugerir que, mesmo aqueles que nunca leram o segundo capítulo de Gênesis, sabem instintivamente que o divórcio é errado, já que a aliança de casamento para a vida toda é praticada em muitas culturas pagãs, onde o povo não tem conhecimento bíblico. Como Paulo escreveu em sua carta aos Romanos:

De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os (Rm. 2:14-15).

O código de ética de Deus está escrito em cada coração humano. Aliás, este código de ética que fala através da consciência, é toda a lei que Deus deu a qualquer um (exceto ao povo de Israel) de Adão até os tempos de Jesus. Qualquer um que esteja mesmo considerando um divórcio verá que precisa lidar com sua consciência, e o único modo de poder superá-la é encontrando uma boa justificativa para o divórcio. Se continuar com o divórcio sem uma boa justificativa, sua consciência o condenará, mesmo que possa reprimi-la.

Desde que sabemos, durante vinte e sete gerações, de Adão até a entrega da Lei de Moisés a Israel, por volta de 1440 d.c., a lei da consciência era toda a revelação que Deus havia dado a qualquer um, incluindo aos israelitas, a respeito do divórcio e recasamento; Deus considerou isso suficiente. (Lembre-se que Moisés não escreveu o registro da criação de Gênesis 2 até o tempo do Êxodo.) Com certeza, parece razoável pensar que durante estas vinte e sete gerações antes da Lei Mosaica, que inclui o tempo do dilúvio de Noé, alguns dos milhões de casamentos durante aquelas centenas de anos acabaram em divórcio. Também parece razoável concluir que Deus, que nunca muda, estava disposto a perdoar aqueles que eram culpados pelo divórcio se confessassem seus pecados e se arrependessem. Estamos certos de que pessoas podiam ser salvas ou declaradas santas por Deus, antes da Lei de Moisés ser entregue, assim como foi com Abraão, através de sua fé (veja Rm. 4:1-12). Se pessoas podiam ser declaradas santas através de sua fé desde Adão até Moisés, isso significa que podiam ser perdoadas por qualquer coisa, incluindo pecado referente ao divórcio. Portanto, enquanto começamos a sondar o assunto de divórcio e recasamento, eu me pergunto: Pessoas culpadas de divórcio antes da Lei Mosaica e que receberam perdão de Deus eram exortadas por suas consciências (já que não havia lei escrita) que se recasassem seriam culpadas? Estou somente propondo uma pergunta.

E as vítimas do divórcio que não cometeram pecado, aqueles que se divorciaram sem culpa, somente por causa de cônjuges egoístas? A consciência deles os proibiria de recasar? Isso me parece improvável. Se um marido abandonasse sua esposa por outra mulher, o que a levaria a pensar que não teria direito a um recasamento? O divórcio não foi culpa dela.

A Lei de Moisés (The Law of Moses)

É somente no terceiro livro da Bíblia que encontramos divórcio e recasamento mencionados especificamente. Está contido na Lei de Moisés como uma proibição contra sacerdotes casarem-se com mulheres divorciadas:

Não poderão tomar por mulher uma prostituta, uma moça que tenha perdido a virgindade, ou uma mulher divorciada do seu marido, porque o sacerdote é santo ao seu Deus (Lv. 21:7).

Em lugar algum da Lei de Moisés há tal proibição dirigida à população geral de homens israelitas. Mais adiante, o versículo citado indica que (1) havia mulheres israelitas divorciadas e (2) não há nada de errado com homens israelitas não-sacerdotais casando-se com mulheres que foram previamente casadas. A lei citada acima se aplica somente a sacerdotes e mulheres divorciadas que possam se casar com sacerdotes. Nada havia de errado, de acordo com a Lei de Moisés, com qualquer mulher divorciada recasando-se, desde que não se casasse com um sacerdote. Nada havia de errado com qualquer homem, com exceção sacerdotes, casando-se com uma mulher divorciada.

Era requerido que o sumo sacerdote (talvez um tipo supremo de Cristo) vivesse em padrões ainda mais altos que os sacerdotes normais; não lhe era permitido nem que se casasse com uma viúva. Lemos alguns versículos mais adiante em Levítico:

Não poderá ser viúva, nem divorciada, nem moça que perdeu a virgindade, nem prostituta, mas terá que ser uma virgem, do seu próprio povo (Lv. 21:14).

Esse versículo prova que era pecado que todas as viúvas israelitas se recasassem ou que era pecado para qualquer e todo homem israelita se casar com uma viúva? Não, com certeza não. Na verdade, esse versículo indica fortemente que não seria errado que qualquer viúva se casasse com qualquer homem, desde que não fosse o sumo sacerdote, e indica fortemente que qualquer homem, além do sumo sacerdote poderia se casar com uma viúva. Outras passagens afirmam a legitimação completa de viúvas recasando-se (veja Rm. 7:2-3; 1 Tm. 5:14).

Esse versículo também indica, juntamente com o que consideramos anteriormente (Lv. 21:7), que não seria errado que qualquer homem israelita (além do sacerdote ou sumo sacerdote) se casar com uma mulher divorciada ou mesmo uma mulher que não fosse virgem, “prostituta”. Do mesmo modo, implica que debaixo da Lei de Moisés, não havia nada de errado com uma mulher divorciada recasar-se ou com uma “prostituta” casar-se, desde que não se casasse com um sacerdote. Deus deu, graciosamente, a adúlteros e divorciados outra chance, mesmo sendo contra ambos, fornicação e divórcio.

Uma Segunda Proibição Específica Contra Recasamento (A Second Specific Prohibition Against Remarriage)

Quantas “segunda chances” Deus deu a mulheres divorciadas? Devemos concluir que Ele deu a mulheres divorciadas somente mais uma chance debaixo da Lei de Moisés, permitindo somente um recasamento? Essa seria uma conclusão errada. Lemos mais tarde na Lei de Moisés:

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora. Se, depois de sair da casa, ela se tornar mulher de outro homem, e este não gostar mais dela, lhe dará certidão de divórcio, e a mandará embora. Ou se o segundo marido morrer, o primeiro, que se divorciou dela, não poderá casar-se com ela de novo, visto que ela foi contaminada. Seria detestável para o Senhor. Não tragam pecado sobre a terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança (Dt. 24:1-4).

Note que nestes versículos, a única proibição era contra mulheres divorciadas duas vezes (ou divorciadas e viúvas) recasando-se com seus primeiros maridos. Nada é dito sobre o pecado cair sobre ela por casar-se a segunda vez, e uma vez que foi divorciada a segunda vez (ou viúva de seu segundo marido), era proibida de voltar ao seu primeiro marido. A indicação óbvia é que ela seria livre para recasar com qualquer outro homem (que estivesse disposto a dar a ela outra chance). Se fosse pecado que ela casasse novamente com outro homem, não haveria necessidade de Deus dar esse tipo de instrução específica. Tudo o que Ele teria que dizer é: “Divorciados são proibidos de se recasar”.

Mais adiante, se Deus permitisse que essa mulher se casasse uma segunda vez, o homem que se casasse com ela depois de seu primeiro divórcio também não teria culpa. E se fosse permitido que ela se casasse uma terceira vez, o homem que se casasse com ela depois de ser divorciada duas vezes não estaria pecando (a menos que fosse seu primeiro marido). Portanto, o Deus que odiava o divórcio, amava divorciados e graciosamente, ofereceu a eles outra chance.

Um Resumo (A Summary)

Deixe-me resumir o que descobrimos até agora: Mesmo que Deus tenha declarado Seu ódio pelo divórcio, Ele não deu indicação antes ou durante a velha aliança que recasamento era pecado, com duas exceções: (1) a mulher divorciada duas vezes ou divorciada e viúva recasando-se com seu primeiro marido e (2) o caso de uma mulher divorciada casando-se com um sacerdote. Mais adiante, Deus não deu indicação que casar-se com uma pessoa divorciada era pecado, exceto para sacerdotes.

Aparentemente, isto vai contra o que Jesus disse sobre pessoas divorciadas que recasam e aqueles que se casam com pessoas divorciadas. Jesus disse que tais pessoas cometem adultério (veja Mt. 5:32). Portanto, estamos interpretando mal a Jesus, a Moisés ou Deus mudou Sua lei. Minha suspeita é que possamos estar interpretando mal o que Jesus ensinou, pois me parece estranho que Deus dissesse que algo que é moralmente aceitável durante mil e quinhentos anos debaixo da Lei que Ele deu a Israel fosse pecado.

Antes de enfrentarmos esta contradição aparente, deixe-me ressaltar que a permissão de Deus ao recasamento debaixo da velha aliança não carregava condições que eram baseadas nos motivos do divórcio ou no grau de culpa da pessoa no divórcio. Deus nunca disse que certos divorciados estavam desqualificados para o recasamento, pois seus divórcios não tinham motivos legítimos. Ele nunca disse que algumas pessoas eram dignas de se recasarem por causa da legitimidade de seus divórcios. Mesmo assim, ministros modernos tentam fazer tais julgamentos baseando-se num lado da história. Por exemplo, uma mulher divorciada tenta convencer seu pastor que é digna de poder recasar, pois foi somente a vítima do divórcio. Seu ex-marido divorciou-se dela — e não o contrário. Mas se aquele pastor tivesse a oportunidade de ouvir o lado do marido, poderia vir a ser solidário a ele. Talvez ela tenha sido um monstro tendo, portanto, parte da culpa.

Conheci um casal que ambos tentaram provocar o outro a pedir o divórcio para que pudessem se livrar da culpa de ser a pessoa que pediu o divórcio. Ambos queriam dizer que foi o cônjuge, não eles, que pediu o divórcio, permitindo, assim, seu casamento subsequente. Podemos enganar as pessoas, mas não a Deus. Por exemplo, qual é a avaliação dEle da mulher, que, em desobediência à Palavra de Deus, nega continuamente o sexo ao seu marido e, então, se divorcia por ele não ter-lhe sido fiel? Ela não é, pelo menos em parte, responsável pelo divórcio?

O caso da mulher divorciada duas vezes que acabamos de ler em Deuteronômio 24 nada diz sobre a legitimidade de seus dois divórcios. O primeiro marido encontrou nela “algo que ele reprova”. Se isto tivesse sido adultério, ela seria digna de morte de acordo com a Lei de Moisés, que prescrevia que adúlteros deveriam ser apedrejados (veja Lv. 20:10). Portanto, se adultério for o único motivo legítimo para o divórcio, talvez seu primeiro marido não tinha um bom motivo para se divorciar dela. Por outro lado, talvez ela tenha cometido adultério, e ele, sendo um homem santo como José de Maria, “pretendia anular o casamento secretamente” (Mt. 1:19). Existem muitos cenários possíveis.

É dito que seu segundo marido se divorciou por “não gostar mais dela”. Mais uma vez, não sabemos se alguém é culpado ou se dividem a culpa. Mas não faz diferença. A graça de Deus foi estendida sobre ela para se casar com qualquer um que desse uma chance a uma mulher divorciada duas vezes, com exceção de seu primeiro marido.

Uma Objeção (An Objection)

É muitas vezes dito que “se disserem que é permitido que pessoas recasem depois de se divorciarem por qualquer motivo, isso as encorajará a divorciarem-se por motivos ilegítimos”. Acho que isso pode ser verdade em alguns casos de pessoas meramente religiosas que não estão tentando verdadeiramente agradar a Deus, mas reprimir pessoas que não são submetidas a Deus de pecar é um exercício inútil. Contudo, pessoas que são realmente submetidas a Deus em seus corações não estão procurando formas de pecar. Estão tentando agradar a Deus, e esse tipo de pessoas normalmente tem casamentos fortes. Mais adiante, Deus, aparentemente, não estava muito preocupado com pessoas debaixo da velha aliança se divorciando por motivos ilegítimos devido a uma lei liberal de recasamento porque Ele deu a Israel uma lei liberal de recasamento.

Devemos evitar dizer às pessoas que Deus está disposto a perdoá-las de qualquer pecado, pois serão encorajadas a pecar, porque sabem que o perdão está disponível? Se a resposta for sim, teremos que parar de pregar o evangelho. Novamente, tudo se resume à condição dos corações das pessoas. Aquelas que amam a Deus querem obedecê-Lo. Eu sei muito bem que o perdão de Deus estaria disponível se eu o pedisse, sem importar que pecado eu possa cometido. Mas isso não me motiva a pecar nem um pouco, porque amo a Deus e renasci; fui transformado por Sua graça e quero agradá-Lo.

Deus sabe que não há necessidade de adicionar mais uma consequência negativa às muitas outras inevitáveis do divórcio com esperança de motivar as pessoas a continuarem casadas. Dizer às pessoas com problemas no casamento que é melhor não se divorciem, pois nunca serão permitidas casarem-se novamente proporciona pouca motivação para que permaneçam casadas. Mesmo que acreditem em você, a perspectiva de uma vida solteira comparada a uma vida de pobreza marital contínua parece o céu à pessoa casada miseravelmente.

Paulo no Recasamento (Paul on Remarriage)

Antes de atacarmos o problema de harmonizar as palavras de Jesus sobre o recasamento com as de Moisés, precisamos perceber que há mais um autor bíblico que concorda com Moisés, e seu nome é Paulo, o apóstolo. Paulo escreveu claramente que o recasamento para divorciados não é pecado, concordando com o que o Velho Testamento diz:

Quanto às pessoas virgens, não tenho mandamento do Senhor, mas dou meu parecer como alguém que, pela misericórdia de Deus, é digno de confiança. Por causa dos problemas atuais, penso que é melhor o homem permanecer como está. Você está casado? Não procure separar-se. Está solteiro? Não procure esposa. Mas, se vier a casar-se, não comete pecado; e, se uma virgem se casar, também não comete pecado. Mas aqueles que se casarem enfrentarão muitas dificuldades na vida, e eu gostaria de poupá-los disso (1 Co. 7:25-28, ênfase adicionada).

Não há dúvida que Paulo estava falando a pessoas divorciadas nesta passagem. Ele aconselhou os casados, os solteiros e os divorciados a continuarem em seu estado atual por causa da perseguição que os cristãos estavam sofrendo na época. Contudo, Paulo deixou claro que pessoas divorciadas e virgens não pecariam se recasassem.

Note que Paulo não qualificou a legalidade do recasamento de pessoas divorciadas. Ele não disse que recasamentos só eram permitidos se a pessoa divorciada não tivesse parcela de culpa em seu divórcio anterior. (E que outra pessoa além de Deus está qualificada a julgar tal coisa?) Ele não disse que recasamento só era permitido àqueles que tinham sido divorciados antes de sua salvação. Não, ele disse simplesmente que recasamento não é pecado para pessoas divorciadas.

Paulo era Flexível Sobre o Divórcio? (Was Paul Soft on Divorce?)

Por Paulo ter endossado uma política generosa sobre recasamento, isso quer dizer que ele também era flexível sobre o divórcio? Não, Paulo era claramente contra o divórcio em geral. Mais cedo no mesmo capítulo de sua carta aos coríntios, ele deixou uma lei sobre o divórcio que está em harmonia com o ódio de Deus pelo divórcio:

Aos casados, dou este mandamento, não eu, mas o Senhor: Que a esposa não se separe do seu marido. Mas se o fizer, que permaneça sem se casar ou, então, reconcilie-se com o seu marido. E o marido não se divorcie da sua mulher. Aos outros, eu mesmo digo isto, não o Senhor: Se um irmão tem mulher descrente, e ela se dispõe a viver com ele, não se divorcie dela. E, se uma mulher tem marido descrente, e ele se dispõe a viver com ela, não se divorcie dele. Pois o marido descrente é santificado por meio da mulher, e a mulher descrente é santificada por meio do marido. Se assim não fosse, seus filhos seriam impuros, mas agora são santos. Todavia, se o descrente separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou irmã não fica debaixo de servidão; Deus nos chamou para vivermos em paz. Você, mulher, como sabe se salvará seu marido? Ou você, marido, como sabe se salvará sua mulher? Entretanto, cada um continue vivendo na condição que o Senhor lhe designou e de acordo com o chamado de Deus. Está é a minha ordem para todas as igrejas (1 Co. 7:10-17).

Note que Paulo se dirige primeiramente a crentes casados com crentes. Eles não devem se divorciar é claro, e Paulo diz que essa não é sua instrução, mas do Senhor. E com certeza, isto concorda com tudo o que consideramos na Bíblia até agora.

É aqui que fica interessante. Paulo era, obviamente, realístico o suficiente para perceber que mesmo crentes podem se divorciar em casos raros. Se isso ocorre, Paulo diz que a pessoa que se divorciou de seu esposo ou sua esposa deve continuar descasado ou se reconciliar com ele/ela. (Mesmo que Paulo dê estas instruções específicas às esposas, eu assumo que as mesmas regas se apliquem aos esposos.)

Novamente, o que Paulo escreve não nos surpreende. Primeiro, ele deixou a lei de Deus a respeito do divórcio, mas é inteligente o suficiente para saber que a lei de Deus pode não ser sempre obedecida. Portanto, quando o pecado do divórcio ocorre entre dois crentes, ele dá mais instruções. A pessoa que se divorciou de seu cônjuge deve continuar descasada ou se reconciliar com seu cônjuge. Com certeza, esta seria a melhor coisa no evento de divórcio entre crentes. Desde que ambos continuem descasados, há chance de reconciliação. (E obviamente, se tivessem cometido um pecado imperdoável pelo divórcio, haveria pouco motivo para Paulo dizer-lhes para continuarem descasados ou para se reconciliarem.)

Você acha que Paulo era inteligente o suficiente para saber que sua segunda diretriz a crentes divorciados poderia não ser sempre obedecida? Eu acho que sim. Talvez não tenha dado mais diretrizes para crentes divorciados por esperar que os verdadeiros crentes seguissem sua primeira diretriz de não se divorciarem e, portanto, somente para casos raros sua segunda diretriz seria necessária. Com certeza, verdadeiros seguidores de Cristo, se tivessem problemas conjugais, fariam todo o possível para preservar seus casamentos. E certamente, um crente que, depois de todas as tentativas para preservar o casamento, sentisse que não tinha outra alternativa além do divórcio, este crente por pura vergonha pessoal e desejo de honrar a Cristo, não consideraria se recasar com qualquer outra pessoa, e ainda esperaria a reconciliação. Parece-me que o real problema na igreja moderna a respeito do divórcio é que há um percentual muito alto de falsos crentes, pessoas que nunca realmente creram e, portanto, se submeteram ao Senhor Jesus Cristo.

É bem claro, pelo que Paulo escreveu em 1 Coríntios 7, que Deus tem maiores expectativas para crentes, pessoas que são habitadas pelo Espírito Santo, que para incrédulos. Paulo escreveu, como lemos, que crentes não devem se divorciar de seus cônjuges incrédulos desde que tais cônjuges estejam dispostos a viver com eles. Mais uma vez, esta diretriz não nos surpreende, já que está em perfeita harmonia com tudo mais que lemos sobre o assunto nas Escrituras. Deus é contra o divórcio. Contudo, Paulo continua dizendo que se o ímpio quer o divórcio, o crente deve permiti-lo. Ele sabe que o incrédulo não é submetido a Deus, e assim não espera que aja como tal. Deixe-me acrescentar que o fato de um ímpio concordar em morar com um crente é uma boa indicação de que está potencialmente aberto para o evangelho, ou que o crente está deteriorando ou é um falso cristão.

Agora, quem diria que um crente divorciado de um incrédulo não é livre para se recasar? Paulo nunca disse tal coisa, como disse no caso de dois crentes divorciados. Teríamos que nos perguntar por que Deus seria contra o recasamento de um crente divorciado de um ímpio. A qual propósito isso serviria? Mesmo assim, tal permissão parece ir contra o que Jesus disse sobre o recasamento: “Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério” (Mt. 5:32). Novamente, isso me faz suspeitar que estamos interpretando mal o que Jesus estava tentando comunicar.

O Problema (The Problem)

Jesus, Moisés e Paulo concordam claramente que divorcio é uma indicação de pecado por parte de um ou ambos os lados do divórcio. Todos são consistentemente contra o divórcio em geral. Mas eis o nosso problema: Como podemos reconciliar o que Moisés e Paulo disseram sobre o recasamento com o que Jesus disse? Certamente, devemos esperar que devam harmonizar, já que foram todos inspirados por Deus para dizerem o que disseram.

Vamos examinar exatamente o que Jesus disse e considerar com quem estava falando. Duas vezes no evangelho de Mateus encontramos Jesus discursando sobre divórcio e recasamento, uma vez no Sermão no Monte e outra quando foi questionado por alguns fariseus. Vamos começar com a conversa de Jesus com estes fariseus:

Alguns fariseus aproximaram-se dele para pô-lo à prova. E perguntaram-lhe: “É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo?” Ele respondeu: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe”. Perguntaram eles: “Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora?” Jesus respondeu: “Moisés permitiu que vocês se divorciassem de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio. Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério” (Mt. 19:3-9).

Durante esta conversa com Jesus, os fariseus se referiram a uma porção da Lei Mosaica que mencionei mais cedo, Deuteronômio 24:1-4. Lá estava escrito:

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora… (Dt. 24:1, ênfase adicionada).

Nos dias de Jesus, havia duas escolas de pensamento a respeito do que constituía indecência, ou “algo que ele reprova.” Cerca de vinte anos antes, um rabbi chamado Hillel ensinou que uma indecência era uma diferença irreconciliável. No tempo que Jesus teve Seu debate com os fariseus, a interpretação “Hillel” havia se tornado ainda mais liberal, permitindo o divórcio por quase “qualquer motivo”, como indica a pergunta dos fariseus a Jesus. Um homem podia divorciar-se de sua mulher se ela queimasse seu jantar, colocasse muito sal na comida, expusesse seu joelho em público, soltasse o cabelo, falasse com outro homem, dissesse algo indelicado sobre sua sogra ou fosse infértil. Um homem podia se divorciar de sua mulher até se visse alguém mais atraente que ela, vendo assim nela “algo que ele reprova”.

Outro rabbi famoso, Shammai, que viveu antes de Hillel, ensinou que “algo que ele reprova” era somente algo muito imoral, como adultério. Como você deve suspeitar, a interpretação liberal de Hillel era muito mais popular que a de Shammai entre os fariseus dos dias de Jesus. Os fariseus viviam e ensinavam que o divórcio era legal por qualquer motivo e, portanto, o divórcio era desenfreado. Os fariseus, em seus jeitos típicos farisaicos, enfatizavam a importância de dar a sua mulher a carta de divórcio quando a mandasse embora, para “não quebrar a Lei de Moisés”.

Não se Esqueça que Jesus Estava Falando com Fariseus (Don’t Forget that Jesus’ was Speaking to Pharisees)

Com este histórico em mente, podemos entender melhor o que Jesus estava enfrentando. Diante dEle estava um grupo de professores religiosos hipócritas, muitos dos quais, se não todos, tinham se divorciado uma ou mais vezes e, provavelmente, por terem encontrado companheiras mais atraentes. (Não acho que seja coincidência que as palavras de Jesus sobre divórcio no Sermão do Monte sigam Suas exortações a respeito da cobiça, também a chamando de forma de adultério.) Mesmo assim, estavam se justificando, dizendo que obedeceram à Lei de Moisés.

A própria pergunta revela sua inclinação. Eles acreditavam claramente que um homem podia se divorciar de sua mulher por qualquer motivo. Jesus expôs a falta de entendimento dos fariseus a respeito da intenção de Deus no casamento apelando para as palavras de Moisés sobre o casamento no capítulo 2 de Gênesis. Deus nunca quis que existisse nenhum divórcio, muito menos por “qualquer motivo”, mesmo assim, os líderes de Israel estavam se divorciando de suas mulheres assim como adolescentes terminam suas “paqueras”!

Imagino que os fariseus já sabiam a posição de Jesus sobre o divórcio, já que Ele havia afirmado publicamente antes e, portanto, estavam prontos com sua refutação: “Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora?” (Mt. 19:7).

Novamente, essa pergunta revela a inclinação deles. Ela foi formulada de forma a deixar transparecer que Moisés estava mandando os homens se divorciarem se suas esposas quando descobrissem “algo que ele não aprova”, e requerendo um certificado de divórcio próprio. Mas como sabemos, depois ler de Deuteronômio 24:1-4, não é isso que Moisés quis dizer. Ele só estava regulamentando o terceiro casamento de uma mulher, proibindo-a de recasar com seu primeiro marido.

Já que Moisés mencionou divórcio, ele deve ter sido permitido por algum motivo. Mas note como o verbo que Jesus usa em Sua resposta, permitiu, contrasta com a escolha do verbo dos fariseus, mandou. Moisés permitiu o divórcio; nunca mandou. A razão de Moisés ter permitido o divórcio foi por causa da dureza dos corações dos israelitas. Isto é, Deus permitiu o divórcio como concessão misericordiosa à iniquidade das pessoas. Ele sabia que as pessoas seriam infiéis para com seus cônjuges. Sabia que haveria imoralidades. Ele sabia que os corações das pessoas seriam quebrados. Portanto, permitiu o divórcio. Não era a intenção dEle, mas o pecado o fez necessário.

Depois, Jesus expôs a Lei de Deus aos fariseus, talvez até definindo o que era o “algo que ele reprova” de Moisés: “Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério” (Mt. 19:9, ênfase adicionada). Aos olhos de Deus, imoralidade sexual é o único motivo válido para um homem se divorciar de sua esposa, e posso entender isto. O que um homem ou mulher pode fazer que seja mais ofensivo ao seu cônjuge? Quando alguém comete adultério ou tem um caso, ele/ela envia uma mensagem brutal. Com certeza, Jesus não estava se referindo somente a adultério quando disse “imoralidade sexual”. Certamente, beijos apaixonados e carícias no cônjuge de outra pessoa seria uma imoralidade ofensiva, assim como a prática de ver pornografia e outras perversões sexuais. Lembre-se que Jesus igualou cobiça ao adultério durante Seu Sermão no Monte.

Não vamos nos esquecer com quem Jesus estava falando — fariseus que estavam se divorciando de suas mulheres por qualquer motivo e recasando rapidamente, mas que nunca cometiam adultério, a menos que quebrassem o sétimo mandamento. Jesus estava dizendo a eles que estavam somente enganando a si mesmos. O que estavam fazendo não era diferente de adultério, e isso faz sentido. Qualquer pessoa honesta pode ver que um homem que se divorcia de sua mulher para poder casar com outra está fazendo o que um adúltero faz, mas debaixo do pretexto da legalidade.

A Solução (The Solution)

Esta é a chave para harmonizar Jesus com Moisés e Paulo. Jesus estava simplesmente expondo a hipocrisia dos fariseus. Ele não estava dando uma lei que proíbe qualquer recasamento. Se estivesse, estaria contradizendo Moisés e Paulo e criando uma confusão para milhões de divorciados e milhões de pessoas recasadas. Se Jesus estivesse dando uma lei de recasamento, o que diríamos àqueles que se divorciaram e recasaram antes de terem ouvido sobre a Lei de Jesus? Devemos dizer-lhes que estão vivendo em relacionamentos adúlteros e sabendo que a Bíblia exorta que nenhum adúltero herdará o Reino de Deus (veja 1 Co. 6:9-10), instrui-los a se divorciarem novamente? Mas Deus não odeia o divórcio?

Devemos dizer-lhes para parar de ter sexo com seus cônjuges até que seus ex-cônjuges morram para evitar que cometam adultério regularmente? Mas Paulo não proíbe que casais evitem sexo um ao outro? Tal recomendação não levaria a tentações sexuais e até a estimular desejos para que seus ex-cônjuges morram?

Devemos dizer a tais pessoas que se divorciem de seus atuais cônjuges e recasem com seus cônjuges originais (como defendido por alguns), algo que foi proibido pela Lei Moisaica em Deuteronômio 24:1-4?

E as pessoas divorciadas que nunca recasaram? Se só forem permitidas recasar com seus antigos cônjuges que cometeram adultério ou alguma imoralidade, quem determinará se uma imoralidade realmente foi cometida? Para poder recasar, uma pessoa terá que provar que seu antigo cônjuge era culpado de cobiça, enquanto outra precisará trazer testemunhas do caso de seu cônjuge?

Como perguntei mais cedo, e sobre os casos onde o primeiro cônjuge cometeu adultério, em parte por estar casado com uma pessoa que lhe negou o sexo? É justo que a pessoa que negou o sexo possa recasar enquanto a outra que cometeu o adultério não?

E sobre a pessoa que cometeu fornicação antes do casamento? O seu ato de fornicação não é um ato de infidelidade para com seu futuro cônjuge? O pecado dessa pessoa não seria considerado equivalente ao adultério se ela ou seu parceiro sexual estivessem casados no período desse pecado? Por que essa pessoa pode casar?

E duas pessoas que moram juntas, não casadas, e então “se separam”? Por que é permitido que se casem com outra pessoa depois dessa separação; só por não terem se casado oficialmente? Qual é a diferença entre eles e aqueles que se divorciam e recasam?

E sobre o fato que “as coisas antigas já passaram” e que “surgiram coisas novas” quando uma pessoa se torna cristã (veja 2 Co. 5:17)? Isso realmente significa todos os pecados exceto o pecado de divórcio ilegítimo?

Todas essas perguntas[1] podem ser feitas e muitas outras que são fortes motivos para pensarmos que Jesus não estava deixando um novo mandamento a respeito do recasamento. Com certeza, Jesus era inteligente o suficiente para se dar conta das ramificações de Sua nova lei de recasamento, se era isso mesmo. Isto por si só é suficiente para nos dizer que Ele estava somente expondo a hipocrisia dos fariseus — homens cobiçosos, religiosos e hipócritas que estavam se divorciando de suas esposas “por qualquer motivo” e se recasando.

Certamente, a razão de Jesus ter dito que estavam “cometendo adultério” ao invés de simplesmente dizer que o que estavam fazendo era errado é que queria que vissem que divórcio por qualquer motivo e recasamento subsequente não é diferente de adultério, algo que diziam nunca fazer. Devemos concluir, então, que a única coisa com a qual Jesus estava preocupado era o aspecto sexual de um recasamento e que aprovaria o recasamento desde que houvesse abstinência sexual? Obviamente não. Portanto, não vamos fazê-lo dizer o que nunca pretendeu.

Uma Comparação Cuidadosa (A Thoughtful Comparison)

Vamos imaginar duas pessoas. Uma é um homem casado, religioso, que diz amar a Deus com todo o seu coração e que começa a cobiçar uma mulher mais jovem da casa ao lado. Logo, ele se divorcia de sua esposa e rapidamente se casa com a moça de suas fantasias.

O outro homem não é religioso. Ele nunca ouviu o evangelho e tem um estilo de vida pecaminoso, que finalmente lhe custa seu casamento. Alguns anos mais tarde, como solteiro, ouve o evangelho, se arrepende e começa a seguir a Jesus de todo o seu coração. Três anos mais tarde, se apaixona por uma mulher cristã muito compromissada que conhece em sua igreja. Ambos buscam ao Senhor diligentemente e o conselho de outros e por fim decidem se casar. Eles se casam e servem fielmente ao Senhor e um ao outro até a morte.

Agora, vamos assumir que ambos os homens pecaram ao se recasar. Qual dos dois tem o maior pecado? Obviamente o primeiro homem. Ele é como um adúltero.

E quanto ao segundo homem? Realmente parece que ele pecou? Pode ser dito que ele não é diferente de um adúltero, como pode ser dito do primeiro homem? Eu acho que não. Devemos dizer a ele o que Jesus disse sobre aqueles que se divorciam e depois recasam, informando-lhe que está vivendo com uma mulher com quem Deus não uniu, porque Deus ainda o considera casado com sua primeira esposa? Devemos dizer a ele que está vivendo em adultério?

As respostas são óbvias. Adultério é cometido por pessoas casadas que colocam seus olhos sobre alguém além de seus cônjuges. Portanto, se divorciar de seu cônjuge por encontrar alguém mais atraente é o mesmo que adultério. Mas uma pessoa não casada e uma divorciada não podem cometer adultério, já que não têm cônjuges para com quem ser infiéis. Uma vez que entendemos o contexto bíblico e histórico do que Jesus disse, não inventemos conclusões que não fazem sentido e que contradizem o resto da Bíblia.

Casualmente, quando os discípulos ouviram a resposta de Jesus à pergunta dos fariseus, responderam dizendo: “Se esta é a situação entre o homem e sua mulher, é melhor não casar”(Mt. 19:10). Perceba que eles haviam crescido debaixo do ensinamento e influência dos fariseus e dentro de uma cultura que era grandemente influenciada pelos fariseus. Eles nunca haviam considerado o casamento permanente. Aliás, até alguns minutos atrás, eles também, provavelmente acreditavam que era legal que um homem se divorciasse de sua esposa por qualquer motivo. Portanto, eles concluíram rapidamente que deveria ser melhor evitar o casamento e não arriscar cometer divórcio e adultério.

Jesus respondeu,

Nem todos têm condições de aceitar esta palavra; somente aqueles a quem isso é dado. Alguns são eunucos porque nasceram assim; outros foram feitos assim pelos homens; outros ainda se fizeram eunucos por causa do Reino dos céus. Quem puder aceitar isso, aceite (Mt. 19:11-12).

Isto é, o impulso sexual de alguém e/ou a habilidade de controle é o maior fator determinante. Até Paulo disse: “é melhor casar-se do que ficar ardendo de desejo” (1 Co. 7:9). Aqueles que são eunucos, ou são feitos eunucos pelos homens (como era feito por homens que precisavam de outros homens em quem podiam confiar para guardar seus haréns) não têm desejos sexuais. Aqueles que se fazem “eunucos por causa do Reino dos céus” parecem ser aqueles que são agraciados por Deus com controle próprio extra, pois “nem todos têm condições de aceitar esta palavra; somente aqueles a quem isso é dado” (Mt. 19:11).

O Sermão do Monte (The Sermon on the Mount)

Devemos nos lembrar que a multidão a quem Jesus falou durante Seu Sermão do Monte também era de pessoas que haviam passado suas vidas debaixo da influência hipócrita dos fariseus, governantes e professores de Israel. Como aprendemos mais cedo em nosso estudo do Sermão do Monte, é óbvio que muito do que Jesus disse era nada menos que uma correção dos falsos ensinos dos fariseus. Jesus até disse à multidão que não entrariam no céu, a menos que sua retidão excedesse a dos escribas e fariseus (veja Mt. 5:20), que era outro jeito de dizer que todos os escribas e fariseus estavam indo para o inferno. No fim de Seu sermão, as multidões estavam impressionadas, em parte, porque Jesus estava ensinando “não como os mestres da lei” (Mt. 7:29).

Cedo em Seu sermão, Jesus expôs a hipocrisia daqueles que dizem nunca cometer adultério, mas que cobiçam ou se divorciam e recasam. Ele expandiu o significado de adultério além do ato físico pecaminoso entre duas pessoas que são casadas com outras. O que Ele disse seria óbvio para qualquer pessoa honesta que pensasse um pouco. Mantenha em mente que até o sermão de Jesus, a maioria das pessoas na multidão teria pensado que era legal o divórcio “por qualquer motivo”. Jesus queria que Seus seguidores e todos os outros soubessem que desde o início a intenção de Deus era um padrão muito mais alto.

Vocês ouviram o que foi dito: “Não adulterarás”. Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno. Foi dito: “Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio”. Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério (Mt. 5:27-32).

Primeiramente, como mostrei mais cedo, note que as palavras de Jesus sobre o divórcio e recasamento não somente segue diretamente Suas palavras sobre cobiça, ligando-as, mas que Jesus iguala ambas ao adultério, ligando-as ainda mais. Portanto, vemos o fio em comum que percorre essa porção inteira das Escrituras. Jesus estava ajudando Seus seguidores a entender o que realmente significa obedecer ao sétimo mandamento. Significa não cobiçar e não se divorciar e se recasar.

Todos em Sua audiência israelita tinham ouvido o sétimo mandamento lido na sinagoga (as pessoas não possuíam Bíblias), e também ouvido a exposição, assim como observado sua aplicação nas vidas de seus professores, os escribas e fariseus. Em seguida, Jesus disse: “mas eu lhes digo”, porém Ele não estava adicionando novas leis. Estava somente revelando o propósito original de Deus.

Em primeiro lugar, a cobiça era claramente proibida pelo décimo mandamento, e mesmo sem o décimo mandamento, qualquer um que pensasse no assunto perceberia que é errado desejar o que Deus condena.

Segundo, desde os primeiros capítulos de Gênesis, Deus deixou claro que o casamento deveria ser um compromisso para a vida inteira. Mais adiante, qualquer um que pensasse sobre isso teria concluído que divórcio e recasamento é bem parecido com o adultério, especialmente quando alguém se divorcia com o propósito de recasar.

Mas novamente, nesse sermão é óbvio que Jesus estava somente ajudando as pessoas a verem a verdade sobre a cobiça e sobre o divórcio, por qualquer motivo, e recasamento. Ele não estava dando uma nova lei de recasamento que até agora não estava “nos livros”.

É interessante que poucos na igreja têm interpretado literalmente as palavras de Jesus sobre arrancar seus olhos ou cortar suas mãos, já que tais ideias são contra o resto das Escrituras, e podem servir somente para fortalecer a ideia de evitar tentações sexuais. Mesmo assim, tantos na igreja tentam interpretar literalmente as palavras de Jesus sobre a pessoa recasada cometendo adultério, mesmo quando uma interpretação tão literal contradiz muito do resto das Escrituras. O alvo de Jesus era que Sua audiência enfrentasse a verdade, com a esperança que houvesse menos divórcios. Se Seus seguidores guardassem de coração o que disse sobre a cobiça, não haveria imoralidade entre eles. Se não houvesse imoralidade, não haveria legitimidade para o divórcio, e não haveria divórcio, assim como Deus quis desde o começo.

Como um Homem faz Sua Esposa Cometer Adultério? (How Does a Man Make His Wife Commit Adultery?)

Note que Jesus disse: “todo aquele que se divorciar de sua mulher, excepto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera”. Novamente, isso nos leva a concluir que Ele não estava dando uma nova lei de recasamento, somente revelando a verdade sobre o pecado de um homem que se