Mulheres no Ministério

Capítulo Doze (Chapter Twelve)

Já que é do conhecimento geral que as mulheres formam mais da metade da Igreja do Senhor Jesus Cristo, é importante entender suas funções ordenadas por Deus dentro do corpo. Na maioria das igrejas e ministérios, elas são vistas como trabalhadoras valiosas, já que fazem a maior parte do ministério geral.

Mesmo assim, nem todos concordam sobre as funções das mulheres. Muitas vezes, elas não são aceitas em certos ministérios ligados a falar e liderar na igreja. Algumas igrejas permitem pastoras; muitas outras não. Algumas permitem que mulheres ensinem, enquanto outras não. Algumas proíbem que mulheres falem durante os cultos.

A maioria desses desacordos surgiu de variadas interpretações das palavras de Paulo a respeito das funções das mulheres. Encontradas em 1 Coríntios 14:34-35 e 1 Timóteo 2:11-3:7, essas passagens serão o foco de nosso estudo, principalmente no fim desse capítulo.

Do Início (From the Beginning)

Enquanto começamos, vamos considerar o que as Escrituras revelam sobre as mulheres desde suas primeiras páginas. Elas, assim como os homens, são criadas à imagem de Deus:

Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn. 1:27).

Sabemos, é claro, que Deus criou Adão antes de Eva, e este é, com certeza, um fato espiritual significante de acordo com Paulo (veja 1 Tm. 2:3). Mais tarde levaremos em consideração o significado dessa ordem da criação como é explicada por Paulo, mas agora basta dizer que isso não prova a superioridade do homem sobre a mulher. Sabemos que Deus criou os animais antes dos seres humanos (veja Gn. 1:24-28), e ninguém argumentaria que animais são superiores a pessoas.[1]

A mulher foi criada para ser a ajudante de seu marido (veja Gn. 2:18). Mais uma vez, isso não prova sua inferioridade, somente revela seu papel no casamento. O Espírito Santo é dado como nosso ajudante, mas com certeza não é inferior a nós; pelo contrário: é superior a nós! E pode ser dito que a criação da mulher para ser ajudante de seu marido prova que os homens precisam de ajuda! Foi Deus quem disse que não era bom que o homem ficasse só (veja Gn. 2:18). Essa verdade tem sido provada incontáveis vezes na história quando homens ficam sem esposas para ajudá-los.

Finalmente, notamos na primeira página de Gênesis que a primeira mulher foi formada da carne do primeiro homem. Ela foi tirada dele, mostrando o fato que sem ela, ele é incompleto e que os dois eram originalmente um. Mais adiante, o que Deus separou foi planejado por Ele que se tornasse um novamente através da união sexual, um meio não só de procriação, mas de expressão de amor e apreciação, de prazer mútuo, do qual ambos dependem um do outro.

Tudo nessas lições de criação se opõe à ideia de um sexo ser superior ao outro ou um ter o direito de domínio sobre o outro. E o fato de Deus ter designado funções diferentes para mulheres no casamento ou ministério nada tem a ver com sua igualdade aos homens, em Cristo, em quem “não há…homem nem mulher” (Gl. 3:28).

Mulheres no Ministério no Velho Testamento (Women in Ministry in the Old Testament)

Com essa fundação feita, vamos considerar algumas das mulheres que Deus usou para alcançar Seus propósitos divinos no Velho Testamento. É óbvio, que Deus chamou principalmente homens para o ministério vocacional durante o tempo do Velho Testamento, assim como fez no tempo do Novo Testamento. As histórias de homens como Moisés, Arão, Josué, Samuel e Davi enchem as páginas do Velho Testamento.

Contudo, muitas mulheres são provas de que Deus pode chamar e usar quem quiser, e mulheres equipadas por Deus são suficientes para qualquer tarefa para a qual Ele as chamar.

Antes de considerarmos qualquer dessas mulheres em particular, note que cada grande homem de Deus do Velho Testamento nasceu e foi criado por uma mulher. Não haveria Moisés sem uma mulher chamada Joquebede (veja Ex. 6:20). Também não existiria nenhum outro grande homem de Deus se não fosse pelas mães daqueles homens. Deus entregou às mulheres a pesada responsabilidade e o ministério louvável de criar filhos no Senhor (veja 2 Tm. 1:5).

Joquebede não foi somente mãe de dois homens chamados por Deus, chamados Moisés e Arão, mas também de uma mulher chamada por Deus, irmã deles, uma profetisa e líder de louvor chamada Miriã (veja Ex. 15:20). Em Miqueias 6:4, Deus classificou Miriã, juntamentt com Moisés e Arão, como uma entre os líderes de Israel:

Eu o tirei do Egito, e o redimi da terra da escravidão; enviei Moisés, Arão e Miriã para conduzi-lo (ênfase adicionada).

É claro, o papel de liderança de Miriã em Israel não era tão dominante quanto o de Moisés. Mesmo assim, como profetisa, ela falou por parte de Deus, e acho seguro assumir que as mensagens de Deus através dela não eram destinadas apenas às mulheres, mas também aos homens de Israel.

Uma Juíza Sobre Israel (A Female Judge Over Israel)

Outra mulher que Deus levantou como líder em Israel foi Débora, que viveu nos tempos dos juízes de Israel. Ela também era profetiza, e era juíza tanto quanto Gideão, Jefté e Samuel que foram juízes durante suas vidas. Somos informados que “os israelitas a procuravam, para que ela decidisse as suas questões” (Jz. 4:5). Portanto, ela fazia decisões para homens, e não somente mulheres. Não pode haver dúvidas sobre isso: Uma mulher dizia aos homens o que fazer, e Deus a ungiu para que assim o fizesse.

Como a maioria das mulheres que são chamadas por Deus para a liderança, Débora, aparentemente, encontrou pelo menos um homem que tinha dificuldade para receber a palavra de Deus através de uma mulher. Seu nome era Baraque, e por causa de sua incredulidade às instruções proféticas de Débora para que fosse à guerra contra o general cananita Sísera, ela lhe disse que a honra de matar Sísera seria de uma mulher. Ela estava certa, e uma mulher chamada Jael é lembrada nas Escrituras como a mulher que enfiou uma estaca de tenda na cabeça de Sísera enquanto este dormia (veja Jz. 4). A hitória termina com Baraque cantando um dueto com Débora! Algumas das frases estão cheias de louvor a ambas, Débora e Jael (veja Jz. 5); portanto, creio que Baraque tenha começado a acreditar no “ministério feminino” depois de tudo.

Uma Terceira Profetisa (A Third Prophetess)

Uma terceira mulher que é mencionada no Velho Testamento como uma respeitada profetisa é Hulda. Deus a usou para dar discernimento e instrução profética a um homem, o aflito rei de Judá, Josias (veja 2 Rs. 22). Vemos novamente um exemplo de Deus usando uma mulher para instruir um homem. É bem provável que Hulda era usada por Deus em tal ministério com certa frequência, caso contrário, Josias não teria tanta fé no que ela lhe disse.

Mas, por que Deus chamou Miriã, Débora e Hulda como profetisas? Ele não poderia ter escolhido homens ao invés?

Com certeza Deus poderia ter chamado homens para fazer exatamente o que aquelas três mulheres fizeram. Mas não chamou. E ninguém sabe a razão. O que devemos aprender com isso é que é melhor termos cuidado para não colocarmos Deus em uma caixa quando falamos sobre quem Ele chama para o ministério. Mesmo que, normalmente Deus tenha chamado homens no Velho Testamento, Ele algumas vezes escolheu mulheres.

Finalmente, deve ser notado que os três preeminentes exemplos de ministras no Velho Testamento foram profetisas. Existem alguns ministérios no Velho Testamento para os quais nenhuma mulher foi chamada. Por exemplo, nenhuma mulher foi chamada para ser sacerdotisa. Portanto, Deus pode reservar alguns ministérios exclusivamente para homens.

Mulheres no Ministério no Novo Testamento (Women in Ministry in the New Testament)

É interessante que também encontramos uma mulher sendo chamada por Deus como profetisa no Novo Testamento. Quando Jesus tinha somente alguns dias de nascido, Ana O reconheceu e começou a proclamar sobre o Messias:

Estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era muito idosa; tinha vivido com seu marido sete anos depois de se casar e então permanecera viúva até a idade de oitenta e quatro anos. Nunca deixava o templo: adorava a Deus jejuando e orando dia e noite. Tendo chegado ali naquele exato momento, deu graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém (Lc. 2:36-38, ênfase adicionada).

Note que Ana falou sobre Jesus “a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.” Isso incluiria, é claro, homens. Portanto, pode ser dito que Ana estava ensinando a homens sobre Cristo.

Há outras mulheres no Novo Testamento a quem Deus usou com o dom de profecia. Maria, a mãe de Jesus, estava, com certeza, nesse grupo (veja Lc. 1:46-55). Todas as vezes que as palavras proféticas de Maria são lidas no culto, pode ser dito que uma mulher está ensinando à igreja. (E sem dúvida, Deus honrou as mulheres mandando Seu Filho ao mundo através de uma mulher, algo que poderia ter feito de muitas outras formas.)

A lista continua. Deus revelou através da boca do profeta Joel que quando derramasse Seu Espírito, os filhos e as filhas em Israel profetizariam (veja Jl. 2:28). Pedro confirmou que a profecia de Joel era, certamente, aplicável à distribuição da nova aliança (veja At. 2:17).

Vemos em Atos 21:8-9 que Filipe, o evangelista, tinha quatro filhas que eram profetisas.

Paulo escreveu sobre mulheres profetizando nas reuniões da igreja (veja 1 Co. 11:5). Pelo contexto fica claro que homens estavam presentes.

Com todos os exemplos bíblicos de mulheres sendo usadas por Deus como profetisas e para profetizar, com certeza não temos um bom motivo para nos fechar à ideia de que Deus pode usar mulheres em tais ministérios! Mais adiante, nada existe que nos leve a pensar que mulheres não possam profetizar a homens por parte de Deus.

Mulheres Como Pastoras? (Women as Pastors?)

E mulheres servindo como pastoras? Parece claro que Deus quis que o papel de pastor/presbítero/bispo fosse destinado a homens:

Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar (1 Tm. 3:1-2, ênfase adicionada).

A razão de tê-lo deixado em Creta foi para que você pusesse em ordem o que ainda faltava e constituísse presbíteros em cada cidade, como eu o instruí. É preciso que o presbítero seja irrepreensível, marido de uma só mulher (Tt. 1:5-6, ênfase adicionada).

Paulo não diz expressamente que mulheres são proibidas de atuar no posto de pastor, e portanto, devemos tomar cuidado ao chegarmos a uma conclusão absoluta. Parece que existem várias pastoras/presbíteras/bispas ao redor do mundo que são muito eficientes, especialmente em nações em desenvolvimento; ainda assim, são minoria. Talvez, Deus chame ocasionalmente, mulheres para esse papel quando isso serve aos Seus sábios propósitos para o Reino ou quando há falta de liderança masculina qualificada. Também é possível que muitas pastoras no corpo de Cristo hoje são, na verdade, chamadas a outros ministérios que são biblicamente válidos para mulheres, como o de profetisa, mas a estrutura atual da igreja só permite que trabalhem no papel pastoral.

Por que o posto de pastor/presbítero/bispo é reservado para homens? Conhecer a função desse posto pode nos ajudar a descobrir. Um dos requisitos bíblicos para pastor/presbítero/bispo é:

Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus? (1 Tm. 3:4-5).

Esse requisito faz muito sentido quando percebemos que o líder do Novo Testamento administrava uma pequena igreja no lar. Esse papel era parecido com o de um pai administrando sua casa. Isso nos ajuda a entender por que o posto pastoral deve ser ocupado por um homem — porque é muito parecido com a estrutura familiar que, se estiver de acordo com o projeto de Deus, deve ser liderada pelo marido, não pela esposa. Falaremos sobre esse ponto mais tarde.

Mulheres Como Apóstolos? (Women as Apostles?)

Estabelecemos conclusivamente que mulheres podem servir no posto de profetisas (se chamadas por Deus). E a respeito de outros ministérios? É esclarecedor ler a saudação de Paulo em Romanos 16, onde ele louva várias mulheres que serviram no ministério pelo bem do Reino de Deus. Uma pode até ter sido listada como apóstolo. Nas três citações consecutivas que se seguem, eu coloquei em itálico todos os nomes femininos:

Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva da igreja em Cencréia. Peço que a recebam no Senhor, de maneira digna dos santos, e lhe prestem a ajuda de que venha a necessitar; pois tem sido de grande auxílio para muita gente, inclusive para mim (Rm. 16:1-2, ênfase adicionada).

Mas que endosso! Não sabemos com exatidão que ministério Febe exerceu, mas Paulo a chamou de “serva da igreja em Cencréia” e “grande auxílio para muita gente”, incluindo ele próprio. Seja lá o que for que ela fazia para o Senhor, deve ter sido bem significante para garantir-lhe o endosso de Paulo ante toda a igreja de Roma.

Agora leremos sobre Priscila (Prisca), que juntamente com seu marido, Áquila, tinha um ministério tão significante que todas as igrejas dos gentios os estimavam:

Saúdem Priscila (Prisca) e Áqüila, meus colaboradores em Cristo Jesus. Arriscaram a vida por mim. Sou grato a eles; não apenas eu, mas todas as igrejas dos gentios. Saúdem também a igreja que se reúne na casa deles. Saúdem meu amado irmão Epêneto, que foi o primeiro convertido a Cristo na província da Ásia. Saúdem Maria, que trabalhou arduamente por vocês. Saúdem Andrônico e Júnias [ou Júnia, como a versão RC traduz, que é feminino], meus parentes que estiveram na prisão comigo. São notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim (Rm. 16:3-7, ênfase adicionada).

A respeito de Júnias, parece lógico pensar que uma pessoa que é notável “entre os apóstolos” só poderia ser um apóstolo. Se a correção correta for Júnia, então ela era uma apóstolo. Priscila e Maria trabalhavam para o Senhor.

Saúdem Amplíato, meu amado irmão no Senhor. Saúdem Urbano, nosso cooperador em Cristo, meu amado irmão Estáquis. Saúdem Apeles, aprovado em Cristo. Saúdem os que pertencem à casa de Aristóbulo. Saúdem Herodião, meu parente. Saúdem os da casa de Narciso, que estão no Senhor. Saúdem Trifena e Trifosa, mulheres que trabalham arduamente no Senhor. Saúdem a amada Pérside, outra que trabalhou arduamente no Senhor. Saúdem Rufo, eleito no Senhor, e sua mãe, que tem sido mãe também para mim. Saúdem Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que estão com eles. Saúdem Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, e também Olimpas e todos os santos que estão com eles (Rm. 16:8-15, ênfase adicionada).

Claramente, mulheres podem ser “trabalhadoras” no ministério.

Mulheres Como Professoras? (Women as Teachers?)

E professoras? O Novo Testamento não menciona nenhuma. É claro que a Bíblia também não menciona nenhum homem chamado para ser professor. Priscila (mencionada acima e também conhecida de Prisca), esposa de Áquila, estava envolvida no ensino pelo menos em pequena escala. Por exemplo, quando ela e Áquila ouviram Apolo pregando um evangelho deficiente em Éfeso, “convidaram-no para ir à sua casa e explicaram com mais exatidão o caminho de Deus” (At. 18:26). Ninguém pode argumentar que Priscila não ajudou seu esposo a ensinar Apolo, um homem. Mais adiante, Paulo menciona ambos Priscila e Áquila duas vezes nas Escrituras quando escreve sobre “a igreja que se reúne na casa deles” (veja Rm. 16:3-5; 1 Co. 16:19), e chama ambos de “colaboradores em Cristo Jesus” em Romanos 16:3. Há pouca dúvida que Priscila teve um papel ativo no ministério ao lado de seu marido.

Quando Jesus Mandou Mulheres Ensinarem Homens (When Jesus Commanded Women to Teach Men)

Antes de falarmos sobre as palavras de Paulo sobre mulheres ficarem em silêncio na igreja e sua proibição a mulheres ensinarem a homens, vamos considerar uma outra passagem que nos ajudará a balancear essas.

Quando Jesus ressuscitou, um anjo mandou pelo menos três mulheres ensinarem aos discípulos de Jesus. Essas mulheres foram instruídas a falar aos discípulos que Jesus tinha ressuscitado e que apareceria a eles na Galileia. Mas isso não é tudo. Pouco tempo depois, Jesus em pessoa apareceu às mesmas mulheres e as mandou instruir os discípulos a irem para a Galileia (veja Mt. 28:1-10; Mc. 16:1-7).

Em primeiro lugar, acho significante que Jesus escolheu aparecer primeiramente a mulheres e depois a homens. Segundo, se houvesse algo fundamentalmente ou moralmente errado com mulheres ensinando homens, Jesus não teria mandado mulheres ensinarem aos homens sobre Sua ressurreição, uma informação essencial, e que Ele mesmo poderia ter entregue (o que fez mais tarde). Ninguém pode argumentar esse fato: o Senhor Jesus instruiu mulheres a ensinarem a verdade vital e dar algumas instruções espirituais a alguns homens.

As Passagens Problemáticas (The Problem Passages)

Agora que temos algum entendimento do que a maioria da Bíblia nos diz sobre o papel da mulher no ministério, somos mais capazes de interpretar as “passagens problemáticas” nas escritas de Paulo. Vamos primeiro considerar suas palavras sobre mulheres manterem o silêncio nas igrejas:

Permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar; antes permaneçam em submissão, como diz a Lei. Se quiserem aprender alguma coisa que perguntem a seus maridos em casa; pois é vergonhoso uma mulher falar na igreja (1 Co. 14:34-35).

Alguns questionam, por vários motivos, se essas são realmente as instruções de Paulo ou somente uma citação do que os coríntios haviam lhe escrito. Está claro que na segunda metade de sua carta, Paulo estava respondendo as questões que os coríntios lhe perguntaram na carta que lhe enviaram (veja 1 Co. 7:1, 25; 8:1; 12:1; 16:1, 12).

Em seguida, no próximo versículo, Paulo escreve o que pode ser considerado sua reação à política dos coríntios de silenciar as mulheres nas igrejas:

Acaso a palavra de Deus originou-se entre vocês? São vocês o único povo que ela alcançou? (1 Co. 14:36).

A Versão King James traduz esse versículo de modo que Paulo parece ainda mais atônito com a atitude dos coríntios:

O quê? A Palavra de Deus veio de vocês? Ou somente para vocês? (1 Co. 14:36).*

De qualquer modo, Paulo está obviamente fazendo duas perguntas retóricas. A resposta para ambas é: Não. Os coríntios não foram os criadores da Palavra de Deus e ela não foi dada somente a eles. As perguntas de Paulo são óbvias censuras ao orgulho deles. Se elas são sua reação aos dois versículos que as precedem, elas parecem dizer: “Quem vocês pensam que são? Desde quando vocês fazem os decretos a respeito de quem Deus pode usar para ensinar Sua Palavra? Deus pode usar mulheres se quiser, e vocês são tolos por silenciá-las”.

Essa interpretação parece lógica quando levamos em consideração que Paulo já havia, na mesma carta, escrito sobre a maneira própria para mulheres profetizarem nas igrejas (veja 1 Co. 11:5), algo que requer que não fiquem em silêncio. Mais adiante, apenas alguns versículos após aqueles em consideração, Paulo exorta todos os coríntios, [2] incluindo as mulheres, a buscar “com dedicação o profetizar” (1 Co. 14:39). Portanto, ele se contradiria se realmente mandasse as mulheres manterem silêncio nas reuniões das igrejas em 1 Coríntios 14:34-35.

Outras Possibilidades (Other Possibilities)

Vamos assumir por um momento que as palavras em 1 Coríntios 14:34-35 são originalmente de Paulo e que ele está instruindo mulheres as a manterem silêncio. Como então devemos interpretar o que ele diz?

Mais uma vez, devemos nos perguntar por que Paulo estava mandando que mulheres ficassem completamente caladas nas reuniões quando disse na mesma carta que podiam orar e profetizar publicamente, aparentemente em reuniões da igreja.

Mais adiante, com certeza Paulo estava ciente das muitas passagens bíblicas que já consideramos de Deus usando mulheres para falar Sua Palavra publicamente, até mesmo a homens. Por que ele silenciaria aquelas a quem Deus tem ungido para falar?

Certamente, o senso comum diz que Paulo não pretendia dizer que mulheres deveriam ficar completamente caladas quando a igreja se reunisse. Mantenha em mente que a igreja primitiva se reunia em lares e compartilhava refeições. Devemos pensar, então, que as mulheres não falavam desde a hora em que entravam na casa até a hora em que saíam? Que não falavam enquanto preparavam ou comiam a refeição? Que não falavam com seus filhos o tempo inteiro? Tal pensamento parece absurdo.

Se “onde se reunirem dois ou três” no nome de Jesus, Ele está entre eles (veja Mt. 18:20), dessa forma, certamente, constituindo uma reunião de igreja, quando duas mulheres se reúnem no nome de Jesus, elas, então, não devem falar uma com a outra?

Não. Se 1 Coríntios 14:34-35 realmente for instrução de Paulo, ele estava simplesmente se dirigindo a um pequeno problema de ordem nas igrejas. Algumas mulheres estavam de alguma forma interrompendo a ordem fazendo perguntas. Paulo não quis dizer que mulheres devem ficar quietas durante as reuniões, do mesmo modo que, quando dava instruções aos profetas alguns versículos atrás, não quis dizer que devessem ficar em silêncio durante toda a reunião.

Se vier uma revelação a alguém [profeta] que está sentado, cale-se o primeiro (1 Co. 14:30, ênfase adicionada).

Nesse caso, a palavra “cale-se” significa “conter-se temporariamente de falar”.

Paulo também instruiu aqueles que falavam em línguas que permanecessem quietos se não houvesse intérprete na reunião:

Se não houver intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus (1 Co. 14:28, ênfase adicionada).

Paulo estava instruindo tais pessoas a ficarem completamente caladas durante toda a reunião? Não, ele estava simplesmente dizendo a elas para ficarem em silêncio a respeito de falarem em línguas quando não houvesse intérprete. Note que Paulo disse “fique calado na igreja”, a mesma instrução que deu a mulheres em 1 Coríntios 14:34-35. Então, por que devemos interpretar as palavras de Paulo às mulheres para ficarem quietas na reunião, significando “ficarem caladas durante toda a reunião” e interpretar suas palavras aos que falam em línguas e interrompem a ordem como “conter-se de falar durante momentos específicos da reunião”?

Finalmente, note que Paulo não estava falando a todas as mulheres na passagem sob consideração. Suas palavras só têm aplicação a mulheres casadas, pois são instruídas a perguntarem a “seus maridos em casa”, se tivessem dúvidas.[3] Talvez parte ou todo o problema era que mulheres casadas estavam fazendo perguntas a outros homens além de seus próprios maridos. Tal cenário seria certamente considerado inapropriado e poderia revelar desrespeito e falta de submissão a seus maridos. Se esse fosse o problema ao qual Paulo se dirigia, talvez seja por isso que baseou seu argumento no fato que mulheres devem ser submissas (obviamente a seus maridos), como a Lei revelou de muitas formas desde as primeiras passagens de Gênesis (veja 1 Co. 14:34).

Resumindo, se Paulo está realmente instruindo mulheres a manterem silêncio em 1 Coríntios 14:34-35, ele está dizendo que apenas mulheres casadas devem manter silêncio a respeito de fazer perguntas em momentos inoportunos ou de modo que seja desrespeitoso a seus maridos. Caso contrário, podem profetizar, orar e falar.

A Outra Passagem Problemática (The Other Problem Passage)

Finalmente, chegamos à segunda “passagem problemática”, encontrada na primeira carta de Paulo a Timóteo:

A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a mulher que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora (1 Tm. 2:11-14).

Com certeza Paulo sabia sobre Miriã, Débora, Hulda e Ana, quatro profetisas que falavam por parte de Deus a homens e mulheres, ensinando-os efetivamente sobre a Sua vontade. Certamente, ele sabia que Débora, uma juíza sobre Israel, tinha autoridade sobre homens e mulheres. Com certeza sabia que Deus tinha derramado Seu Espírito no dia de Pentecoste, cumprindo parte da profecia de Joel sobre os últimos dias, quando Deus derramaria Seu Espírito sobre toda a carne para que Seus filhos e filhas profetizassem a Sua Palavra. Ele, com certeza, sabia que Jesus enviou algumas mulheres para levarem uma mensagem dEle para Seus discípulos. Ele se lembrava, com toda a certeza, de suas próprias palavras de aprovação, escritas à igreja de Corinto, a respeito de mulheres orando e profetizando durante as reuniões da igreja. Certamente se lembrava que havia dito aos coríntios que qualquer um deles poderia receber um ensino do Espírito Santo para compartilhar com o corpo de Cristo (veja 1 Co. 14:26). Então, o que ele queria expressar quando escreveu essas palavras a Timóteo?

Note que Paulo recorre a dois fatos relacionados em Gênesis como base de suas instruções: (1) Adão foi criado antes de Eva e (2) Eva; foi enganada e não Adão, e tornou-se transgressora. O primeiro fato estabelece o relacionamento próprio entre marido e mulher. Como ensinado pela ordem da criação, o marido deve ser o cabeça, algo que Paulo ensina em outro lugar (veja 1 Co. 11:3; Ef. 5:23-24).

O segundo fato que Paulo menciona não significa que mulheres são enganadas mais facilmente que homens, pois não são. Aliás, já que existem mais mulheres que homens no corpo de Cristo, pode ser argumentado que homens são mais facilmente enganados que mulheres. Ao invés disso, o segundo fato mostra que quando a ordem familiar que Deus planejou foi negligenciada, Satanás pôde entrar. Todo o problema da humanidade começou no jardim quando o relacionamento entre o homem e sua mulher ficou fora de ordem — a esposa de Adão não era submissa a ele. Adão deve ter dito a sua mulher as instruções de Deus a respeito da fruta proibida (veja Gn. 2:16-17; 3:2-3). Contudo, ela não seguiu suas instruções. De certo modo, até exerceu autoridade sobre ele quando lhe deu a fruta proibida (veja Gn. 3:6). Neste caso, Adão não estava conduzindo Eva, e sim Eva conduzindo Adão. O resultado foi desastroso.

A Igreja — Um Modelo da Família (The Church — A Model of the Family)

A ordem familiar planejada por Deus deve, certamente, ser demonstrada na igreja. Como disse antes, é importante lembrar que, pelos primeiros trezentos anos da história da igreja, as congregações eram pequenas. Elas se encontravam em casas. O pastor/presbítero/bispo era como o pai de uma família. Essa estrutura da igreja ordenada por Deus se parecia tanto com uma família, e era, na verdade, uma família espiritual; portanto, que uma liderança feminina teria enviado uma mensagem errada às famílias dentro e fora da igreja. Imagine uma pastora/presbítera/bispa ensinando regularmente em uma igreja no lar, enquanto seu marido se senta passivamente, ouvindo os seus ensinos e se submetendo a sua autoridade. Isso iria contra a ordem familiar de Deus, e o exemplo errado seria proposto.

É isso que as palavras de Paulo querem dizer. Note que elas são encontradas próximas ao texto sobre as exigências de Paulo aos presbíteros (veja 1 Tm. 3:1-7), um dos quais é que a pessoa seja homem. Também deve ser notado que presbíteros devem ensinar regularmente na igreja (veja 1 Tm. 5:17). As palavras de Paulo a respeito de mulheres receberem instruções em silêncio e não receberem permissão para ensinar ou exercer autoridade sobre homens estão, obviamente, relacionadas à ordem apropriada na igreja. O que ele descreve como impróprio é uma mulher cumprir, parcialmente ou completamente, o papel de presbítero/pastor/bispo.

Isso não quer dizer que uma mulher/esposa não possa, em submissão ao seu marido, orar, profetizar, receber um breve ensino para compartilhar com o corpo, ou falar em geral durante uma reunião de igreja. Ela poderia fazer tudo isso na igreja sem violar a ordem divina de Deus, assim como poderia fazer tudo isso em casa sem violação a essa ordem. O que ela era proibida de fazer na igreja não era nada mais ou menos do que era proibida de fazer em casa — exercer autoridade sobre seu esposo.

Também notamos alguns versículos mais adiante que mulheres podiam servir como diaconisas, assim como homens (veja 1 Tm. 3:12). Servir uma igreja como diaconisa, ou serva, que é o que a palavra significa, não requer violação da ordem divina de Deus entre marido e mulher.

Este é o único modo que vejo de harmonizar as palavras de Paulo em 1 Timóteo 2:11-14 com o que o resto do que as Escrituras ensinam. Nenhum dos outros exemplos bíblicos que consideramos de Deus usando mulheres, serve de modelo para a família como a igreja e, portanto, nenhum viola a ordem dada por Deus. Em nenhum encontramos um modelo impróprio de esposas exercendo autoridade sobre seus maridos em um ambiente familiar. Visualize novamente uma pequena reunião de várias famílias em uma casa e a esposa estando no controle, ensinando e administrando enquanto seu marido senta-se passivamente e se submete a sua liderança. Isso não é o que Deus deseja, já que é contra Sua ordem para a família.

Mesmo Débora tendo sido juíza em Israel, Ana ter falado a homens sobre Cristo, Maria e suas amigas terem contado aos apóstolos sobre a ressurreição de Cristo, nenhuma delas envia uma mensagem errada ou modelo impróprio da ordem de Deus na unidade familiar. A reunião regular da igreja é um ambiente único, onde existe o perigo da mensagem errada ser enviada se mulheres/esposas exercerem autoridade e ensinarem a homens/maridos regularmente.

Concluindo (In Conclusion)

Se perguntarmos a nós mesmos: “O que pode ser fundamentalmente errado em mulheres trabalhando no ministério, servindo a outros de coração compassivo e usando seus dons dados por Deus? Que principio moral ou ético isso pode violar?” Então, logo devemos perceber que a única violação possível seria se o ministério de uma mulher violasse a ordem de Deus para relacionamentos entre homens e mulheres, maridos e esposas. Nas duas “passagens problemáticas” que consideramos, Paulo recorre à ordem divina no casamento como base de sua preocupação.

Portanto, percebemos que mulheres são restritas no ministério somente em um pequeno sentido. Deus quer usar mulheres para Sua glória de várias outras formas, e Ele tem feito isso a milhares de anos. As Escrituras falam de muitas contribuições positivas que mulheres fizeram para o Reino de Deus, algumas das quais já consideramos. Não vamos esquecer que alguns dos amigos mais íntimos de Jesus eram mulheres (veja Jo. 11:5), e que mulheres apoiavam Seu ministério financeiramente (veja Lc. 8:1-3), algo que não é dito sobre homem algum. A mulher do poço de Samaria compartilhou sobre Cristo com os homens de sua vila, e muitos creram nEle (veja Jo. 4:28-30, 39). É dito que uma discípula chamada Tabita “se dedicava a praticar boas obras e dar esmolas” (At. 9:36). Foi uma mulher que ungiu Jesus para o enterro, e Ele a louvou por isso quando alguns homens reclamaram (veja Mc. 14:3-9). Finalmente, a Bíblia diz que foram mulheres que choraram por Jesus enquanto carregava Sua cruz pelas ruas de Jerusalém, algo que não foi dito de nenhum homem sequer. Tais exemplos e muitos outros como estes devem encorajar mulheres a se levantarem para cumprir seus ministérios ordenados por Deus. Precisamos de todas elas!

 


[1] Também deve ser notado que após ter criado Adão, Deus criou todos os outros homens através das mulheres que deram à luz a eles. Todos os homens depois de Adão vieram de mulheres, como Paulo nos lembra em 1 Coríntios 11:11-12. Com certeza, ninguém argumentaria que essa divina ordem prova que homens são inferiores a suas mães.

* Nota do tradutor: Versículo traduzido da Versão King James.

[2] A exortação de Paulo é endereçada aos “irmãos”, um termo que usa 27 vezes nessa carta, e que se refere claramente a todo o corpo de cristãos em Corinto e não somente aos homens.

[3] Deve ser notado que não havia, no grego original, palavras diferentes para mulher e esposa, ou homem e marido. Portanto, devemos determinar pelo contexto se o escritor se refere a homens e mulheres ou maridos e esposas. Na passagem sob consideração, Paulo está falando a esposas, já que somente estas poderiam perguntar qualquer coisa a seus maridos em casa.

O Batismo no Espírito Santo

Capítulo Onze (Chapter Eleven)

Quando alguém lê o livro de Atos, o trabalho do Espírito Santo na igreja primitiva é evidente em cada página. Se remover a obra do Espírito Santo do livro de Atos você não terá mais nada. Verdadeiramente, Ele deu poder para os primeiros discípulos para transtornarem o mundo (veja At. 17:6 João Ferreira de Almeida)

Hoje, os lugares do mundo que a igreja está crescendo mais rápido são os lugares onde os seguidores de Jesus se rendem ao Espírito Santo e dEle recebem poder. Isso não deve nos surpreender. O Espírito Santo pode realizar mais em dez segundos do que nós podemos em dez mil anos por nossas próprias forças. Portanto, é de vital importância que o ministro discipulador entenda o que as Escrituras ensinam sobre o trabalho do Espírito Santo nas vidas e ministérios dos crentes.

Frequentemente encontramos exemplos no livro de Atos, de crentes sendo batizados no Espírito Santo e recebendo poder para o ministério. Seria sábio estudar o assunto para que possamos, se possível, vivenciar o que eles experimentaram e desfrutar da ajuda miraculosa do Espírito Santo que eles desfrutaram. Mesmo que alguns afirmem que a obra do Espírito Santo foi confinada à era dos primeiros apóstolos, não encontro prova bíblica, histórica ou lógica para tal opinião. É uma teoria nascida da descrença. Aqueles que acreditam nas promessas da Palavra de Deus experimentarão as bênçãos prometidas. Assim como os israelitas infiéis que não entraram na Terra Prometida, aqueles que não acreditam nas promessas de Deus hoje, não entrarão no que Deus tem preparado para eles. Em que categoria você se encontra? Pessoalmente, eu estou entre os fiéis.

Duas Obras pelo Espírito Santo (Two Works by the Holy Spirit)

Qualquer pessoa que realmente acreditou no Senhor Jesus Cristo experimentou uma obra do Espírito Santo em sua vida. Seu espírito, ou pessoa interior, foi regenerado pelo Espírito Santo (veja Tt. 3:5), e agora Ele vive dentro dela (veja Rm. 8:9; 1 Co. 6:19). Ela nasceu do Espírito (veja Jo. 3:5).

Não entendendo isso, muitos cristãos carismáticos e pentecostais têm cometido o erro de dizer a alguns crentes que estes não terão o Espírito Santo, a menos que sejam batizados no Espírito e falem em línguas. Mas esse é óbviamente um erro confirmado pelas Escrituras e pela experiência. Muitos cristãos não-carismáticos/pentecostais têm muito mais evidências da morada do Espírito que alguns crentes carismáticos/pentecostais! Manifestam bem mais os frutos do Espírito listados por Paulo em Gálatas 5:22-23, o que seria impossível, a não ser que tivessem o Espírito Santo.

Contudo, o fato de a pessoa ter nascido do Espírito não garante que ela também foi batizada no Espírito. De acordo com a Bíblia, nascer do Espírito Santo e ser batizado no Espírito Santo são duas experiências distintas.

Enquanto começamos a explorar esse assunto, vamos primeiramente, considerar o que Jesus disse sobre o Espírito Santo perto de um poço em Samaria a uma pecadora:

Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água viva…Quem beber desta água [do poço] terá sede outra vez, mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna (Jo. 4:10, 13-14).

Parece razoável concluir que a água viva morando dentro de nós que Jesus falou, representa o Espírito Santo que mora naqueles que creem. Mais adiante no capítulo de João, Jesus usou a mesma frase novamente: “água viva” e sem dúvida estava falando sobre o Espírito Santo:

No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse em alta voz: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado (Jo. 7:37-39).

Nesse instante, Jesus não falou sobre a água viva se tornar “uma fonte de água a jorrar para a vida eterna”. Ao invés disso, dessa vez a água viva se torna rios que fluem da parte mais profunda do receptor.

Essas duas passagens do Evangelho de João ilustram lindamente a diferença entre nascer do Espírito e ser batizado no Espírito Santo. Nascer do Espírito é principalmente para o benefício daquele que está renascendo, para que possa aproveitar a vida eterna. Quando alguém renasce pelo Espírito, tem um reservatório de Espírito dentro dele que lhe dá a vida eterna.

Contudo, ser batizado no Espírito Santo é principalmente benefício aos outros, já que equipa crentes a ministrar a outras pessoas pelo poder do Espírito. “Rios de água viva” fluirão de seus seres interiores, trazendo a benção de Deus para outros pelo poder do Espírito.

Por que o Batismo no Espírito Santo é Necessário (Why the Baptism in the Holy Spirit is Needed)

Precisamos desesperadamente da ajuda do Espírito Santo para ministrar aos outros! Sem sua ajuda, nunca poderemos esperar fazer discípulos de todas as nações. Este é, na verdade, o motivo de Jesus ter prometido batizar crentes no Espírito Santo — para que o mundo ouvisse o evangelho. Ele disse aos Seus discípulos:

Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos do poder do alto (Lc. 24:49, ênfase adicionada).

Lucas também registrou Jesus dizendo:

Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade. Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra (At. 1:7-8, ênfase adicionada).

Jesus disse aos Seus discípulos para não deixarem Jerusalém até que fossem “revestidos do poder do alto”. Ele sabia que caso isso não ocorresse, não teriam poder e, com certeza, fracassariam na missão que lhes dera. Contudo, notamos que, uma vez que foram batizados no Espírito Santo, Deus começou a usá-los de forma sobrenatural para espalhar o evangelho.

Muitos milhões de cristãos ao redor do mundo, depois de serem batizados pelo Espírito Santo, têm experienmentado uma nova dimensão de poder, principalmente quando testemunhando a perdidos. Eles perceberam que suas palavras eram mais convincentes e às vezes, citavam versículos que não decoraram. Alguns se viram chamados e com dons para certo ministério, como o evangelismo. Outros descobriram que Deus os usou quando quis com vários dons sobrenaturais do Espírito. Suas experiências são completamente bíblicas. Aqueles que se opõem às suas experiências não têm base bíblica para sua oposição. Estão, na verdade, lutando contra Deus.

Não devemos nos surpreender que nós, que somos chamados para imitar a Cristo, somos chamados para imitar Sua experiência com o Espírito Santo. Jesus foi, é claro, nascido do Espírito quando foi concebido no ventre de Maria (veja Mt. 1:20). Ele, que foi nascido do Espírito, foi então batizado no Espírito inaugurando Seu ministério (veja Mt. 3:16). Se Jesus precisou ser batizado no Espírito Santo para ser equipado para o ministério, o que dizer de nós!

A Evidência Inicial do Batismo no Espírito (The Initial Evidence of the Baptism in the Spirit)

Quando um crente é batizado no Espírito Santo, a evidência inicial de sua experiência é que ele falará uma nova língua, o que as Escrituras chamam de “novas línguas” ou “outras línguas”. Várias passagens embasam esse fato. Vamos considerá-las.

Primeiro, durante os momentos finais antes de Sua ascensão, Jesus disse que um dos sinais que seguiria os crentes é que falariam em novas línguas:

Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas (Mt. 16:15-17, ênfase adicionada).

Alguns comentaristas afirmam que esses versículos não deviam estar em nossa Bíblia, já que alguns manuscritos antigos do Novo Testamento não os têm. Contudo, muitos dos manuscritos antigos os incluem, e nenhuma, das muitas traduções que li em inglês, os omitem. Além disso, o que Jesus disse nesses três versículos se encaixa perfeitamente com a experiência da igreja primitiva, registrado no livro de Atos.

Existem cinco exemplos no livro de Atos, de crentes serem inicialmente batizados pelo Espírito Santo. Vamos levar todos em consideração, e enquanto fazemos isso, perguntaremos, continuamente, duas questões: (1) O batismo no Espírito Santo era uma experiência após a salvação? e (2) Os receptores falavam em novas línguas? Isso nos ajudará a entender a vontade de Deus para os crentes hoje.

Jerusalém (Jerusalem)

O primeiro exemplo é encontrado em Atos 2, quando os cento e vinte discípulos foram batizados no Espírito Santo no dia de Pentecostes:

Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava (At. 1:1-4, ênfase adicionada).

Sem dúvida, os cento e vinte crentes já haviam sido salvos e renascidos antes disso; portanto, com certeza, experimentaram o batismo no Espírito Santo depois da salvação. Contudo, seria impossível receberem o batismo no Espírito Santo antes desse tempo porque Ele não havia sido entregue à igreja antes desse dia.

É óbvio que o sinal que acompanhava era falar em línguas.

Samaria (Samaria)

O segundo exemplo de crentes sendo batizados no Espírito Santo é encontrado em Atos 8, quando Filipe desce à cidade de Samaria e prega o evangelho:

No entanto, quando Filipe lhes pregou as boas novas do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, creram [os samaritanos] nele, e foram batizados, tanto homens como mulheres….Os apóstolos em Jerusalém, ouvindo que Samaria havia aceitado a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes, ao chegarem, oraram para que eles recebessem o Espírito Santo, pois o Espírito ainda não havia descido sobre nenhum deles; tinham apenas sido batizados em nome do Senhor Jesus (At. 8:12-16).

Os cristãos samaritanos experimentaram o batismo no Espírito Santo como uma segunda experiência após a salvação. A Bíblia diz claramente, que antes de Pedro e João chegarem, os samaritanos já haviam “aceitado a Palavra de Deus”, acreditado no evangelho e sido batizados na água. Mesmo assim, quando Pedro e João desceram para orar por eles, as Escrituras dizem que foi para que “recebessem o Espírito Santo”. Dá para ser mais claro?

Os crentes samaritanos falaram em novas línguas quando foram batizados no Espírito Santo? A Bíblia não diz, mas diz que algo extraordinário aconteceu a eles. Um homem chamado Simão testemunhava o que acontecia quando Pedro e João punham as mãos nos cristãos samaritanos e tentou comprar deles a mesma habilidade para dar o Espírito Santo a outros.

Então Pedro e João lhes impuseram as mãos, e eles receberam o Espírito Santo. Vendo Simão que o Espírito era dado com a imposição das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro e disse: Dêem-me também este poder, para que a pessoa sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo (At. 8:17-19).

O que Simão viu que o impressionou tanto? Ele já tinha visto muitos outros milagres, como pessoas sendo libertas de demônios e paralíticos e mancos sendo curados milagrosamente (veja At. 8:6-7). Previamente, ele mesmo havia se envolvido com feitiçaria, impressionando todo o povo de Samaria (veja At. 8:9-10). Portanto, o que testemunhou quando Pedro e João oraram deve ter sido espetacular. Mesmo não podendo dizer com toda certeza, parece bem razoável que tenha testemunhado o mesmo fenômeno que acontecia todas as vezes que cristãos recebiam o Espírito Santo no livro de Atos — ele os viu e ouviu falar em línguas.

Saulo em Damasco (Saul in Damascus)

A terceira menção no livro de Atos de alguém recebendo o Espírito Santo é o caso de Saulo de Tarso, mais tarde conhecido como o apóstolo Paulo. Ele havia sido salvo na estrada para Damasco, onde também ficou temporariamente cego. Três dias depois de sua conversão, um homem chamado Ananias foi divinamente enviado a ele:

Então Ananias foi, entrou na casa, pôs as mãos sobre Saulo e disse: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que lhe apareceu no caminho por onde você vinha, enviou-me para que você volte a ver e seja cheio do Espírito Santo”. Imediatamente, algo como escamas caiu dos olhos de Saulo e ele passou a ver novamente. Levantando-se, foi batizado e, depois de comer, recuperou as forças (At. 9:17-18).

Não há dúvida que Saulo renasceu antes de Ananias chegar para orar por ele. Ele acreditou no Senhor Jesus quando estava na estrada para Damasco, e imediatamente obedeceu as instruções de seu novo Senhor. Adicionalmente, quando Ananias encontrou Saulo pela primeira vez, chamou-o de “irmão Saulo”. Note que Ananias disse a Saulo que havia ido para que Saulo voltasse a ver e para fosse cheio do Espírito Santo. Portanto, somente três dias após sua salvação, Saulo foi cheio ou batizado no Espírito Santo.

As Escrituras não registram o acontecimento real do batismo de Saulo no Espírito Santo, mas deve ter acontecido logo após a chegada de Ananias aonde Saulo estava. Com certeza, Saulo falou em línguas em algum ponto, porque disse mais tarde em 1 Coríntios 14:18: “Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês.”

Cesareia (Caesarea)

A quarta menção de crentes sendo batizados no Espírito Santo é encontrada em Atos 10. O apóstolo Pedro havia sido enviado para pregar o evangelho na Cesareia, à casa de Cornélio. Logo que Pedro revelou que a salvação é recebida através da fé em Jesus, toda sua audiência de gentios respondeu imediatamente, e o Espírito Santo desceu sobre todos eles:

Enquanto Pedro ainda estava falando estas palavras, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a mensagem. Os judeus convertidos que vieram com Pedro ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo fosse derramado até sobre os gentios, pois os ouviam falando em línguas e exaltando a Deus. A seguir Pedro disse: “Pode alguém negar a água, impedindo que estes sejam batizados? Eles receberam o Espírito Santo como nós!” Então ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo (At. 10:44-48a).

Neste caso, parece que os membros da casa de Cornélio, que foram os primeiros gentios crentes em Jesus, renasceram e foram batizados no Espírito Santo simultaneamente.

Se examinarmos as passagens ao redor e estudarmos o contexto histórico, é óbvio o motivo de Deus não ter esperado que Pedro e seus companheiros colocassem as mãos sobre os crentes gentios para que recebessem o Espírito Santo. Pedro e os outros crentes judeus tinham grande dificuldade de acreditar que gentios pudessem ser salvos, muito mais receber o Espírito Santo! Provavelmente, nunca orariam para que a casa de Cornélio recebesse o batismo no Espírito Santo; portanto, Deus agiu soberanamente. Ele estava ensinando a Pedro e seus companheiros algo sobre Sua maravilhosa graça aos gentios.

O que convenceu Pedro e os outros crentes judeus que a casa de Cornélio havia realmente recebido o Espírito Santo? Lucas escreveu: “pois os ouviam falando em línguas e exaltando a Deus” (At. 10:46). Pedro declarou que os gentios tinham recebido o Espírito Santo assim como as cento e vinte pessoas no dia de Pentecoste (veja 10:47).

Éfeso (Ephesus)

A quinta menção de crentes sendo batizados no Espírito Santo é encontrada em Atos 19. Enquanto viajava por Éfeso, o apóstolo Paulo encontrou alguns discípulos e os fez a seguinte pergunta: “Vocês receberam o Espírito Santo quando creram?” (At. 19:2).

Paulo, o homem que escreveu a maioria das epístolas do Novo Testamento, acreditava claramente que é possível acreditar em Jesus e não receber o Espírito Santo, até certo ponto. Caso contrário, não teria feito tal pergunta.

Os homens disseram que nunca ouviram falar no Espírito Santo. Aliás, só haviam ouvido da vinda do Messias através de João Batista, que os batizou. Imediatamente, Paulo os batizou novamente em água e dessa vez, experimentaram o verdadeiro batismo cristão. Finalmente, Paulo pôs suas mãos sobre eles para que recebessem o Espírito Santo:

Ouvindo isso, eles foram batizados no nome do Senhor Jesus. Quando Paulo lhes impôs as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e começaram a falar em línguas e a profetizar. Eram ao todo uns doze homens (At. 19:5-7).

Novamente, é óbvio que o batismo no Espírito Santo foi subsequente à salvação, independente desses doze homens terem renascido ou não antes de encontrarem Paulo. Mais uma vez, o sinal que acompanhou seus batismos no Espírito Santo foi falar em línguas (e neste caso também, a profecia).

O Veredito (The Verdict)

Vamos rever os cinco exemplos. Em pelo menos quatro deles, o batismo no Espírito Santo foi uma experiência que ocorreu depois da salvação.

Em três deles, as Escrituras dizem claramente que os batizados falaram em línguas. Mais adiante, no encontro de Paulo com Ananias, sua experiência de ser batizado no Espírito Santo não foi descrita, mas sabemos que ele eventualmente falou em línguas. Esse representa o quarto caso.

No último caso, algo sobrenatural aconteceu quando os crentes de Samaria receberam o Espírito Santo porque Simão tentou comprar o poder de dá-lo aos outros.

Portanto, a evidência é bem clara. Na igreja primitiva, crentes renascidos recebiam uma segunda experiência com o Espírito Santo, e quando isso acontecia, falavam em outras línguas. Isso não deve nos surpreender, pois Jesus disse que aqueles que acreditassem nEle falariam em línguas.

Então temos evidência conclusiva que cada um que renasce, também deve experimentar outra obra do Espírito — aquela de ser batizado no Espírito Santo. Além do mais, cada crente deve ter a expectativa de falar em outras línguas quando receber o batismo no Espírito Santo.

Como Receber o Batismo no Espírito Santo (How to Receive the Baptism in the Holy Spirit)

Como todos os dons de Deus, o Espírito Santo é recebido pela fé (veja Gl. 3:5). Para ter fé para receber o Espírito Santo, um crente deve primeiramente ter convicção que é da vontade de Deus que ele seja batizado com o Espírito Santo. Se duvidar, não receberá (veja Tg. 1:6-7).

Nenhum crente tem bom motivo para crer que não seja da vontade de Deus que ele receba o Espírito Santo, pois Jesus disse claramente qual era a vontade de Deus:

Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir! (Lc. 11:13).

Essa promessa dos lábios de Jesus deve convencer cada filho de Deus que é da vontade dEle que ele ou ela receba o Espírito Santo.

Esse mesmo versículo também suporta a verdade que, ser batizado no Espírito Santo acontece depois da salvação, porque aqui, Jesus prometeu aos filhos de Deus (as únicas pessoas que têm Deus como “Pai celestial”) que Deus lhes daria o Espírito Santo se lhe pedissem. Obviamente, se a única experiência que alguém pudesse ter com o Espírito Santo era renascer no momento da salvação, a promessa de Jesus não faria sentido. Diferente de certos tipos de teólogos modernos, Jesus acredita que é muito apropriado que pessoas já salvas peçam a Deus pelo Espírito Santo.

De acordo com Jesus, existem duas condições que devem ser preenchidas para que alguém receba o Espírito Santo. Primeiro, ele deve ter Deus como Pai, o que acontece quando renasce. Segundo, dever pedir a Deus pelo Espírito Santo.

Receber o Espírito Santo através de mãos impostas, apesar de ser bíblico (veja At. 8:17; 19:6), não é absolutamente necessário. Qualquer cristão pode receber o Espírito sozinho em seu próprio lugar de oração. Ele precisa simplesmente pedir, receber pela fé e começar a falar em línguas enquanto o Espírito lhe dá capacitação.

Medos Comums (Common Fears)

Algumas pessoas têm medo de orar para receber o Espírito Santo, pois podem, ao invés, estar se abrindo a um espírito demoníaco. Contudo, não há fundação para tal preocupação. Jesus prometeu:

Qual pai, entre vocês, se o filho lhe pedir um peixe, em lugar disso lhe dará uma cobra? Ou se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir! (Lc. 11:11-13).

Se pedirmos o Espírito Santo, Deus nos dará o Espírito Santo, e não devemos ter medo de receber qualquer outra coisa.

Alguns têm medo de, quando falarem em línguas, eles mesmos estarão inventando uma língua sem sentido, ao invés de uma língua sobrenatural dada pelo Espírito Santo. Entretanto, se tentar inventar uma língua convencível antes de ser batizado no Espírito Santo, verá que é impossível. Por outro lado, deve entender que se for falar em outras línguas terá que, conscientemente, usar seus lábios, língua e cordas vocais. O Espírito Santo não fala por você — Ele só lhe dá a capacitação. Ele é nosso ajudante, não nosso faz-tudo. Você deve falar, assim como a Bíblia ensina:

Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava (At. 2:4, ênfase adicionada).

Quando Paulo lhes impôs as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e começaram [eles] a falar em línguas e a profetizar (At. 19:6, ênfase adicionada).

Depois de um crente pedir o dom do Espírito Santo, deve acreditar e esperar falar em línguas. Porque o Espírito Santo é recebido pela fé; o recebedor não deve esperar sensações físicas ou sentimentais. Ele deve simplesmente abrir sua boca e começar a falar os novos sons e sílabas que formarão a nova língua que o Espírito Santo lhe dará. A menos que o crente comece a falar pela fé, nada sairá de sua boca. Ele deve falar e o Espírito Santo o capacitará.

A Fonte da Capacitação (The Source of the Utterance)

De acordo com Paulo, quando um crente ora em línguas, não é sua mente que ora, mas sim seu espírito:

Pois, se oro em uma língua, meu espírito ora, mas a minha mente fica infrutífera. Então, que farei? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento (1 Co. 14:14-15).

Paulo disse que quando orava em uma língua, sua mente ficava infrutífera. Isso significa que sua mente não fazia nada, e ele não entendia o que estava orando. Então, ao invés de orar sempre em línguas sem entender o que dizia, Paulo também gastava tempo orando com sua mente em sua própria língua. Ele cantava em línguas e também em sua própria língua. Há lugar para os dois tipos de orações e canções e seríamos sábios se seguíssemos seu exemplo balanceado.

Note que para Paulo, falar em línguas estava sujeito a sua própria vontade, assim como falar em sua própria língua. Ele disse: “[Eu] Orarei com o espírito, mas também [eu] orarei com o entendimento.” Muitas vezes, críticos dizem que se falar em línguas modernas fosse realmente um dom do Espírito, ninguém seria capaz de controlá-lo, caso contrário, seria culpado de controlar a Deus. Mas tal ideia não tem fundamentação. Falar em línguas modernas e antigas está debaixo do controle do indivíduo, assim como Deus planejou. Críticos também podem dizer que pessoas que têm mãos realmente feitas por Deus não têm controle sobre elas, e que se tomarem decisões conscientes de usá-las, estão tentando controlar a Deus.

Uma vez que tenha sido batizado no Espírito Santo, pode provar a si mesmo que sua capacitação em línguas vem de seu espírito ao invés de sua mente. Primeiro, tente conversar com alguém ao mesmo tempo em que lê este livro. Verá que não pode fazer os dois ao mesmo tempo. Contudo, descobrirá que pode continuar falando em línguas enquanto lê este livro. A razão é que você não está usando sua mente para falar em línguas — essa expressão vem de seu espírito. Portanto, enquanto usa seu espírito para orar, pode usar sua mente para ler e entender.

Agora que é Batizado no Espírito Santo (Now That You Are Baptized in the Holy Spirit)

Mantenha em mente a razão principal de Deus ter lhe dado o batismo no Espírito Santo — para lhe dar poder com o propósito de ser Sua testemunha, por meio da manifestação do fruto e dos dons do Espírito (veja 1 Co. 12:4-11; Gl. 5:22-23). Vivendo uma vida como a de Cristo e demonstrando Seu amor, alegria e paz ao mundo, assim como manifestando dons sobrenaturais do Espírito, Deus o usará para levar outros a Ele. A habilidade de falar em línguas é somente um dos “rios de água viva” que deve fluir de seu ser mais profundo.

Lembre-se também que Deus nos deu o Espírito Santo para sermos capazes de alcançar todas as pessoas da terra com o evangelho (veja At. 1:8). Quando falamos em outras línguas, devemos pensar que a língua que estamos falando pode muito bem, ser a língua nativa de alguma tribo remota ou nação estrangeira. Cada vez que oramos em línguas, devemos lembrar que Deus quer que pessoas de todas as línguas ouçam sobre Jesus. Devemos perguntar ao Senhor como Ele quer que nos envolvamos para cumprir a Grande Comissão de Jesus.

Falar em línguas é algo que devemos fazer sempre que possível. Paulo, um poço de energia espiritual, escreveu: “Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês” (1 Co. 14:18). Ele escreveu essas palavras a uma igreja que falava muito em línguas (embora normalmente nas horas erradas). Portanto, Paulo deve ter falado muito em línguas para ter falado mais que eles. Orar em línguas nos ajuda a ficar conscientes do Espírito Santo que vive dentro de nós, e nos ajudará a “orar sem cessar” como Paulo ensinou em 1 Tessalonicenses 5:17.

Paulo também ensinou que falar em outras línguas edifica o crente (veja 1 Co. 14:4). Isso significa que nos forma espiritualmente. Orando em línguas, podemos, apesar de não entender completamente, fortalecer nosso homem interior. Falar em outras línguas deve fornecer enriquecimento diário na vida espiritual de cada crente e não ser uma experiência única do enchimento inicial do Espírito Santo.

Uma vez que foi batizado no Espírito Santo, eu o encorajo a gastar tempo todos os dias orando a Deus em sua nova língua. Isso realçará grandemente seu crescimento e vida espiritual.

Resposta a Algumas Perguntas Comuns (Answers to a Few Common Questions)

Podemos dizer com certeza que todos aqueles que nunca falaram em línguas nunca foram batizados no Espírito Santo? Pessoalmente, eu acho que não.

Sempre encorajei pessoas a esperar falar em línguas quando orava por elas para que fossem batizadas no Espírito Santo, e provavelmente 95% delas falaram após alguns segundos de minha oração. Isso somaria milhares de pessoas durante todos esses anos.

Contudo, nunca diria que um crente que orou para ser batizado no Espírito e que não falou em línguas não é batizado no Espírito Santo, porque o batismo no Espírito é recebido pela fé e falar em línguas é voluntário. Contudo, se tiver a oportunidade de compartilhar com um crente que orou para ser batizado no Espírito, mas que nunca falou em línguas, primeiramente mostraria a ele todas as passagens no livro de Atos sobre o assunto. Então, também mostraria a esse crente como Paulo escreveu que tinha controle de quando falava ou não em línguas. Como Paulo, posso falar em línguas sempre que quiser e, portanto, posso decidir, se desejasse, nunca falar em línguas novamente. Deste modo, posso ter sido batizado no Espírito Santo e nunca ter falado em línguas pelo fato de não cooperar com a capacitação do Espírito.

Então, novamente, quando tenho a oportunidade de compartilhar com um cristão que orou com fé pelo batismo no Espírito Santo, mas que nunca orou em línguas, não o digo (nem acredito) que não tenha sido batizado no Espírito Santo. Eu simplesmente explico a ele que falar em línguas não é algo que o Espírito Santo faz sem nossa vontade. Eu explico que Ele nos capacita, mas que nós devemos falar, assim como falamos em nossa própria língua. Então encorajo aquela pessoa a cooperar com o Espírito Santo e começar a falar em línguas. Quase sem exceção, todas elas falam rápidamente.

Paulo não Escreveu que nem Todos falam em Línguas? (Didn’t Paul Write that Not All Speak with Tongues?)

A pergunta retórica de Paulo, “Falam todos em línguas?” (1 Co. 12:30), cuja resposta é óbvia: “Não”, deve ser harmonizada com o resto do Novo Testamento. Sua pergunta é encontrada dentro do contexto de suas instruções sobre os dons espirituais, que são todos manifestados somente quando o Espírito deseja (veja 1 Co. 12:11). Paulo estava escrevendo especificamente sobre o dom espiritual da “variedade de línguas” (1 Co. 12:10) que, de acordo com Paulo, deve sempre ser acompanhado do dom espiritual da interpretação de línguas. Esse dom em particular não pode ser o que os coríntios estavam sempre manifestando em sua igreja, já que estavam falando em línguas publicamente sem haver interpretação. Devemos perguntar: Por que em uma assembleia pública o Espírito Santo daria o dom de línguas a alguém sem dar a outrém o dom da interpretação? A resposta é que Ele não daria. Caso contrário, o Espírito Santo estaria promovendo algo que não é da vontade de Deus.

Os coríntios devem ter orado em línguas em voz alta durante seus cultos, sem haver interpretação alguma. Portanto, aprendemos que falar em línguas tem dois usos diferentes. Um é orar em línguas, o que Paulo disse que deveria ser feito em particular. Esse uso de falar em línguas não é acompanhado de interpretação, como Paulo escreveu: “Meu espírito ora, mas a minha mente fica infrutífera” (1 Co. 14:14). Obviamente, Paulo nem sempre sabia o que estava falando quando falava em línguas. Não havia entendimento de sua parte; nem interpretação.

Há também o uso de falar em línguas que é para a assembleia pública da igreja, que é sempre acompanhado do dom de interpretação de línguas. Uma pessoa fala publicamente e uma interpretação é dada. Contudo, Deus não usa a todos dessa maneira. É por isso que Paulo disse que nem todos falam em línguas. Nem todos são usados por Deus com o dom de línguas de modo repentino e espontâneo, assim como Deus não usa a todos com o dom de interpretação de línguas. Esse é o único modo de reconciliar a pergunta retórica de Paulo, “Falam todos em línguas?”, com o resto do que as Escrituras ensinam.

Eu posso falar em línguas sempre que quiser, assim como Paulo podia. Então, obviamente, nem Paulo nem eu diria que falamos em línguas “somente quando o Espírito deseja”. Acontece quando nós queremos. Então, o que fazemos quando nós queremos não pode ser o dom de falar em línguas que ocorre “quando o Espírito deseja”. Além do mais, Paulo, assim como eu, falava em línguas reservadamente sem entender o que falava; então, isso não pode ser o dom de línguas sobre o qual falou em 1 Coríntios, quando disse que seria sempre acompanhado do dom da interpretação de línguas.

Houve raras ocasiões em que falei em línguas em assembleias públicas. Isso só aconteceu quando senti o Espírito Santo mover em mim para que assim o fizesse, mesmo que pudesse (assim como os coríntios estavam fazendo) orar em línguas em voz alta a qualquer hora que desejasse na igreja sem haver interpretação. Sempre que senti o Espírito Santo mover em mim com tal dom, houve uma interpretação que edificou o corpo.

Concluindo, devemos interpretar a Bíblia harmoniosamente. Aqueles que acham, por causa da pergunta retórica de Paulo encontrada em 1 Coríntios 12:30, que nem todos os crentes devem falar em outras línguas, estão ignorando as muitas outras passagens que estão em harmonia com essa interpretação. E por causa de seus erros, perdem uma grande bênção do Senhor.

O Novo Nascimento

Capítulo Dez (Chapter Ten)

Quando pessoas se arrependem e passam a crer no Senhor Jesus Cristo, elas “renascem.” O que exatamente significa renascer? Esse capítulo é sobre isso.

Para entender o que significa renascer, é necessário entender a natureza dos seres humanos. As Escrituras nos dizem que não somos somente seres físicos, mas também espirituais. Por exemplo, Paulo escreveu:

Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (1 Ts. 5:23, ênfase adicionada).

Como Paulo indicou, podemos nos considerar seres de três partes, sendo: espírito, alma e corpo. As Escrituras não definem essas três partes precisamente; então, fazemos nosso melhor para diferenciar entre elas pelo nosso entendimento das próprias palavras. Normalmente, concluímos que nosso corpo é nossa parte física — carne, ossos, sangue e assim por diante. Nossa alma é nossa parte intelectual e emocional — nossa mente. Nosso espírito é obviamente nossa parte espiritual, ou como o apóstolo Pedro descreveu: o “homem encoberto no coração” (1 Pd. 3:4 ARC).

Porque o espírito é invisível aos olhos físicos, pecadores tendem a duvidar de sua existência. Contudo, a Bíblia é bem clara quando diz que todos nós somos seres espirituais. As escrituras nos dizem que quando alguém morre, seu corpo simplesmente deixa de funcionar, enquanto seu espírito e alma continuarão funcionando como sempre. Na morte, o espírito e a alma deixam o corpo (como um) para encarar o julgamento diante de Deus (veja Hb. 9:27). Depois do julgamento, eles vão para o céu ou para o inferno. Eventualmente, o espírito e alma de cada pessoa serão reunidos com seu corpo na ressurreição.

O Espírito Humano Mais Definido (The Human Spirit More Defined)

Em 1 Pedro 3:4, Pedro se refere ao espírito como o “homem encoberto no coração,” indicando que o espírito é uma pessoa. Paulo também se referiu ao espírito como o “homem interior,” indicando sua crença que o espírito humano não é somente um conceito ou força, e sim uma pessoa:

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia (2 Co. 4:16 ARC, ênfase adicionada).

Obviamente, o “homem exterior” descreve o corpo físico, enquanto o “interior” define o espírito. Enquanto o corpo envelhece, o espírito é renovado diariamente.

Note mais uma vez que Paulo se refere tanto ao corpo quanto ao espírito como homem. Então, quando você imaginar seu espírito, não imagine uma nuvem espiritual. É melhor imaginar uma pessoa que se pareça com você. Contudo, se seu corpo for velho, não pense que seu espírito também é. Imagine-o como você era na flor da sua juventude, porque seu espírito nunca envelhece! Ele é renovado dia a dia.

Seu espírito é a parte de você que renasce (se você acredita no Senhor Jesus Cristo). Seu espírito se une ao Espírito de Deus (veja 1 Co. 6:17), e Ele o guia enquanto você segue a Jesus (veja Rm. 10:14).

A Bíblia ensina que Deus também é um espírito (veja Jo. 4:24), assim como os anjos e os demônios. Todos eles têm forma e existem no reino espiritual. Contudo, o reino espiritual não pode ser sentido por nossos sentidos físicos. Tentar entrar em contato com o mundo espiritual usando nossos sentidos físicos seria comparável a tentar sentir sinais de rádio com nossas mãos. Não podemos perceber que sinais de rádio estão passando por uma sala com nossos sentidos físicos, mas isso não prova que os sinais de rádio não estão presentes. O único modo de sintonizar a frequência do rádio é ligando um.

Isso também é verdade sobre o mundo espiritual. O fato do mundo espiritual não poder ser entendido pelos sentidos físicos não prova sua não existência. Ele existe, e as pessoas percebendo ou não, fazem parte desse mundo, pois são seres espirituais. Eles são espiritualmente relacionados a Satanás (se não se arrependeram) ou espiritualmente relacionados a Deus (se nasceram de novo). Alguns espiritualistas têm aprendido a se relacionar com o mundo espiritual através de seus espíritos, mas estão entrando em contato com o reino de Satanás — o reino das trevas.

Corpos Eternos (Eternal Bodies)

Já que estamos no assunto, deixe-me mencionar algo sobre nossos corpos. Mesmo que eles venham a morrer, nossas mortes físicas não serão permanentes. O dia virá em que Deus em pessoa ressuscitará cada corpo humano morto. Jesus disse:

Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados (Jo. 5:28-29).

O apóstolo João escreveu no livro de Apocalipse que a ressurreição dos corpos dos maus acontecerá, no mínimo, depois de mil anos da ressurreição dos corpos dos justos:

Eles [os santos que foram martirizados durante a tribulação] ressuscitaram e reinaram com Cristo durante mil anos. (O restante dos mortos não voltou a viver até se completarem os mil anos.) Esta é a primeira ressurreição.[1] Felizes e santos os que participam da primeira ressurreição! A segunda morte não tem poder sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante mil anos (Ap. 20:4b-6).

A Bíblia também nos informa que quando Jesus retornar para levar a igreja, os corpos de todos os justos serão ressuscitados e unificados a seus espíritos enquanto eles voltam do céu com Jesus para a atmosfera da Terra.

Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram. Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre (1 Ts. 4:14-17).

Deus formou o homem original do pó da terra, e não será difícil para Ele pegar os elementos do corpo de cada pessoa e reformá-los. Fazendo novos corpos dos mesmos materiais.

A respeito da ressurreição de nossos corpos, Paulo escreveu:

Assim será com a ressurreição dos mortos. O corpo que é semeado é perecível e ressuscita imperecível; é semeado em desonra e ressuscita em glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado em corpo natural e ressuscita em corpo espiritual…Irmãos, eu lhes declaro que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem o que é perecível pode herdar o imperecível. Eis que eu lhes digo um mistério: Nem todos dormiremos [morreremos], mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, de imortalidade (1 Co. 15:42-44a, 50-53).

Note que a característica ressaltada de nossos novos corpos é que serão imortais e não perecíveis. Nunca irão envelhecer, adoecer ou morrer! Nossos corpos serão assim como o novo corpo que Jesus recebeu depois de ser ressuscitado:

A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso (Fp. 3:20-21, ênfase adicionada).

O apóstolo João também afirmou essa verdade maravilhosa:

Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é (1 Jo. 3:2, ênfase adicionada).

Mesmo sendo impossível para nossas mentes entenderem completamente, podemos acreditar e regozijar com o que está à frente![2]

Jesus no Novo Nascimento (Jesus on the New Birth)

Jesus falou uma vez a um homem chamado Nicodemos sobre a necessidade do espírito humano nascer novamente pela ação do Espírito Santo:

Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo”. Perguntou Nicodemos: “Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e renascer!” Respondeu Jesus: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito. O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito. Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo” (Jo. 3:3-7).

Primeiro, Nicodemos pensou que Jesus estava falando sobre o renascimento físico quando disse que alguém precisa nascer de novo para entrar no céu. Contudo, Jesus deixou claro que estava falando do renascimento espiritual. Isto é, o espírito da pessoa precisa nascer de novo.

A razão de precisarmos de um renascimento espiritual é que nossos espíritos foram infectados com um mal, uma natureza pecaminosa. Muitas vezes a Bíblia se refere a essa natureza pecaminosa como morte. Pelo bem do entendimento, vamos nos referir a tal natureza como morte espiritual para que possamos diferenciar entre ela e a morte física (que acontece quando o corpo físico deixa de funcionar).

Definição de Morte Espiritual (Spiritual Death Defined)

Paulo descreve o que significa estar espiritualmente morto em Efésios 2:1-3:

Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira (ênfase adicionada).

Obviamente, Paulo não estava se referindo à morte física porque estava escrevendo a pessoas fisicamente vivas. Mesmo assim, ele disse que estavam uma vez “mortos em suas transgressões e pecados.” É o pecado que abre as portas para a morte espiritual (veja Rm. 5:12). Estar espiritualmente morto significa ter uma natureza pecaminosa em seu espírito. Note que Paulo disse que eram “por natureza merecedores da ira.”

Além disso, estar espiritualmente morto significa ter, até certo ponto, a própria natureza de Satanás em seu espírito. Paulo disse que os que são espiritualmente mortos têm o espírito do “príncipe do poder do ar” trabalhando dentro deles. Com certeza o “príncipe do poder do ar” é o demônio (veja Ef. 6:12), e seus espírito está trabalhando em todos os incrédulos.

Jesus, falando a judeus pecadores, disse:

Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira (Jo. 8:44).

De um ponto de vista espiritual, aqueles que não nasceram de novo não só têm a natureza de Satanás em seus espíritos, mas também Satanás é seu pai espiritual. Eles agem naturalmente como o demônio. São homicidas e mentirosos.

Nem todos os ímpios cometeram assassinatos, mas são motivados pelo mesmo ódio que assassinos e matariam se pudessem sair impunes. A legalização do aborto em muitos países é prova disso. Pessoas descrentes matando até seus próprios bebês ainda no ventre.

É por isso que uma pessoa precisa renascer espiritualmente. Quando isso acontece, aquela natureza satânica e pecaminosa é removida de seu espírito e no lugar dela a natureza santa de Deus é colocada. O Espírito Santo de Deus vem morar em seu espírito. Ela não está mais “espiritualmente morta”, mas foi feita “espiritualmente viva.” Seu espírito não está mais morto e sim vivo em Deus. Ao invés de ser uma criança espiritual de Satanás, se torna uma criança espiritual de Deus.

Transformação não Substitui Regeneração (Reformation is No Substitute for Regeneration)

Porque os ímpios estão espiritualmente mortos, eles nunca poderão ser salvos por transformação própria, não importando o quanto tentem. Os incrédulos precisam de uma nova natureza e não de novas ações. Você pode pegar um porco, lavá-lo, perfumá-lo e amarrar tirinhas rosas em seu pescoço, mas tudo o que vai ter é um porco limpo! Sua natureza continuará sendo a mesma. E não levará muito tempo para ele feder e rolar na lama de novo.

O mesmo se aplica a pessoas religiosas que nunca renasceram. Elas podem estar um pouco limpas por fora, mas por dentro são tão sujas como antes. Jesus disse a algumas pessoas muito religiosas de Seu tempo:

Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro eles estão cheios de ganância e cobiça. Fariseu cego! Limpe primeiro o interior do copo e do prato, para que o exterior também fique limpo. Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundicie. Assim são vocês: por fora parecem justos ao povo, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e maldade (Mt. 23:25-28).

As palavras de Jesus são uma descrição apta de todos aqueles que são religiosos, mas que nunca passaram pelo renascimento do Espírito Santo. O novo nascimento limpa as pessoas por dentro e não apenas por fora.

O que Acontece à Alma Quando o Espírito Renasce? (What Happens to the Soul When the Spirit is Reborn?)

Quando o espírito de alguém renasce, no início sua alma continua essencialmente a mesma (exceto pelo fato de que ele tomou uma decisão de seguir a Jesus). Contudo, Deus espera que nós façamos algo com nossas almas, uma vez que nos tornamos um de Seus filhos. Nossas almas (mentes) devem ser renovadas com a Palavra de Deus para que pensemos como Deus quer que pensemos. É pela renovação de nossas mentes que uma transformação contínua acontece em nossas vidas, fazendo com que nos tornemos cada vez mais como Jesus:

Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm. 12:2, ênfase adicionada).

Tiago também escreveu sobre o mesmo processo na vida do crente:

Aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los (Tg. 1:21b)

Note que Tiago estava escrevendo a cristãos — pessoas que já haviam renascido. Mas eles precisavam ter suas almas salvas, e isso só aconteceria quando, humildemente, recebessem a “palavra implantada.” É por isso que a Palavra de Deus deve ser ensinada a novos convertidos.

O Resíduo da Velha Natureza (The Residue of the Old Nature)

Depois de seu novo nascimento, os cristãos logo descobrem que são pessoas de natureza dupla, experimentando o que Paulo chama de guerra entre “o Espírito e a carne”:

Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam (Gl. 5:17).

Paulo se refere ao remanescente da velha natureza como “a carne.” Essas duas naturezas dentro de nós produzem desejos diferentes, que se renderem frutos, produzem diferentes ações e estilos de vida. Note o contraste que Paulo faz entre as “obras da carne” e “o fruto do Espírito”:

Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus. Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei (Gl. 5:19-23).

Obviamente, é possível aos crentes ceder à carne; caso contrário, Paulo não teria advertido que se praticassem as obras da carne, não herdariam o Reino de Deus. Em sua carta aos Romanos, Paulo também escreveu sobre as duas naturezas de cada cristão e advertiu sobre as mesmas consequências de ceder à carne:

Mas se Cristo está em vocês, o corpo está morto por causa do pecado, mas o espírito está vivo por causa da justiça… Portanto, irmãos, estamos em dívida, não para com a carne, para vivermos sujeitos a ela. Pois se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão, porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (Rm. 8:10, 12-14, ênfase adicionada).

Este é claramente um aviso aos cristãos. Viver (o que indica uma prática regular) de acordo com a carne resulta em morte. Paulo devia estar falando sobre a morte espiritual, porque todos eventualmente morrem fisicamente, mesmo os cristãos que estão fazendo “morrer os atos do corpo”.

Um cristão pode cair temporariamente em um dos pecados que Paulo listou; mas, quando um crente pecar, ele se sentirá culpado e se arrependerá. Todos que confessarem seus pecados e pedirem perdão a Deus, obviamente serão perdoados (veja 1 Jo. 1:9).

Quando um cristão peca, não significa que quebrou seu relacionamento com Deus — significa que quebrou sua comunhão. Ele ainda é filho de Deus, mas agora é o filho desobediente de Deus. Se o crente não confessar seu pecado, se coloca em uma posição a ser disciplinado pelo Senhor.

A Guerra (The War)

Se você tem tido vontade de fazer coisas que sabe que são erradas, tem sentido o “desejo da carne”. Sem dúvida também descobriu que quando é tentado pela carne a fazer coisas erradas, alguma coisa dentro de você resiste a essa tentação. Esse é o “desejo do Espírito”. E se conhece o sentimento de culpa que tem dentro de você quando cede à tentação, então reconhece a voz de seu espírito, que chamamos de “consciência”.

Deus sabia bem que nossos desejos carnais nos tentariam a fazer coisas erradas. Contudo, isso não é desculpa para cedermos ao desejo da carne. Deus ainda espera que ajamos em obediência e santidade e que superemos a natureza da carne:

Por isso digo: Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne (Gl. 5:16).

Não há fórmula mágica para superarmos a carne. Paulo simplesmente disse: “Vivam pelo Espírito e de modo nenhum satisfarão o desejo da carne” (Gl. 5:16). Nesta área, nenhum cristão tem vantagem sobre outro. Viver pelo Espírito é simplesmente uma decisão que cada um de nós deve fazer, e nossa devoção ao nosso Senhor pode ser medida por quanto não cedemos aos desejos da carne.

Paulo escreveu similarmente:

Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as sua paixões e os seus desejos (Gl. 5:24).

Note que Paulo diz que aqueles que pertencem a Cristo crucificaram a carne (passado). Isso aconteceu quando nos arrependemos e acreditamos no Senhor Jesus Cristo. Crucificamos a natureza pecaminosa, decidindo obedecer a Deus e resistir aos pecados. Então, agora não é uma questão de crucificar a carne, mas de mantê-la crucificada.

Não é sempre fácil manter a carne crucificada, mas é possível. Se agirmos conforme a liderança da pessoa interior ao invés de ceder aos impulsos da carne, então, manifestaremos a vida de Cristo e andaremos em santidade diante dEle.

A Natureza de nossos Espíritos Ressuscitados (The Nature of our Recreated Spirits)

Existe uma palavra que descreve bem a natureza de nossos espíritos ressuscitados, e essa palavra é Cristo. Através do Espírito Santo, que tem a natureza idêntica a Jesus, na verdade temos a natureza de Jesus vivendo dentro de nós. Paulo escreveu: “Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”(Gl. 2:20).

Por termos Sua habilidade e natureza em nós, temos o maravilhoso potencial de viver como Cristo. Na verdade não precisamos de mais amor, paciência ou domínio próprio — temos a Pessoa mais amorosa, paciente e controlada morando em nós! Tudo o que temos a fazer é deixar que Ele viva através de nós.

Contudo, todos temos um grande adversário que luta contra a natureza de Jesus, impedindo-a de se manifestar através de nós; e esse adversário é a nossa carne. É por isso que Paulo disse que devemos crucificar nossa carne. É responsabilidade nossa fazer algo com ela, e é uma perca de tempo pedir a Deus para fazer qualquer coisa a respeito. Paulo também teve problemas com sua natureza carnal, mas ele se responsabilizou por eles e os superou:

Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado (1 Co. 9:27).

Você também terá que fazer com que seu corpo seja escravo do seu espírito se quiser andar em santidade diante do Senhor. Você consegue!

 


[1] O fato de João dizer que essa é a “primeira ressurreição” nos leva a crer que não havia ocorrido outras antes dessa. Como acontecerá no final da tribulação mundial, quando Jesus vier dos céus, contradiz a ideia dos pré-tribulacionistas, já que sabemos que haverá uma ressurreição em massa quando Ele vier arrebatar a Igreja, de acordo com 1 Tessalonicenses 4:13-17. Estudaremos isso mais detalhadamente em um capítulo chamado O Arrebatamento e o Fim dos Tempos.

[2] Para mais estudos sobre a ressurreição, veja Daniel 12:1-2; João 11:23-26; Atos 24:14-15 e 1 Coríntios 15:1-57).

O Sermão do Monte

Capítulo Oito (Chapter Eight)

Por causa de seu desejo de fazer discípulos, ensinando-os a obedecer a todos os mandamentos de Cristo, o ministro fazedor discípulos estará muito interessado no Sermão do Monte de Jesus. Não há sermão de Jesus registrado que seja mais longo, e está cheio de Seus mandamentos. O discipulador vai querer não somente obedecer ao que foi mandado naquele sermão, como também ensinar tudo a seus discípulos.

Sendo assim, compartilharei o que entendo do sermão que está registrado em Mateus do capítulo 5 ao 7. Também encorajo ministros a ensinarem o Sermão do Monte, versículo por versículo, a seus discípulos. Espero que tudo o que escrevi seja útil a esse propósito.

Abaixo está um esboço do Sermão do Monte, para nos dar uma visão geral e enfatizar os temas principais.

I.) Jesus reúne Sua audiência (5:1-2)

II.) Introdução (5:3-20)

A) As características e bênçãos dos abençoados (5:3-12)

B.) Advertência para continuarem a ser sal e luz (5:13-16)

C.) A relação da Lei com os seguidores de Cristo (5:17-20)

III.) O Sermão: Sejam mais santos que os escribas e fariseus (5:21-7:12)

A.) Amem uns aos outros, diferentemente dos escribas e fariseus (5:21-26)

B.) Sejam sexualmente puros, ao contrário dos escribas e fariseus (5:27-32)

C.) Sejam honestos, diferentemente dos escribas e fariseus (5:33-37)

D.) Não se vinguem, como os escribas e fariseus (5:38-42)

E.) Não odeiem seus inimigos, como os escribas e fariseus (5:43-48)

F.) Façam o bem pelos motivos certos, ao contrário dos escribas e fariseus (6:1-18)

1.) Deem ao pobre pelos motivos certos (6:2-4)

2.) Orem pelos motivos certos (6:5-6)

3.) Uma digressão a respeito da oração e perdão (6:7-15)

a.) Instruções a respeito da oração (6:7-13)

b.) A necessidade de perdoar uns aos outros (6:14-15)

4.) Jejuem pelos motivos certos (6:16-18)

G.) Não sirvam ao dinheiro como os escribas e fariseus (6:19-34)

H.) Não procurem defeitos em seus irmãos (7:1-5)

I.) Não gastem seu tempo dando a verdade aos que não apreciam (7:6)

J.) Encorajamento à oração (7:7-11)

IV.) Conclusão: Um resumo do Sermão

A.) Uma frase de resumo (7:12)

B.) Uma advertência para obedecer (7:13-14)

C.) Como reconhecer falsos profetas e falsos cristãos (7:15-23)

D.) Um aviso final contra a desobediência e um resumo (7:24-27)

Jesus Reúne Sua Audiência (Jesus Gathers His Audience)

Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo (Mt. 5:1-2).

Parece que Jesus reduziu propositalmente o tamanho de Sua audiência quando saiu do meio da “multidão” e subiu o monte. É nos dito que “Seus discípulos aproximaram-se dele,” como se estivesse indicando que somente aqueles que estavam famintos para ouvi-Lo estavam dispostos a suar para subir o monte onde Ele finalmente descansou. Aparentemente, eles eram muitos, pois são chamados de “multidões” em 7:28.

Então Jesus começou Seu sermão, falando aos Seus discípulos, e desde o início temos uma dica de qual seria Seu tema predominante. Ele lhes diz que são bem-aventurados se possuírem certas características, pois as mesmas pertencem aos merecedores do céu. Esse será o tema geral desse sermão — Somente os santos herdarão o reino de Deus. As bem-aventuranças, como são chamadas, encontradas em 5:3-12, abundam nesse tema.

Jesus enumera várias características diferentes dos bem-aventurados, e prometeu várias bênçãos específicas a elas. Leitores casuais muitas vezes assumem que cada cristão deve ter uma, e somente uma bem-aventurança. Contudo, leitores cuidadosos percebem que Jesus não estava listando tipos diferentes de crentes que receberão bênçãos variadas, mas todos os verdadeiros cristãos que receberão uma bênção futura universal: a herança do reino dos céus. Não há outro modo inteligível de interpretarmos Suas palavras:

Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados (Mt. 5:3-4).

Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra (Mt. 5:5; JFA).

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.

Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.

Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês (Mt. 5:6-12).

As Bem-aventuranças e os Traços de Caráter (The Blessings and Character Traits)

Primeiro, vamos considerar todas as bênçãos prometidas. Jesus disse que os bem-aventurados devem (1) herdar o reino dos céus, (2) receber conforto, (3) herdar a terra, (4) ser saciados, (5) receber misericórdia, (6) ver a Deus, (7) ser chamados filhos de Deus e (8) herdar o reino dos céus (uma repetição do no 1).

Jesus quer que pensemos que somente os pobres de espírito e aqueles que foram perseguidos por causa da justiça herdarão o reino de Deus? Somente os puros de coração verão a Deus e somente os pacificadores serão chamados filhos de Deus, porém nenhum deles herdará o reino de Deus? Os pacificadores não receberão misericórdia e os misericordiosos não serão chamados filhos de Deus? Obviamente todas essas conclusões estariam erradas. Portanto, só é seguro concluir que as várias bênçãos prometidas são pedaços de uma grande bênção — a herança do Reino de Deus.

Agora vamos considerar as diferentes qualidades que Jesus descreveu: (1) os pobres de espírito, (2) os que choram, (3) os humildes, (4) os que têm fome e sede de justiça, (5) os misericordiosos, (6) os puros de coração, (7) os pacificadores e (8) os perseguidos.

Jesus quer que pensemos que alguém pode ser puro de coração e não misericordioso? Alguém pode ser perseguido por causa da justiça, mas não ter fome e sede de justiça? Mais uma vez, obviamente não. Os vários traços de caráter dos bem-aventurados são os traços multiplicados, até certo ponto, por todos os bem-aventurados.

Claramente, as bem-aventuranças descrevem os traços de caráter dos verdadeiros seguidores de Jesus. Numerando essas características a Seus discípulos, Jesus lhes assegurou que esses seriam os bem-aventurados que eram salvos e que entrariam no céu um dia. Atualmente, eles podem não se sentir tão abençoados por causa de seus sofrimentos, e o mundo a sua volta pode não considerá-los abençoados, mas aos olhos de Deus, eles são.

As pessoas que não se encaixam na descrição de Jesus não são bem-aventuradas e não herdarão o reino dos céus. Cada discipulador deve sentir a obrigação de se assegurar que as pessoas de seu rebanho saibam disso.

As Características dos Bem-aventurados (The Character Traits of the Blessed)

As oito características dos bem-aventurados estão sujeitas até certo ponto à interpretação. Por exemplo, qual é a virtude em ser “pobre de espírito”? Eu tendo a pensar que Jesus estava descrevendo a primeira característica necessária que uma pessoa deve ter para ser salva — ela deve perceber sua própria pobreza de espírito. Uma pessoa precisa primeiramente enxergar a necessidade de um Salvador antes de poder ser salva, e havia esse tipo de pessoa na audiência de Jesus que tinha acabado de perceber sua própria miséria. Como eles eram bem-aventurados comparados aos orgulhosos de Israel que eram tão cegos por não exergarem seus pecados!

Essa primeira característica elimina toda independência e qualquer pensamento de salvação por mérito. Um verdadeiro bem-aventurado é aquele que percebe que nada tem para oferecer a Deus e que sua própria retidão é como “trapo imundo” (Is. 64:6).

Jesus não queria que as pessoas pensassem que poderiam ter as características dos bem-aventurados por esforço próprio. Não, as pessoas são bem-aventuradas, isto é, bem-aventuradas por Deus se tiverem as características dos bem-aventurados. Tudo vem da graça de Deus. Os bem-aventurados de quem Jesus falava eram abençoados, não só por causa do que os aguardava no céu, mas por causa do trabalho que Jesus tinha feito em suas vidas na terra. Quando vejo as características dos bem-aventurados em minha vida, elas não devem me lembrar do que eu fiz, mas do que Deus fez em mim por Sua graça.

Os que Choram (The Mournful)

Se a primeira característica foi listada no início porque é a primeira necessidade de merecedores do céu, talvez a segunda também foi listada de forma significativa: “Bem-aventurados os que choram” (Mt. 5:4). Será que Jesus estava descrevendo arrependimento sincero e remorso? Eu acho que sim, especialmente porque as Escrituras são claras quando dizem que tristeza que vem de Deus resulta em um arrependimento que é necessário para a salvação (veja 2 Co. 7:10). O triste coletor de impostos sobre quem Jesus falou certa vez é um exemplo desse tipo de pessoa bem-aventurada. Ele baixou sua cabeça humildemente no templo, batendo no peito e clamando a Deus por misericórdia; o oposto do fariseu ao seu lado que enquanto orava, lembrava a Deus orgulhosamente que tinha dizimado e jejuado duas vezes por semana; o coletor de impostos deixou aquele lugar perdoado de seus pecados. Naquela história, o coletor de impostos foi abençoado; o fariseu não (veja Lc. 18:9-14). Acredito que havia aqueles na audiência de Jesus que, pela convicção do Espírito Santo, estavam chorando. O conforto do Espírito Santo logo seria deles!

Se Jesus não estava falando da lamentação inicial das pessoas arrependidas que estão vindo a Jesus, então talvez Ele estava descrevendo a tristeza que todos os verdadeiros crentes sentem enquanto continuam a encarar um mundo que está em rebelião contra o Deus que os ama. Paulo expressou isso como “grande tristeza e constante angústia em meu coração” (Rm. 9:2).

O Humilde (The Gentle)

A terceira característica, mansidão, também está listada nas Escrituras como um dos frutos do Espírito (veja Gl. 5:22-23). Mansidão não é um atributo gerado por si só. Aqueles que receberam a graça de Deus e morada do Espírito também são abençoados para se tornarem mansos. Um dia eles herdarão a terra, já que somente os justos irão morar na terra que Deus vai criar. Cristãos professos que são rudes e violentos devem tomar cuidado. Eles não estão entre os bem-aventurados.

Os Famintos por Justiça (Hungering for Righteousness)

A quarta característica, fome e sede de justiça, descreve o desejo interior dado por Deus, que todos os que renasceram possuem. Deus sofre por toda a injustiça praticada no mundo e contra aquele que permanece nEle. Ele odeia o pecado (veja Sl. 97:10; 119:128, 163) e ama a justiça.

Muitas vezes, quando lemos a palavra justiça nas Escrituras, imediatamente a traduzimos para: “a posição legal de justiça imputada a nós por Cristo,” mas não é sempre isso que a palavra significa. Várias vezes ela significa: “a qualidade de viver corretamente pelo padrão de Deus.” É óbvio que esse era o significado que Jesus tinha em mente nessa passagem, porque não há razão para um cristão ter fome do que já tem. Aqueles que nasceram do Espírito buscam viver corretamente, e eles têm a garantia de que “serão satisfeitos” (Mt. 5:6), certos de que Deus, por Sua graça, completará o trabalho que começou neles (veja Fp. 1:6).

As palavras de Jesus aqui também preveem o tempo da nova terra, uma terra “onde habita a justiça” (2 Pd. 3:13). Então não haverá pecado. Todos amarão a Deus de todo o coração e o próximo como a si mesmo. Então, nós que não estaremos mais com fome e sede de justiça seremos satisfeitos. Finalmente, nossa oração do fundo do coração será respondida: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt. 6:10).

Os Misericordiosos (The Merciful)

A quinta característica, misericórdia, também é outra que todos os renascidos possuem por natureza como resultado de ter o misericordioso Deus morando neles. Aqueles que não possuem misericórdia não são bem-aventurados de Deus e revelam que não participam de Sua graça. O apóstolo Tiago concorda: “será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso” (Tg. 2:13). Se alguém ficar diante de Deus e receber um julgamento sem misericórdia, você acha que ele vai para o céu ou para o inferno? [1] A resposta é óbvia.

Uma vez, Jesus contou uma história de um servo que tinha recebido grande misericórdia de seu mestre, mas que não estava disposto a estender essa graça a seu servo. Quando seu mestre descobriu o que tinha acontecido, “entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia” (Mt. 18:34). Toda sua dívida que havia sido perdoada foi restabelecida. Então, Jesus advertiu Seus discípulos: “Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão” (Mt. 18:35). Portanto, recusar a perdoar um irmão ou irmã em Cristo que pede por perdão resulta na restituição de pecados que já haviam sido perdoados. Isso resulta em nós sermos entregues aos torturadores até pagarmos o que nunca poderemos pagar. Isso com certeza não parece com o céu para mim. Novamente, as pessoas que não são misericordiosas não receberão misericórdia de Deus. Elas não estão entre os bem-aventurados.

Os Puros de Coração (The Pure in Heart)

A sexta característica dos merecedores do céu é pureza do coração. Ao contrário de tantos cristãos professos, verdadeiros cristãos não são santos somente do lado de fora. Pela graça de Deus, seus corações se tornaram puros. Eles realmente amam a Deus de coração e isso afeta suas meditações e motivos. Jesus prometeu que eles verão a Deus.

Deixe-me perguntar novamente, devemos acreditar que existam verdadeiros cristãos que não são puros de coração e que portanto não verão a Deus? Será que Deus irá falar para eles: “Vocês podem entrar no céu, mas nunca poderão me ver”? Não, obviamente, todos verdadeiros merecedores do céu têm um coração puro.

Os Pacificadores (The Peacemakers)

Os pacificadores são os próximos da lista. Eles serão chamados filhos de Deus. Novamente, Jesus devia estar descrevendo todos os verdadeiros seguidores de Cristo, pois todos os crentes em Cristo são filhos de Deus (veja Gl. 3:26).

Aqueles que nascem do Espírito são pacificadores pelo menos de três maneiras:

Primeira, eles fizeram paz com Deus, que anteriormente era seu inimigo (veja Rm. 5:10).

Segunda, eles vivem em paz, o máximo possível, com outras pessoas. Não são caracterizados por dissensões e rixas. Paulo escreveu que aqueles que praticam discórdia, ciúmes, ira, dissensões e facções não herdarão o reino de Deus (veja Gl 5:19-21). Verdadeiros cristãos andarão a milha extra para evitar uma briga e manter a paz em seus relacionamentos. Eles não afirmam estar em paz com Deus enquanto não amarem seus irmãos (veja Mt. 5:23-24. 1 Jo. 4:20).

Terceira, eles compartilham o evangelho. Os verdadeiros seguidores de Cristo também ajudam outros a fazerem paz com Deus e seus companheiros. Talvez, lembrando-se desse versículo do Sermão do Monte, Tiago tenha escrito: “O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores” (Tg. 3:18).

Os Perseguidos (The Persecuted)

Finalmente, Jesus chamou bem-aventurados aqueles que são perseguidos por causa da justiça. Obviamente, Ele estava falando de pessoas que vivem corretamente, não dos que acham que a justiça de Deus foi imposta a eles. As pessoas que obedecem os mandamentos de Cristo são as que são perseguidas pelos incrédulos. Elas herdarão o Reino de Deus.

A que tipo de perseguição Jesus estava Se referindo? Tortura? Martírio? Não. Ele listou especificamente, ser insultado e receber calúnias por causa dEle. Isso indica novamente que quando alguém é verdadeiramente cristão, o fato se torna óbvio aos ímpios, caso contrário, não o insultariam. Quantas pessoas que se dizem cristãs são tão indistinguíveis dos ímpios que nenhum perdido as insulta? Na verdade elas não são cristãs. Como Jesus disse: “Ai de vocês quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas” (Lc. 6:26). Quando todos falarem bem de você é um sinal que você é um falso profeta. O mundo odeia verdadeiros cristãos (veja Jo. 15:18-21; Gl. 4:29; 2 Tm. 3:12; 1 Jo. 3:13-14).

Sal e Luz (Salt and Light)

Uma vez que Jesus havia assegurado a Seus obedientes discípulos que eles realmente estavam entre os transformados e bem-aventurados que estavam destinados a herdar o reino dos céus, Ele levantou uma palavra de precaução; diferente de muitos pregadores modernos que continuam a afirmar a bodes espirituais que nunca perderão a salvação que supostamente têm. Jesus amava Seus verdadeiros discípulos o suficiente para os advertir de que poderiam se retirar da categoria dos bem-aventurados.

Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus (Mt. 5:13-16).

Note que Jesus não exortou Seus discípulos a se tornarem sal ou se tornarem luz. Ele disse (metaforicamente) que eles já eram sal, e os exortou a continuarem salgados. Ele disse (metaforicamente) que já eram luz, e os exortou a não deixarem sua luz ficar escondida, mas a continuarem brilhando. Que contraste aos muitos sermões dados por crentes professos sobre a necessidade de se tornarem sal e luz. Se as pessoas não são sal e luz, não são discípulas de Cristo. Elas não estão entre os bem-aventurados. Elas não irão para o céu.

Nos tempos de Jesus, o sal era usado principalmente como um conservador de carnes. Como obedientes seguidores de Cristo, devemos conservar este mundo pecaminoso de se tornar completamente podre e corrupto. Mas se nosso comportamento se tornar como o do mundo, nós realmente não serviremos “para nada” (v. 13). Jesus advertiu os bem-aventurados a continuarem salgados, conservando suas características únicas. Eles devem continuar distintos do mundo ao seu redor, para não se tornarem “não-salgados,” merecendo ser “jogado fora e pisado pelos homens.” Esse é um dos muitos avisos claros do Novo Testamento direcionados aos verdadeiros crentes contra a recaída. Se o sal realmente for sal, ele é salgado. Da mesma forma, seguidores de Jesus agem como seguidores de Jesus; caso contrário, não são, mesmo que um dia tenham sido.

Os verdadeiros seguidores de Jesus também são a luz do mundo. A luz sempre brilha. Se não brilhar, não é luz. Nessa analogia, a luz representa nossas boas obras (veja Mt. 5:16). Jesus não estava exortando aqueles que não tinham obras para realizarem algumas, mas exortando aqueles que têm obras para não esconderem sua bondade dos outros. Aqui, vemos um lindo equilíbrio do trabalho gracioso de Deus e nossa cooperação com Ele; ambos são necessários para sermos santos.

A Relação da Lei com os Seguidores de Cristo (The Law’s Relationship to Christ’s Followers)

Agora começamos um novo parágrafo (na NVI). É uma seção essencial de grande importância, uma introdução ao muito que Cristo dirá no restante de Seu sermão.

Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra. Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus. Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus (Mt. 5:17-20).

Se Jesus advertiu Sua audiência a não pensar que estava abolindo a Lei ou os profetas, podemos concluir seguramente que pelo menos alguns de Sua audiência estavam assumindo isso. Só podemos imaginar a razão de tal suposição. Talvez tenha sido por causa da severa censura de Jesus aos escribas e fariseus legalistas que tentavam alguns a pensar que Ele estava abolindo a Lei e os Profetas.

Sem levar isso em consideração, ficou claro que Jesus queria que seus discípulos percebessem o erro de tal suposição. Ele foi o inspirador divino do Velho Testamento inteiro, então com certeza não aboliria tudo o que havia dito através de Moisés e dos Profetas. Pelo contrário, Ele iria, como disse, cumprir as Leis e os Profetas.

Como exatamente Ele cumpriria a Lei e os Profetas? Alguns acham que Jesus estava falando somente sobre as profecias messiânicas. Mesmo que Jesus tenha cumprido (ou ainda irá cumprir) todas as profecias messiânicas, não era só isso que Ele tinha em mente. O contexto indica claramente que Ele também estava falando a cerca de tudo o que estava escrito na Lei e nos Profetas, até “a menor letra ou o menor traço” (v. 18) da Lei, e até os “menores” (v. 19) dos mandamentos.

Outros acham que Jesus quis dizer que iria cumprir a Lei cumprindo suas exigências em nosso favor usando Sua vida de obediência e morte de sacrifício (veja Rm. 8:4). Mas isso, como o contexto também revela, não é o que Ele tinha em mente. Nos versículos que se seguem, Jesus não mencionou Sua vida ou morte como ponto de referência para o cumprimento da Lei. Ao invés disso, na próxima frase Ele disse que a Lei seria relevante pelo menos “enquanto existirem céus e terra” e até “que tudo se cumpra,” as referências apontam para muito depois de Sua morte na cruz (v. 19), e que o povo deveria obedecer a Lei ainda melhor que o escribas ou fariseus, caso contrário não entrariam no céu (v. 20).

Obviamente, além de somente cumprir as professas messiânicas, tipos e sombras da Lei, assim como cumprir as exigências da Lei em nosso favor, Jesus também estava pensando em Sua audiência que devia guardar os mandamentos da Lei e fazer o que os Profetas disseram. Por um lado, Jesus cumpriria a Lei revelando a intenção original e verdadeira de Deus nela; confirmando-a, explicando-a e completando o que faltava ao entendimento de Sua audiência. [2] A palavra grega traduzida cumprir no versículo 17 também é traduzida no Novo Testamento como completar, terminar, saciar, e levar adiante completamente. Era exatamente isso que Jesus estava pronto a fazer, começando apenas quatro frases depois.

Não, Jesus não veio abolir e sim cumprir a Lei e os Profetas, isso é “completá-los inteiramente.” Quando ensino essa porção do Sermão do Monte, normalmente mostro a todos um copo de água pela metade como exemplo da revelação que Deus deu na Lei e nos Profetas. Jesus não veio abolir a Lei e os Profetas (enquanto digo isso, finjo que vou jogar o meio copo de água fora); pelo contrário, ele veio completar a Lei e os Profetas (nesse ponto eu pego uma garrafa de água e encho o copo até a borda). Isso ajuda as pessoas a entenderem o que Jesus quis dizer.

A Importância de Manter a Lei (The Importance of Keeping the Law)

Quanto à obediência aos mandamentos encontrados na Lei e nos Profetas, Jesus não poderia ter mostrado Seu propósito de forma mais rigorosa. Ele esperava que Seus discípulos lhes obedecessem. Eles eram tão importantes como sempre. Aliás, a forma como eles respeitassem os mandamentos determinaria seu status no céu: “Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar esses mandamentos, será chamado grande no Reino dos céus” (5:19).

Então chegamos ao versículo 20: “Pois eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus.”

Note que essa não é uma ideia nova, mas uma frase conclusiva que está conectada aos versículos anteriores pela conjunção pois. Qual é a importância de guardarmos os mandamentos? Devemos cumpri-los, melhor ainda que os escribas e fariseus para entrarmos no reino dos céus. Vemos novamente que Jesus estava mantendo Seu tema — Somente os santos herdarão o Reino de Deus.

A fim de não contradizer a Cristo, o discipulador nunca garantirá a salvação de alguém que não seja mais santo que os escribas e fariseus.

Que Tipo de Santidade Jesus estava Falando? (Of What Kind of Righteousness Was Jesus Speaking?)

Quando Jesus disse que nossa santidade deve ser maior que a dos escribas e fariseus, será que não estava se referindo à posição legal de santidade que seria imposta a nós como um dom grátis? Não, Ele não estava; e por um bom motivo. Primeiro, o contexto não se encaixa nessa interpretação. Antes e depois dessa instrução (e durante todo o Sermão do Monte), Jesus estava falando sobre manter os mandamentos, isto é, viver corretamente. A interpretação mais natural de Suas palavras é que precisamos viver mais corretamente que os escribas e fariseus. E que absurdo seria pensar que Jesus estava colocando os fariseus em um nível que Seus próprios discípulos não estavam. Que besteira pensar que Jesus condenaria os escribas e fariseus por cometer pecados que não condenariam também Seus discípulos simplesmente porque eles haviam feito a “oração da salvação.” [3]

Nosso problema é que não queremos aceitar o significado óbvio do versículo, porque parece legalismo. Mas nosso verdadeiro problema é que não entendemos a correlação inseparável entre santidade imposta e santidade prática. Mas o apóstolo João entendia. Ele escreveu: “Filhinhos, não deixem que ninguém os engane. Aquele que pratica a justiça é justo” (1 Jo. 3:7). Também não entendemos a correlação entre o renascimento e a santidade prática como João também entendia: “Se vocês sabem que ele é justo, saibam também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele” (1 Jo. 2:29).

Jesus poderia ter adicionado a Sua frase de 5:20: “E se vocês se arrependerem, renascerem verdadeiramente e receberem Meu dom gratuito de santidade através da fé viva, a santidade prática de vocês com certeza excederá a dos escribas e fariseus enquanto cooperam com Meu Espírito que habita nos corações de vocês.”

Como ser mais Santo que os Escribas e Fariseus (How to be Holier than the Scribes and Pharisees)

A pergunta que naturalmente viria à mente em resposta à frase de Jesus em 5:20 é essa: Quanto exatamente os escribas e fariseus eram santos? A resposta é: Não muito.

Em outro momento, Jesus se referiu a eles como “sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundicie” (Mt. 23:27). Isto é, pareciam santos por fora, mas eram corruptos por dentro. Eles faziam um bom trabalho mantendo as palavras da Lei, mas ignoravam o espírito dela, torcendo ou até alterando por várias vezes os mandamentos de Deus para se justificarem.

Essa falha essencial dos escribas e fariseus era, de fato, o foco principal de Jesus na maioria do restante do Sermão do Monte. Percebemos que Ele citou vários mandamentos conhecidos, e após cada citação revelava a diferença entre manter apenas as palavras e o espírito de cada lei. Fazendo isso, Ele expôs repetidamente os falsos ensinos e a hipocrisia dos escribas e fariseus, e revelou Suas verdadeiras expectativas para Seus discípulos.

Jesus começou cada exemplo com as palavras: “Vocês ouviram o que foi dito.” Ele estava provavelmente falando a pessoas que nunca haviam lido, somente ouvido os rolos do Velho Testamento sendo lidos pelos escribas e fariseus nas sinagogas. Pode ser dito que Sua audiência havia recebido falsos ensinamentos a vida inteira, já que ouviam os comentários torcidos dos escribas e fariseus a respeito da Palavra de Deus e observavam seus estilos de vida não sagrados.

Amem uns aos Outros, Diferentemente dos Escribas e Fariseus (Love Each Other, Unlike the Scribes and Pharisees)

Usando o sexto mandamento como Seu primeiro ponto de referência, Jesus começou a ensinar aos Seus discípulos as expectativas de Deus para eles, ao mesmo tempo em que revelava a hipocrisia dos escribas e fariseus.

Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: “Não matarás,” e “quem matar estará sujeito a julgamento.” Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: “Racá,” será levado ao tribunal. E qualquer que disser: “Louco!” corre o risco de ir para o fogo do inferno (Mt. 5:21-22).

Primeiro, note que Jesus estava advertindo sobre algo que poderia resultar em alguém ir para o inferno. Esse era seu tema principal — Somente os santos herdarão o Reino de Deus.

Os escribas e fariseus pregavam contra assassinato, citando o sexto mandamento; aparentemente avisando que assassinato poderia levar alguém ao tribunal.

Contudo, Jesus queria que Seus discípulos soubessem o que os escribas e fariseus pareciam não saber — havia infrações “menores” que poderiam levar pessoas ao tribunal, aparentemente o tribunal de Deus. Amar uns aos outros (o segundo maior mandamento) é tão importante que, quando ficamos com raiva de um irmão devemos nos considerar culpados no tribunal de Deus. Se verbalizarmos nossa raiva falando de forma cruel com ele, nossa infração será ainda mais séria, e devemos nos considerar culpados no tribunal supremo de Deus. E se formos além disso, emitindo ódio por um irmão com calúnia, somos culpados o suficiente diante de Deus para sermos lançados no inferno! Isso é sério! [4]

Nosso relacionamento com Deus é medido por nosso relacionamento com nossos irmãos. Se odiamos um irmão, isso revela que não temos a vida eterna. João escreveu:

Quem odeia seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem a vida eterna em si mesmo (1 Jo. 3:15).

Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus”, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê (1 Jo. 4:20).

Realmente, é muito importante que amemos uns aos outros e, como Jesus mandou, trabalhemos pela reconciliação quando formos ofendidos pelos outros (veja Mt. 18:15-17).

Jesus continuou:

Portanto, se vocês estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta (Mt. 5:23-24).

Isso mostra que se nosso relacionamento com nosso irmão não estiver certo, então nosso relacionamento com Deus não está certo. Os fariseus eram culpados de aumentar o que era de menor importância e minimizar o que era de maior importância. “Vocês coam um mosquito e engolem um camelo,” como Jesus disse (Mt. 23:23-24). Eles enfatizavam a importância do dízimo e das ofertas, mas negligenciavam o que era muito mais importante, o segundo maior mandamento: amar uns aos outros. Que hipocrisia, levar uma oferta para mostrar supostamente o amor da pessoa por Deus, enquanto viola Seu segundo mandamento mais importante! Era sobre isso que Jesus estava advertindo.

Ainda no assunto da rigidez da corte de Deus, Jesus continuou:

Entre em acordo depressa com seu adversário que pretende levá-lo ao tribunal. Faça isso enquanto ainda estiver com ele a caminho, pois, caso contrário, ele poderá entregá-lo ao juiz, e o juiz ao guarda, e você poderá ser jogado na prisão. Eu lhe garanto que você não sairá de lá enquanto não pagar o último centavo (Mt. 5:25-26).

É melhor ficar longe do tribunal de Deus de uma vez por todas vivendo em paz com nossos irmãos o quanto for possível. Se um irmão ou irmã estiver com raiva de nós e nos recusarmos a tentar a reconciliação “a caminho” do tribunal, ou seja, em nossa jornada pela vida para ficarmos diante de Deus, com certeza poderemos nos arrepender. O que Jesus disse aqui é muito parecido com Sua advertência contra qualquer imitação do servo inflexível em Mateus 18:23-25. O servo que foi perdoado, mas se recusou a perdoar teve sua dívida reintegrada, e foi entregue aos torturadores “até que pagasse tudo o que devia” (Mt. 18:34). Aqui, Jesus também está avisando sobre as horríveis consequências eternas de não amarmos nosso irmão como Deus espera.

Sejam Sexualmente Puros, não como os Escribas e Fariseus (Be Sexually Pure, Unlike the Scribes and Pharisees)

O sétimo mandamento foi o assunto do segundo exemplo de Jesus de como os escribas e fariseus obedeciam as palavras enquanto negligenciavam o espírito da Lei. Jesus esperava que Seus discípulos fossem mais puros sexualmente que os escribas e fariseus.

Vocês ouviram o que foi dito: “Não adulterarás.” Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno (Mt. 5:27-30).

Note novamente que Jesus estava mantendo Seu tema principal — Somente os santos herdarão o Reino de Deus. Ele avisou sobre o inferno e o que devemos fazer para ficarmos fora dele.

Os escribas e fariseus não podiam ignorar o sétimo mandamento; então, eles obedeciam-no por fora, permanecendo fiéis as suas esposas. Mesmo assim, eles fantasiavam fazer amor com outras mulheres. Eles despiam mentalmente as mulheres que viam no mercado. Eram adúlteros de coração e, portanto, estavam transgredindo o espírito do sétimo mandamento. Quantos na igreja não são diferentes?

É claro que Deus queria que todos fossem completamente puros sexualmente. Obviamente, se é errado ter um relacionamento sexual com a mulher do seu próximo, também é errado ficar pensando em um relacionamento sexual com ela. Jesus não estava adicionando uma lei mais restrita ao que já era requerido pela Lei de Moisés. O décimo mandamento continha uma clara proibição contra a cobiça: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Ex. 20:17).

Será que havia alguns culpados na audiência de Jesus? Provavelmente sim. O que eles deveriam fazer? Deveriam se arrepender imediatamente, como Jesus instruiu. Não importa o quanto custe, aqueles que cobiçavam deveriam parar, pois aqueles que cobiçam vão para o inferno.

É claro que nenhuma pessoa lógica acha que Jesus quis dizer que as pessoas que cobiçam devem literalmente arrancar um olho ou cortar uma mão. Alguém que cobiça e arranca um olho se torna simplesmente um cobiçador de um olho! Jesus estava enfatizando dramática e solenemente a importância de obedecer ao espírito do sétimo mandamento. Sujeite-se a isso eternamente.

Seguindo o exemplo de Cristo, o discipulador irá alertar seus discípulos a “cortar” qualquer coisa que os esteja fazendo tropeçar. Se for uma TV a cabo, o cabo precisa ser desconectado. Se for uma TV comum, ela precisa ser removida. Se for a assinatura de uma revista, ela deve ser cancelada. Se for a internet, ela deve ser desconectada. Se for uma janela aberta, as cortinas devem ser fechadas. Não vale a pena passar a eternidade no inferno por causa de nenhuma dessas coisas, e porque o discipulador realmente ama o rebanho dEle, ele lhes dirá a verdade e lhes avisará, assim como Jesus o fez.

Outro Modo de Cometer Adultério (Another Way to Commit Adultery)

O próximo exemplo de Jesus tem muito a ver com o que acabamos de analisar, e é provavelmente por isso que é mencionado em seguida. Deve ser considerado uma continuação ao invés de um novo assunto. O assunto é: “Outra coisa que os fariseus fazem que é equivalente ao adultério.”

Foi dito: “Aquele que se divorciar de sua mulher deverá dar-lhe certidão de divórcio.” Mas se eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera, e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério (Mt. 5:31-32).

Aqui está um exemplo de como os escribas e fariseus torciam a lei de Deus para acomodarem-na a seus estilos de vida pecaminosos.

Vamos criar um fariseu imaginário nos dias de Jesus. Atravessando a rua de sua casa, mora uma mulher atraente que ele tem cobiçado. Ele a paquera todos os dias que a vê. Ela parece atraída por ele, e seu desejo por ela cresce. Ele adoraria vê-la despida, e a imagina regularmente em suas fantasias sexuais. Ah, se ele pudesse tê-la!

Mas ele tem um problema. É casado e sua religião proíbe o adultério. Ele não quer quebrar o sétimo mandamento (mesmo já o tendo quebrado todas as vezes em que cobiçou). O que pode fazer?

uma solução! Se fosse divorciado de sua esposa atual, poderia se casar com a amante de sua mente! Mas a lei permite o divórcio? Um amigo fariseu diz, Sim! Há um versículo para isso! Deuteronômio 24:1 fala sobre dar o certificado de divórcio a sua esposa quando se divorciar dela. O divórcio deve estar dentro de certas circunstâncias para estar dentro da lei! Mas quais são essas circunstâncias? Ele lê cauletosamente o que Deus diz:

Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova, dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora (Dt. 24:1).

Aháh! Ele pode se divorciar de sua mulher se encontrar alguma indecência nela! E ele encontra! Ela não é tão atraente como a mulher do outro lado da rua! (Esse não é um exemplo forçado. De acordo com o Rabbi Hillel, que nos tempos de Jesus tinha o ensino mais popular a respeito do divórcio, um homem poderia se divorciar de sua mulher dentro da lei se encontrasse alguém que fosse mais atraente, pois isso faria sua esposa atual parecer “indecente” aos seus olhos. Rabbi Hillel também ensinou que um homem poderia se divorciar de sua esposa se ela pusesse muito sal em sua comida ou falasse com outro homem ou não lhe desse um filho).

Então, nosso fariseu cobiçoso e dentro da lei se divorcia de sua mulher dando-lhe o certificado de divórcio rapidamente e casa-se com a mulher de suas fantasias. E tudo sem um pouco de culpa, pois a Lei de Deus foi obedecida!

Um Ponto de Vista Diferente (A Different View)

É claro que Deus vê as coisas de forma diferente. Ele nunca estipulou o que realmente era o “algo que ele reprova” mencionado em Deuteronômio 24:1, ou mesmo se isso era um motivo legítimo para o divórcio. Aliás, essa passagem não diz quando o divórcio está dentro da lei ou não. Ela só contém uma proibição contra a mulher divorciada duas vezes ou divorciada uma vez e viúva recasar com seu primeiro marido. Dizer que há algum tipo de “indecência” aos olhos de Deus que faça o divórcio legítimo baseando-se nessa passagem é forçar o significado no texto.

De qualquer modo, para Deus, o homem imaginário que acabei de descrever não é diferente de qualquer adúltero. Ele quebrou o sétimo mandamento. Na verdade, ele é até mais culpado que o adúltero, pois é culpado de “adultério duplo.” Como isso pode acontecer? Primeiro, ele mesmo cometeu adultério. Jesus disse mais adiante: “Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo adultério” (Mt. 19:9).

Segundo, porque sua esposa divorciada precisa procurar outro marido para sobreviver, aos olhos de Deus o fariseu fez o equivalente a forçar sua esposa a ter sexo com outro homem. Portanto, ele contrai a culpa por seu “adultério”. [5] Jesus disse: “Mas eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, faz que ela se torne adúltera” (Mt. 5:32, ênfase adicionada).

Jesus poderia até estar acusando nosso fariseu cobiçoso de “adultério triplo” se Sua frase: “e quem se casar com a mulher divorciada estará cometendo adultério” (Mt. 5:32), significar que Deus culpa o fariseu pelo “adultério” do novo marido de sua ex-esposa. [6]

Esse era um tema popular nos dias de Jesus, como lemos em outro lugar onde os fariseus O questionaram: “É permitido ao homem se divorciar de sua mulher por qualquer motivo?” (Mt. 19:3). Sua pergunta revela seus corações. Obviamente, pelo menos alguns deles queriam acreditar que o divórcio estava dentro da lei seja qual fosse o motivo.

Também preciso dizer que vergonha é quando cristãos pegam essas mesmas passagens sobre o divórcio, as interpretam mal e colocam correntes pesadas nos filhos de Deus. Jesus não estava falando sobre o cristão que se divorciou antes de ser salvo, e que quando encontra uma maravilhosa esposa em potencial que também ama a Cristo, se casa com ela. Isso não é equivalente a adultério. Se for isso que Jesus quis dizer, teremos que mudar o evangelho, pois ele não mais oferece perdão por todos os pecados dos pecadores. De agora em diante teremos que pregar: “Jesus morreu por você, e se você se arrepender e acreditar nEle, terá todos seus pecados perdoados. Contudo, se você foi divorciado nunca se recase, pois estará vivendo em adultério, e a Bíblia diz que adúlteros irão para o inferno. Também, se você foi divorciado e recasou, antes de vir para Cristo precisa cometer mais um pecado e se divorciar de sua esposa atual. Caso contrário continuará vivendo em adultério e adúlteros não são salvos.” [7] É esse o evangelho? [8]

Sejam Honestos, Diferentemente dos Escribas e Fariseus (Be Honest, Unlike the Scribes and Pharisees)

O terceiro exemplo de Jesus sobre má conduta e uso incorreto das Escrituras pelos escribas e fariseus está relacionado ao mandamento de Deus sobre dizer a verdade. Aprendemos em Mateus 23:16-22 que eles não se sentiam obrigados a manter seus votos se jurassem pelo templo, pelo altar ou pelo céu. Contudo, se jurassem pelo ouro do templo, pela oferta no altar ou por Deus no céu, eles eram obrigados a manter seus votos! Um adulto era equivalente a uma criança que pensa estar isenta de dizer a verdade desde que seus dedos estejam cruzados atrás de suas costas. Jesus espera que Seus discípulos digam a verdade.

Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: “Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor”. Mas eu lhe digo: Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. E não jure pela sua cabeça, pois você não pode tornar branco ou preto nem um fio de cabelo. Seja o seu “sim”, “sim”, e o seu “não”, “não”; o que passar disso vem do Maligno (Mt. 5:33-37).

O mandamento original de Deus a respeito de juramentos nada dizia sobre fazer votos jurando por outras coisas. Deus queria que Seu povo falasse a verdade o tempo todo, então nunca haveria necessidade de jurar.

Não há nada de errado em fazer um voto, pois isso nada mais é que uma promessa. Na verdade, votos para obedecer a Deus são muito bons. A salvação começa com o voto de seguir a Jesus. Mas quando as pessoas precisam jurar por algo para convencer outros a acreditarem nelas, isso mostra claramente que elas normalmente mentem. Pessoas que sempre dizem a verdade nunca precisam jurar. Ainda assim, muitas igrejas, hoje, estão cheias de mentirosos e os ministros são, muitas vezes, os líderes em fraudes e trapaças.

O discipulador deixa um exemplo de honestidade e ensina seus discípulos a sempre dizerem a verdade. Ele sabe que João nos advertiu dizendo que todos os mentirosos serão lançados no inferno dentro do lago de fogo que arde com enxofre (Ap. 21:8).

Não se Vingue, como os Escribas e Fariseus (Don’t Take Revenge, as do the Scribes and Pharisees)

O próximo item na lista de desgosto de Jesus era a perversão farisaica de um versículo bem conhecido do Velho Testamento. Já consideramos essa passagem no capítulo sobre interpretação bíblica.

Vocês ouviram o que foi dito: “Olho por olho e dente por dente”. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado (Mt. 5:38-42).

A Lei de Moisés declara que quando uma pessoa é julgada culpada no tribunal por prejudicar outra pessoa, sua punição deve ser equivalente ao mal que causou. Se ele arrancasse o dente de alguém, em lealdade e justiça, seu dente deveria ser arrancado. Esse mandamento foi dado para garantir que a justiça por ofensas maiores fosse feita no tribunal. Deus instituiu um sistema de cortes e juízes debaixo da Lei para dissuadir o crime, garantir a justiça, e frear a vingança. E mandou que os juízes fossem imparciais e justos em seus julgamentos. Eles deveriam exigir “olho por olho e dente por dente.” Mas essa frase e mandamento são sempre encontrados em passagens sobre a justiça em tribunais.

Contudo, mais uma vez, os escribas e fariseus torceram o mandamento, tornando-o um mandamento que fazia a vingança pessoal uma obrigação santa. Aparentemente, eles adotaram uma política de “tolerância zero”, buscando vingança pelas menores ofensas.

Mas Deus sempre esperou mais de Seu povo. A vingança é algo que Ele proibiu estritamente (veja Dt. 32:35). O Velho Testamento ensinou que o povo de Deus deve mostrar bondade aos seus inimigos (veja Ex. 23:4-5; Pv. 25:21-22). Jesus confirmou essa verdade dizendo aos Seus discípulos para oferecerem a outra face e andar mais uma milha quando se tratasse de pessoas más. Quando somos injustiçados, Deus quer que sejamos misericordiosos, pagando o mal com o bem.

Mas Jesus espera que permitamos que pessoas tirem muita vantagem de nós, deixando-os arruinar nossas vidas se desejarem? É errado levar um ímpio a um tribunal buscando justiça por um ato ilegal cometido contra nós? Não. Jesus não estava falando sobre obter justiça por ofensas maiores em cortes, mas sobre vingança pessoal por pequenas infrações. Note que Jesus não disse que devemos oferecer nosso pescoço para ser estrangulado a alguém que acabou de nos esfaquear pelas costas. Ele não disse que devemos dar a alguém nossa casa quando pedem nosso carro. Jesus estava simplesmente dizendo para mostrarmos misericórdia e tolerância em alto nível quando encontrarmos diariamente pequenas ofensas e desafios normais ao lidar com pessoas egoístas. Ele quer que sejamos mais bondosos do que elas esperam que sejamos. Os escribas e fariseus nem chegaram perto desse padrão.

Por que tantos cristãos professos são ofendidos tão facilmente? Por que se angustiam tão rapidamente por ofensas que são dez vezes menores que receber um tapa no rosto? Essas pessoas são salvas? O discipulador deixa um exemplo oferecendo a outra face e ensina seus discípulos a fazerem o mesmo.

Não Odeiem Seus Inimigos, como os Escribas e Fariseus (Don’t Hate Your Enemies, as do the Scribes and Pharisees)

Finalmente, Jesus listou mais um mandamento dado por Deus que os escribas e fariseus alteraram para acomodar seus corações cheios de ódio.

Vocês ouviram o que foi dito: “Ame seu próximo e odeie seu inimigo”. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre os maus e bons e derrama chuva sobre os justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa vocês receberão? Até os publicanos fazem isso! E se saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês (Mt. 5:43-48).

No Velho Testamento, Deus disse: “ame cada um o seu próximo assim como a si mesmo” (Lv. 19:18), mas os escribas e fariseus definiram convenientemente que o próximo era somente as pessoas que os amavam. Todos os outros eram inimigos, e já que Deus só disse para amarmos nosso próximo, deve ser apropriado odiar nossos inimigos. Contudo, de acordo com Jesus isso não chega perto do que Deus quis dizer.

Mais tarde Jesus ensinaria na história do Bom Samaritano que devemos considerar todas as pessoas como nosso próximo. [9] Deus quer que amemos a todos, incluindo nossos inimigos. Esse é o padrão de Deus para Seus filhos, um padrão pelo qual Ele mesmo vive. Ele manda sol e chuva para a plantação tanto das pessoas boas, como das más. Devemos seguir Seu exemplo, mostrando bondade às pessoas que não merecem. Quando fazemos isso mostramos que somos “filhos de [nosso] Pai que está nos céus” (Mt. 5:45). Pessoas autenticamente renascidas agem como seu Pai.

O amor que Deus espera que mostremos a nossos inimigos não é uma emoção ou aprovação de sua maldade. Deus não espera que cultivemos sentimentos por aqueles que se opõem a nós. Ele não está nos mandando falar coisas que não são verdade, que nossos inimigos são pessoas maravilhosas. Mas Ele espera que sejamos misericordiosos com eles e trabalhemos para esse fim, pelo menos cumprimentando-os e orando por eles.

Note que mais uma vez Jesus reforçou Seu tema principal — somente os santos herdarão o Reino de Deus. Ele disse a Seus discípulos que se amassem somente aqueles que os amavam, não eram melhores que os gentios pagãos e coletores de impostos, dois tipos de pessoas que todos judeus teriam concordado que iriam para o inferno. Era outra maneira de dizer que pessoas que amam somente aqueles que os amam vão para o inferno.

Faça o Bem pelos Motivos Certos, ao Contrário dos Escribas e Fariseus (Do Good for the Right Motives, Unlike the Scribes and Pharisees)

Jesus não só espera que Seus seguidores sejam santos, mas que sejam santos pelos motivos corretos. É bem possível obedecer aos mandamentos de Jesus e ainda assim não agradá-lo, se a obediência se originar de um motivo errado. Jesus condenou os escribas e fariseus porque faziam todas as boas obras para simplesmente impressionar os outros (veja Mt. 23:5). Ele espera que Seus discípulos sejam diferentes.

Tenham o cuidado de não praticar suas “obras de justiça” diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial. Portanto, quando você der esmola, não anuncie isso com trombetas, como fazem os hipócritas das sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. Eu lhes garanto que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo sua mão direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará (Mt. 6:1-4).

Jesus esperava que Seus seguidores dessem esmolas aos pobres. A Lei mandava (veja Ex. 23:11; Lv. 19:10; 23:22; 25:35; Dt. 15:7-11), mas os escribas e fariseus tocavam trombetas ostensivamente para chamar os pobres às suas generosas distribuições públicas. Mesmo assim, quantos cristãos professos nada dão aos pobres? Eles nem chegaram ao ponto de precisar examinar seus motivos de dar esmolas. Se egocentrísmo motivou os escribas e fariseus a anunciar publicamente suas doações, o que motiva cristãos professos a ignorar o apuro dos pobres? Com respeito a isso, a santidade deles supera a dos escribas e fariseus?

Como Paulo repetiria em 1 Coríntios 3:10-15, podemos fazer coisas boas pelos motivos errados. Se nossos motivos não forem puros, nossas boas obras não serão recompensadas. Paulo disse que é possível até pregar o evangelho pelos motivos errados (veja Fp. 1:15-17). Como Jesus aconselhou, um bom modo de termos certeza que estamos dando esmolas por motivos puros é dar secretamente, sem deixar nossa mão esquerda saber o que a direita está fazendo. O discipulador ensina seus discípulos a dar aos pobres (provendo que eles tenham recursos), e pratica em silêncio o que prega.

Oração e Jejum pelos Motivos Certos (Prayer and Fasting for the Right Reasons)

Jesus também esperava que Seus seguidores orassem e jejuassem, e que fizessem tais coisas, não para serem vistos por outras pessoas, mas para agradarem a Seu Pai. Caso contrário, elas não seriam diferentes dos escribas e fariseus que iam em direção ao inferno, que oravam e jejuavam para receber o louvor do povo, uma recompensa bem temporária. Jesus advertiu Seus seguidores:

E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.

Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará (Mt. 6:5-6, 16-18).

Quantos cristãos professos nunca tiveram uma vida de oração e nunca jejuaram? [10] Com respeito a isso, como a santidade deles se compara à dos escribas e fariseus, que praticam ambas (apesar de pelos motivos errados)?

Uma Digressão à Respeito da Oração e Perdão (A Digression Regarding Prayer and Forgiveness)

Enquanto estamos no assunto da oração, Jesus deu algumas instruções mais específicas a Seus discípulos à respeito de como deveriam orar. Ele quer que oremos de tal forma que não insultemos Seu Pai, negando, através das orações, o que Ele tem nos revelado sobre Si mesmo. Por exemplo, já que Deus sabe do que precisamos antes de pedirmos (Ele sabe tudo), não há razão para usarmos repetições insignificantes quando oramos:

E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem (Mt. 6:7-8).

Na verdade, nossas orações revelam o quanto conhecemos a Deus. Aqueles que O conhecem como é revelado em Sua Palavra oram para que a Sua vontade seja feita e que Ele seja glorificado. O maior desejo de seus corações é ser santo, agradando a Ele completamente. Isso é refletido no modelo de oração de Jesus, o que chamamos de Oração do Pai Nosso, que é o próximo ponto incluido nas intruções de Jesus aos Seus discípulos. Ela revela o que Ele espera de nossas prioridades e devoção: [11]

Vocês orem assim: Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia (Mt. 6:9-11).

A preocupação principal dos discípulos de Jesus deve ser que o nome de Deus seja glorificado, respeitado, reverenciado e tratado como santo.

É claro que aqueles que oram para que o nome de Deus seja glorificado devem ser santos, glorificando o nome de Deus. Caso contrário, seria hipocrisia. Portanto, essa oração reflete o nosso desejo de que outros se submetam a Deus, assim como nós temos feito.

O segundo pedido da oração modelo é similar: “Venha o teu Reino.” A ideia de um reino implica que há um rei reinando em seu reino. O discípulo cristão deseja ver seu Rei, aquele que reina sobre sua vida, reinar sobre toda a terra. Que todos os joelhos se dobrem ao Rei Jesus em obediência e fé!

O terceiro pedido repete o primeiro e o segundo: “seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Novamente, como podemos fazer essa oração sinceramente sem nos submetermos à vontade de Deus em nossas vidas? O verdadeiro discípulo deseja que a vontade de Deus seja feita na terra assim como no céu — perfeita e completa.

Que o nome de Deus seja glorificado, que Sua vontade seja feita e que o Reino dEle venha devem ser mais importantes a nós que ter o alimento que sustenta, nosso “pão de cada dia.” Esse quarto pedido foi colocado em quarto por um motivo. A oração em si mesma reflete uma ordem correta de nossas prioridades, e nenhum sinal de orgulho é encontrado aqui. Os discípulos de Cristo servem a Deus e não às riquezas. O foco deles não é acumular tesouros terrenos.

Deixe-me adicionar que esse quarto pedido parece indicar que esse modelo de oração deve ser feito diariamente, no início de cada dia.

A Oração Modelo Continua (The Model Prayer Continues)

Os discípulos de Cristo pecam? Aparentemente, às vezes sim, já que Jesus os ensinou a pedir perdão por seus pecados.

Perdoa nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas (Mt. 6:12-15).

Os discípulos de Jesus percebem que sua desobediência ofende a Deus, e quando pecam, se sentem envergonhados. Eles querem que a mancha seja removida, e felizmente seu Pai celestial gracioso está disposto a perdoá-los. Mas eles devem pedir perdão, o quinto pedido encontrado no Pai Nosso.

Contudo, o perdão deles é condicional a eles perdoarem aos outros. Porque foram perdoados de tantas coisas, têm a obrigação de perdoar a todos os que lhes pedirem perdão (e amar e trabalhar pela reconciliação com aqueles que não pedirem). Se eles se recusarem a perdoar, Deus não os perdoará.

O sexto e último pedido, sem dúvida também reflete o desejo do verdadeiro discípulo de ser santo: “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal [ou do ‘maligno’].” O verdadeiro discípulo deseja tanto a santidade que pede a Deus para não deixá-lo entrar em uma situação em que possa ser tentado, para que não caia. Mais adiante, ele pede que Deus o livre de qualquer mal que possa capturá-lo. Com certeza essa é uma ótima oração para ser feita no início de cada dia, antes de irmos a um mundo de maldades e tentações. E com certeza podemos esperar que Deus responda a essa oração que nos mandou fazer.

Aqueles que conhecem a Deus entendem porque todos os seis pedidos dessa oração são tão apropriados. A razão é revelada na última linha: “Porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre” (Mt. 6:13). Deus é um grande Rei que reina sobre seu Reino, no qual somos Seus servos. Ele é todo-poderoso e ninguém deve ousar resistir a Sua vontade. Toda a glória pertence a Ele para sempre. Ele é digno de ser obedecido.

Qual é o tema dominante na oração do Pai Nosso? Santidade. Os discípulos de Cristo desejam que o nome de Deus seja glorificado, que Seu Reino seja estabelecido na terra e que Sua vontade seja feita perfeitamente em todos os lugares. Isso é até mais importante para eles que o pão de cada dia. Eles querem ser agradáveis aos olhos de Deus e quando fracassam, querem o perdão dEle. Como pessoas perdoadas, estendem perdão aos outros. Desejam ser perfeitamente santos, a ponto de desejarem evitar a tentação, porque a tentação aumenta suas chances de pecar.

O Discípulo e Suas Posses Materiais (The Disciple and His Material Possessions)

O próximo tópico do Sermão do Monte é potencialmente muito perturbador para crentes professos que têm como motivação principal da vida a acumulação sempre maior de bens materiais:

Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração. Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de vocês são trevas, que tremendas trevas são! Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt. 6:19-24).

Jesus mandou que não acumulássemos tesouros na terra. Então, o que constitui um “tesouro”? Tesouros, no sentido literal, são guardados em baús, escondidos em algum lugar e nunca usados para coisas práticas. Jesus os definiu como coisas que atraem traças, ferrugens e ladrões. Outro modo de dizer isso seria: “não essenciais.” Traças comem o que está no fundo de nossos guarda-roupas, não o que usamos com frequencia. A ferrugem destrói as coisas que quase não usamos. Em países mais desenvolvidos, na maioria das vezes, os ladrões roubam coisas que as pessoas não precisam verdadeiramente: quadros, joias, objetos caros, e o que pode ser penhorado.

Um verdadeiro discípulo precisa “renunciar a tudo o que possui” (veja Lc. 14:33). Ele é somente um mordomo do dinheiro de Deus; por isso, cada decisão de gastar dinheiro é uma decisão espiritual. O que fazemos com nosso dinheiro reflete quem está controlando nossas vidas. Quando acumulamos “tesouros,” amontoando dinheiro e comprando o que não é essencial, revelamos que Jesus não está no controle pois se estivesse, estaríamos fazendo melhor uso do dinheiro que confiou a nós.

O que são essas coisas melhores? Jesus nos mandou acumular tesouros no céu. Como isso é possível? Ele nos diz no evangelho de Lucas: “Vendam o que têm e dêem esmolas. Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe, onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói” (Lc. 12:33).

Quando damos dinheiro para ajudar os pobres e espalhamos o evangelho, estamos acumulando tesouros no céu. Jesus está nos dizendo para pegar o que, com certeza, irá deteriorar a ponto de ficar sem valor algum e investir em algo que nunca deteriorará. É isso que o discipulador faz, e consequentemente, ensina seus discípulos a fazerem.

O Olho Mau (The Bad Eye)

O que Jesus quis dizer quando falou sobre as pessoas com olhos bons e corpos cheios de luz, e pessoas com olhos maus e corpos cheios de trevas? Suas palavras devem ter alguma coisa a ver com dinheiro e bens materiais, porque era sobre isso que Ele estava falando antes e depois.

A palavra grega traduzida “mau” em 6:23 é a mesma palavra traduzida em Mateus 20:15 como “inveja.” Lá, lemos sobre um senhor que diz a seu trabalhador: “O seu olho está com inveja porque eu sou generoso?*” Obviamente um olho não pode ficar literalmente com inveja. Portanto, a expressão “um olho invejoso (ou mau)” fala sobre alguém com desejos ávidos. Isso nos ajuda a entender melhor o que Cristo quis dizer em Mateus 6:22-23.

A pessoa com o olho bom simboliza alguém puro de coração, que permite que a luz da verdade entre nela. Portanto, ele serve a Deus e acumula tesouros, não na terra, mas no céu onde está o seu coração. A pessoa com o olho mau não permite que a luz da verdade entre, pois acha que já tem a verdade, e portanto, está cheio de trevas, acreditando em mentiras. Ele acumula tesouros na terra, onde está seu coração. Ele acredita que o propósito de sua vida seja a gratificação própria. O dinheiro é seu deus. Ele não está destinado ao céu.

O que significa ter o dinheiro como seu deus? Significa que ele tem um lugar em sua vida que somente Deus deveria ter por direito; ele dirige sua vida; ele consome sua energia, pensamentos e tempo; é a fonte principal de sua alegria; você o ama. [12] É por isso que Paulo igualou a ganância à idolatria, dizendo que nenhum ganancioso herdará o Reino de Deus (veja Ef. 5:5; Cl. 3:5-6).

Ambos, Deus e o dinheiro querem ser mestres de nossas vidas, e Jesus disse que não podemos servir aos dois. Novamente, vemos que Jesus ficou com Seu tema principal — Somente os santos herdarão o Reino de Deus. Ele deixou bem claro que as pessoas que estão cheias de trevas, que têm o dinheiro como deus, têm o coração na terra e acumulam tesouros terrenos, não estão na estrada estreita que leva à vida.

Os Pobres Invejosos (The Covetous Poor)

Preocupação com bens materiais não são erradas somente quando eles forem luxuosos. Uma pessoa pode estar se preocupando de forma errada com bens materiais até mesmo quando essas necessidades são básicas. Jesus continuou:

Portanto eu lhes digo: Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante que a comida, e o corpo mais importante que a roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que vamos comer?” ou “Que vamos beber?” ou “Que vamos vestir?” Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal (Mt. 6:25-35).

Muitos leitores desse livro podem não se relacionar com pessoas na mesma situação que as que Jesus estava se dirigindo. Quando foi a última vez que você se preocupou em ter comida, bebida ou roupas?

Contudo, as palavras de Jesus têm aplicação a todos nós. Se for errado se preocupar com os essenciais da vida, quanto mais se preocupar com os não essenciais? Jesus espera que Seus discípulos focalizem principalmente em buscar duas coisas: Seu Reino e Sua justiça. Quando um cristão professo não pode dizimar (um mandamento da antiga aliança, devo adicionar), mas pode comprar coisas materiais não essenciais, ele está alcançando o padrão de Cristo de buscar Seu Reino e justiça? A resposta é óbvia.

Não Seja uma Pessoa que Procura por Defeitos (Don’t be a Fault-Finder)

Os próximos mandamentos de Jesus aos Seus seguidores são a respeito dos pecados de julgar e encontrar defeitos:

Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês. Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: “Deixe-me tirar o cisco do seu olho”, quando há uma viga no seu? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão (Mt. 7:1-5).

Mesmo que Jesus não tenha acusado os escribas e fariseus nessa passagem, eles com certeza eram culpados desse pecado sob consideração: eles encontraram defeito nEle!

O que exatamente Jesus quis dizer nessa advertência contra julgar os outros?

Primeiro, vamos levar em consideração o que Ele não quis dizer. Ele não quis dizer que não devemos discernir e determinar essenciais sobre o caráter das pessoas ao observarmos suas ações. Isso é bem claro. Diretamente após essa seção, Jesus instruiu Seus discípulos a não lançarem pérolas aos porcos ou dar aos cães o que é sagrado (veja 7:6). Obviamente, Ele estava falando figurativamente de certos tipos de pessoas, referindo-Se a elas como porcos e cães, pessoas que não apreciam o valor das coisas sagradas, “pérolas,” que lhes estão sendo dadas. Elas são, obviamente, pessoas perdidas; e com certeza, devemos julgar se as pessoas são porcos e cães se formos obedecer a esse mandamento.

Mais adiante, Jesus logo disse aos Seus discípulos como julgar falsos profetas que estão “vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos” (veja 7:15): inspecionando seus frutos. Claramente, para obedecer as instruções de Jeus devemos observar o estilo de vida das pessoas e fazer julgamentos.

Similarmente, Paulo disse aos crentes de Contínto:

Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer (1 Co. 5:11).

Obedecer a essa instrução requer que examinemos os estilos de vida das pessoas e façamos julgamentos sobre elas, nos baseando no que observamos.

O apóstolo João também nos disse que podemos discernir facilmente quem pertence a Deus e quem pertence ao Diabo. Olhando para os estilos de vida das pessoas, é fácil identificar os salvos e os perdidos (veja Jo. 3:10).

Tudo isso sendo verdade, discernir o caráter das pessoas examinando suas ações e julgando se pertencem a Deus ou ao Diabo não é o pecado sobre o qual Cristo nos advertiu. Então, o que Jesus quis dizer?

Jesus estava falando sobre encontrar pequenos defeitos, ciscos, em um irmão (note que Jesus usa a palavra irmão três vezes nessa passagem). Ele não estava nos advertindo sobre julgar pessoas dizendo que não são crentes por observarmos defeitos evidentes (como logo nos instruirá a fazer neste mesmo sermão); pelo contrário, essas são instruções de como cristãos devem tratar cristãos. Eles não devem procurar pequenos defeitos uns nos outros, especialmente quando eles mesmos são cegos aos seus próprios defeitos, que são ainda maiores. Em tais casos eles são hipócritas. Como Jesus disse certa vez a uma multidão de juízes hipócritas: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar a pedra nela” (Jo. 8:7).

O apóstolo Tiago, autor da epístola que é quase paralela ao Sermão do Monte, escreveu similarmente: “Irmãos, não se queixem uns dos outros, para que não sejam julgados. O Juíz já está às portas!” (Tg. 5:9). Talvez isso também nos ajude a entender algo sobre o que Jesus estava nos advertindo — encontrar defeitos em outros companheiros cristãos e, então, espalhar o que encontramos, reclamando uns dos outros. Esse é um dos pecados mais predominantes na Igreja, e aqueles que são culpados se colocam em uma perigosa posição: a de serem julgados. Quando falamos contra um companheiro cristão, mostrando seus defeitos aos outros, estamos violando a lei de ouro, porque não queremos que os outros falem mal de nós em nossa ausência.

Podemos falar amavelmente a um companheiro cristão sobre seu defeito, mas somente quando for possível fazê-lo sem hipocrisia, certos de que não somos culpados (ou mais culpados) do mesmo pecado que é a pessoa que estamos confrontando. Contudo, é uma completa perca de tempo fazer isso com um ímpio, o que parece ser o assunto do próximo versículo. Jesus disse:

Não dêem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão (Mt. 7:6).

Similarmente, um provérbio diz: “Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreenda o sábio, e ele te amará” (Pv. 9:8). Outra vez, Jesus disse aos Seus discípulos para baterem o pó de suas sandálias contra aqueles que rejeitaram o evangelho. Uma vez que os “cães” tenham sido identificados por sua falta de apreciação pela verdade, Deus não quer que Seus servos percam tempo tentando alcançá-los enquanto outros não tiveram a mesma oportunidade.

Encorajamento para Orar (Encouragement to Pray)

Finalmente chegamos à última seção do corpo do sermão de Jesus. Ela começa com algumas promessas de oração encorajadoras:

Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta lhes será aberta. Pois todo o que pede, recebe; o que busca, encontra; e àquele que bate, a pora será aberta. Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem! (Mt. 7:7-11).

“Ahá!” um leitor em algum lugar pode estar dizendo. “Aqui está uma parte do Sermão do Monte que nada tem a ver com santidade.”

Tudo isso depende do que estamos pedindo, onde estamos batendo e o que buscamos em oração. Como aqueles que “têm fome e sede de justiça,” desejamos obedecer a todos os mandamentos que Jesus deu em Seu sermão, e esse desejo é com certeza refletido em nossas orações. Aliás, o modelo de oração que Jesus compartilhou mais cedo nesse mesmo sermão foi a expressão de desejo para que a vontade de Deus seja feita e para que haja santidade em nós.

Mais adiante, (levando em consideração) a versão de Lucas dessas mesmas promessas de oração termina assim: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai que está nos céus dará o Espírito Santo a quem o pedir!” (Lc. 11:13). Jesus não estava pensando em coisas luxuosas quando nos prometeu “boas coisas.” Em Sua mente, o Espírito Santo é uma “boa coisa,” porque Ele nos faz mais santos e nos ajuda a espalhar o evangelho, o que faz com que outras pessoas se tornem santas. E pessoas santas vão para o céu.

Outras boas coisas são aquelas que estão dentro da vontade de Deus. Obviamente, a prioridade de Deus é a Sua vontade e Seu Reino; portanto, devemos esperar que nossas orações por algo que aumentará nossa utilidade no Reino de Deus sempre serão respondidas.

Uma Frase Conclusiva (A Summarizing Statement)

Agora chegamos a um versículo que deveria ser considerado um resumo de praticamente tudo o que Jesus disse até esse ponto. Muitos comentaristas não percebem isso, mas é importante que percebamos. Esse versículo em particular é obviamente um resumo, já que começa com a palavra assim. Portanto, ele está ligado às instruções anteriores, e a pergunta é: Ele resume quanto daquilo que Jesus falou? Vamos ler e pensar:

Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas (Mt. 7:12).

Essa frase não pode ser um resumo somente dos poucos versículos antes dela; a respeito da oração, caso contrário, não faria sentido.

Lembre-se que no início de Seu sermão, Jesus advertiu contra o erro de pensarmos que veio para abolir a Lei ou os Profetas (veja Mt. 5:17). Daquele ponto em Seu sermão até o versículo em que chegamos, Ele falou praticamente nada a não ser confirmar e explicar os mandamentos de Deus no Velho Testamento. Portanto, agora Ele resume tudo o que mandou, tudo o que explicou da Lei e dos Profetas: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” (7:12, ênfase adicionada). A frase “a Lei e os Profetas,” conecta tudo o que Jesus disse entre Mateus 5:17 e 7:12.

Agora, enquanto Jesus começa a conclusão de Seu sermão, Ele volta ao Seu tema principal mais uma vez — Somente os santos herdarão o Reino de Deus:

Entrem pela porta estreita, pois larga é a porta e amplo o caminho que leva à perdição, e são muitos os que entram por ela. Como é estreita a porta, e apertado o caminho que leva à vida! São poucos os que a encontram (Mt. 7:13-14).

Obviamente, a porta e o caminho estreitos que levam à vida, que poucos encontram, são uma simbologias da salvação. A porta e o caminho largos que levam à destruição, o caminho da maioria, simbolizam a perdição. Se tudo o que Jesus disse anteriormente a essa frase significa alguma coisa, se esse sermão tem uma lógica progressiva, se Jesus tinha qualquer perspicácia como comunicador, então a interpretação mais natural seria que o caminho estreito é o caminho seguindo a Jesus, obedecendo aos Seus mandamentos. O caminho largo seria o oposto. Quantos cristãos professos estão no caminho estreito descrito nesse sermão? O discipulador, com certeza, está no caminho estreito, e guia seus discípulos no mesmo caminho.

É incompreensível a alguns cristãos professos que Jesus nada tenha dito sobre fé ou crença nEle nesse sermão em que disse tanto sobre salvação e perdição. Contudo, para aqueles que entendem a correlação inseparável entre crença e comportamento, esse sermão não apresenta problema algum. Pessoas que obedecem a Jesus mostram sua fé pelas obras. Aqueles que não O obedecem, não acreditam que Ele é o Filho de Deus. Nossa salvação não é só uma amostra da graça de Deus para nós, é também a transformação de nossas vidas. Nossa santidade é na verdade Sua santidade.

Como Reconhecer Falsos Líderes Religiosos (How to Recognize False Religious Leaders)

Enquanto Jesus continuava Suas observações finais, avisou Seus discípulos sobre falsos profetas que levam os desatentos ao caminho da destruição. Os falsos profetas são aqueles que não pertencem realmente a Deus, mas se disfarçam como tais.Todos os falsos líderes e profetas entram nessa categoria. Como podem ser identificados?

Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! Nem todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?” Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! (Mt. 7:15-23).

Jesus indicou claramente que falsos profetas são muito enganosos. Eles têm algumas indicações exteriores de serem genuínos; podem dizer que Jesus é seu Senhor, profetizar, expulsar demônios e fazer milagres. Mas as “peles de ovelhas” só escondem os “lobos devoradores.” Eles não são ovelhas de verdade. Como podemos saber se são verdadeiros ou falsos? Examinando seus “frutos” podemos identificar o verdadeiro caráter deles.

Quais são os frutos dos quais Jesus falava? Obviamente, não são frutos de milagres. São frutos de obediência a tudo o que Jesus ensinou. Aqueles que são verdadeiras ovelhas fazem a vontade do Pai. Aqueles que são falsas ovelhas “praticam o mal” (7:23). Então, nossa responsabilidade é comparar suas vidas com o que Jesus ensinou e mandou.

As igrejas hoje estão cheias de falsos profetas, e isso não deve nos surpreender, porque tanto Jesus como Paulo nos avisaram que devemos esperar nada menos que isso quando o fim estiver se aproximando (veja Mt. 24:11; 2 Tm. 4:3-4). Os falsos profetas mais predominantes de nossos dias são aqueles que ensinam que o céu aguarda os não-santos. Eles são responsáveis pela perdição eterna de milhões de pessoas. A respeito delas, John Wesley escreveu:

Como isso é horrível! — quando os embaixadores de Deus se tornam agentes do Diabo! — Quando aqueles que são comissionados a ensinar aos homens o caminho para o céu ensinam, na verdade, o caminho para o inferno….Se perguntarem: “Por que?Quem fez isso?”…Eu respondo: dez mil homens sábios e honrados; até mesmo aqueles, de qualquer denominação, que incentivam o orgulhoso, o leviano, o exaltado, o amante do mundo, o homem de prazeres, o injusto ou mau, o cômodo, o inocente, o imprestável, o homem que não é repreendido a segurança da retidão, para imaginar que ele está no caminho para o céu. Esses são falsos profetas de maior juízo do mundo. Eles são traidores tanto de Deus como do homem….Eles estão constantemente povoando o domínio das trevas; e quando seguem as pobres almas que destruiram, “o inferno sairá das profundezas para encontrá-los em sua chegada!” [13]

Interessantemente, Wesley estava comentando especificamente sobre os falsos profetas sobre quem Jesus falava em Mateus 7:15-23.

Note que Jesus disse claramente, mais uma vez, o contrário do que muitos falsos profetas dizem hoje: que aqueles que não derem bons frutos serão lançados no inferno (veja 7:19). Mais adiante, isso se aplica não só a falsos mestres e profetas, mas a todos. Jesus disse: “Nem todo aquele que me diz:’Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt. 7:21). O que se aplica aos profetas se aplica a todos. Esse é o tema principal de Jesus — Somente os santos herdarão o Reino de Deus. As pessoas que não estão obedecendo a Deus estão destinadas ao inferno.

Note também a conexão que Jesus fez entre o que uma pessoa é por dentro e por fora. “Boas” árvores produzem bons frutos. Árvores “ruins” não podem produzir frutos bons. A fonte do bom fruto que se mostra pelo lado de fora é a natureza da pessoa. Por Sua graça, Deus tem mudado a natureza daqueles que têm verdadeiramente crido em Jesus. [14]

Um Aviso e Resumo Final (A Final Warning and Summary)

Jesus concluiu Seu sermão com um aviso final e exemplo resumidor. Como é de se esperar, é uma ilustração de Seu tema — Somente os santos herdarão o Reino de Deus.

Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda (Mt. 7:24-27).

A ilustração final de Jesus não é uma fórmula para termos “sucesso na vida” como alguns a usam. O contexto mostra que Ele não estava dando conselhos práticos financeiros para os tempos difíceis tendo fé em Suas promessas. Esse é o resumo de tudo o que Jesus disse em Seu Sermão do Monte. Aqueles que fazem o que Ele manda são sábios e permanecerão; eles não precisam temer a ira de Deus quando ela descer. Aqueles que não O obedecem são insensatos e sofrerão grandemente, pagando “a pena de destruição eterna” (2 Ts. 1:9).

Resposta para uma Pergunta (Answer to an Question)

Não é possível, que o Sermão do Monte de Jesus só se aplicava àqueles seguidores que viveram antes de Sua morte sacrificial e ressurreição? Eles não estavam debaixo da Lei, como meio temporário de salvação, mas depois que Jesus morreu por seus pecados, foram salvos pela fé, invalidando, portanto, o tema exposto nesse sermão?

Essa teoria é ruim. Ninguém foi salvo por suas obras. Sempre tem sido pela fé, antes e durante a antiga aliança. Paulo argumenta em Romanos 4 que Abraão (antes da antiga aliança) e Davi (durante a antiga aliança) foram justificados pela fé e não por obras.

Além do mais, é impossível que qualquer um na audiência de Jesus pudesse ser salvo pelas obras, porque todos tinham pecado e sido destituídos da glória de Deus (veja Rm. 3:23). Somente a graça de Deus poderia salvá-los, e somente a fé poderia receber Sua graça.

Infelizmente, muitos na igreja, hoje, veem os mandamentos de Jesus sem um propósito maior que nos fazer sentir culpados para que vejamos a impossibilidade de receber a salvação pelas obras. Agora que “entendemos a mensagem” e fomos salvos pela fé, podemos ignorar a maioria de Seus mandamentos. A menos, é claro, que queiramos “salvar” os outros. Então, podemos usar todos os mandamentos novamente para mostrar aos outros como eles são pecaminosos para que sejam salvos pela “fé” que invalida as obras.

No entanto, Jesus não disse aos Seus discípulos: “Vão a todo o mundo e façam discípulos, e uma vez que eles se sintam culpados e sejam salvos pela fé, Meus mandamentos terão cumprido seus propósitos em suas vidas.” Ao invés disso, ele disse: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações…ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mt. 19:20-21, ênfase adicionada). Discipuladores estão fazendo somente isso.

 


[1] É interessante notar que o próximo versículo no livro de Tiago é: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo?” (Tg. 2:14).

[2] Isso seria verdade sobre os “aspectos cerimoniais da Lei” assim como os “aspectos morais da Lei,” como são muitas vezes chamados; contudo, explicações a respeito do Seu cumprimento das leis cerimoniais seriam dadas pelo Espírito Santo aos apóstolos depois de Sua ressurreição. Agora entendemos porque não há necessidade de sacrificarmos animais debaixo da nova aliança, porque Jesus era o Cordeiro de Deus. Também não seguimos as leis a respeito das refeições porque Jesus declarou que todos os alimentos são puros (veja Mc. 7:19). Não precisamos da intermediação de um sacerdote terreno, porque agora Jesus é nosso Sumo Sacerdote, e assim por diante. Contudo, diferentemente da lei cerimonial, nenhuma parte da lei moral foi alterada por qualquer coisa que Jesus tenha dito ou feito, antes ou depois de Sua morte e ressurreição. Pelo contrário, Jesus esclareceu e confirmou a lei moral de Deus, assim como os apóstolos fizeram pela inspiração do Espírito após Sua ressurreição. Os aspectos morais da Lei Mosaica estão todos incluídos na lei de Cristo, a lei da nova aliança. Também mantenha em mente que, naquele dia, Jesus estava a judeus debaixo da Lei Mosaica. Portanto, Suas palavras em Mateus 5:17-20 devem ser interpretadas à luz de Sua revelação constante encontrada no Novo Testamento.

[3] Além disso, se Jesus estivesse falando sobre a santidade legal imposta que recebemos como dom por acreditar nEle, por que, então não nos deu pelo menos uma dica? Por que Ele diria alguma coisa que poderia ser mal interpretada pelas pessoas iletradas a quem Ele falava, que nunca adivinhariam que Ele estava falando sobre santidade imposta?

[4] Isso se aplica a nosso relacionamento com nossos irmãos e irmãs em Cristo. Jesus chamou certos líderes religiosos de insensatos (veja Mt. 23:17), assim como as Escrituras em geral (veja Pv. 1:7; 13:20).

[5] É claro que Jesus não a culpa pelo adultério quando se recasar; ela foi apenas a vítima do pecado de seu marido. Obviamente, as palavras de Jesus não fazem sentido, a menos que ela se recase. Caso contrário, não faz sentido que seja considerada adúltera.

[6] Novamente, Deus não culparia o novo marido de adultério. Ao se casar e se tornar o provedor para uma mulher divorciada, ele está fazendo algo virtuoso. Contudo, se um homem encorajasse uma mulher a se divorciar de seu esposo para que se casasse com ela, então ele seria culpado de adultério, e talvez seja este o pecado que Jesus tinha em mente aqui.

[7] Existem, é claro, outras situações que podem ser endereçadas. Por exemplo, a mulher cristã cujo esposo incrédulo pede o divórcio, certamente não é culpada de adultério se recasar-se com um homem cristão.

[8] Endereçarei-me a esse assunto mais detalhadamente no capítulo sobre divórcio e recasamento.

[9] Foi um judeu, professor da Lei, que, querendo se justificar, perguntou a Jesus: “Quem é o meu próximo?” Pode ter certeza que ele achava que já tinha a resposta certa. Jesus lhe respondeu com a parábola do samaritano, membro de uma raça que era odiada pelos judeus, que provou ser o próximo do judeu mal tratado (veja Lc. 10:25-37).

[10] Mais adiante nesse livro, incluí um capítulo inteiro dedicado ao jejum.

[11] Infelizmente, alguns alegam que essa não é uma oração que cristãos devam fazer , pois não é realizada “no nome de Jesus.” Contudo, se aplicarmos essa lógica, teremos que concluir que muitas das orações dos apóstolos registradas nas epístolas e no livro de Atos não eram “orações cristãs.”

* Nota do tradutor: versículo traduzido do inglês.

[12] Em outra ocasião, Jesus disse a mesma coisa sobre a impossibilidade de servir a Deus e as riquezas, e Lucas nos diz: “Os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus” (Lc. 16:14). Então, novamente, aqui no Sermão do Monte, Jesus estava expondo claramente as práticas e ensinamentos dos fariseus.

[13] The Works od John Wesley (As Obras de John Wesley) (Baker: Grand Rapids, 1996), de John Wesley, reimpressão da edição de 1872 lançada pela Wesleyan Methodist Book Room, Londres, pag. 441, 416 [Trecho traduzido do ingles].

[14] Não posso deixar passar a oportunidade de comentar também sobre uma expressão comum que pessoas usam quando tentam justificar os pecados dos outros: “Não sabemos o que está em seu coração.” Contrário a isso, Jesus disse que o exterior revela o interior. Em outro lugar Ele disse: “Pois a boca fala do que está cheio o coração” (Mt. 7:34). Quando pessoas falam palavras de ódio, isso indica que o coração delas está cheio de ódio. Jesus também nos disse que “do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez” (Mc. 7:21-22). Quando uma pessoa comete adultério, sabemos o que está em seu coração: adultério.

O Pregador Predileto de Jesus

Capítulo Nove (Chapter Nine)

Você pode se surpreender ao saber que Jesus tinha um pregador predileto. Pode se surpreender ainda mais em saber que não era luterano, metodista, pentecostal, anglicano ou presbiteriano. Pelo contrário, era Batista! Nós o conhecemos como João Batista, é claro! Jesus disse a respeito dele:

Digo-lhes a verdade: Entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista (Mt. 11:11a).

Já que todos são “nascidos de mulher,” essa era outra forma de dizer que, na estima de Jesus, João Batista era a maior pessoa que já havia existido. Porque Jesus sentia isso é questão de conjectura. Contudo, parece razoável pensar que Jesus estimava João por suas qualidades espirituais. Se for verdade, com certeza seria sábio estudar e imitar tais qualidades. Encontrei pelo menos sete qualidades espirituais em João Batista que são dignas de louvor. Mesmo que o ministério de João represente melhor o ministério de um evangelista, todas as sete qualidades são apropriadas para qualquer ministro do evangelho. Vamos considerar a primeira das sete.

A Primeira Qualidade de João (John’s First Quality)

Este foi o testemunho de João, quando os judeus de Jerusalém enviaram sacerdotes e levitas para lhe perguntarem quem ele era. Ele confessou e não negou; declarou abertamente: “Não sou o Cristo”. Perguntaram-lhe: “E então, quem é você? É Elias?” Ele disse: “Não sou”. “É o Profeta?” Ele respondeu: “Não”. Finalmente perguntaram: “quem é você? Dê-nos uma resposta, para que a levemos àqueles que nos enviaram. Que diz você acerca de si próprio?” João respondeu com as palavras do profeta Isaías: “Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Façam um caminho reto para o Senhor’” (Jo. 1:19-23).

João sabia seu chamado e o seguiu.

É tão importante que ministros saibam seus chamados e os sigam. Se você for um evangelista, não deve tentar ser um pastor. Se for um professor, não tente ser um profeta. Caso contrário, só encontrará frustração.

Como saber seu chamado? Primeiro, buscando a Deus, aquele que o chamou. Segundo, examinando seus dons. Se Deus o chamou para ser um evangelista, Ele lhe equipará para a tarefa. E terceiro, pela confirmação de outros que com certeza notarão seus dons.

Uma vez que tenha certeza de seu chamado, deve segui-lo de todo coração, sem deixar que obstáculos o atrapalhem. Muitos estão esperando que Deus faça o que Ele espera que eles façam. Noé não esperou que Deus construísse a arca!

Tem sido dito que a palavra ministério se escreve T R A B A L H O. Sem dúvida, Satanás tentará detê-lo para não cumprir seu chamado, mas deve resisti-lo e continuar em frente. Mesmo que as Escrituras não digam, podemos ter certeza que houve um dia em que João pregou pela primeira vez na região do Jordão. Com certeza suas primeiras audiências eram bem menores que as de mais tarde. Pode ter certeza que as pessoas riram dele e que ele passou por perseguições. Mas não seria detido. Seu único objetivo era agradar seu Deus, que o tinha chamado para o ministério. No fim das contas, ele conseguiu.

A primeira qualidade espiritual de João que é digna de louvor é esta: João sabia seu chamado e o seguiu.

A Segunda Qualidade de João (John’s Second Quality)

Naqueles dias surgiu João Batista, pregando no deserto da Judéia. Ele dizia: “Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo” (Mt. 3:1-2).

Jesus, com certeza aprovava a mensagem simples de João, já que era a mesma mensagem que pregava onde quer que fosse (veja Mt. 4:17). João chamava as pessoas ao arrependimento — para se voltarem de uma vida de pecado para uma vida de justiça. Ele sabia que uma vida com Deus começa com o arrependimento e que aqueles que não se arrependem serão lançados no inferno.

Diferente de tantos evangelistas modernos, João nunca mencionou o amor de Deus. Nem falou sobre as “necessidades” das pessoas para fazê-las proferir orações insignificantes para “aceitar a Jesus” para que pudessem começar a desfrutar de “vida abundante.” Ele não levou pessoas a acreditarem que eram basicamente boas e que Deus queria levá-las para o céu se percebessem que a salvação não vem por meio de obras. Pelo contrário, ele as via como Deus as via — rebeldes em perigo de encarar consequências eternas por seus pecados. Ele os avisou solenemente da ira que estava por vir. Queria ter certeza que entendiam que estavam condenados se não mudassem seus corações e ações.

Então, a segunda qualidade de João que é digna da imitação de cada ministro discipulador é esta: João proclamava que o arrependimento era o primeiro passo em um relacionamento com Deus.

A Terceira Qualidade de João (John’s Third Quality)

As roupas de João eram feitas de pêlos de camelo, e ele usava um cinto de couro na cintura. O seu alimento era gafanhotos e mel silvestre (Mt. 3:4).

Com certeza, João não se encaixa na figura do moderno “pregador da prosperidade.” Aliás, eles nunca permitiriam um homem como João na plataforma de suas igrejas porque ele não enfeitava a parte do sucesso. Contudo, João era um verdadeiro homem de Deus que não tinha interesse em buscar tesouros terrenos ou impressionar pessoas com sua aparência exterior, sabendo que Deus olha para o coração. Ele viveu simplesmente e seu estilo de vida não causou tropeço a ninguém, já que podiam ver que seu motivo não era dinheiro. Como isso contrasta com o viver de muitos ministros modernos ao redor do mundo, que usam o evangelho principalmente para ganho pessoal. E quando interpretam a Jesus mal, causam grande dano à causa de Cristo.

A terceira qualidade de João que contribuiu a ser o pregador predileto de Jesus é esta: João viveu simplesmente.

A Quarta Qualidade de João (John’s Fourth Quality)

João dizia às multidões que saiam para serem batizadas por ele: “Raça de víboras! Quem lhes deu a idéia de fugir da ira que se aproxima? Dêem frutos que mostrem arrependimento. E não comecem a dizer a si mesmos: ‘Abraão é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos a Abraão.” (Lc. 3:7-8).

Quando o ministério de João começou a tocar mais pessoas, ele, obviamente, não comprometeu sua mensagem. Pôde até ter suspeitado dos motivos das pessoas quando notou que o batismo estava ficando popular. Até escribas e fariseus estavam fazendo o trajeto ao Jordão (veja Mt. 3:7). Ele temia que muitas pessoas estivessem simplesmente seguindo a multidão. Então, fez tudo o que pôde para preveni-los de enganar a si mesmos, derrubando qualquer coisa que sustentasse sua decepção. Ele não queria que pensassem que o simples ato do batismo os salvaria, ou que uma simples profissão de arrependimento os livraria do inferno. Ele os avisou que o verdadeiro arrependimento tráz o fruto da obediência.

Mais adiante, porque muitos judeus se consideravam salvos por causa de sua linhagem física de Abraão, João expôs a ilusão de tal esperança.

A quarta qualidade de João digna de louvor é esta: Ele amava o povo o suficiente para dizer-lhes a verdade. Ele nunca asseguraria um pecador não arrependido, que iria para o céu.

A Quinta Qualidade de João (John’s Fifth Quality)

João não batizaria pessoas que não pareciam arrependidas, não querendo sustentar a ilusão das pessoas. Ele as batizava quando confessavam “seus pecados” (Mt. 3:6). Ele avisou aqueles que iam:

O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo…Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga (Mt. 3:10, 12).

João não estava com medo de falar a verdade sobre o inferno, um assunto que é muitas vezes evitado por pregadores que tentam ganhar um concurso de popularidade ao invés de almas para o Reino de Deus. E também não falhou, proclamando o mesmo tema, que descobrimos, do ‘Sermão do Monte’ de Cristo — somente os santos herdarão o Reino de Deus. Aqueles que não dão bons frutos serão lançados no fogo.

Se João estivesse vivo hoje, com certeza seria punido por muitos crentes professos como “pregador do fogo do inferno e enxofre,” um “profeta de trevas e perdição,” “não seeker-sensitive,” ou pior, “negativo,” “condenador,” “legalista” ou “farisaico.” Mesmo assim, João era o pregador favorito de Jesus. Sua quinta qualidade: João pregava sobre o inferno e deixava claro que tipos de pessoas estavam a caminho de lá. É interessante notar que Lucas se referiu à mensagem de João como “as boas novas” (Lc. 3:18).

A Sexta Qualidade de João (John’s Sixth Quality)

Mesmo sendo usado grandemente por Deus e ter se tornado muito popular entre as multidões, João sabia que não era nada comparado a Jesus, e então, sempre exaltava seu Senhor:

Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo (Mt. 3:11).

A autoavaliação de João se contrasta tanto com a arrogância que é muitas vezes encontrada em “ministros” em nossos dias. Suas revistas coloridas de ministério têm fotos deles em todas a páginas, enquanto Jesus é poucas vezes mencionado. Eles desfilam como pavões pelas plataformas da igreja, exaltando a si mesmos aos olhos de seus seguidores. São intocáveis e inalcançáveis, cheios de presunção. Alguns até dão ordens aos anjos e a Deus! Ainda assim, João não se considerava indigno de tirar as sandálias de Jesus, o que seria considerado um ato de baixa escravidão. Ele se opôs quando Jesus foi a ele para ser batizado e uma vez que percebeu se tratava de Cristo, imediatamente disse a todos, declarando que Ele era “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1:29). “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo. 3:30), este se tornou o humilde lema de João.

Esta é a sexta qualidade de João que o ajudou a ser o pregador predileto de Jesus: João se humilhou e exaltou a Jesus. Não desejava exaltar a si mesmo.

A Sétima Qualidade de João (John’s Seventh Quality)

Pregadores modernos falam muitas vezes em generalidades vagas a fim de não ofender a quem quer que seja. É tão fácil pregar: “Deus quer que façamos o que é certo!” Verdadeiros e falsos cristãos dirão: “Amém” a tal pregação. Muitos pastores também acham fácil continuar falando sobre os pecados escandalosos do mundo, evitando mencionar qualquer pecado similar que esteja dentro da igreja. Por exemplo, eles podem se enfurecer contra a pornografia, mas não ousam mencionar os vídeos e DVDs imorais recomendados para maiores de 18 anos que muitos paroquianos assistem e até colecionam. O medo do homem os capturou.

Contudo, João não hesitou em pregar especificamente. Lucas diz:

“O que devemos fazer então?”, perguntavam as multidões. João respondia: “Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma; e quem tem comida faça o mesmo”. Alguns publicanos também vieram para serem batizados. Eles perguntaram: “Mestre, o que devemos fazer?” Ele respondeu? “Não cobrem nada além do que lhes foi estipulado”. Então alguns soldados lhe perguntaram: “E nós. O que devemos fazer?” Ele respondeu: “Não pratiquem extorsão nem acusem ninguém falsamente; contentem-se com o seu salário” (Lc. 3:10-14).

É interessante que cinco das seis diretrizes específicas que João deu tinham alguma coisa a ver com dinheiro ou coisas materiais. João não tinha medo de pregar sobre como a mordomia se relaciona com a regra de ouro e segundo maior mandamento. Ele também não esperou vários dias até que os novos “crentes” estivessem prontos para conceitos tão “pesados.” Ele acreditava que era impossível servir a Deus e às riquezas, e portanto, mordomia era de importância principal desde o começo.

Isso levanta outro ponto. João não aumentou a importância de coisas menores, insistindo em usos e costumes e outros assuntos de santidade relacionados à aparência exterior. Ele focou nos “preceitos mais importantes da lei” (Mt. 23:23). Ele sabia que o mais importante é amar nosso próximo como a nós mesmos e tratar os outros da mesma forma como queremos ser tratados. O que significa compartilhar alimentos e roupas com aqueles que necessitam, tratar os outros com honestidade e ficar satisfeitos com o que temos.

Esta é a sétima qualidade que fez Jesus gostar de João: Ele não pregava generalidades vagas, mas citava coisas específicas que as pessoas deveriam fazer para agradar a Deus, mesmo as relacionadas à mordomia. E focava o que era mais importante.

Concluindo (In Conclusion)

O ministério de um pastor ou professor seria, é claro, caracterizado por um alcance de assuntos maior que o de João. João pregava para os incrédulos. Pastores e professores devem ensinar principalmente aqueles que já se arrependeram. Seus ensinos são baseados naqueles pontos que Jesus disse a Seus discípulos e que estão gravados nas epístolas do Novo Testamento.

Contudo, muitas vezes não conseguimos identificar corretamente nossas audiências, e hoje parece que pregam aos perdidos como se fossem santos. O simples fato de as pessoas estarem sentadas dentro de um prédio de igreja não significa que nosso trabalho é assegurá-las de sua salvação, especialmente se suas vidas são essencialmente indistinguíveis daquelas do mundo. Existe hoje, uma necessidade desesperadora de milhões de “Joãos Batistas” para pregarem nos púlpitos das igrejas. Você se mostra à altura do desafio? Você se tornará um dos pregadores prediletos de Jesus?

Interpretação Bíblica

Capítulo Sete (Chapter Seven)

Paulo escreveu a Timóteo:

Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem (1 Tm. 4:16, ênfase adicionada).

Cada ministro deve levar essa admoestação ao coração, prestando muita atenção, primeiramente em si mesmo, para ter certeza que está deixando um exemplo de santidade.

Segundo, ele dever prestar atenção aos seus ensinamentos, porque sua salvação eterna e daqueles que o ouvem depende daquilo que ensina, assim como Paulo escreveu no versículo citado acima.[1] Se um ministro adota uma doutrina falsa ou negligencia falar a verdade às pessoas, o resultado poderá ser eternamente desastroso para ele e outros.

Contudo, não há desculpas para o ministro fazedor de discípulos ensinar falsas doutrinas, já que Deus o deu o Espírito Santo e Sua Palavra para guiá-lo na verdade. Em contraste, muitos ministros com motivos errados simplesmente repetem os ensinos populares de outros, não estudam a Palavra por si só, e estão aptos a errar em suas doutrinas e ensinos. Um meio de proteção contra isso é o ministro purificar seu coração, para ter certeza que seus motivos são (1) agradar a Deus e (2) ajudar as pessoas a se prepararem para ficar diante de Jesus, ao invés de se tornarem ricas, poderosas ou populares. Adicionalmente, ele deve estudar a Palavra de Deus diligentemente para que tenha um entendimento total e balanceado. Paulo também escreveu a Timóteo:

Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade (2 Tm. 2:15).

Ler, estudar e meditar na Palavra de Deus deveria ser uma disciplina que um ministro pratica continuamente. O Espírito Santo o ajudará a entender melhor a Palavra de Deus enquanto estuda diligentemente, assegurando assim que irá “lidar fielmente com a palavra da verdade.” Um dos maiores problemas na igreja hoje é que ministros interpretam incorretamente a Palavra de Deus e consequentemente iludem as pessoas que ensinam. Isso pode ser bem sério. Tiago advertiu:

Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres,j pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor (Tg. 3:1).

Por esse motivo, é necessário que o ministro fazedor de discípulos saiba como interpretar corretamente a Palavra de Deus, com o alvo de entender perfeitamente e comunicar o significado planejado de qualquer texto.

Interpretar corretamente a Palavra de Deus é feito do mesmo modo que interpretar corretamente as palavras de qualquer um. Se quisermos entender corretamente o significado planejado de qualquer autor ou pregador, precisamos aplicar certas regras de interpretação, regras que são baseadas em senso comum. Nesse capítulo, vamos considerar as três regras mais importantes de interpretação bíblica honesta. Elas são, (1) Ler inteligentemente, (2) Ler pelo contexto e (3) Ler honestamente.

Regra no1: Leia inteligentemente. Interprete o que você lê literalmente a não ser que o entendimento figurado ou simbólico seja obviamente intencional.

As Escrituras, como toda literatura, é cheia de figuras de linguagem, como metáforas, hipérboles e antropomorfismos. Elas devem ser interpretadas como tais.

Uma metáfora é uma comparação de similaridades entre duas coisas diferentes. As Escrituras contém muitas metáforas. Uma pode ser encontrada nas palavras de Cristo durante a última ceia.

Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo: “Tomem e comam; isto é o meu corpo”. Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: “Bebam dele todos vocês. Isto pe o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados” (Mt. 26:26-28).

Jesus quis dizer que o pão que deu aos Seus discípulos era literalmente Seu corpo e que o vinho que beberam era literalmente Seu sangue? O senso comum nos diz Não. As Escrituras nos dizem claramente que era pão e vinho que Jesus os deu, e não diz nada deles terem transformado literalmente, em carne e sangue em algum ponto. Nem Pedro nem João, presentes na última ceia, reportaram tal coisa em suas epístolas, e é muito improvável que os discípulos tenham brincado de representar os papéis de canibais!

Alguns argumentam: “Mas Jesus disse que o pão e o vinho eram Seu corpo e sangue, então eu vou acreditar no que Jesus disse!”

Jesus disse uma vez que Ele era a porta (veja João 10:9). Ele literalmente se transformou em uma porta com dobradiças e uma maçaneta? Jesus disse que era uma videira e que nós éramos os ramos (veja João 15:5). Ele literalmente se transformou em uma videira? Nós nos tornamos literalmente em ramos de videira? Jesus disse que era a luz do mundo e o pão que veio do céu (veja João 9:5; 6:41). Jesus também é a luz do sol e um pão de forma?

Claramente, todas essas expressões são figuras de linguagem chamadas metáforas, uma comparação entre duas coisas diferentes mas que compartilham algumas similaridades. De alguns modos, Jesus era como uma porta e uma videira. As frases de Jesus na última ceia eram obviamente metáforas também. O vinho era como Seu sangue (em alguns pontos). O pão era como Seu corpo (em alguns pontos).

As Parábolas de Cristo (Christ’s Parables)

As parábolas de Cristo são símiles, que são como metáforas; símiles, entretanto, sempre têm a palavra como. Elas também ensinam lições espirituais através das semelhanças entre duas idéias. Esse é um ponto importante para se lembrar enquanto as interpretamos; caso contrário podemos cometer o erro de procurar significado em cada pequeno detalhe de cada parábola. Metáforas e símiles sempre chegam ao ponto onde as similaridades acabam e as diferenças começam. Por exemplo, se eu disser à minha esposa: “Seus olhos são como lagos,” eu quero dizer que seus olhos são azuis, profundos e convidativos. Eu não quero dizer que peixes nadam neles, que pássaros pousam neles e que eles congelam durante o inverno.

Vamos levar em consideração três das parábolas de Jesus, todas símiles, a primeira sendo a Parábola da Rede:

O Reino dos céus é ainda como uma rede que é lançada ao mar e apanha toda sorte de peixes. Quando está cheia, os pescadores a puxam para a praia. Então se assentam e juntam os peixes bons em cestos, mas jogam fora os ruins. Assim acontecerá no fim desta era. Os anjos virão, separarão os perversos dos justos e lançarão aqueles na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes (Mt. 13:47-50).

O céu e uma rede são basicamente a mesma coisa? Absolutamente não! Eles são muito diferentes, mas existem algumas similaridades. Assim como os peixes são separados em duas categorias, bons e ruins, quando puxados da rede, assim será no reino de Deus. Um dia o perverso e o justo, que agora estão vivendo juntos, serão separados. Mas é aí que as similaridades acabam. Peixes nadam, pessoas andam. Pescadores separam peixes. Anjos separarão os perversos dos justos. Peixes são julgados por quão gostosos eles são depois de preparados. Pessoas são julgadas por sua obediência ou desobediência a Deus. Peixes bons são colocados em recipientes e peixes ruins são jogados fora. Os justos herdam o reino de Deus e os perversos são lançados no inferno.

Essa parábola é um exemplo perfeito de como cada metáfora e símile é uma comparação imperfeita porque as coisas que estão sendo comparadas são diferentes. Não queremos ir além da intenção do orador, assumindo que as diferenças são na verdade similaridades. Por exemplo, nós sabemos que “peixes bons” acabam sendo preparados no fogo, e “peixes ruins” voltam para a água para nadar por mais um dia. Jesus não mencionou isso! Teria ido contra Seu propósito.

Essa parábola em particular não ensina (independente do que dizem) uma estratégia de “evangelismo de rede,” onde tentamos arrastar todos para dentro da igreja, bons ou ruins, queiram eles vim ou não! Essa parábola não ensina que a praia é o melhor lugar para evangelizar. Essa parábola não prova que o arrebatamento da igreja acontecerá no fim do tempo de tribulações. Ela não ensina que nossa salvação é uma escolha puramente divina de Deus porque os peixes escolhidos na parábola nada tinham a ver com o motivo de sua seleção. Não force significados sem garantia às parábolas de Jesus!

Permanecendo Preparado (Remaining Ready)

Aqui temos outra parábola familiar de Jesus, a Parábola das Dez Virgens:

O Reino dos céus será, pois, semelhante a dez virgens que pegaram suas candeias e saíram para encontrar-se com o noivo. Cinco delas eram insensatas, e cinco eram prudentes. As insensatas pegaram suas candeias, mas não levaram óleo. As prudentes, porém, levaram óleo em vasilhas, junto com suas candeias. O noivo demorou a chegar, e todas ficaram com sono e adormeceram. À meianoite, ouviu-se um grito: “O noivo se aproxima! Saiam para encontrá-lo!” Então todas as virgens acordaram e prepararam suas candeias. As insensatas disseram às prudentes: “Dêem-nos um pouco do seu óleo, pois as nossas candeias estão se apagando”. Elas responderam: “Não, pois pode ser que não haja o suficiente para nós e para vocês. Vão comprar óleo para vocês”. E saindo elas para comprar o óleo, chegou o noivo. As virgens que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial. E a porta foi fechada. Mais tarde vieram também as outras e disseram: “Senhor! Senhor! Abra a porta para nós!” Mas ele respondeu: “A verdade é que não as conheço!” Portanto, vigiem, porque vocês não sabem o dia nem a hora (Mt. 25:1-13)!

Qual é a lição principal dessa parábola? É encontrada na última sentença: Fiquem preparados para o retorno do Senhor, pois Ele pode demorar mais do que vocês esperam. É só isso.

Como já mencionei em um capítulo anterior, Jesus contou essa parábola para alguns de Seus discípulos mais íntimos (veja Mt. 24:3; Mc. 13:3), que estavam obviamente seguindo-o aquela hora. Então, está claramente indicado nessa parábola o fato que era possível que Pedro, Tiago, João e André não estivessem preparados quando Jesus voltasse. É por isso que Jesus estava os avisando. Portanto, essa parábola ensina que há uma possibilidade que aqueles que estão atualmente preparados para a volta de Cristo podem não estar preparados quando Ele realmente voltar. Todas dez virgens estavam inicialmente prontas, mas cinco se tornaram despreparadas. Se o noivo tivesse voltado mais cedo, todas dez teriam entrado na festa nupcial.

Mas qual é o significado de existirem cinco virgens tolas e cinco sábias? Isso significa que somente metade dos crentes professos estarão prontos quando Cristo retornar? Não.

Qual é o significado do óleo? Ele representa o Espírito Santo? Não. Ele revela que somente aqueles que foram batizados no Espírito Santo entrarão no céu? Não.

O noivo ter chegado à meia-noite revela que Jesus voltará na mesma hora? Não.

Porque o noivo não pediu para que as noivas sábias identificassem suas amigas tolas na porta? Se tivesse pedido para que as sábias identificassem as tolas, teria arruinado o propósito da parábola, já que as tolas teriam entrado.

Talvez possa ser dito que assim como as noivas tolas não tinham mais luz e foram dormir, assim os salvos tolos começarão a andar na escuridão espiritual e irão dormir espiritualmente, levando-os no final, à sua condenação. Talvez uma similaridade possa ser encontrada na festa nupcial da parábola e a futura festa nupcial do Cordeiro, mas isso é o mais longe que alguém pode ir sem forçar significado a essa parábola ou a seus vários detalhes.

Dando Fruto (Bearing Fruit)

Talvez a pior interpretação que já ouvi de uma das parábolas de Cristo foi a explicação de um pregador da Parábola do Joio. Primeiramente, vamos ler essa parábola:

Jesus lhes contou outra parábola, dizendo: “O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente em seu campo. Mas enquanto todos dormiam, veio seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi. Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu. Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio?’ ‘Um inimigo fez isso’, respondeu ele. Os servos lhe perguntaram: ‘O senhor quer que o tiremos?’ Ele respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderão arrancar com ele o trigo. Deixem que cresçam juntos até a hora da colheita. Então direi aos encarregados da colheita: ‘Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’” (Mt.13:24-30).

Aqui está aquela explicação do certo pregador:

É um fato que quando o trigo e o joio brotam, são idênticos. Ninguém pode dizer se são trigo ou joio. É exatamente assim no mundo e na igreja. Ninguém pode dizer quem são os verdadeiros cristãos e quem são os ímpios. Eles não podem ser identificados por suas vidas, porque muitos cristãos não estão obedecendo a Cristo, assim como os perdidos. Somente Deus conhece seus corações, e Ele os selecionará no final.

É claro que esse não é o propósito da Parábola do Joio! Na realidade, ela ensina que os salvos são muito distinguíveis de não salvos. Note que os servos percebem que joio foi plantado quando trigo deu fruto (veja v. 26).O joio não dá fruto, e assim é facilmente identificado como tal. Eu acho significante que Jesus tenha escolhido joio estéril para representar os perversos que irão ser selecionados no final e lançados no inferno.

As ideias principais dessa parábola são claras: Os verdadeiramente salvos dão fruto; os não salvos, não. Mesmo que Deus ainda não esteja julgando os perversos enquanto vivem entre os salvos, um dia Ele os separará dos santos o os lançará no inferno.

Na verdade, Jesus deu explicações dessa parábola em particular, então não há necessidade de procurarem mais significados além do que Ele explicou:

Então ele deixou a multidão e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e o pediram: “Explica-nos a parábola do joio no campo”. Ele respondeu: “Aquele que semeou a boa semente é o Filho do homem. O campo é o mundo, e a boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno, e o inimigo que semeia é o Diabo. A colheita é o fim desta era, e os encarregados da colheita são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim desta era. O Filho do homem enviará os seus anjos, e eles tirarão do seu Reino tudo o que faz tropeçar e todos os que praticam o mal. Eles os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, ouça (Mt. 13:37-43)

Hipérbole (Hyperbole)

Uma Segunda figura de linguagem encontrada na Bíblia é a hipérbole. Uma hipérbole é um exagero intencional feito para ênfase. Quando uma mãe diz a um filho: “Eu te chamei mil vezes para jantar,” isso é uma hipérbole. Um exemplo de hipérbole na Bíblia seria a frase de Jesus sobre cortar sua mão direita:

E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte de seu corpo do que ir todo ele para o inferno (Mt. 5:30).

Se Jesus quis dizer literalmente que todos que pecassem com sua mão direita devessem cortá-la fora, então todos estaríamos sem a mão direita! É claro que o problema com o pecado não está em nossas mãos. É mais provável que Jesus estava nos ensinando que o pecado pode nos mandar para o inferno, e a forma de evitar o pecado é removendo tentações e coisas que nos causam a tropeçar.

Antropomorfismo (Anthropomorphism)

Uma terceira figura de linguagem que encontramos nas Escrituras é o antropomorfismo. Trata-se de uma expressão metafórica onde características humanas são atribuídas a Deus para nos ajudar a entendê-Lo. Por exemplo, lemos em Gênesis 11:5:

O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo (Gn. 11:5).

Isso é provavelmente um antropocentrismo porque não parece provável que o Deus onisciente teria que literalmente viajar do céu à Babel para investigar o que as pessoas estavam construindo!

Muitos acadêmicos bíblicos consideram todas menções bíblicas sobre partes do corpo de Deus, como Seus braços, mãos, nariz, olhos e cabelo, como antropocentrismos. Com certeza eles dizem, o Deus todo-poderoso não tem tais partes como os humanos.

Contudo, eu descordaria por vários motivos. Primeiro, porque as Escrituras dizem claramente que nós fomos feitos a imagem e semelhança de Deus:

Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem , conforme a nossa semelhança” (Gn. 1:26a, ênfase adicionada).

Alguns dizem que fomos criados à imagem e semelhança de Deus só a respeito de nosso autoconhecimento, responsabilidade moral, capacidade de pensar e assim por diante. Contudo, vamos ler uma frase que é muito parecida com Gêneses 1:26, que está apenas alguns capítulos à frente:

Aos 130 anos, Adão gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem; e deu-lhe o nome de Sete (Gn. 5:3, ênfase adicionada).

Com certeza isso significa que Sete era muito parecido com seu pai fisicamente. Se for isso que Gênesis 5:3 quer dizer, certamente a expressão idêntica significa a mesma coisa em Gênesis 1:26. Senso comum e interpretação honesta dizem que sim.

Mais adiante, temos algumas descrições de Deus por autores bíblicos que O viram. Moisés, por exemplo, juntamente com outros setenta e três israelitas, viram a Deus:

Moisés, Arão, Nadabe, Abiu e setenta autoridades de Israel subiram e viram o Deus de Israel, sob cujos pés havia algo semelhante a um pavimento de safira, como o céu em seu esplendor. Deus, porém, não estendeu a mão para punir esses líderes do povo de Israel; eles viram a Deus, e depois comeram e beberam (Ex. 24:9-11, ênfase adicionada).

Se você tivesse perguntado a Moisés se Deus tivesse pés, o que ele teria dito?[2]

O profeta Daniel também teve uma visão de Deus Pai e Deus Filho:

Enquanto eu olhava, tronos foram colocados, e um ancião [Deus Pai] se assentou. Sua veste era branca como a neve; o cabelo era branco como a lã. Seu trono era envolto em fogo, e as rodas do trono estavam em chamas. De diante dele, saía um rio de fogo. Milhares de milhares o serviam; milhões e milhões estavam diante dele. O tribunal iniciou o julgamento, e os livros foram abertos… Em minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem [Deus Filho], vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença. Ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído (Dn. 7:9-10. 13-14, ênfase adicionada).

Se você tivesse perguntado a Daniel se Deus tinha cabelo branco e uma forma, pela qual Ele pode sentar em um trono, o que ele teria dito?

Tudo isso sendo verdade, eu estou convencido que Deus Pai tem uma forma gloriosa que é de certa forma similar a forma de um ser humano, mesmo Ele não sendo de carne e sangue, e sim espírito (veja Jo 4:24).

Como você pode dicernir quais partes das Escrituras devem ser interpretadas literalmente e quais devem ser interpreradas figurativamente ou simbolicamente? Isso deve ser fácil para qualquer um que possa raciocinar logicamente. Interprete tudo literalmente a menos que não haja outra alternativa inteligente a não ser interpretar figurativamente ou simbolicamente. Os profetas do Velho Testamento e o livro de Apocalipse, por exemplo estão claramente, cheios de simbolismo, alguns dos quais são explicados e outros não. Mas não é difícil identificar os simbolismos.

Regra no2: Leia pelo contexto. Cada passagem deve ser interpretada na luz das passagens ao seu redor e da Bíblia inteira. O contexto cultural e histórico também deve ser considerado sempre que possível.

Ler as escrituras sem levar em consideração seu contexto imediato e bíblico é talvez a causa principal de má interpretação.

É possível fazer com que a Bíblia fale qualquer coisa que você quiser se isolar versículos de seus contextos. Por exemplo, você sabia que a Bíblia diz que Deus não existe? Em Salmos 14 podemos ler: “Deus não existe” (Sl. 14:1). Contudo, se quisermos interpretar essas palavras fielmente, devemos lê-la dentro do contexto: “Diz o tolo em seu coração: ‘Deus não existe’” (Sl. 14:1, ênfase adicionada). Agora esse versículo tem um significado completamente novo!

Outro exemplo: uma vez eu ouvi um pregador fazer um sermão na necessidade dos cristãos serem “batizados no fogo.” Ele começou ser sermão lendo as palavras de João Batista de Mateus 3:11: “Eu os batizo com água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de lavar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo.”

Ele preparou um sermão baseado nesse único versículo. Eu lembro dele dizer: “O fato de você ter sido batizado no Espírito Santo não é suficiente! Jesus também quer te batizar no fogo, assim como João Batista proclamou!” E ele continuou, explicando que uma vez fossemos “batizados no fogo,” ficariamos cheios de zelo pelo trabalho do Senhor. Finalmente ele fez um apelo para aqueles que quisessem ser “batizados no fogo.”

Infelizmente, aquele pregador em particular cometeu o erro clássico de tirar um versículo de seu contexto.

O que João Batista quis dizer quando disse que Jesus os batizaria com fogo? Para encontrar a resposta, tudo que temos a fazer é ler dois versículos antes daquele e um depois. Vamos começar com os dois anteriores. João disse:

Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos: “Abraão é nosso pai”. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus pode fazer surgir filhos de Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo (Mt. 3:9-10, ênfase adicionada).

Primeiro, nós aprendemos que, naquele dia, parte da audiência de João consistia de judeus que achavam que sua salvação era baseada em sua linhagem. Portanto, o sermão de João era evangelístico.

Depois, também descobrimos que João os estava advertindo que pessoas não-salvas corriam perigo de ser lançadas no fogo. Parece razoável concluír que “o fogo” do qual João falava no versículo 10 é o mesmo do versículo 11.

Esse fato se torna ainda mais claro quando lemos o versículo 12:

Ele traz a pá em sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com o fogo que nunca se apaga (Mt. 3:12, ênfase adicionada).

Em ambos versículos 10 e 12, o fogo ao qual João se referia era o fogo do inferno. No versículo 12, ele fala metaforicamente que Jesus dividirá as pessoas em dois grupos — trigo, que Ele juntará “no celeiro,” e palha, que queimará “com o fogo que nunca se apaga.”

À luz dos versículos ao redor, João devia querer dizer no verspiculo 11 que Jesus iria batizar as pessoas com o Espírito Santo, se fosse salvos, ou com fogo, se não fosse. Já que esse é o caso, ninguém deve pregar a cristãos dizendo que devem ser batizados no fogo!

Indo além do contexto imediato desses versículos, também devemos olhar para o resto do Novo Testamento. Podemos encontrar um versículo em Atos que diz que cristãos estavam sendo “batizados no fogo”? Não. O mais perto é a descrição de Lucas do dia do Pentecostes quando os discípulos foram batizados no Espírito Santo e línguas de fogo apareceram temporariamente sobre suas cabeças. Mas Lucas nunca disse que esse era um “batismo no fogo.” Mais adiante, podemos encontrar alguma exortação ou instrução nas epístolas para os cristãos serem “batizados no fogo”? Não. Portanto, é seguro concluír que nenhum cristão deve buscar um batismo no fogo.

Um Evangelho Falso Derivado das Escrituras (A False Gospel Derived From Scripture)

Muitas vezes, o próprio evangelho é máu interpretado por pregadore e professores que, por não considerarem o contexto, interpretam as Escrituras erroneamente. Falsos ensinos a respeito da graça de Deus são abundantes por esse motivo.

Por exemplo, o relato de Paulo sobre a salvação ser o produto da graça e não de obras, encontrado em Efésios 2:8, tem sido abusado para promover um falso evangelho, tudo porque o contexto foi ignorado. Paulo escreveu:

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras para que ninguém se glorie (Ef. 2:8-9).

Muitos focam exclusivamente no relato de Paulo sobre a salvação ser pela graça, um presente e não um resultado de obras. Disso, contrário ao testemunho de centenas de passagens, eles dizem que não há conexção entre salvação e santidade. Alguns vão tão longe a ponto de dizer que o arrependimento não é necessário para a salvação. Esse é um exemplo clássico de como as Escrituras são má interpretadas pelo contexto ser ignorado.

Primeiramente, vamos considerar o que a passagem em si diz inteiramente. Paulo, não diz que fomos salvos pela graça, mas que fomos salvos pela graça por meio da fé. A fé faz tanto parte da equação da salvação quanto a graça. As Escrituras declaram que a fé sem obras é inútil, morta e não pode salvar (veja Tg. 2:14-26). Portanto, Paulo não está ensinando que a santidade é irrelevante na salvação. Ele está dizendo que não somos salvos por nossas próprias forças; a base de nossa salvação é a graça de Deus. Nunca poderiamos ser salvos sem a graça de Deus, mas é somente quando respondemos com fé à graça de Deus é que a salvação acontece em nossas vidas. O resultado da salvação é sempre obediência, o fruto da fé genuína. Isso é provado se olharmos o contexto, que está no versículo seguinte. Paulo diz:

Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos (Ef. 2:10).

O único motivo de termos sido regenerados pelo Espírito Santo e agora sermos novas criaturas em Cristo era para que pudessemos andar em boas obras e obediência. Portanto, a equação de salvação de Paulo é assim:

Graça + Fé = Salvação + Obediência

Isto é, graça mais fé é igual (ou resulta em) salvação mais obediência. Quando a graça de Deus é respondida com a fé, o resultado é sempre a salvação e boas obras.

Mesmo assim, aqueles que arrancaram as palavras de Paulo de seu contexto fizeram uma fórmula assim:

Graça + Fé – Obediência = Salvação

Isto é, graça mais fé sem (ou menos) obediênci é igual (ou resulta em) salvação. Isso é heresia de acordo com a Bíblia.

Se lermos um pouco mais do contexto das palavras de Paulo, também descobriremos que a situação em Éfeso era a mesma que em todos os lugares que Paulo pregava. Isto é, judeus estavam ensinado aos novos convertidos gentios de Paulo, que precisavam ser circuncidados e tinham que praticar algumas cerimonias da Lei Mosaica se quisessem ser salvos. Era dentro do contexto de circuncisão e trabalhos cerimoniais que Paulo tinha em mente quando escreveu sobre as “obras” que não nos salvam (veja Ef. 2:11-22).

Se lermos um pouco mais adiante, entendendo mais do contexto da carta de Paulo aos Efésios, vemos claramente que Paulo acreditava que santidade era essencial para a salvação.

Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça; pois essas coisas não são próprias para os santos. Não haja obsenidade, nem conversas tolas, nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ações de graças. Porque voçês podem estar certos disto: nenhum imoral, ou imputo, ou ganancioso , que é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência (Ef. 5:3-6, ênfase adicionada).

Se Paulo acreditasse que a graça de Deus salvaria no final qualquer pessoa não-arrependida que fosse imoral, impura ou gananciosa, ele nunca teria escrito essas palavras. O significado intencionado das palavras de Paulo gravadas em Efésios 2:8-9, só pode ser entendido corretamente dentro do contexto da carta inteira aos Efésios.

O Fiasco da Galácia (The Galatian Fiasco)

As palavras de Paulo em sua carta aos gálatas têm sido interpretadas similarmente fora de seu contexto. O resultado tem sido a distorção do evangelho, exatamente o que Paulo tentava corrigir em sua carta aos gálatas.

O tema completo da carta de Paulo aos gálatas é “Salvação por meio da fé e não por obras da Lei.” Mas Paulo planejava que seus leitores concluíssem que santidade não era necessária para entrar no reino de Deus? Certamente nãp.

Primeiramente, notamos que Paulo estava mais uma vez combatendo judeus que foram à Galácia e estavam ensinando os novos convertidos que não poderiam ser salvos, a menos que fossem circuncidados e obedecessem a Lei de Moisés. Paulo menciona o assunto da circuncisão repetidamente em sua carta, já que essa parece ter sido a ênfase principal dos judeus legalistas (veja Gl. 2:3, 7-9, 12; 5:2-3, 6, 11; 6:12-13, 15). Paulo não estava preocupado que os convertidos de Galácia estavam muito obediêntes aos mandamentos de Cristo, ele estava preocupado porque eles não estavam colocando sua fé em Cristo para sua salvação, e sim em circuncisão e seus próprios fracos esforços em manter a Lei Mosaica.

Quando consideramos todo o contexto da carta de Paulo aos gálatas, percebemos que ele escreve no capítulo 5:

Mas, se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da Lei. Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus (Gl. 5:18-21, ênfase adicionada).

Se Paulo quisesse dizer aos gálatas que poderiam não ser santos e entrar no céu, ele não teria escrito essas palavras. Sua mensagem não é que pessoas não-santas poderiam ir para o céu, mas que aqueles que anulam a graça de Deus e o sacrifício de Cristo tentando adqurir a salvação pela circuncisão e pela Lei de Moisés não podem ser salvos. Não é a circuncisão que trás a salvação. É a fé em Jesus que resulta na salvação que muda salvos em novas criações santas.

De nada vala ser circuncidado ou não. O que importa é ser uma nova criação (Gl. 6:15).

Novamente, tudo isso mostra quão vital é que consideremos o contexto quando interpretamos as Escrituras. A única forma que o evangelho pode ser distorcido por meio da Palavra de Deus é ignorando o contexto. Só podemos nos espantar com os corações de “ministros” que fazem isso de forma tão rude que não pode ser outra coisa se não intencionado.

Por exemplo, uma vez eu ouvi um pregador dizer que nunca devemos mencionar a ira de Deus quando estivermos pregando o evangelho, poque a Bíblia diz que “a bondade de Deus leva ao arrependimento” (Rm. 2:4). Portanto, de acordo com ele, a maneira certa de pregar o evangelho era falar somente do amor e da bondade de Deus. Isso, supostamente, levaria as pessoas a se arrependerem.

Mas quando lemos o contexto do versículo solitário que o pastor mencionou do segundo capítulo de Romanos, descobrimos que ele está envolvido de passagens sobre o julgamento e a ira santa de Deus! O contexto imediato revela que não há possibilidade alguma que a intenção de Paulo era o que o pastor disse que é:

Sabemos que o juízo de Deus contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus? Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento? Contudo, por causa da sua teimosia e do seu coração obstinado, você está acumulando ira contra si mesmo, para o dia da ira de Deus, quando se revelará o seu justo julgamento; Deus “retribuirá a cada um conforme o seu procedimento”. Ele dará vida eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade. Mas haverá ira e indignação para os que são egoístas, que rejeitam a verdade e seguem a injustiça. Haverá tribulação e angúnstia para todo ser humano que pratica o mal: primeiro para o judeu, depois para o grego (Rm. 2:22-9, ênfase adicionada).

A referência de Paulo a bondade de Deus é a bondade que Deus mostra ao adiar Sua ira! Só podemos nos perguntar como um ministro pode falar uma coisa tão absurda à luz do contexto maior da Bíblia, que está cheia de exemplos de pregadores que advertiram publicamente os pecadores se arrependerem.

A Consistência das Escrituras (Scripture’s Consistency)

Porque a Bíblia é inspirada por apenas uma (só) Pessoa, sua mensagem é consistente. É por isso que podemos confiar no contexto para nos ajudar a interpretar o significado planejado por Deus em qualque passagem. Deus não diria uma coisa em um versículo que contradiria outro, e se parece dessa forma, devemos contunuar estudando até que nossa interpretação dos dois versículos fique em harmonia. Por exemplo, em vários lugares no Sermão do Monte de Jesus, pode parecer que Ele estava contradizendo, e até corrigindo uma lei moral do Velho Testamento. Por exemplo:

Vocês ouviram o que foi ditto: “Olho por olho e dente por dente.” Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face esquerda, ofereça-lhe tembém a outra (Mt. 5:38-39).

Jesus citou diretamente da Lei de Moisés e então disse uma coisa que parecia contradizer a lei que acabara de citar. Como devemos interpretar o que Ele disse? Deus mudou de ideia em um assunto de moralidade básica? Buscar vingança era uma coisa aceitável no Velho Testamento mas não no Novo? É o contexto que irá nos ajudar.

Jesus estava falando principalmente com Seus discípulos (veja Mt. 5:12), pessoas a quem a única exposição a Palavra de Deus foi através dos escribas e fariseus que ensinavam nas sinagogas. Ali, eles haviam ouvido a lei de Deus citada, “Olho por olho e dente por dente,” um mandamento que os escribas e fariseus tinham torcido ignorando seu contexto. Deus não tinha a intenção de que esse mandamento fosse interpretado como um requerimento para Seu povo sempre se vingar por pequenos erros. Aliás, Ele disse na Lei de Moisés que a vingança pertencia a Ele (veja Dt. 32:35), e que Seu povo devia fazer o bem aos seus inimigos (veja Ex. 23:4-5). Mas os escribas e fariseus ignoraram esses mandamentos e inventaram sua própria interpretação da lei de Deus de “olho por olho,” uma que os dava o direito à vingança pessoal.[3] Eles ignoraram o contexto.

O mandamento de Deus de “olho por olho e dente por dente” é encontrado dentro do contexto dos mandamentos que prescrevia a justiça do tribunal de Israel (veja Ex. 21:22-24; Dt. 19:15-21). Promover um sistema de corte judicial é em si mesmo uma revelação da desaprovação de Deus quanto a vingaça pessoal. Juízes imparciais que examinam provas são muito mais capazes de administrar a justiça que pessoas envovidas e ofendidas. Deus espera que juízes vão dar o punimento que o crime merece. Portanto, “olho por olho e dente por dente.”

Portanto, podemos entender o que a primeira vista parece contraditório. Jesus estava simplesmente ajudando Seu público, pessoas que tinham recebido ensinamentos errados por toda vida, a entender a verdadeira vontade de Deus a respeito da vingança pessoal, uma coisa que já tinha sido revelada na Lei de Moisés, mas tinha sido distorcida pelos fariseus. Jesus não estava contradizendo a lei que Ele tinha dado a Moisés. Ele só estava revelando seu significado original.

Isso também nos ajuda a entender corretamente que Jesus espera de nós a respeito de disputas maiores, o tipo que pode levar ao trubunal. Deus não esperava que os israelitas se vingassem de cada ofensa sofrida, caso contrário ele não teria estabelecido um sistema de corte. Da mesma forma, Deus não espera que cristãos queiram se vingar de qualquer ofensa sofrida de seus irmãos (ou próximos). O Novo Testamento diz que cristãos que não se reconciliam devem buscar ajuda mediadora de outros companheiros (veja 1 Co. 6:1-6). E não há nada de errado com um crente levar um ímpio a cortes judiciais a respeito de disputas de ofensas maiores. Ofensas maiores são coisas do tipo ter seu olho ou dente arrancado! Ofensas menores são os tipos de coisa que Jesus falou, com levar um tapa no rosto, ou ser processado por uma coisa pequena (tipo uma camisa), ou ser forçado a andar uma milha. Deus quer que Seu povo O imite e mostre graça extraordinária a pecadores imprudentes e pessoas más.

Nessas mesmas linhas, existem alguns crentes bem intencionados que, pensando estar obedecendo a Jesus, se recusam a denunciar aqueles que foram pegos roubando deles. Eles acham que estão “oferencendo a outra face,” quando na verdade estão permitindo que o ladrão roube mais uma vez, ensinando-o que não há consequências pelo crime. Tais cristãos não estão mostrando amor pelas pessoas que serão roubadas por esse mesmo ladrão! Deus quer que ladrões sofram a justiça e que se arrependam. Mas quando alguém lhe ofender por algo sem importância, como lhe dar um tapa no rosto, não o leve para o tribunal ou bata no rosto dele. Mostre misericórdia e amor.

Interpretando o Velho à Luz do Novo (Interpreting the Old in Light of the New)

Não devemos somente interpretar o Novo Testamento à luz do Velho Testamento, mas também o Velho à luz do Novo. Por exemplo, alguns cristãos sinceros leram as leis de Moisés referentes as restrições alimentares e concluíram que cristãos devem restringir suas dietas de acordo com aquelas leis. Contudo, se eles lessem apenas duas passagens do Novo Testamento, descobririam que essas leis de Moisés não se aplicam àqueles que estão debaixo da Nova Aliança.

“Será que vocês também não conseguem entender?”, perguntou-lhes Jesus. “ Não percebem qua nada que entre no homem pode pode torná-lo ‘impuro’? Porque não entra em seu coração, mas em seu estômago, sendo depois eliminado.” Ao dizer isso, Jesus declarou “puros” todos os alimentos (Mc. 7:18-19).

O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada e proíbem o casamento e o consumo de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ação de graças pelos que crêem e conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças, pois é santificado pela palavra de Deus e pela oração (1 Tm. 4:1-5).

Debaixo da Nova Aliança, não somos sujeitos a Lei de Moisés, mas a Lei de Cristo (veja 1 Co. 9:20-21). Mesmo que Jesus tenha confirmado os aspectos morais da Lei de Moisés (incorporando-as a Lei de Cristo), nem Ele nem os apóstolos ensinaram que os cristãos eram obrigados a manter as leis alimentares de Moisés.

Contudo, é bem claro que os primeiros cristãos, todos judeus convertidos, continuaram a manter a dieta do Velho Testamento por causa de convicções culturais (veja At. 10:9-14). E quando quando os gentils começaram a acreditar em Jesus, os primeiros cristãos judeus os pediram para seguir as leis de Moisés referentes as restrições alimentares simplesmente por consideração aos vizinhos judeus, que caso contrário pudessem se ofender (veja At. 15:1-21). Portanto, não há nada de errado em cristãos manterem essas leis de Moisés, desde que não confiem que manter essas leis é que os salva.

Alguns dos primeiros cristãos também estavam convencidos que era errado comer carnes que haviam sido sacrificadas a ídolos. Paulo instruiu os crentes que pensavam de outra forma (como ele) a andarem em amor com seus irmãos “fracos na fé” (veja Rm. 14:1), fazendo nada que os cause a violar suas consciências. Se alguém se abstem de comer certas coisas por convicção diante de Deus (mesmo que essas convições não tenham base), essa pessoa deve ser elogiada por sua devoção, não condenada por sua falta de entendimento. Do mesmo modo, aqueles que se abstem de certas comidas por convicção própria não devem julgar aqueles que não se abstem. Ambos os grupos devem andar em amor um para com o outro, já que Deus ordenou que isso fosse feito (veja Rm. 14:1-23).

De qualquer modo, porque a Bíblia é uma revelação progressiva, devemos sempre interpretar a revelação mais velha (o Velho Testamento) sob a luz da revelação mais nova (o Novo Testamento). Nenhuma das revelações que Deus dá é contraditória, é sempre complementar.

Contexto Histórico e Cultural (Cultural and Historical Context)

Sempre que possível, devemos considerar o contexto hitórico e cultural da passagem que estamos estudando. Ter alguma coisa em mente sobre aspectos únicos da cultura, geografia e história de um ambiente bíblico pode nos ajudar a ter um ponto de vista que caso contrário teríamos perdido. É claro que isso requer ajuda de outros livros além da Bíblia. Uma boa Bíblia de estudos normalmente terá informações dessa área.

Aqui estão alguns exemplos de como informações hitóricas e culturais podem nos ajudar a não nos confudir quando estivermos lendo a Bíblia:

1. Às vezes, lemos nas Escrituras de pessoas subindo em telhados (veja At. 10:9) ou fazendo buracos no telhado (veja Mc. 2:4). Ajuda a entender saber que os telhados eram normalmente planos em Israel nos tempos da Bíblia e havia escadas do lado de fora da maioria das casas que levavam a esses telhados planos. Se não soubermos disso podemos imaginar um personagem bíblico se arrastando pelo telhado e se agarrando a uma chaminé!

2. Lemos em Marcos 11:12-14 que Jesus amaldiçoou uma figueira por ela não ter figos, mesmo assim “não era tempo de figos.” Ajuda saber que figueiras normalmente têm alguns figos mesmo fora de época, portanto, Jesus não estava sendo irracional em suas expectações.

3. Lemos em Lucas 7:37-48 sobre uma mulher que entrou na casa de um fariseu onde Jesus estava jantando. As Escrituras dizem que ela ficou atrás de Jesus chorando e começou a molhar Seus pés com suas lágrimas, limpá-las com seus cabelos, beijar e ungir Seus pés com perfume. Nos perguntamos como tal coisa pode acontecer enquando Jesus estava sentado em uma mesa comendo. Ela engatinhou por baixo ba mesa? Como ela conseguiu passar pelas pernas de todos os outros convidados?

A resposta é encontrada na frase de Lucas que Jesus “reclinou-se à mesa” (Lc. 7:36). O modo costumeiro de se comer naqueles dias era se deitar de lado no chão ao redor de uma mesa baixa, se lavantando com um dos braços e se alimentanto com a outra mão. Nessa posição Jesus foi adorado pela mulher.

Uma Pergunta Comum Sobre Roupas (A Common Question About Clothes)

Uma pergunta que pastores ao reador do mundo sempre me fazem é: “É aceitável que mulheres cristãs usem calças, considerando que a Bíblia proíbe que mulheres usem roupas de homens?”

Essa é uma boa pergunta que podemos responder aplicando algumas regras de interpretação e um pouco de contexto cultural.

Primeiramente, vamos examinar a proibição da Bíblia contra mulheres usarem roupas de homens (e vice-versa):

A mulher não usará roupas de homem, e o homem não usará roupas de mulher, pois o Senhor, o seu Deus, tem aversão por todo aquele que assim procede (Dt. 22:5).

Devemos começar perguntando: “Qual foi a intenção de Deus ao dar esse mandamento?” O objetivo dEle era de não deixar mulheres usarem calças?

Não, essa não poderia ter sido Sua intenção, porque nenhum homem em Israel usava calças quando Deus disse isso originalmente. Calças não eram consideradas roupas de homem ou de qualquer um. Aliás, o que os homens usavam nos tempos bíblicos pareceria mais roupas de mulheres para a maioria de nós hoje! Isso é um pouco de informação histórica e cultural que nos ajuda a interpretar corretamente o que Deus estava tentando dizer.

Então qual era a intenção de Deus?

Lemos que qualquer um que usasse roupas do sexo oposto era uma abominação ao Senhor. Isso parece bem sério. Se um homem pegar o véu de uma mulher e colocá-lo na cabeça por três segundos ele vira uma abominação ao Senhor? Parece muito duvidável.

Seria mais provável que a oposição de Deus era para com pessoas que se vestiam para parecer propositalmente do sexo oposto. Por que alguém faria tal coisa? Só porque ele ou ela estaria esperando seduzir alguém do mesmo sexo, uma perversão sexual chamada travestismo. Acho que podemos como isso pode ser considerado uma abominação para Deus.

Portanto, ninguém pode concluir que mulheres não podem usar calças se baseando de Deuteronômio 22:5, a menos que ela esteja fazendo isso como travesti. Ela não estará pecando por usar calças, desde que ela ainda pareça mulher.

É claro que as Escrituras esinam que mulheres devem se vestir modestamente (veja 1 Tm. 2:9), portanto, calças justas e reveladoras não são apropriadas (assim como vestidos e saias justas) pois podem levar homens à cobiça. Muitas das roupas que mulheres usam publicamente em países ocidentais são completamente inapropriadas e são roupas que somente prostitutas usam em países em desenvolvimento. Nenhuma mulher cristã deve usar roupas publicamente com o intuito de parecer “sexy.”

Algumas Outras Ideias (A Few Other Thoughts)

É interessante que nenhum pastor da China tenha me perguntado sobre mulheres usando calças. É provável que seja porque a maioria das mulheres chinesas tem usado calças por um longo tempo. Somente pastores de países em que a maioria das mulheres não usa calça me fazem essa pergunta. Isso mostra o preconceito pessoal com relação as suas culturas.

Também me parece interessante que nenhuma pastora de Mianmar me tenha feito pergunta semelhante. Mianmar é um lugar onde homens tradicionalmente usam o que chamamos de saia, mas o que eles chaman de longgi. Novamente, o que constitui roupas de homens e mulheres varia de cultura para cultura, então precisamos tomar cuidado para não forçar nossa cultura no entendimento da Bíblia.

Finalmente, eu me pergunto por que tantos homes que esperam que mulheres não usem calças baseando-se em Deuteronômio 22:5 não se sentem obrigados a aplicar em si mesmos Levítico 19:27, que diz:

Não cortem o cabelo dos lados da cabeça, nem aparem as pontas da barba (Lv. 19:27).

Como homens que desobedecem Levítico 19:27, e raspam completamente suas barbas dadas por Deus, barbas que os distinguem claramente de mulheres, podem acusar mulheres que usam calças de tentar parecer homens? Parece meio hipócrita!

A propósito, um pouco de informação histórica nos ajuda a entender a intenção de Deus em Levítico 19:27. Arredondar o cabelo dos lados da babeça era parte de um ritual idólatra pagão. Deus não queria que Seu povo parecece devoto a ídolos pagãos.

Quem está Falando? (Who is Speaking?)

Sempre devemos notar quem está falando em qualquer passagem bíblica, já que essa pequena informação contextual nos ajudará a interpretá-la corretamente. Mesmo que tudo na Bíblia tenha sido inspirado para estar na Bíblia, nem tudo da Bíblia é a inspirada Palavra de Deus. O que eu quero dizer?

As palavras não-inspiradas de pessoas estão gravadas em muitas passagens das Escrituras. Portanto, não devemos pensar que tudo dito por pessoas na Bíblia é inspirado por Deus.

Por exemplo, alguns cometem o erro de citar as palavras de Jó e seus amigos como se fossem inspiradas por Deus. Existem dois motivos de porque isso é um erro. Primeiro, Jó e seus amigos discutiram por trinta e quatro capítulos. Eles não concordaram. Obviamente, nem tudo que disseram pode ser a Palavra inspirada de Deus porque Deus não se contradiz.

Segundo, no fim do livro de Jó, Deus fala e repreende tanto a Jó quanto seus amigos por dizerem coisas incorretas (veja Jó 38-42).

Devemos tomar as mesmas preucações quando lermos o Novo Testamento. Em vários casos, Paulo diz claramente que certas partes de suas cartas eram somente suas opniões (veja 1 Co. 7:12, 25-26, 40).

Quem está Sendo Endereçado? (Who is Being Addressed?)

Não devemos nos perguntar somente quem está falando em qualquer passagem bíblica, também devemos notar quem está sendo endereçado. Se não, podemos interpretar mal alguma coisa pensando que é aplicável a nós quando não é. Ou podemos interpretar alguma coisa como não sendo aplicável a nós quando é.

Por exemplo, reivindicam a promessa encontrada em Salmo 37, acreditando que se aplica a eles:

Ele atenderá os desejos do seu coração (Salmo 37:4).

Mas essa promessa se aplica a todos que a leem ou a conhecem? Não, se lermos o contexto, descobrimos que ela só se aplica a certas pessoas que encontram cinco condições.

Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração (Sl. 37:3-4).

Então vemos quão importante que notemos quem está sendo endereçado.

Aqui está outro exemplo:

Entrão Pedro começou a dizer-lhe: “Nós deixamos tudo para seguir-te”. Respondeu Jesus: “Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais, já no tempo presente, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos, e campos, e com eles perseguição; e, na era futura, a vida eterna. Contudo, muitos primeiros serão últimos, e os últimos serão primeiros” (Mc. 10: 28-30).

É bem popular em alguns círculos reivindicar o “cem vezes mais” quando dão dinheito para sustentar alguém que está pregando o evangelho. Mas essa promessa se aplica a tais pessoas? Não, ela é endereçada a pessoas que realmente deixam suas famílias, terrenos ou casas para pregar o evangelho, assim como Pedro, que perguntou a Jesus qual seria sua recompensa e dos outros discípulos.

Interessantemente, aqueles que sempre pregam sobre a recompensa de cem vezes mais tendem a focalizar principalmente nas casas e terrenos, e nunca nos filhos e perseguições que também foram prometidos! É claro que Jesus não estava falando que aqueles que deixam suas casa receberão escrituras de cem casas em troca. Ele estava prometendo que quando eles deixarem suas famílias e casas, os membros de suas novas famílias espirituais abrirão suas casas para alojamento. Verdadeiros discípulos não se importam com propriedades porque sabem que não têm posse de nada — são somente mordomos daquilo que é de Deus.

Um Exemplo Final (A Final Example)

Quando pessoas leem o que é conhecido como o “Sermão das Oliveiras” de Jesus, encontrado em Mateus 24-25, alguns acham erroneamente que Ele estava falando com ímpios, e portanto concluem que o que Ele diz não tem aplicação a elas. Elas leem as parábolas do Servo Mau e a parábola das Dez Virgens como se fossem endereçadas a ímpios. Mas como já disse antes, ambas foram endereçadas aos discípulos mais íntimos de Jesus (veja Mt. 24:3; Mc. 13:3). Portanto, se Pedro, Tiago, João e André precisavam ser advertidos da possibilidade de não estarem preparados para a volta de Jesus, nós também precisamos. O aviso do Sermão das Oliveiras de Jesus também pode ser aplicado a todos os crentes, mesmo aqueles que não pensam assim por não perceberem a quem Jesus estava falando.

Regra no3 Leia Honestamente. Não force sua teologia dentro do texto. Se você ler alguma coisa que contradiz o que acredira, não tente mudar a Bíblia; mude o que você acretida.

Todos abordamos as Escrituras com algumas inclinações. Por esse motivo, muitas vezes é difícil lermos a Bíblia honestamente. Nós acabamos forçando nossas crenças nas Escrituras, ao invés de deixá-la moldar nossa teologia. Ás vezes até procuramos passagens que sustentem nossas doutrinas, ignorando aquelas que contradizem nossas crenças. Isso é conhecido como “texto-prova.”

Aqui está um exemplo que encontrei recentemente de teologia forçada em um texto. Um professor em particular leu primeiro Mateus 11:28-29, uma frase bem conhecida de Jesus:

Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu julgo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas (Mt. 11:28-29).

O professor explicou que Jesus estava oferecendo dois tipos de descanso. O primeiro (supostamente) é o resto da salvação no 11:28, e o segundo é o descanso do discipulado no 11:29. O primeiro é recebido vindo a Jesus; o segundo é recebido se submetendo a Ele como Senhor, ou tomando Seu jugo.

Mas era essa a intenção de Jesus? Não isso é forçar um significado no texto que não foi declarado ou indicado. Jesus não disse que estava oferecendo dois descansos. Ele estava oferecendo um descanso para aqueles que estão cansados e sobrecarregados, e o único modo de receber esse único descanso é tomando o jugo de Jesus, que é submetendo-se a Ele. Esse é a intenção óbvia de Jesus.

Porque aquele professor propôs tal interpretação? Porque o significado óbvio da passagem não encaixa em sua crença de que existem dois tipos de crentes merecedores do céu — os crentes e os discípulos. Portanto, ele não interpretou essa passagem honestamente.

É claro, como vimos várias passagens nesse livro enquanto considerávamos essa teologia em particular, a interpretação daquele professor não encaixa no contexto das outras coisas que Jesus ensinou. Em lugar algum o Novo Testamento ensina que existam dois tipos de cristãos merecidos do céu, os crentes e os discípulos. Todos verdadeiros crentes são discípulos. Aqueles que não são discípulos não são cristãos. Discipulado é o fruto da fé genuína.

Vamos fazer o possível para ler a Bíblia honestamente, com corações puros. Se fizermos isso, o resultado será mais devoção e obediência a Cristo.


[1] Obviamente, Paulo não acreditava em segurança eterna incondicional, caso contrário ele não teria dita a Timóteo, uma pessoa salva, que precisava fazer algo para que assegurasse sua salvação.

[2] Moisés também viu as costas de Deus enquanto Ele passava. Deus posicionou Sua mão de forma que Moisés não pode ver Sua face; veja Êxodo 33:18-23.

[3] Também deve ser notado que Jesus disse mais cedo em Seu sermão que a menos que a santidade de Sua audiência ultrapassasse a dos escribas e fariseus, eles não entrarian no céu (veja Mt. 5:20). Então Jesus continuou mostrando várias coisas específicas que os escribas e fariseus estavam fazendo de forma errada.

O Ministério de Ensino

Capítulo Seis (Chapter Six)

Neste capítulo vamos levar em consideração vários aspectos do ministério de ensino. O ensino é responsabilidade dos apóstolos, profetas, evangelistas,[1] pastores/presbíteros/bispos, professores (é claro), e até certo ponto, de todos os seguidores de Cristo, já que todos devemos fazer discípulos, ensinando-os a obedecer a todos os mandamentos de Cristo.[2]

Como já enfatizei antes, o pastor ou o ministro discipulador ensina primeiramente através de seu exemplo, e depois verbalmente. Ele prega o que pratica. O apóstolo Paulo, um discipulador de muito sucesso, escreveu:

Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo (1 Co. 11:1).

Esse deve ser o alvo de cada ministro — ser capaz de dizer honestamente para aqueles a quem lidera: “Ajam com eu ajo. Se quiserem saber como um seguidor de Cristo vive, me observem.”

Em comparação, lembro-me de ter dito a uma congregação que pastoreei: “Não sigam a mim…sigam a Cristo!” Mesmo não tendo percebido na hora, eu estava admitindo que não era um bom exemplo a ser seguido. O fato é que eu estava admitindo que não estava seguindo a Cristo como deveria, e ainda estava mandando-os fazer algo que eu não estava! Isso é tão diferente do que Paulo falou. Na verdade, se não pudermos dizer às pessoas para nos imitar porque estamos imitando a Cristo, então, não deveríamos estar no ministério, já que as pessoas usam ministros como seus modelos. A igreja é um reflexo de seus líderes.

Ensinando Unidade Através do Exemplo (Teaching Unity by Example)

Vamos aplicar esse conceito de ensino através do exemplo ao ensino de um tópico em particular. Todos pastores/presbíteros/bispos desejam que o rebanho que lideram seja unido. Eles odeiam divisão em seu corpo local. Sabem que facções são desagradáveis ao Senhor. Afinal de contas, Jesus mandou amar uns aos outros assim como Ele nos amou (veja Jo. 13:34-35). Nosso amor uns pelos outros é o que nos marca como Seus discípulos diante do mundo. Tudo isso sendo verdade, a maioria dos líderes de rebanhos adverte suas ovelhas a amar uns aos outros e lutar pela unidade.

Mesmo assim, como ministros que devem ensinar principalmente através do exemplo, muitas vezes falhamos em nosso ensino sobre amor e unidade por causa da maneira que vivemos. Por exemplo, quando mostramos falta de amor e unidade com outros pastores, mandamos uma mensagem que contradiz o que pregamos. Esperamos que eles façam o que não fazemos.

O fato é que, as palavras mais significantes de Jesus sobre unidade foram dirigidas a líderes com respeito aos seus relacionamentos com outros líderes. Na ultima ceia, por exemplo, depois de ter lavado os pés de Seus discípulos, Jesus falou:

Vocês Me chamam “Mestre” e “Senhor”, e com razão, pois eu o sou. Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz (Jo. 13:13-15). [Note que Jesus ensinou pelo exemplo.]

Muitas vezes, pastores usam essa passagem das Escrituras para ensinar seus rebanhos sobre ‘amar uns aos outros’, o que é apropriado. Contudo, as palavras nessa passagem foram dirigidas a líderes, aos doze apóstolos. Jesus sabia que Sua futura Igreja teria pouca chance de sucesso em sua missão se seus líderes estivessem divididos ou se competissem uns com os outros. Portanto, deixou claro que espera que Seus líderes sirvam uns aos outros humildemente.

No contexto da cultura de Seus dias, Jesus demonstrou serviço humilde fazendo uma das tarefas mais baixas de um servo doméstico, lavar os pés. Se Ele tivesse visitado uma cultura diferente em um tempo diferente da história, poderia ter limpado latrinas ou lavado as latas de lixo de Seus discípulos. Quantos de Seus líderes modernos estão dispostos a demonstrar esse tipo de amor e humildade a outros?

Em menos de uma hora, Jesus enfatizou repetidamente essa importante mensagem. Minutos depois de ter lavado seus pés, Jesus disse aos Seus futuros líderes de igrejas:

Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros (Jo. 13:34-35).

Com certeza, essas palavras têm aplicação a todos os discípulos de Cristo, mas foram originalmente dirigidas a líderes a respeito de seus relacionamentos com outros líderes.

Novamente, minutos mais tarde, Jesus disse:

O meu mandamento é este: Amem-se uns aos outros como eu os amei. Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos (Jo. 15:12-13).

Note que Jesus estava novamente falando com líderes.

Segundos mais tarde, Ele disse novamente:

Este é o meu mandamento: Amem-se uns aos outros (Jo. 15:17).

Então, alguns minutos depois, os discípulos de Jesus o ouviram orar por eles:

Não ficarei mais no mundo, mas eles ainda estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, protege-os em teu nome, o nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um (Jo. 17:11, ênfase adicionada).

Finalmente, alguns segundos mais tarde, enquanto Jesus terminava Sua oração, Seus discípulos o ouviram falar:

Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste (Jo. 17:20-23, ênfase adicionada).

Portanto, durante o período de menos de uma hora, Jesus enfatizou seis vezes a Seus futuros líderes a importância de serem unidos e demonstrarem sua unidade; a importância de amar e servir humildemente uns aos outros. Obviamente, isso era muito importante para Jesus. A unidade deles era um fator chave para o mundo crer nEle.

Como Estamos Indo? (How Well Are We Doing?)

Infelizmente, enquanto esperamos que nossos rebanhos se unam em amor, muitos de nós competem com outros e usam meios imorais para construir suas igrejas às custas de outras igrejas. Muitos de nós evitam qualquer comunhão com pastores que têm doutrinas diferentes das nossas. Até anunciamos nossa falta de unidade em placas que colocamos na frente de nossas igrejas para o mundo ver, mandando uma mensagem para todos: “Nós não somos como aqueles outros cristãos dos outros prédios .” (E nós fizemos um bom trabalho educando o mundo sobre a nossa falta de união, já que a maioria dos ímpios sabe que o cristianismo é uma instituição muito dividida.)

Simplificando, não praticamos o que pregamos, e nosso exemplo ensina nossas congregações muito mais que nossos sermões sobre unidade. É besteira pensar que cristãos normais vão se unir e amar uns aos outros quando seus líderes agem de forma diferente.

Obviamente, a única solução é o arrependimento. Devemos nos arrepender por dar o exemplo errado para os crentes e para o mundo. Devemos remover as barreiras que nos dividem e começar a amar uns aos outros como Jesus mandou.

Isso significa que, em primeiro lugar, devemos nos encontrar com outros pastores e ministros, incluindo aqueles que estão convencidos de doutrinas diferentes. Não estou falando de estar em comunhão com pastores que não nasceram de novo, que não estão tentando obedecer a Jesus, ou que estão no ministério para ganho próprio. Eles são lobos em peles de ovelhas, e Jesus nos disse exatamente como identificá-los. Eles são conhecidos por seus frutos.

Contudo, estou falando de pastores e ministros que estão se esforçando para obedecer aos mandamentos de Jesus, verdadeiros irmãos e irmãs em Cristo. Se você é pastor, deve se comprometer a amar outros pastores, mostrando esse amor de maneira prática ao seu rebanho. Um jeito de começar é ir a outros pastores de sua vizinhança e pedir perdão por não tê-los amado como devia. Isso deve quebrar algumas barreiras. Então, se comprometa em se encontrarem regularmente para uma refeição, encorajar, advertir um ao outro e orar. Quando isso acontecer, finalmente poderá discutir amavelmente as doutrinas que tendem a dividi-los, lutando pela unidade, concordando em tudo que discutirem, ou não. Minha vida e ministério foram enriquecidos significantemente quando finalmente concordei em ouvir ministros que não eram do mesmo campo doutrinário que eu. Perdi muitas bênçãos por ter me isolado por muito tempo.

Você também pode demonstrar seu amor e unidade convidando outros pastores para pregar em sua igreja ou reunião de igreja no lar; ou então, sua igreja pode ter reuniões combinadas com outras igrejas ou reuniões de igrejas nos lares.

Você pode mudar o nome de sua igreja para que ele não anuncie ao mundo sua desunião com o resto do corpo de Cristo. Pode sair de sua denominação ou associação nomeada e se identificar só como o corpo de Cristo, mandando uma mensagem para todos que você acredita que Jesus está construindo somente uma Igreja, e não muitas igrejas diferentes que não se dão bem umas com as outras.

Isso parece radical, eu sei. Mas por que fazer qualquer coisa para sustentar o que claramente Jesus nunca quis? Por que se envolver em coisas que O descontentam? Não existem denominações ou associações especiais mencionadas nas Escrituras. Quando os coríntios se dividiram por causa de mestres favoritos, Paulo os repreendeu firmemente, dizendo que suas divisões revelavam sua carnalidade e criancice espiritual (veja 1 Co. 3:1-7). Nossas divisões revelam alguma outra coisa?

Qualquer coisa que nos separa dos outros deve ser evitada. Igrejas nos lares devem evitar se dar nome ou se juntar a qualquer associação que tenha nome. Nas Escrituras, igrejas individuais eram identificadas somente pelas casas em que se reuniam. Grupos de igrejas eram identificados somente pelas cidades em que se encontravam. Todos consideravam fazer parte da única Igreja, o corpo de Cristo.

Há somente um Rei e um Reino. Qualquer um que se coloca em uma posição em que crentes ou igrejas se identifiquem com ele está construindo seu próprio reino dentro do Reino de Deus. É melhor se preparar para ficar diante do Rei, que diz: “Não darei minha glória a nenhum outro” (Is. 48:11c).

Novamente, tudo isso é para dizer que ministros devem mostrar o exemplo certo de obediência a Cristo diante de todos, porque as pessoas irão seguir seus exemplos. O exemplo que vivem diante de outros é o meio mais influente de ensino que há. Como Paulo escreveu para os crentes de Filipo:

Irmãos, sigam unidos o meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que lhes apresentamos (Fp. 3:17, ênfase adicionada).

O Que Ensinar (What to Teach)

Como Paulo, o ministro que faz discípulos tem um alvo. Esse alvo é apresentar “todo homem perfeito em Cristo” (Cl. 1:28b). Então, ele, assim como Paulo, irá advertir e ensinar “a cada um com toda a sabedoria” (Cl. 1:28a). Note que Paulo não ensinou somente a educar ou entreter pessoas.

O discipulador pode dizer como Paulo: “O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera” (1 Tm. 1:5). Isto é, ele quer produzir verdadeira imitação e santidade de Cristo nas vidas das pessoas a quem serve, que é a razão de ensinar os crentes a obedecerem a todos os mandamentos de Cristo. Ele ensina a verdade, advertindo seus ouvintes a “viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hb. 12:14).

O discipulador sabe que Jesus mandou Seus discípulos ensinarem seus discípulos a obedecerem a tudo, e não apenas parte do que Ele mandou (veja Mt. 28:19-20). Ele quer ter a certeza de não negligenciar um único ponto que Cristo mandou; e então, regularmente ensinará versículo por versículo dos evangelhos e epístolas. É aí que os mandamentos de Jesus serão gravados e re-enfatizados.

Esse tipo de ensino expositório também garante que sua instrução continuará balanceada. Quando só ensinamos mensagens atuais, tendemos focalizar em tópicos populares e negligenciar aqueles que não são tão populares. Contudo, o professor que ensina versículo por versículo, não ensinará somente sobre o amor de Deus, mas também sobre Sua ira e disciplina. Ele não ensinará somente as bênçãos de ser cristão, mas também as responsabilidades. Será improvável que ele focalize temas superficiais, enfatizando o que é menos importante e negligenciando o mais importante. (De acordo com Jesus, os fariseus faziam isso; veja Mt. 23:23-24.)

Superando Medos de Ensinos Expositórios (Overcoming Fears of Expository Teaching)

Muitos pastores têm medo de ensinar versículo por versículo porque existem muitas coisas que não entendem nas Escrituras, e não querem que suas congregações saibam o quanto não sabem. É claro, isso é orgulho! Não existe uma pessoa na terra que entenda tudo nas Escrituras perfeitamente. Até Pedro disse que algumas coisas que Paulo escreveu eram difíceis de serem entendidas (veja 2 Pd. 3:16).

Quando um pastor que ensina versículo por versículo chega a um versículo ou passagem que não entende, ele deve simplesmente falar ao seu rebanho que não entende a próxima seção e pulá-la. Ele também pode pedir que orem para que o Espírito Santo o ajude a entender. Sua humildade será um bom exemplo para seu rebanho, um sermão por si só.

O pastor/presbítero/bispo de uma igreja no lar tem a vantagem extra de ensinar um pequeno grupo em um ambiente informal, pois perguntas podem ser feitas durante esse tempo. Isso também abre a possibilidade para o Espírito Santo dar entendimento a outros do grupo em relação às escrituras que estão sendo estudadas. O resultado pode ser um aprendizado muito mais efetivo para todos.

Um bom lugar para começar a ensinar os mandamentos de Jesus é Seu Sermão do Monte, encontrado em Mateus 5-7. Ali, Jesus deu muitos mandamentos, e ajudou Seus seguidores judeus a entenderem corretamente as leis dadas através de Moises. Um pouco mais adiante neste livro, ensinarei o Sermão do Monte, versículo por versículo para demonstrar como isso pode ser feito.

A Preparação do Sermão (Sermon Preparation)

Não há evidências no Novo Testamento sobre qualquer pastor/presbítero/bispo que prepara um sermão/discurso semanal completo com pontos claros e preparados e ilustrações escritas em esboços, como é a prática de vários ministros modernos. Com certeza, nenhum de nós pode imaginar Jesus fazendo tal coisa! O ensino na igreja primitiva era muito mais espontâneo e interativo, seguindo o estilo judeu, ao invés de discursado, como era a prática dos gregos e romanos; uma tradição que foi consequentemente adotada pela igreja quando ela se tornou institucionalizada. Se Jesus disse para Seus discípulos não prepararem defesa quando fossem chamados à corte judicial, prometendo que o Espírito Santo lhes daria palavras espontâneas e irrefutáveis, devemos esperar que Deus irá ajudar pastores em reuniões de igreja até certo ponto!

Isso não quer dizer que ministros não devem se preparar orando e estudando. Paulo advertiu a Timóteo:

Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade (2 Tm. 2:15).

Ministros que seguem a instrução de Paulo de deixar que “habite ricamente em vocês a palavra de Cristo” (Cl. 3:16) ficarão tão cheios da Palavra de Deus que serão capazes de ensinar por sua “abundância.” Então, querido pastor, o importante é que você mergulhe na Bíblia. Se você conhece seu assunto e é apaixonado por ele, pouca preparação é realmente necessária para comunicar a verdade de Deus. Além do mais, se ensinar versículo por versículo, pode simplesmente usar cada versículo consecutivo como esboço. Sua preparação deve então consistir de oração e meditação nos versículos das Escrituras que estará ensinando. Se você pastoreia uma igreja no lar, a natureza interativa do ensino irá diminuir ainda mais a necessidade de esboços.

O ministro que tem fé que Deus o irá ajudar enquanto ensina, será recompensado com a ajuda de Deus. Então, confie menos em si mesmo, em sua preparação e anotações e mais no Senhor. Gradualmente, enquanto ganha fé e confiança, prepare menos anotações, até que possa prosseguir com apenas o esqueleto de um esboço ou esboço algum.

Aquele que é inibido diante de outros é provável que dependa mais de notas preparadas, pois tem medo de errar em público. Ele precisa perceber que seu medo está enraizado na insegurança que, por sua vez, está enraizada no orgulho. Ele ficaria melhor se parasse de se preocupar com o que as pessoas acham dele e se preocupar mais com o que Deus acha dele e de sua audiência. Nenhum sermão preparado pode tocar as pessoas como um ensino tocante vindo do Espírito. Pense como a comunicação seria atrapalhada se todos usassem anotações preparadas para suas conversas! As conversas morreriam! O estilo de conversas não preparadas é bem mais sincero que um discurso preparado. Ensinar não é atuar. É transmitir a verdade. Todos sabemos quando estamos ouvindo um discurso, e quando percebemos temos a tendência de automaticamente não prestar atenção.

Mais Quatro Pensamentos (Four More Thoughts)

(1) Alguns ministros são como papagaios, pegam todo o material para seus sermões de livros que outros escreveram. Eles estão perdendo uma benção maravilhosa de serem ensinados pessoalmente pelo Espírito Santo, e também é provável que propaguem os erros dos escritores que copiaram.

(2) Muitos pastores imitam o estilo de pregação e ensino de outros pregadores, estilos que são puramente tradicionais. Por exemplo, alguns grupos acreditam que os sermões só são ungidos quando são altos e rápidos. Aqueles que vão à igreja são expostos a sermões gritados do início ao fim. A verdade é que as pessoas normalmente deixam de prestar atenção na gritaria redundante, assim como na pregação monótona. Uma voz variada é muito mais cativante. Mais adiante, a pregação pode ser mais alta por ser exortativa, enquanto o ensino será normalmente feito em um tom de conversa, já que é instrucional.

(3) Eu tenho observado ouvintes de sermões em centenas de cultos de igrejas, e me impressiona o fato de tantos pastores e professores não perceberem as muitas indicações de que as pessoas estão entediadas e/ou não ouvindo. Pastor, as pessoas que parecem entediadas estão entediadas! Aqueles que não estão olhando para você enquanto fala provavelmente não estão ouvindo. As pessoas que não estão ouvindo não estão sendo ajudadas. Se pessoas sinceras estão entediadas e/ou não ouvindo, então, você precisa melhorar seus sermões: dê mais exemplos; conte estórias relevantes; invente parábolas; mantenha o sermão simples; ensine a Palavra de coração; seja sincero; seja você mesmo; varie sua voz; faça contato visual com o maior número de ouvintes possível; use alguma expressão facial; use suas mãos; mexa-se; não fale por muito tempo; se o grupo for pequeno, deixe as pessoas fazerem perguntas em qualquer hora razoável.

(4) A ideia que cada sermão dever ter três pontos é simplesmente uma invenção humana. O objetivo é fazer discípulos, não seguir teorias modernas sobre pregações. Jesus disse: “Cuide das minhas ovelhas” e não: “Impressione minhas ovelhas.”

A Quem Ensinar (Whom to Teach)

Seguindo o modelo de Jesus, o discipulador, até certo ponto, é seletivo a respeito de quem ensina. Isso pode lhe surpreender, mas é verdade. Muitas vezes Jesus falou às multidões em parábolas, e tinha um motivo para fazer isso: Ele não queria que todos entendessem o que estava dizendo. Isso está claro nas Escrituras:

Os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram: “Por que falas ao povo por parábolas?” Ele respondeu: “A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. A quem tem será dado, e este terá em grande quantidade. De quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Por essa razão eu lhes falo por parábolas: Porque vendo, eles não vêem e, ouvindo, não ouvem nem entendem” (Mt. 13:10-13).

O privilégio de entender as parábolas de Cristo estava reservado somente para aqueles que tinham se arrependido e decidido seguir a Ele. Aqueles que rejeitaram a oportunidade de se arrepender, resistindo à vontade de Deus para suas vidas, também foram rejeitados por Deus. Deus resiste ao orgulhoso, mas dá graça ao humilde (veja 1 Pd. 5:5).

Similarmente, Jesus instruiu Seus seguidores: “Não dêem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão” (Mt. 7:6). Obviamente, Jesus estava falando figurativamente. Ele quis dizer: “Não dê o que é valioso para aqueles que não apreciam seu valor”. Porcos não percebem que pérolas são preciosas, e assim porcos espirituais não dão valor a Palavra de Deus quando a ouvem. Se acreditassem que se tratava mesmo da Palavra de Deus o que estavam ouvindo, dariam sua atenção total e obedeceriam.

Como você sabe se alguém é um porco espiritual? Você joga uma pérola para ele e vê o que ele faz com ela. Se for indiferente, então você saberá que é um porco espiritual. Se obedecê-la, então, saberá que não é um porco espiritual.

Infelizmente, muitos pastores estão fazendo o que Jesus mandou não fazer: jogando continuamente suas pérolas aos porcos, ensinando pessoas que estão resistindo ou têm rejeitado a Palavra de Deus. Esses ministros estão gastando seu tempo dado por Deus. Eles deviam ter sacudido o pó de seus pés e continuado há muito tempo, assim como Jesus mandou.

As Ovelhas, os Bodes e os Porcos (The Sheep, Goats and Pigs)

O fato é, você não pode discipular alguém que não quer ser discipulado, alguém que não quer obedecer a Jesus. Muitas igrejas estão cheias de pessoas assim, que são cristãs culturais, muitos que acham que renasceram por terem simplesmente concordado mentalmente com alguns fatos teológicos sobre Jesus e o cristianismo. Elas são bodes e porcos, não ovelhas. Mesmo assim, muitos pastores gastam 90% de seu tempo tentando manter esses porcos e bodes felizes, enquanto negligenciam aqueles que deviam estar ajudando espiritualmente e servindo, as verdadeiras ovelhas! Pastor, Jesus quer que você alimente Suas ovelhas, não os bodes e porcos (veja Jo. 21:17)!

Mas como sabemos quem são as ovelhas? Elas são aquelas que chegam na igreja primeiro e saem por último. Elas estão com fome para aprender a verdade, porque Jesus é Senhor delas e querem agradá-Lo. Elas vão à igreja não só aos domingos, mas sempre que tem uma reunião. Envolvem-se em pequenos grupos. Muitas vezes fazem perguntas. Ficam animadas por causa do Senhor. Elas procuram oportunidades para servir.

Pastor, dedique a maioria de seu tempo e atenção a essas pessoas. Elas são os discípulos. Para os bodes e porcos que vão à sua igreja, pregue o evangelho pelo tempo que aguentarem. Mas se você pregar o evangelho verdadeiro, não aguentarão muito tempo. Eles sairão da igreja, ou se tiverem o poder, tentarão removê-lo de sua posição. Se conseguirem, abane o pó de seus pés enquanto sai. (Em um ambiente de igreja no lar, tal coisa não pode acontecer, especialmente se a igreja se reunir em sua casa!)

Do mesmo modo, evangelistas não devem se sentir na obrigação de pregar o evangelho às mesmas pessoas que o rejeitaram repetidamente. Deixe que os mortos sepultem os mortos (veja Lc. 9:60). Você é um embaixador de Cristo, levando a mensagem mais importante do Rei dos reis! Sua posição é muito alta no Reino de Deus e sua responsabilidade é enorme! Não gaste seu tempo falando para alguém o evangelho duas vezes, até que todos tenham ouvido uma vez.

Se você quiser ser um discipulador, deve selecionar quem vai ensinar, sem gastar seu tempo valioso com pessoas que não querem obedecer a Jesus. Paulo escreveu a Timóteo:

E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros (2 Tm. 2:2, ênfase adicionada).

Alcançando o Alvo (Reaching the Goal)

Imagine por um momento uma coisa que nunca poderia ter acontecido no ministério de Jesus, mas que acontece o tempo todo em igrejas modernas. Imagine que Jesus, depois de Sua ressurreição, tivesse ficado na terra e começado uma igreja, como a igreja institucional moderna, e então, a tivesse pastoreado por trinta anos. Imagine-O dando sermões todos os domingos na mesma congregação. Imagine Pedro, Tiago e João sentados no primeiro banco durante um dos sermões de Jesus, onde têm se sentado todos os domingos por vinte anos. Imagine Pedro virando para João e sussurrando em seu ouvido com um suspiro: “Já ouvimos esse sermão dez vezes.”

Sabemos que essa cena é absurda, porque sabemos que Jesus nunca colocaria a Si mesmo ou Seus discípulos em tal situação. Ele veio para fazer alguns discípulos e fazê-los de uma certa forma dentro de um certo tempo. Em um período de mais ou menos três anos Jesus discipulou Pedro, Tiago, João e alguns outros. Ele não fez isso pregando a eles uma vez por domingo em um prédio de igreja, mas vivendo na frente deles, respondendo às suas perguntas e dando a eles a oportunidade de servir. Ele completou Sua tarefa e foi adiante.

Então, por que fazemos coisas que Jesus nunca faria? Por que tentamos alcançar o que Deus quer, pregando às mesmas pessoas por décadas? Quando teremos completado nossa tarefa? Por que depois de alguns anos nossos discípulos ainda não estão preparados para fazer discípulos?

Meu ponto é, se estamos fazendo nosso trabalho corretamente, deve haver uma hora em que nossos discípulos estarão maduros o suficiente para não precisarem mais de nossa ministração. Eles devem ser liberados para fazer seus discípulos. Nós devemos alcançar o alvo que Deus colocou diante de nós, e Jesus nos mostrou como. A propósito, em uma igreja no lar em crescimento, existe uma necessidade contínua de discipular pessoas e desenvolver líderes. Uma igreja no lar saudável não cairá no círculo sem fim do mesmo líder pregar para as mesmas pessoas por décadas.

Motivos Certos (Right Motives)

Para ter sucesso no ensino que leva à formação de discípulos, não há nada mais importante que ter os motivos certos. Quando alguém está no ministério pelos motivos errados, ele fará as coisas erradas. Esta é a razão principal de existirem tantos ensinos falsos e desbalanceados na igreja hoje. Quando o motivo de um ministro é ganhar popularidade, ter sucesso aos olhos dos outros ou ganhar muito dinheiro, está destinado ao fracasso aos olhos de Deus. O mais triste é que ele pode obter sucesso em alcançar seu objetivo de ganhar popularidade, ter sucesso aos olhos dos outros ou ganhar muito dinheiro, mas o dia chegará que seus motivos errados serão expostos diante do trono do julgamento de Cristo, e não receberá recompensa por seu trabalho. Se lhe for permitido entrar no reino dos céus,[3] todos saberão a verdade sobre ele, já que sua falta de recompensa e sua baixa posição no Reino revelarão. Não há dúvida que existem diferentes posições no céu. Jesus avisou:

Todo aquele que desobedecer a um desses mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será chamado menor no Reino dos céus; mas todo aquele que praticar e ensinar estes mandamentos será chamado grande no Reino dos céus (Mt. 5:19).

É claro que aqueles ministros que obedecem e ensinam os mandamentos de Cristo sofrerão por isso enquanto na terra. Jesus prometeu sofrimento para aqueles que O obedecem (veja Mt. 5:10-12; Jo. 16:33). Eles são os menos prováveis para ganhar sucesso terreno, popularidade e riqueza. O que ganham são recompensas futuras e louvores de Deus. Qual você prefere? Sobre isso, Paulo escreveu:

Afinal de contas, quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer, conforme o ministério que o Senhor atribuiu a cada um. Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer; de modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua a crescimento. O que planta e o que rega têm um só propósito, e cada um será recompensado de acordo com o seu próprio trabalho. Pois nós somos cooperadores de Deus; vocês são lavoura de Deus e edifício de Deus.

Conforme a graça de Deus que me foi concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele. Contudo, veja cada um como constrói. Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo. Se alguém constrói sobre esse alicerce usando ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno ou palha, sua obra será mostrada, porque o Dia a trará à luz; pois será revelada pelo fogo, que provará a qualidade da obra de cada um. Se o que alguém construiu se queimar, esse sofrerá prejuízo; contudo, será salvo como alguém que escapa através do fogo (1 Co. 3:5-15).

Paulo se comparou a um mestre de obras que constrói o alicerce. Comparou Apolo, um professor que foi a Corinto depois de Paulo ter estabelecido a igreja lá, a alguém que constrói em cima do alicerce que já foi lançado.

Note que Paulo e Apolo iriam, no fim, ser recompensados com base na qualidade, não na quantidade, de seu trabalho (veja 3:13).

Simbolicamente falando, Paulo e Apolo poderiam construir o prédio do Senhor com seis tipos diferentes de materiais, dos quais três são comuns, relativamente baratos e inflamáveis, e três são incomuns, muito caros, e não-inflamáveis. Um dia, os respeitáveis materiais de construção deles seriam submetidos ao fogo do julgamento de Deus, e a madeira, feno e palha seriam consumidos pelo fogo, revelando sua inutilidade e qualidade temporária. O ouro, prata e pedras preciosas, representando trabalhos que são preciosos e eternos aos olhos de Deus, resistiriam às chamas provadoras.

Podemos ter certeza que ensinos não-bíblicos serão queimados e virarão cinzas no julgamento de Cristo. E também qualquer coisa feita pelo poder, métodos ou sabedoria da carne, assim como qualquer coisa feita pelos motivos errados. Jesus avisou que qualquer coisa que possamos fazer que é motivada pelo desejo de louvores humanos não será recompensada (veja Mt. 6:1-6, 16-18). Esses tipos de trabalhos inúteis podem não ser evidentes aos olhos humanos agora, mas com certeza será revelado a todos no futuro, como Paulo avisou. Pessoalmente, se meus trabalhos fossem da categoria de madeira, feno e palha, preferiria descobrir agora do que mais tarde. Agora, há tempo para o arrependimento; depois, será tarde demais.

Checando Nossos Motivos (Checking Our Motives)

É muito fácil enganarmos a nós mesmos sobre nossos motivos. Eu, com certeza, já fiz isso. Como podemos descobrir se nossos motivos são puros?

O melhor caminho é pedir a Deus para nos revelar se nossos motivos são errados, e então monitorar nossos pensamentos e obras. Jesus nos mandou fazer boas obras como orar e dar esmolas aos pobres em segredo, e esse é um modo de assegurar que estamos indo bem porque desejamos louvar ao Senhor ao invés das pessoas. Se formos obedientes a Deus apenas quando estamos sendo observados, isso indica que algo está muito errado. Ou, se evitamos pecados escandalosos que arruinariam nossa reputação se fossemos pegos, mas nos entregamos a pecados menores que provavelmente ninguém ficaria sabendo, isso mostra que nossas motivações são erradas. Se estivermos verdadeiramente tentando agradar a Deus — que conhece cada um de nossos pensamentos, palavras e obras — então, faremos o possível para obedecê-Lo em todo o tempo, nas coisas grandes e pequenas, conhecidas ou não pelos outros.

Similarmente, se nossos motivos são corretos, não seguiremos as manias de crescimento de igrejas, que só servem para aumentar a presença nos cultos, às custas da formação de discípulos que obedecem a todos os mandamentos de Cristo.

Ensinaremos toda a Palavra de Deus e não focalizaremos apenas os tópicos populares que apelam a pessoas carnais e ímpias.

Não torceremos a Palavra de Deus ou ensinaremos passagens de modo que violem seus contextos dentro da Bíblia.

Não buscaremos títulos e lugares de honra a nós mesmos. Não tentaremos nos tornar conhecidos.

Não iremos fornecer aos ricos.

Não acumularemos tesouros na terra, mas viveremos simplesmente e daremos tudo o que pudermos, dando o exemplo de bons mordomos diante de nossos rebanhos.

Preocuparemo-nos mais com o que Deus pensa de nossos sermões do que com o que os outros pensam.

Como estão seus motivos?

Uma Doutrina que Destrói a Formação de Discípulos (A Doctrine that Defeats Disciple-Making)

O discipulador nunca ensina algo que vai contra o ojetivo de fazer discípulos. Portanto, ele nunca diz algo que deixa as pessoas confortáveis em desobedecer ao Senhor Jesus. Ele nunca apresenta a graça de Deus como um meio de pecar sem temer o julgamento. Pelo contrário, apresenta a graça de Deus como um meio de se arrepender dos pecados e ter uma vida de superação. Como sabemos, as Escrituras dizem que somente os vencedores herdarão o Reino de Deus (veja Ap. 2:11, 3:5, 21:7).

Infelizmente, alguns ministros modernos seguram-se a doutrinas não-bíblicas que causam grande dano ao objetivo de fazer discípulos. Uma das doutrinas que tem se tornado muito popular nos Estados Unidos é aquela de segurança eterna incondicional, ou “uma vez salvo, sempre salvo.” Essa doutrina diz que pessoas renascidas nunca podem perder sua salvação, independentemente de como levam suas vidas. Eles dizem que, já que a salvação é pela graça, a mesma graça que no início salva as pessoas que oram para recebê-la, as manterá salvas. Qualquer outro ponto de vista, dizem, é equivalente a dizer que as pessoas são salvas por suas obras.

Naturalmente, tal ponto de vista é um grande prejuízo à santidade. Já que obediência a Cristo, supostamente não é essencial para alguém entrar no céu, há pouca motivação para obedecer a Jesus, especialmente quando a obediência é custosa.

Como eu já disse antes no livro, a graça que Deus estendeu sobre a humanidade não alivia a responsabilidade das pessoas de obedecê-Lo. As Escrituras dizem que a salvação não vem só pela graça, mas também pela fé (veja Ef. 2:8). Graça e fé são necessárias para a salvação. Fé é a reação própria à graça de Deus, e a verdadeira fé sempre resulta em arrependimento e obediência. A fé sem obras está morta, inútil e não pode salvar, de acordo com Tiago (veja Tg. 2:14-26).

É por isso que as Escrituras declaram repetidamente que a salvação depende de contínua fé e obediência. Existem várias passagens nas Escrituras que deixam isso bem claro. Por exemplo, Paulo escreve em sua carta aos colossenses:

Antes vocês estavam separados de Deus e, na mente de vocês, eram inimigos por causa do mau procedimento de vocês. Mas agora ele os reconciliou pelo corpo físico de Cristo, mediante a morte, para apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e livres de qualquer acusação, desde que continuem alicerçados e firmes na fé, sem se afastarem da esperança do evangelho, que vocês ouviram e que tem sido proclamado a todos os que estão debaixo do céu. Esse é o evangelho do qual eu, Paulo, me tornei ministro (Cl. 1:21-23, ênfase adicionada).

Não é possível ser mais claro. Somente um teólogo pode torcer ou não entender o que Paulo quis dizer. Jesus confirmará que somos inculpáveis se continuarmos na fé. Essa mesma verdade é repetida em Romanos 11:13-24, 1 Coríntios 15:1-2 e Hebreus 3:12-14, 10:38-39, onde é dito claramente que a salvação final é possível pela fé contínua. Todos contêm a palavra condicional se.

A Necessidade de Santidade (The Necessity of Holiness)

Pode um salvo perder a salvação pecando? A resposta é encontrada em muitas escrituras, como as seguintes, que garantem que aqueles que praticam diversos pecados não herdarão o Reino de Deus. Se um salvo pode voltar à prática dos pecados das seguintes listas juntadas por Paulo, então, um salvo pode perder a salvação:

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus (1 Co. 6:9-10, ênfase adicionada).

Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus (Gl. 5:19-21, ênfase adicionada).

Porque vocês podem estar certos disto: nenhum imoral, ou impuro, ou ganancioso, que é idólatra, tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência (Ef. 5:5-6, ênfase adicionada).

Note que em todos os casos, Paulo estava escrevendo para salvos, advertindo-os. Duas vezes ele os avisou para não serem enganados, indicando que estava preocupado que alguns salvos pudessem pensar que podem praticar os pecados listados e ainda assim herdar o Reino de Deus.

Jesus avisou Seus discípulos mais próximos, Pedro, Tiago, João e André da possibilidade de serem lançados no inferno por não estarem preparados para Sua volta. Note que as palavras a seguir foram dirigidas a eles (veja Mc. 13:1-4), e não a uma multidão de pecadores:

Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor. Mas entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Assim, vocês [Pedro, Tiago, João e André] também precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês [Pedro, Tiago, João e André] menos esperam.

Quem é, pois, o servo fiel e sensato, a quem seu senhor encarrega dos de sua casa para lhes dar alimento no tempo devido? Feliz o servo que seu senhor encontrar fazendo assim quando voltar. Garanto-lhes que ele o encarregará de todos os seus bens. Mas suponham que esse servo seja mau e diga a si mesmo: “Meu senhor está demorando”, e então comece a bater em seus conservos e a comer e a beber com os beberrões. O senhor daquele servo virá num dia em que ele não o espera e numa hora que não sabe. Ele o punirá severamente e lhe dará lugar com os hipócritas, onde haverá choro e ranger de dentes (Mt. 24:42-51, ênfase adicionada).

E a moral da história? “Pedro, Tiago, João e André, não sejam como o servo desleal desta parábola.”[4]

Para ressaltar o que tinha acabado de dizer aos Seus discípulos mais íntimos, Jesus continuou imediatamente com a parábola das Dez Virgens. Inicialmente, todas as dez estavam preparadas para a chegada do noivo, mas cinco se tornaram despreparadas e foram excluídas da festa de casamento. Jesus finalizou a parábola com estas palavras: “Portanto, vigiem [Pedro, Tiago, João e André], porque vocês [Pedro, Tiago, João e André] não sabem o dia nem a hora” (Mt. 25:13)! Isso é, “Não sejam como as cinco virgens imprudentes, Pedro, Tiago, João e André.” Se não houvesse a possibilidade de Pedro, Tiago, João e André não estarem preparados, não haveria necessidade de Jesus tê-los advertido.

E então, imediatamente contou-lhes a Parábola dos Talentos. Era a mesma mensagem novamente. “Não sejam como o escravo que possuía um talento, que não tinha mais nada a entregar ao seu senhor além daquilo que lhe tinha sido entregue.” No fim da parábola o mestre declarou: “E lancem fora o servo inútil, nas trevas, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt. 25:30). Jesus não poderia fazer sua mensagem mais simples. Somente um teólogo poderia torcer seu significado. Havia o perigo de Pedro, Tiago, João e André serem lançados no inferno quando Jesus retornasse se não tivessem sido obedientes. Se essa possibilidade existia para Pedro,Tiago, João e André, ela também existe para todos nós. Como Jesus prometeu, somente aqueles que fazem a vontade de Seu Pai entrarão no Reino dos céus (veja Mt. 7:21).[5]

Claramente, aqueles que ensinam a doutrina falsa da segurança eterna incondicional trabalham contra Cristo e a favor de Satanás, ensinando o oposto do que Jesus e Seus apóstolos ensinaram. Eles neutralizam efetivamente o mandamento de Jesus de fazer discípulos que obedecerão a tudo o que Ele mandou, bloqueando a rua estreita para o céu e aumentando a estrada larga para o inferno.[6]

Outra Doutrina Moderna que Destrói a Formação de Discípulos (Another Modern Doctrine that Defeats Disciple-Making)

Não é só o ensinamento de segurança eterna incondicional que leva pessoas a pensar que santidade não é essencial para a salvação final. O amor de Deus é muitas vezes apresentado de modo que neutraliza a formação de discípulos. Várias vezes ouvimos pastores dizerem: “Deus te ama incondicionalmente.” As pessoas interpretam dessa forma, “Deus me aceita e me aprova sem levar em conta se eu O obedeço ou não.” Contudo, isso simplesmente não é verdade.

Muitos desses mesmos pregadores acreditam que Deus joga as pessoas que não nasceram de novo no inferno, e certamente estão corretos em sua crença. Agora vamos pensar sobre isso. Obviamente, Deus não aprova as pessoas que lança no inferno. Então como podemos dizer que Ele as ama? Ele ama as pessoas que lança no inferno? Você acha que eles iriam dizer que Deus as ama? É claro que não. Deus diria que os ama? Certamente que não! Eles são abomináveis a Ele, que é a razão de os estar punindo no inferno. Ele não os aprova ou os ama.

Isso sendo verdade, o amor de Deus por pecadores terrenos é claramente um amor misericordioso que é temporário, e não um amor de aprovação. Ele tem misericórdia deles, evitando Seu julgamento e dando-lhes a oportunidade de se arrependerem. Jesus morreu por eles, providenciando uma maneira de serem salvos. Desse modo, pode ser dito que Deus os ama. Mas Ele nunca os aprova. Ele nunca sente um amor por eles como um pai sente por seu filho. Na verdade, as Escrituras dizem: “Como um pai tem compaixão de seus filhos assim o Senhor tem compaixão dos que o temem” (Sl. 103:13, ênfase adicionada). Portanto, pode ser dito que Deus não tem a mesma compaixão por aqueles que não O temem. O amor de Deus pelos pecadores é parecido com a misericórdia de um juiz por um assassino condenado que recebe prisão perpétua ao invés de pena de morte.

Não há um único caso no livro de Atos onde alguém, pregando o evangelho diz à audiência não salva que Deus os ama. Na verdade, muitas vezes os pregadores bíblicos advertiam sua audiência sobre a ira de Deus e os chamavam ao arrependimento, falando que Deus não os aprovava, que estavam em perigo e que precisavam fazer mudanças radicais em suas vidas. Se eles tivessem dito à sua audiência que Deus os amava (como fazem muitos ministros modernos), poderiam tê-los iludido a pensar que não estavam em perigo, que não estavam acumulando ira para si mesmos e que não havia necessidade de se arrependerem.

O Ódio de Deus pelos Pecadores (God’s Hatred of Sinners)

Contrário ao que é muitas vezes proclamado hoje, sobre o amor de Deus pelos pecadores, as Escrituras dizem que Deus odeia pecadores:

Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal. Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o Senhor detesta (Sl. 5:5-6. ênfase adicionada).

O Senhor prova o justo, mas o ímpio e a quem ama a injustiça, a sua alma odeia (Sl. 11:5, ênfase adicionada).

Abandonei a minha família, deixei a minha propriedade e entreguei aquela a quem amo nas mãos dos seus inimigos. O povo da minha propriedade tornou-se para mim como um leão na floresta. Ele ruge contra mim, por isso eu o detesto (Jr. 12:7-8, ênfase adicionada).

Toda a sua impiedade começou em Gigal; de fato, ali os odiei. Por causa dos seus pecados eu os expulsarei da minha terra. Não os amarei mais; todos os seus líderes são rebeldes (Os. 9:15, ênfase adicionada).

Note que nenhuma das passagens acima diz que Deus só odeia o que as pessoas fazem — elas dizem que Ele as odeia. Isso brilha uma luz nesta coisa rotineira que Deus ama o pecador mas odeia o pecado. Não podemos separar uma pessoa do que ela faz. O que ele faz revela o que ele é. Portanto, Deus odeia as pessoas que pecam, e não só os pecados que cometem. Se Deus aprova as pessoas que fazem coisas que odeia, Ele é muito inconsistente consigo mesmo. Na corte judicial humana, pessoas são julgadas por seus crimes, e eles recebem a recompensa justa. Nós não odiamos o crime e aprovamos aqueles que os cometem.

Pessoas que Deus Odeia (People Whom God Abhors)

As Escrituras não só afirmam que Deus odeia certos indivíduos, elas também declaram que Ele odeia alguns tipos de pecadores ou que eles são abomináveis a Ele. Note que os versículos seguintes não dizem que o que essas pessoas fazem é abominável a Deus, e sim que elas são. As passagens não dizem que Deus abomina seus pecados, mas que Ele as abomina:[7]

A mulher não usará roupas de homem, e o homem e não usará roupas de mulher, pois o Senhor, o seu Deus, tem aversão por todo aquele que assim procede (Dt. 22:5, ênfase adicionada).

Pois o Senhor, o seu Deus, detesta quem faz essas coisas, quem negocia desonestamente (Dt. 25:16, ênfase adicionada).

Vocês comerão a carne dos seus filhos e das suas filhas. Destruirei os seus altares idólatras, despedaçarei os seus altares de incenso e empilharei os seus cadáveres sobre os seus ídolos mortos, e rejeitarei vocês (Lv. 26:29-30, ênfase adicionada).

Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal. Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o Senhor detesta (Sl 5:5-6, ênfase adicionada).

Pois o Senhor detesta o perverso, mas o justo é seu grande amigo (Pv. 3:32, ênfase adicionada).

O Senhor detesta os perversos de coração, mas os de conduta irrepreensível dão-lhe prazer (Pv. 11:20, ênfase adicionada).

O Senhor detesta os orgulhosos de coração. Sem dúvida serão punidos (Pv. 16:5, ênfase adicionada),

Absolver o ímpio e condenar o justo são coisas que o Senhor odeia (Pv. 17:15, ênfase adicionada).

Como podemos reconciliar tais passagens com aquelas que afirmam o amor de Deus pelos pecadores? Como é possível dizer que Deus abomina e odeia pecadores, mas que também os ama?

Devemos reconhecer que nem todo amor é igual. Existe o amor que não é condicional. Este pode ser chamado de “amor de misericórdia.” É um amor que diz: “Eu te amo apesar de.” Ele ama as pessoas independentemente de suas ações. Esse é o tipo de amor que Deus tem pelos pecadores.

Em contraste ao amor de misericórdia existe o amor condicional. Ele pode ser referido como “amor de aprovação.” É um amor que é adquirido ou merecido. É um amor que diz: “Eu te amo por causa disso.”

Alguns pensam que se o amor é condicional, não é amor; ou menosprezam tal amor, dizendo que é puramente egoísta e nada parecido com Deus.

Contudo, a verdade é que Deus possui o amor condicional, como logo veremos nas Escrituras. Portanto, não se deve desprezar o amor de aprovação. O amor de aprovação é o amor principal que Deus tem por Seus verdadeiros filhos. Devemos desejar o amor de aprovação de Deus muito mais que Seu amor de misericórdia.

O Amor de Aprovação é um Amor Inferior? (Is Approving Love an Inferior Love?)

Pare e faça a si mesmo essa pergunta: “Que tipo de amor eu preferiria que as pessoas tivessem por mim — amor de misericórdia ou amor de aprovação?” Eu tenho certeza que você irá preferir que as pessoas te amem “por causa de,” e não “apesar de.”

Você preferiria ouvir seu cônjuge falar: “Eu não tenho razão para te amar, e não há coisa alguma em você que me motive a lhe mostrar meu apoio”; ou, “Eu te amo por tantos motivos, porque existe tanta coisa em você que eu admiro”? É claro que preferiríamos que nossos cônjuges nos amassem com um amor de aprovação, e esse é o motivo principal que une os casais e os mantêm juntos. Quando não existe algo que uma pessoa admira em seu cônjuge, quando todo amor de aprovação deixa de existir, poucos casamentos permanecem. Se eles permanecerem, o crédito vai para o amor de misericórdia, que origina do caráter devoto do doador desse amor.

Tudo isso sendo verdade, vemos que amor condicional, ou de aprovação não é inferior. Enquanto amor de misericórdia é o mais louvável para se dar, o amor de aprovação é o mais louvável de se receber. Mais adiante, o fato do amor de aprovação ser o único tipo de amor que o Pai já teve por Jesus o eleva ao seu justo lugar de respeito. Deus o Pai nunca teve uma única gota de amor de misericórdia por Jesus, porque nunca houve algo de desagradável em Cristo. Jesus testificou:

Por isso é que meu Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la (Jo. 10:17, ênfase adicionada).

Portanto, vemos que o Pai amava Jesus por causa da obediência de Jesus ao morrer. Não deve ter algo de errado com amor de aprovação, e sim tudo de certo. Jesus adquiriu e mereceu o amor de Seu Pai.

Jesus também declarou que permanecia no amor de Seu Pai obedecendo aos Seus mandamentos:

Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor. Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço (Jo. 15:9-10, ênfase adicionada).

Mais adiante, como as Escrituras indicam, devemos seguir o exemplo de Jesus, e permanecer em Seu amor obedecendo aos Seus mandamentos. Ele está claramente falando do amor de aprovação nesta passagem, nos dizendo que podemos e devemos adquiri-lo, e que podemos nos retirar dele através da desobediência aos Seus mandamentos. Permanecemos em Seu amor somente se obedecermos aos Seus mandamentos. Tal coisa é raramente ensinada hoje em dia; mas devia ser, porque é o que Jesus disse.

Jesus só confirma o amor de aprovação de Deus por aqueles que obedecem Seus mandamentos.

Pois o próprio Pai os ama, porquanto vocês me amaram e creram que eu vim de Deus (Jo. 16:27, ênfase adicionada).

Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele…Se alguém me ama obedecerá à minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos morada nele (Jo. 14:21,23, ênfase adicionada).

Note que na segunda passagem Jesus não estava prometendo aos crentes descomprometidos que se começassem a guardar Suas palavras iria se aproximar deles de maneira especial. Ele estava prometendo que se alguém começasse a amá-Lo e a guardar Suas palavras, então, Seu Pai o amaria e tanto Ele como Seu Pai viveriam nessa pessoa, uma clara referência ao renascimento. Todos que renascem têm o Pai e o Filho vivendo nele pela habitação do Espírito Santo (veja Rm. 8:9). Então podemos ver novamente que aqueles que realmente renasceram são aqueles que se arrependeram e começaram a obedecer a Jesus, e portanto, são os únicos que recebem o amor de aprovação do Pai.

É claro que Jesus ainda reserva Seu amor de misericórdia para aqueles que acreditam nEle. Quando desobedecem, Ele os perdoa, se confessarem seus pecados e perdoarem seus devedores.

A Conclusão (The Conclusion)

Tudo isso mostra que Deus não ama Seus filhos obedientes da mesma forma que ama os perdidos. Ele só ama os perdidos com o amor de misericórdia, e tal amor é temporário, durando somente até que morram. Ao mesmo tempo em que os ama com o amor de misericórdia, Ele os odeia com um ódio derivado de Sua desaprovação de seu caráter. É isso que as Escrituras ensinam.

Por outro lado, Deus ama muito mais Seus filhos, que aqueles que não renasceram. Primeiro, Ele os ama com o amor de aprovação porque eles têm se arrependido e têm se esforçado para obedecer aos Seus mandamentos. Enquanto crescem em santidade, Ele tem cada vez menos razões para amá-los com o amor de misericórdia, e mais um motivo para amá-los com o amor de aprovação, que é exatamente o que querem.

Isso também mostra que muitos retratos do amor de Deus feitos por pregadores modernos e professores são ilusórios e inexatos. Separe um tempo para avaliar, à luz das Escrituras, os seguintes clichês sobre o amor de Deus:

1. Não há nada que possa fazer para Deus te amar mais ou menos do que já ama agora.

2. Não há nada que possa fazer para Deus deixar de te amar.

3. O amor de Deus é incondicional.

4. Deus ama a todos da mesma forma.

5. Deus ama o pecador mas odeia o pecado.

6. Não há nada que possa fazer para merecer o amor de Deus.

7. O amor de Deus por nós não é baseado em nossa performance.

Todas as frases acima são potencialmente enganosas ou completamente falsas, já que a maioria nega o amor de aprovação de Deus e muitas adulteram Seu amor de misericórdia.

Com respeito ao ponto 1, existe algo que crentes podem fazer para Deus amá-los mais com o amor de aprovação: podem ser mais obedientes. Também há algo que pode fazer Deus amá-los menos com o amor de aprovação: a sua desobediência. Há algo que os perdidos podem fazer para Deus amá-los muito mais: se arrependerem. Então, eles ganhariam o amor de aprovação de Deus. E há algo que poderiam fazer para Deus amá-los menos: morrer. Então, perderiam o único amor que Deus tinha por eles, Seu amor de misericórdia.

Com respeito ao ponto 2, um cristão pode perder o amor de aprovação de Deus se voltar a praticar pecados, colocando-se em uma posição para experimentar somente o amor de misericórdia de Deus. E novamente, o ímpio pode morrer, e isso acabaria com o amor de misericórdia de Deus, o único amor que Deus já teve por ele.

Com respeito ao ponto 3, o amor de aprovação de Deus com certeza é condicional. Até Seu amor de misericórdia é condicionado à pessoa estar fisicamente viva. Depois da morte, o amor de misericórdia de Deus acaba; portanto, é condicional, já que é temporário.

Relativo ao ponto 4, é mais provável que Deus não ame a todos igualmente, pois Ele aprova ou desaprova todos, tanto pecadores como santos, diferentemente. Certamente o amor de Deus não é o mesmo por pecadores e santos.

Com respeito ao ponto 5, Deus odeia pecadores e seus pecados. Pode ser melhor expressado como: Ele ama pecadores com um amor de misericórdia e odeia seus pecados. Do ponto de vista de Seu amor de aprovação, Ele os odeia.

Com respeito ao ponto 6, todos podem e devem adquirir o amor de aprovação de Deus. Obviamente, ninguém pode merecer Seu amor de misericórdia, já que é incondicional.

Finalmente, com respeito ao ponto 7, o amor de misericórdia de Deus não é baseado em nossa performance, mas o amor de aprovação com certeza é.

Tudo isso é para dizer que o discipulador dever apresentar o amor de Deus fielmente, como está escrito na Bíblia, pois não quer que pessoas se enganem. Somente as pessoas que Deus ama com o amor de aprovação entrarão no céu, e Deus só tem o amor de aprovação por aqueles que renascem e obedecem a Jesus. O discipulador nunca ensinaria o que pode levar as pessoas para longe da santidade. Seu alvo é o mesmo que o de Deus, fazer discípulos que obedeçam a todos os mandamentos de Cristo.

 


[1] A pregação do evangelho por evangelistas pode ser considerada uma forma de ensino; e evangelistas, com certeza, precisam proclamar um evangelho bíblico preciso.

[2] A responsabilidade de ensinar grupos de pessoas publicamente não foi dada a todos os cristãos, mas todos têm a responsabilidade de ensinar um-a-um enquanto fazem discípulos (veja Mt. 5:19; 28:19-20; Cl. 3:16; Hb. 5:12).

[3] Eu digo “se” porque aqueles que são lobos em peles de cordeiros são obviamente “ministros” que são motivados egoisticamente e serão lançados no inferno. Suponho que o que os separa de verdadeiros ministros com motivos errados seja o grau de suas motivações erradas.

[4] Incrivelmente, alguns professores, que não podem escapar dos fatos sobre os quais Jesus estava advertindo Seus discípulos mais íntimos e que o servo desleal representa claramente alguém que era salvo, dizem que o lugar de choro e ranger de dentes é um lugar à beira do céu. Lá, salvos desleais irão supostamente ficar de luto temporariamente por sua perca de recompensas até que Jesus enxugue as lágrimas de seus olhos e então dê a eles as boas vindas no céu!

[5] É claro que salvos que cometem um único pecado não perdem imediatamente sua salvação. Aqueles que pedem perdão por seus pecados são perdoados por Deus (se perdoarem aqueles que pecam contra eles). Aqueles que não pedem o perdão de Deus se colocam em perigo de serem disciplinados por Ele. Somente pelo endurecimento de seus corações às disciplinas do Senhor é que salvos correm o risco de perder a salvação.

[6] Aqueles que ainda não estão convencidos que um crente em Jesus pode perder sua salvação devem considerar todas as seguintes passagens do Novo Testamento: Mt. 18:21-35; 24:4-5, 11-13, 23-26, 42-51; 25:1-30; Lc. 8:11-15; 11:24-28; 12:42-46; Jo. 6:66-71; 8:31-32, 51; 15:1-6; At. 11:21-23; 14:21-22; Rm. 6:11-23; 8:12-14, 17; 11:20-22; 1 Co. 9:23-27; 10:1-21; 11:29-32; 15:1-2; 2 Co. 1:24; 11:2-4; 12:21-13:5; Gl. 5:1-4; 6:7-9; Fp. 2:12-16; 3:17-4:1; Cl. 1:21-23; 2:4-8, 18-19; 1 Ts. 3:1-8; 1 Tm. 1:3-7, 18-20; 4:1-16; 5:5-6, 11-15, 6:9-12, 17-19, 20-21; 2 Tim. 2:11-18; 3:13-15; Heb. 2:1-3; 3:6-19; 4:1-16: 5:8-9; 6:4-9, 10-20; 10:19-39; 12:1-17, 25-29; Tg. 1:12-16; 4:4-10; 5:19-20; 2 Pd. 1:5-11; 2:1-22; 3:16-17; 1 Jo. 2:15-2:28; 5:16; 2 Jo. 6-9; Jd. 20-21; Ap. 2:7, 10-11, 17-26; 3:4-5, 8-12, 14-22; 21:7-8; 22:18-19. Os textos-provas apresentados por aqueles que ensinam a doutrina de segurança eterna incondicional são passagens que enfatizam a fidelidade de Deus na salvação, e não mencionam a responsabilidade humana. Portanto, elas precisam ser interpretadas para ficar em harmonia com as outras passagens que acabei de listar. O fato de Deus prometer Sua fidelidade não garante a fidelidade dos outros. O fato de eu prometer à minha esposa que nunca a deixarei e manter minha promessa, não garante que ela nunca me deixará.

[7] Pode ser argumentado que todas essas passagens que mostram o ódio e abominação do Senhor pelos pecadores são do Velho Testamento. Contudo, a atitude de Deus para com os pecadores não mudou do Velho para o Novo Testamento. O encontro de Jesus com a mulher cananeia em Mateus 15:22-28 é um ótimo exemplo no Novo Testamento da atitude de Deus para com pecadores. No início, Jesus nem mesmo respondeu às suas súplicas; Ele até se referiu a ela como um cachorro. Sua fé persistente resultou que ela recebeu misericórdia dEle. A atitude de Jesus para com os escribas e fariseus não pode ser considerada de aprovação e amor (veja Mt. 23).

O Crescimento da Igreja

Capítulo Cinco (Chapter Five)

Então você é um pastor e quer que sua igreja cresça. Esse é um desejo muito comum entre pastores. Mas por que quer que sua igreja cresça? Honestamente, qual é o motivo do seu coração?

Você quer que sua igreja cresça para que se sinta bem sucedido? Quer se sentir respeitado e influente? Quer ter poder sobre as pessoas? Espera ficar rico? Todos esses são motivos errados para querer que sua igreja cresça.

Agora, se quiser que sua igreja cresça para que Deus seja glorificado enquanto mais e mais vidas são transformadas pelo Espírito Santo, então esse é o motivo certo para desejar o crescimento da igreja.

É possível que estejamos enganando a nós mesmos, pensando que nossos motivos são puros quando de fato são na verdade egoístas.

Como podemos conhecer nossos motivos verdadeiros? Como podemos saber se queremos construir o reino de Deus o simplesmente o nosso reino?

Um modo é pelo monitoramento de nossas reações internas ao sucesso de outros pastores. Se pensarmos que nossos motivos são puros, se achamos que sinceramente queremos que o Reino de Deus e que Sua igreja cresçam, mas descobrimos um pouco de inveja e ciúmes em nosso coração quando ouvimos sobre o crescimento de outra igreja, isso revela que nossos motivos não são tão puros. Mostra que realmente não estamos tão interessados no crescimento da Igreja, e sim no crescimento da nossa igreja. E por que isso? Porque nossos motivos são pelo menos parcialmente egoístas.

Também podemos checar nossos motivos monitorando nossa reação interna quando ouvimos sobre outra igreja que está abrindo em nossa área. Se nos sentimos ameaçados, é um sinal que estamos mais preocupados com nosso próprio reino que o Reino de Deus.

Mesmo pastores de igrejas grandes ou em crescimento podem checar seus motivos dessa mesma maneira. Tais pastores também podem se fazer perguntas como: “Eu consideraria enviar e abrir de mão líderes e pessoas chave da minha congregação para plantar novas igrejas, resultando na redução da minha igreja?” Um pastor que for muito resistente a essa ideia está provavelmente construindo sua igreja para sua própria glória. (Por outro lado, o pastor de uma igreja grande também poderia plantar igrejas para sua própria glória, só para poder se gabar de quantas igrejas nasceram de sua igreja.) Outra pergunta que poderíamos fazer é: “Eu me associo com pastores de igrejas menores ou tenho me distanciado deles, sentindo-me melhor que eles?” Ou: “Eu estaria disposto a pastorear apenas de doze a vinte pessoas em uma igreja no lar, ou isso seria duro de mais para o meu ego?”[1]

O Movimento de Crescimento da Igreja (The Church Growth Movement)

Em livrarias evangélicas pela América e Canadá, existem às vezes seções inteiras de prateleiras dedicadas a livros sobre o crescimento de igrejas. Esses livros e seus conceitos têm se espalhado pelo mundo. Os pastores estão famintos para aprender como aumentar o número de atendentes de suas igrejas, e muitas vezes são bem rápidos em adotar conselhos de pastores de mega igrejas americanas que são considerados bem sucedidos em virtude do tamanho de seus prédios e do número de pessoas que comparecem aos domingos.

Contudo, aqueles que são um pouco mais perspicazes entendem que o número de atendentes e o tamanho do prédio não são necessariamente indicações da qualidade da formação de discípulos. Algumas igrejas americanas têm crescido devido a doutrinas pervertidas da verdade bíblica. Eu tenho falado a pastores ao redor do mundo que ficam chocados ao saber que multidões de pastores americanos acreditam e declaram que uma vez que uma pessoa é salva, nunca poderá perder sua salvação, independentemente do que acredita ou de como vive sua vida. Similarmente, muitos pastores americanos proclamam um evangelho aguado, de graça barata, levando pessoas a crer que podem ir para o céu sem santidade. Vários outros proclamam um evangelho de prosperidade, alimentando o orgulho de pessoas das quais a religião é um meio de acumular ainda mais tesouros na terra. Esses são pastores dos quais as técnicas de crescimento de igrejas não devem ser imitadas.

Eu já li minha cota de livros sobre o assunto, e tenho um mistura de sentimentos a respeito deles. Muitos têm estratégias e conselhos que são, até certo ponto, bíblicos, fazendo valer a pena ler o livro. Contudo, a maioria é baseada no modelo da igreja institucional de 1700 anos, ao invés do modelo bíblico. Consequentemente, o foco não é construir o corpo de Cristo através da multiplicação de discípulos e discipuladores, mas construir congregações institucionais individuais, o que sempre requer prédios maiores, liderança de programas mais especializados e uma estrutura que é mais parecida com a de uma corporação de negócios que de uma família.

Algumas estratégias modernas de crescimento de igrejas parecem sugerir que, pelo bem de ganhar membros, os cultos sejam mais atraentes às pessoas que não querem seguir a Jesus. Eles aconselham sermões curtos e sempre positivos, louvor sem expressão, muitas atividades sociais, que o dinheiro nunca seja mencionado, e assim por diante. Isso não resulta na formação de discípulos que se neguem e obedeçam a todos os mandamentos de Cristo. Resulta em crentes professos que estão no caminho largo para o inferno. Essa não é a estratégia de Deus para ganhar o mundo, mas a de Satanás para ganhar a Igreja. Não é “crescimento da Igreja” e sim “crescimento do mundo.”

O Modelo Seeker-Sensitive (The Seeker-Sensitive Model)

A estratégia americana de crescimento de igrejas mais popular é muitas vezes chamada de modelo “seeker-sensitive”. Nessa estratégia, os cultos das manhãs de domingo são designados para que (1) cristãos se sintam confortáveis para convidar amigos incrédulos e (2) que os mesmos ouçam ao evangelho em termos não-ofensivos, aos quais possam se relacionar e entender. Cultos e pequenos grupos no meio da semana são reservados para discipular os salvos.

Desse modo, algumas igrejas individuais têm crescido muito. Entre igrejas institucionais americanas, essas podem ter o maior potencial para evangelizar e discipular pessoas, desde que todos sejam incorporados aos pequenos grupos (o que muitas vezes não acontece) e lá discipulados, e que o evangelho não seja comprometido (o que sempre acontece quando o alvo é não ser ofensivo, pois o evangelho é ofensivo ao orgulho humano). Pelo menos igrejas seeker-sensiteve têm implementado alguma estratégia para alcançar os perdidos, algo que a maioria das igrejas institucionais não têm feito.

Mas como o modelo americano seeker-sensitive se compara ao modelo bíblico quanto ao crescimento de igrejas?

No livro de Atos, apóstolos e evangelistas chamados por Deus pregavam o evangelho publicamente e de casa em casa, acompanhados de sinais e maravilhas que atraíam a atenção dos pecadores. Aqueles que se arrependiam e acreditavam no Senhor Jesus se dedicavam aos ensinamentos dos apóstolos, e regularmente se reuniam em casas onde aprendiam a Palavra de Deus, exerciam dons espirituais, celebravam a ceia, oravam juntos e assim por diante, tudo de baixo da administração de presbíteros/pastores/bispos. Professores e profetas chamados por Deus circulavam entre as igrejas. Todos compartilhavam o evangelho com amigos e vizinhos. Não havia prédios para construir, atrasar o crescimento das igrejas e roubar o Reino de Deus de recursos que ajudariam a espalhar o evangelho e fazer discípulos. Líderes eram treinados rapidamente no trabalho ao invés de serem mandados para seminários e faculdades teológicas. Tudo isso resultava no crescimento exponencial das igrejas por tempo limitado, até que todas as pessoas receptivas de uma área fossem alcançadas.

Em comparação, o modelo seeker-sensitive não tem sinais e maravilhas, portanto não tem o meio divino de propaganda, atração e convicção. Ele depende de meios naturais de marketing e propaganda para atrair pessoas a um prédio onde podem ouvir a mensagem. O talento oratório do pastor e seu poder de persuasão são seus principais meios de convicção. Isso difere tanto dos métodos que Paulo escreveu: “Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1 Co. 2:4-5).

Mais Diferenças (More Differences)

O modelo seeker-sensitive geralmente não tem apóstolos e evangelistas, porque a figura principal é o pastor. Uma pergunta: A eliminação de apóstolos e evangelistas de seus cargos de evangelização e a doação dessa responsabilidade a pastores é um meio superior de conseguir o crescimento de igrejas?[2]

O pastor seeker-sensitive prega uma vez por semana em um culto de domingo, onde cristãos são encorajados a levar pessoas não-salvas. Portanto, falando de modo geral, o evangelho só pode ser ouvido uma vez por semana por associados dos membros da igreja. Estes incrédulos devem estar dispostos a irem à igreja e devem ser convidados por membros da igreja que estão dispostos a convidá-los. No modelo bíblico, apóstolos e evangelistas proclamam continuamente o evangelho em lugares públicos e privados, e todos os crentes compartilham o evangelho com seus amigos e vizinhos. Desses dois modelos, por qual mais incrédulos ouviriam o evangelho?

O modelo seeker-sensitive requer um prédio aceitável para que os crentes não tenham vergonha de convidar seus associados incrédulos e para que estes não tenham vergonha de visitar. Isso sempre requer uma soma substancial de dinheiro. Antes do evangelho poder ser “espalhado,” um prédio aceitável deve ser obtido ou construído. Na América esse prédio precisa ser bem localizado, normalmente em subúrbios ricos. Em contraste, o modelo bíblico não precisa de prédios, locais especiais ou dinheiro. O espalhar do evangelho não é limitado ao número de pessoas que cabem em prédios especiais aos domingos.

Ainda Mais Diferenças (Still More Differences)

Quando comparamos algumas igrejas seeker-sensitive com o modelo bíblico, existem ainda mais diferenças.

Os apóstolos e evangelistas do livro de Atos chamavam pessoas para se arrependerem, acreditarem no Senhor Jesus e serem batizadas imediatamente. Era esperado que na sua conversão, a pessoa se tornasse discípula de Cristo, de acordo com as condições de Jesus para o discipulado, listadas em Lucas 14:26-33 e João 8:31-32. Eles começaram a amar a Jesus acima de tudo, vivendo Sua palavra, levando suas cruzes, abrindo mão de todos os seus direitos de posses e se tornando novos mordomos do que agora pertencia a Deus.

O evangelho que é muitas vezes proclamado em igrejas seeker-sensitive é diferente. Dizem aos pecadores o quanto Deus os ama, como Ele pode prover em suas necessidades e como podem ser salvos por “aceitar a Jesus como Salvador.” Depois de fazerem uma pequena “oração de salvação,” nunca sendo avisados a calcular o custo do discipulado, eles são, muitas vezes, assegurados que são genuinamente salvos e são solicitados a se juntarem a uma classe, onde começarão a crescer em Cristo. Se eles se juntarem a essa classe (muitos nunca voltam à igreja), a maioria das vezes, são levados por um processo de aprendizado sistemático que foca em ganhar conhecimento das doutrinas da igreja ao invés de se tornar mais obediente aos mandamentos de Cristo. O auge desse programa de “discipulado” é quando o crente eventualmente começa a dar o dízimo de seu salário à igreja (para pagar principalmente a hipoteca e salários não-bíblicos da equipe de liderança, o que soma a uma mordomia horrível, sustentando muitas coisas que não são ordenadas por Deus e roubando daquelas que Deus quer que sejam sustentadas) e é levado a acreditar que “encontrou seu ministério” quando começa a executar um papel auxiliador na igreja institucional que nunca foi mencionado nas Escrituras.

O que aconteceria se o governo de sua nação, preocupado com a falta de homens no exército, decidisse se tornar “seeker-sensitive”? Imagine que eles prometessem ao recrutas em potencial que nada seria esperado deles — seus pagamentos seriam de graça, desmerecidos. Poderiam se levantar de manhã a hora que quisessem. Poderiam participar dos treinamentos se quisessem, mas teriam a opção de assistir TV ao invés disso. Se uma guerra começasse poderiam escolher participar das batalhas ou ir à praia. Qual seria o resultado?

Com certeza, o status do exército iria crescer! Mas não seria mais um exército, estando despreparado para seu propósito. E é isso que as igrejas seeker-sensitive se tornam. Baixar os padrões faz o número de atendentes aumentar aos domingos, mas acaba com o discipulado e a obediência. Aquelas igrejas seeker-sensitive que tentam “pregar o evangelho” nos domingos e fazer “discipulado” no meio da semana descobrem que têm um problema se disserem às pessoas que vão aos cultos do meio da semana que somente os discípulos de Jesus vão para o céu. As pessoas vão sentir que foram enganadas nos domingos de manhã. Portanto, tais igrejas devem enganar as pessoas nos cultos do meio da semana também, colocando discipulado e obediência como opções ao invés de requisitos.[3]

Eu entendo que algumas igrejas institucionais incorporam aspectos do modelo bíblico que outras não. Independente disso, o modelo bíblico é, com certeza, o mais efetivo em multiplicar discípulos e discipuladores.

Por que o modelo bíblico não é seguido hoje? A lista de desculpas parece sem fim, mas na analise final, os motivos são tradição, descrença e desobediência. Muitos dizem que é impossível seguir o modelo bíblico no mundo de hoje. Mas o fato é que ele está sendo seguido em muitos lugares ao redor do mundo. O crescimento explosivo da Igreja na China no meio século passado, por exemplo, é resultado de crentes simplesmente seguirem o modelo bíblico. Deus é diferente na China que em outros lugares?

Tudo isso é para dizer que pastores que não são americanos devem tomar cuidado com métodos americanos de crescimento de igrejas que são promovidos ao redor do globo. Eles teriam muito mais sucesso em alcançar o objetivo de Cristo de fazer discípulos, se seguissem o modelo bíblico de crescimento da Igreja.

As Consequências (The Aftermath)

Tenho observado que muitos devotos dos ensinamentos modernos de crescimento de igrejas não entram em contato com pastores de nível médio ao redor do mundo. A grande maioria de pastores pastoreia rebanhos que consistem em menos de cem pessoas. Muitos desses pastores ficam desanimados depois de tentar técnicas de crescimento que não funcionam ou cujo tiro sai pela culatra, não por culpa deles. Parece que ninguém admite que existem vários fatores, além do controle dos pastores que limitam o crescimento de suas igrejas. Vamos levar em consideração alguns deles agora.

Primeiramente, o crescimento da igreja é limitado ao tamanho da população local. É óbvio que a maioria das grandes igrejas institucionais são encontradas em grandes áreas metropolitanas. Muitas vezes elas têm milhões de pessoas para se tornarem membros. Contudo, se números são uma determinação verdadeira de sucesso, então a igreja deveria ser julgada, não por tamanho, mas por sua porcentagem da população local. Com essa base, algumas igrejas com dez pessoas têm mais sucesso que outras com dez mil. Uma igreja de dez membros em uma comunidade de cinquenta pessoas tem mais sucesso que uma de dez mil em uma comunidade de 5 milhões. (Mesmo assim, os pastores de dez pessoas nunca serão convidados para falar em convenções de crescimento de igrejas.)

Um Segundo Fator Limitante para o Crescimento de Igrejas (A Second Limiting Factor to Church Growth)

Segundo, o crescimento das igrejas é limitado ao nível de saturação entre as pessoas receptivas por todas as igrejas de uma dada região. Em um certo tempo, existe somente um número de pessoas em uma área que têm os corações abertos ao evangelho. Uma vez que os receptivos são alcançados, nenhuma igreja crescerá, amenos que algumas pessoas que já vão à igreja se transfiram a outra (que é como muitas igrejas grandes têm crescido — do custo de outras igrejas dentro de suas regiões).

É claro que todo cristão de hoje já foi não-receptivo ao evangelho a um ponto ou outro e se tornou receptivo debaixo da influência do Espírito Santo. Portanto, é muito possível que pessoas que agora não estão abertas ao evangelho se tornem receptivas. Quando isso ocorre, as igrejas podem crescer. O que várias vezes chamamos de “reavivamento” ocorre quando muitas pessoas não-receptivas se tornam receptivas de repente. Contudo, não devemos esquecer que uma pessoa se tornar receptiva também é um reavivamento, mas em escala menor. Cada grande reavivamento começa com uma pessoa se tornando receptiva. Portanto, pastores, não desprezem o dia de pequenos começos.

Jesus enviou Seus discípulos para pregar o evangelho em cidades que sabia que não seriam receptivas, onde nenhuma pessoa se arrependeria (veja Lc. 9:5). Mesmo assim Ele mandou que pregassem o evangelho lá. Esses discípulos voltaram sem sucesso? Não, mesmo não tendo convertidos (e nenhum crescimento de igreja) eles obtiveram sucesso, porque obedeceram a Jesus.

Do mesmo modo, Jesus ainda manda pastores a vilas, cidades e subúrbios onde sabe que somente uma pequena porcentagem das pessoas será receptiva ao evangelho. Esses pastores, que com fé servem a suas pequenas congregações, têm sucesso aos olhos de Deus, mesmo sendo fracassos aos olhos de alguns experts em crescimento de igrejas.

Todos os pastores em todas as áreas devem se sentir encorajados pelo fato de, por causa da grande misericórdia de Deus, e em resposta às intercessões de Seu povo, Ele estar trabalhando para tornar receptivas, pessoas não-receptivas. Ele tenta influenciar os descrédulos por meio de suas consciências, Sua criação, as circunstâncias, Seus julgamentos, o testemunho vivo de Sua igreja, a pregação do evangelho e a convicção do Espírito Santo. Portanto, pastores, tenham esperança. Continuem obedecendo, orando e pregando. Antes de cada reavivamento em grande escala existe a necessidade de um reavivamento. E sempre existe alguém que está sonhando com um reavivamento. Continue sonhando!

Um Terceiro Fator Limitantes no Crescimento de Igrejas (A Third Limiting Factor to Church Growth)

Um terceiro fator que limita o crescimento de igrejas individuais é a habilidade do pastor. A maioria dos pastores não tem a habilidade necessária para administrar uma grande congregação, e não é culpa deles. Eles simplesmente não possuem o dom de organização, administração ou a habilidade de pregar/ensinar, que são necessárias para uma grande congregação. Claramente, tais pastores não foram chamados por Deus para pastorear grandes congregações, e estariam errados em tentar pastorear outra coisa além de igrejas institucionais médias ou igrejas nos lares.

Recentemente li um livro popular sobre liderança, pelo pastor titular de uma das maiores igrejas da América. Enquanto lia as páginas que ele tinha enchido de conselhos experientes a pastores modernos, meu pensamento prioritário era esse: “Ele não está nos dizendo como ser pastor — ele está nos falando como ser o diretor geral de uma organização enorme.” E não há outra escolha para o pastor titular de uma mega igreja institucional americana. Ele precisa de uma equipe de ajudantes, e dirigir esta equipe é um trabalho integral. O autor do livro que li tinha habilidades suficientes para ser diretor geral de uma grande organização secular. (Aliás, em seu livro ele citava, várias vezes, famosos consultores de grandes negócios, aplicando seus conselhos a seus pastores leitores.) Mas muitos, se não a maioria de seus leitores, não têm as habilidades de liderança e administração que ele tem.

Naquele mesmo livro, o autor relatou com toda franqueza como, em várias ocasiões enquanto construía sua enorme congregação, cometeu erros quase fatais, coisas que poderiam ter custado sua família ou seu futuro no ministério. Pela graça de Deus ele sobreviveu. Contudo, suas experiências me lembraram de muitos momentos que outros pastores institucionais, em busca do mesmo tipo de sucesso, fizeram erros similares e foram completamente arruinados. Alguns, se devotando às suas igrejas, perderam seus filhos ou arruinaram seus casamentos. Alguns sofreram crises nervosas ou sérias sobrecargas ministeriais. Outros ficaram tão desiludidos que abandonaram o ministério de vez. Muitos outros sobreviveram, mas isto é praticamente tudo que se pode dizer sobre eles. Continuam tendo vidas de quieto desespero, se perguntando se seus sacrifícios sobrenaturais valeram a pena.

Enquanto lia aquele livro em particular, ele continuamente reforçava em minha mente a sabedoria da igreja primitiva, onde nada havia que lembrasse as igrejas institucionais modernas, e portanto, nenhum pastor era responsável por um rebanho maior ou de mais ou menos vinte e cinco pessoas. Conforme já falei em um capítulo anterior, muitos pastores que pensam que suas congregações são muito pequenas devem reconsiderar seu ministério à luz das Escrituras. Se eles têm cinquenta pessoas, suas igrejas podem ser, na verdade, grandes de mais. Se existe liderança capaz dentro da igreja, com muita oração podem considerar se dividir em três igrejas nos lares e fechar o templo, com o objetivo de fazer discípulos e construir o Reino de Deus à maneira de Deus.

Se isso parecer muito radical, podem pelo menos começar a discipular futuros líderes, ou começar pequenos grupos, ou se já têm alguns pequenos grupos, liberar alguns para serem igrejas nos lares autônomas e ver o que acontece.

Outras Técnicas Modernas para o Crescimento de Igrejas (Other Modern Church-Growth Techniques)

Existem outras técnicas sendo promovidas hoje como essenciais para o crescimento de igrejas, além do modelo de igreja seeker-sensitive. Muitas dessas outras técnicas não são bíblicas e entram na categoria de “campanha espiritual.” Elas são anunciadas com nomes do tipo “destruindo fortalezas”, “campanha de oração” e “mapeamento espiritual.”

Vamos falar dessas práticas em um capítulo mais adiante sobre batalhas espirituais. Contudo, sendo breve, podemos nos perguntar por que tais práticas, que eram completamente desconhecidas para os apóstolos são consideradas essenciais para o crescimento de igrejas hoje.

Muitos dos novos meios de crescimento de igrejas são resultados de experiências de alguns pastores que dizem: “Eu fiz isso e aquilo e minha igreja cresceu. Então, se você fizer as mesmas coisas sua igreja também vai crescer.” Contudo, a verdade é que não havia conexão real entre o crescimento da igreja deles e as coisas peculiares que fizeram, mesmo que pensem o contrário. Isso é provado repetidamente quando outros pastores seguem esses ensinamentos peculiares, fazem coisas idênticas, e suas igrejas não crescem.

É possível ouvir um pastor de crescimento de igrejas dizer: “Aconteceu um reavivamento em nossa igreja quando começamos a gritar com os demônios de nossa cidade. Então, se você quiser um reavivamento na sua igreja vocês precisam gritar com os demônios.”

Mas por que têm acontecido tantos reavivamentos maravilhosos ao redor do mundo nos últimos 2000 da história da igreja, onde não havia pessoas gritando com demônios nas cidades? Isso mostra que, mesmo que o pastor tenha pensado que o reavivamento foi um resultado de gritar com demônios, ele estava errado. É mais provável que as pessoas daquela cidade se tornaram receptivas ao evangelho, talvez como resultado das orações da igreja e aconteceu que aquele pastor estava pregando quando eles se tornaram receptivos. A maioria das vezes, o crescimento da igreja é resultado de estar no lugar certo na hora certa. (E o Espírito Santo nos ajuda a estar no lugar certo na hora certa.)

Se gritar com demônios pela cidade trouxe um reavivamento à igreja de um certo pastor, por que, depois de um tempo, o reavivamento diminuiu e acabou, como sempre acontece? Se gritar com demônios é a chave, então faz sentido que se continuarmos gritando com os demônios, todos na cidade virão a Cristo. Mas isso não acontece.

A verdade é óbvia quando paramos para pensar um pouco. Os únicos meios bíblicos de crescimento de igrejas são oração, pregação, formação de discípulos, ajuda do Espírito Santo e assim por diante. E mesmo esses meios bíblicos não garantem o crescimento da igreja, porque Deus fez as pessoas agentes morais livres. Elas podem escolher se arrepender ou não. Poderia ser dito que, às vezes, até Jesus fracassou no crescimento da igreja, quando as cidades que Ele visitava não se arrependiam.

Tudo isso é para dizer que nós só precisamos praticar meios bíblicos para construir a Igreja. Todo o resto é perca de tempo. São trabalhos que consistem de madeira, palha e feno que um dia serão queimados e não serão recompensados (veja 1 Co. 3:12-15).

Finalmente, o objetivo não deve ser só o crescimento em número, mas na formação de discípulos. Se a igreja crescer enquanto fazemos discípulos, então glória a Deus!

 


[1] Esta é outra vantagem do modelo de igreja no lar — os pastores não se esforçam para ter grandes congregações pelos motivos errados, pois o tamanho da congregação é limitado ao tamanho da casa.

[2] Esse é um grande motivo de porque temos tantos evangelistas, professores, profetas e até apóstolos pastoreando igrejas. Muitos ministérios dados por Deus não recebem seu lugar de direito ou lugar algum dentro da estrutura da igreja institucional, e então, ministros não pastorais acabam pastoreando igrejas, roubando a igreja da bênção maior que poderiam ser para o grupo maior de crentes dentro da estrutura bíblica. Parece que todos têm se voltado para construir seu próprio reino na forma de igreja institucional, independentemente de seu verdadeiro chamado. Porque supostamente, os pastores têm direito ao dízimo do “seu povo,” e muito dele vai para a construção e manutenção dos prédios, ministros não pastorais recorrem ao pastoreio de igrejas para receber apoio financeiro para o ministério que foram realmente chamados.

[3] Lembre-se que os requerimentos que Jesus listou para que fossemos Seus verdadeiros discípulos, em Lucas 14:26-33, não foram ditos a pessoas que já eram salvas, como se estivesse oferecendo a elas um segundo passo em sua jornada espiritual. Pelo contrário, Ele estava falando às multidões. Tornar-se Seu discípulo foi o único passo que Jesus ofereceu, que é nada menos que o passo da salvação. Isso entra em contraste com o que é ensinado na maioria das igrejas seeker-sensitive.

Igrejas nos Lares

Capítulo Quatro (Chapter Four)

 

Várias vezes, quando as pessoas escutam sobre igrejas nos lares pela primeira vez, imaginam erroneamente que as únicas diferenças entre igrejas nos lares e igrejas institucionais são seu tamanho e suas habilidades relativas a cuidar de “ministérios.” Às vezes, acham que a igreja no lar não pode oferecer a qualidade de ministério dada por igrejas com prédios. Mas, se uma pessoa definir ministério como aquilo que contribui na formação de discípulos, ajudando-os a se tornarem mais como Cristo e equipando-os para o serviço, então igrejas institucionais não ganham vantagem, e como mostrei no capítulo anterior, elas podem estar em desvantagem. Com certeza igrejas nos lares não podem oferecer a qualidade de atividades das igrejas institucionais, mas podem se sobressair ao oferecer o ministério verdadeiro.

Algumas pessoas rejeitam igrejas nos lares como se não fossem de verdade, simplesmente por não terem prédios. Se essas pessoas tivessem vivido nos primeiros trezentos anos da Igreja, teriam rejeitado todas as igrejas do mundo por não serem de verdade. O fato é que Jesus declarou, “Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt. 18:20). Jesus não disse onde os crentes deveriam se reunir. E mesmo que, somente dois crentes se reúnam, Ele prometeu estar presente se o fizerem em Seu nome. O que muitas vezes os discípulos de Cristo fazem em restaurantes, compartilhando uma refeição e fazendo um intercâmbio de verdades, ensinando e admoestando uns aos outros, é na verdade mais próximo ao modelo de reuniões da Igreja do Novo Testamento do que acontece em muitos prédios de igrejas aos domingos de manhã.

No capítulo anterior, eu enumerei algumas vantagens que igrejas nos lares têm sobre as igrejas institucionais. Gostaria de começar esse capítulo enumerando mais alguns motivos do por quê o modelo de igreja nos lares é uma alternativa bíblica muito válida que pode ser bem efetiva em alcançar o objetivo de fazer discípulos. Contudo, deixe-me afirmar primeiramente que meu objetivo não é atacar igrejas institucionais ou seus pastores. Existem multidões de pastores sinceros de igrejas institucionais que estão fazendo tudo o que podem dentro de suas estruturas para agradar ao Senhor. Eu ministro a milhares de pastores institucionais todos os anos, e os amo e estimo muito. Eles estão entre as pessoas mais admiráveis do mundo. E é porque eu sei quão incrivelmente difícil é o seu trabalho que quero apresentar uma alternativa que irá ajudá-los a sofrerem menos casualidades e a serem mais efetivos e felizes ao mesmo tempo. O modelo de igreja nos lares é bíblico e se empresta à formação efetiva de discípulos e à expansão do Reino de Deus. Tenho quase certeza que a grande maioria de pastores institucionais seria muito mais feliz, eficaz e realizada se ministrasse em igrejas nos lares.

Fui pastor institucional por mais de vinte anos e fiz o meu melhor com o que sabia. Mas foi só depois de muitos meses visitando várias igrejas aos domingos de manhã que tive o primeiro vislumbre do que é ir à igreja como um mero “leigo.” Isso abriu meus olhos, e comecei a entender porque tantas pessoas são tão desanimadas para ir à igreja. Como quase todo mundo, menos o pastor, eu ficava lá sentado educadamente esperando o culto acabar. Quando acabava eu podia pelo menos interagir com outros como participante ao invés de como um espectador entediado. Essa experiência foi um entre vários catalisadores que me fizeram pensar em uma alternativa melhor, e comecei minha pesquisa no modelo de igrejas nos lares. Fiquei surpreso ao descobrir que existem milhões de igrejas nos lares por todo o mundo e concluí que elas têm algumas boas vantagens sobre igrejas institucionais.

Muitos dos pastores que leem esse livro não estão dirigindo uma igreja no lar, e sim uma igreja institucional. Sei que muito do que escrevi pode ser difícil para aceitarem, já que parece tão radical de início. Mas peço que deem um tempo para contemplar o que tenho a dizer, e não espero que concordem com tudo depois de uma noite. É para pastores que tenho escrito, motivado pelo amor por eles e por suas igrejas.

O Único Tipo de Igreja na Bíblia (The Only Kind of Church in the Bible)

Antes de qualquer coisa, igrejas institucionais que se reúnem em prédios especiais não são encontradas no Novo Testamento, uma vez que igreja nos lares era claramente a norma da igreja primitiva:

Percebendo isso, ele se dirigiu à casa de Maria, mãe de João, também chamado Marcos, onde muita gente se havia reunido e estava orando (At. 12:12, ênfase adicionada).

…não deixei de pregar-lhes nada que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo publicamente [e não em prédios de igrejas, obviamente] e de casa em casa…(At. 20:20, ênfase adicionada)

Saúdem Priscila e Áqüila…Saúdem também a igreja que se reúne na casa deles (Rm. 16:3-5, ênfase adicionada; veja também Romanos 16:14-15 para menção de outras duas prováveis igrejas em lares em Roma).

As igrejas da província da Ásia enviam-lhe saudações. Áqüila e Priscila os saúdam afetuosamente no Senhor, e também a igreja que se reúne na casa deles (1 Co. 16:19, ênfase adicionada).

Saúdem os irmãos de Laodiceia, bem como Ninfa e a igreja que se reúne em sua casa (Cl. 4:15, ênfase adicionada).

Á irmã Áfia, a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que se reúne com você em sua casa…(Fm. 1:2, ênfase adicionada).

Tem sido argumentado que o único motivo da igreja primitiva não ter construído prédios é porque ainda estava na sua infância. Mas essa infância durou um bom número de décadas de história registrada no Novo Testamento (e mais dois séculos depois disso). Então, se a construção de prédios é sinal de maturidade da igreja, a igreja dos apóstolos, sobre as quais lemos no livro de Atos, nunca amadureceu.

Sugiro que a razão pela qual nenhum dos apóstolos construiu prédio é porque tal coisa seria, no mínimo, considerada fora da vontade de Deus, já que Jesus não deixou tal exemplo ou instrução. Ele fez discípulos sem prédios especiais e disse aos Seus discípulos para fazerem discípulos. Eles não viram necessidade alguma de prédios especiais. É simples assim. Quando Jesus disse aos Seus discípulos para irem a todo o mundo e fazer discípulos, eles não pensaram: “O que Jesus quer que façamos é construir prédios, onde pregaremos para as pessoas uma vez por semana.”

Além disso, a construção de prédios especiais poderia até ser considerada uma violação direta do mandamento de Cristo de não acumular tesouros na terra, gastando dinheiro em algo completamente desnecessário, e roubando recursos do Reino de Deus que poderiam ter sido usados para o ministério de transformação.

Mordomia Bíblica (Biblical Stewardship)

Isso nos leva à segunda vantagem que igrejas nos lares tem sobre igrejas institucionais: o modelo de igreja no lar promove a mordomia total dos recursos de seus membros, que certamente é um aspecto extremamente importante do discipulado.[1] Nenhum dinheiro é gasto na construção, compra, aluguel, reforma, expansão, reparo, aquecimento ou refrigeração de prédios. Consequentemente, o que seria gasto nos prédios pode ser usado para alimentar e vestir os pobres, espalhar o evangelho e fazer discípulos, assim como no livro de Atos. Pense no bem que poderia ser feito pelo Reino de Deus se os bilhões de dólares gastos em prédios de igrejas tivessem sido usados para espalhar o evangelho e servir aos pobres. É quase inimaginável!

Mais adiante, igrejas nos lares que consistem de não mais de vinte pessoas poderiam ser dirigidas por diáconos/pastores/bispos “fazedores de tendas” (ou seja, “não pagos”), uma possibilidade real quando existe um bom número de crentes maduros na igreja no lar. Tais igrejas praticamente não requereriam dinheiro para funcionar.

É claro, a Bíblia parece indicar que os diáconos/pastores/bispos devem ser pagos em proporção ao seu trabalho, então aqueles que dedicam todo o seu tempo ao ministério devem receber por tempo integral (veja 1 Tm. 5:17-18). Dez assalariados que dizimam em uma igreja no lar podem sustentar um pastor com um padrão médio. Cinco dizimistas em uma igreja no lar podem custear um pastor para dedicar metade de sua semana de trabalho para o ministério.

Seguindo o modelo de igrejas nos lares, o dinheiro que seria usado em prédios é liberado para sustentar pastores, e assim os pastores institucionais não devem pensar que a proliferação de igrejas nos lares ameaça a segurança de seu trabalho. Ao invés disso, significa que muitos outros homens e mulheres podem realizar o desejo que Deus tem colocado em seus corações de servi-Lo no ministério vocacional.[2] Isso, por sua vez, ajudaria a alcançar o alvo de fazer discípulos. Mais adiante, uma igreja no lar com vinte dizimistas poderia, potencialmente, dar metade de seu dinheiro para missões e para os pobres.[3]

Se uma igreja institucional se transformasse em uma rede de igrejas nos lares, as pessoas que poderiam perder seus trabalhos pagos seriam o corpo administrativo e a equipe de suporte aos programas e talvez alguns membros de equipes com ministérios especiais (por exemplo o ministério de crianças e o de jovens em igrejas maiores) que não estivessem dispostos a trocar esses ministérios, que têm pouca base bíblica, por ministérios que têm. Igrejas nos lares não precisam de ministérios infantil e jovem, pois a Bíblia dá essa responsabilidade aos pais, e as pessoas em igrejas nos lares geralmente se esforçam para seguir a Bíblia ao invés das normas do cristianismo cultural. Jovens crentes que não tem pais crentes podem ser incorporados a igrejas nos lares e discipulados assim como são incorporados em igrejas institucionais. Será que alguém se pergunta por que o Novo Testamento não menciona “pastores de jovens” ou “pastores de crianças?” Tais ministérios não existiram pelos primeiros 1900 anos de cristianismo. Por que eles são repentinamente essenciais agora, e principalmente em paises ocidentais ricos?[4]

Finalmente, nas nações mais pobres em particular, os pastores veem que é impossível alugar ou possuir prédios sem serem ajudados por cristãos ocidentais. As consequências não desejáveis dessa dependência são várias. Contudo, o fato é que por 300 anos esse problema não existiu no cristianismo. Se você é pastor de uma congregação que não pode ter um prédio, em uma nação em desenvolvimento, não precisa bajular um visitante americano na esperança de descobrir ouro. Deus já resolveu seu problema. Você não precisa de um prédio para fazer discípulos com sucesso. Siga o modelo bíblico.

O Fim de Famílias Fragmentadas (The End of Fragmented Families)

Outra vantagem de igrejas nos lares é esta: elas se sobressaem em discipular crianças e adolescentes. Uma das maiores traições cometidas pelas igrejas institucionais hoje (especialmente as grandes nos Estados Unidos) é que providenciam ministérios maravilhosos para crianças e jovens. Mesmo assim, escondem o fato que a grande maioria das crianças que experimentam anos de diversão indo aos seus programas empolgantes para crianças e jovens, nunca volta à igreja depois de “sair do ninho.” (Pergunte a qualquer pastor de jovens pelas estatísticas — ele deve conhecê-las.)

Adicionalmente, igrejas que têm pastores de jovens e pastores de crianças promovem uma artificialidade para os pais, dizendo que não são capazes ou não são responsáveis pelo treinamento espiritual de seus filhos. Novamente, “Nós tomaremos conta do treinamento espiritual de seus filhos. Nós somos os profissionais treinados.”

O sistema como está cria o fracasso, pois cria um ciclo cada vez maior de compromisso. Ele começa com pais que estão procurando por igrejas que seus filhos gostem. Se o adolescente “Joãozinho” diz, na ida para casa, que se divertiu na igreja, os pais ficam emocionados, porque igualam o “Joãozinho” se divertir na igreja com o “Joãozinho” estar interessado em coisas espirituais. Muitas vezes estão muito errados.

Pastores titulares dirigidos pelo sucesso querem que suas igrejas cresçam; então, pastores de crianças e jovens saem das reuniões sentindo-se pressionados a criarem programas “relevantes” e que as crianças achem divertidos. (“Relevante” é sempre secundário a “divertido,” e “relevante” não significa necessariamente, “leve as crianças a se arrependerem, acreditarem e obedecerem aos mandamentos de Jesus.”) Se as crianças gostarem do programa, pais ingênuos retornarão (com seu dinheiro), e a igreja crescerá.

O sucesso dos cultos de jovens em particular, é medido pelo número de comparecimento. Pastores de jovens fazem de tudo para lotar o lugar, e isso também significa muitas vezes comprometer a espiritualidade genuína. Tenha pena do pastor que ouve relatórios de que pais estão reclamando para o pastor titular que seus filhos não estão gostando de seus sermões chatos e condenatórios.

Mas que bênção os pastores de jovens poderiam ser no corpo de Cristo se eles se tornassem líderes de igrejas nos lares. Normalmente, eles já têm uma ótima habilidade relacional, possuem zelo jovial e nenhuma falta de energia. Muitos só são pastores de jovens porque esse é o primeiro passo requerido para gradualmente adquirirem as habilidades super-humanas requeridas para a sobrevivência de serem pastores titulares. A maioria é mais que capaz de pastorear uma igreja. O que eles têm feito no culto de jovens pode bem ser mais perto do modelo bíblico da igreja do que o que está acontecendo no santuário principal! O mesmo pode ser dito de pastores de crianças, que podem estar milhas a frente da maioria de pastores titulares em serem capazes de servir em igrejas nos lares, onde todos, incluindo as crianças, se sentam em um pequeno círculo, participando e até comendo juntos.

Crianças e adolescentes são naturalmente melhor discipulados em igrejas nos lares, já que experimentam a verdadeira comunidade cristã e têm oportunidades de participar, fazer perguntas e se relacionar com pessoas de outras idades, tudo como parte da família cristã. Em igrejas institucionais eles são continuamente expostos a grandes shows e a aprendizados “divertidos,” experimentam muito pouca da verdadeira comunhão, são várias vezes conscientizados da hipocrisia impregnada, e assim como na escola, só aprendem a se relacionar com seus amigos.

Mas em reuniões de todas as idades, o que acontece com os bebês que choram ou criancinhas que não conseguem ficar quietas?

Eles sempre devem ser aproveitados, e passos práticos podem ser tomados para cuidar deles quando problemas surgirem. Podem, por exemplo, ser levados para outra sala para serem entretidos, ou desenhar com lápis e giz de cera sentados no chão. Na comunidade de uma igreja no lar, os bebês e crianças não são problemas que devem ser deixados no berçário cuidados por estranhos. Eles são amados por todos em sua grande família. Um bebê que começa a chorar em uma igreja institucional é quase sempre um incomodo para a formalidade do culto e uma vergonha para os pais, que podem sentir os olhares de reprovação de estranhos. Um bebê que começa a chorar em uma igreja no lar está cercado por sua família, e ninguém se importa com isso, pois é um lembrete que um dom de Deus está em seu meio, uma criança que todos seguram no colo.

Pais que tem filhos descontrolados podem ser gentilmente ensinados por outros pais sobre o que precisam saber. Novamente, crentes têm relacionamentos bondosos e genuínos. Eles não estão fofocando uns sobre os outros como é tantas vezes o caso em uma igreja institucional. Eles se conhecem e se amam.

Pastores Felizes (Happy Pastors)

Depois de ter pastoreado igrejas por duas décadas, falado a dezenas de milhares de pastores ao redor do mundo e ter muitos pastores como amigos pessoais, acho que posso dizer que sei algo sobre as demandas de pastorear uma igreja moderna. Como todo pastor de igreja institucional, experimentei o “lado negro” do ministério. E pode ser bem negro às vezes. De fato, brutal pode ser uma palavra melhor para descrevê-lo.

As expectativas que a maioria dos pastores encontra, criam naturalmente estresses horríveis que às vezes arruínam relacionamentos dentro de suas próprias famílias. Pastores são desencorajados por vários motivos. Eles devem ser políticos, juízes, empregadores, psicólogos, diretores de atividades, mestres-de-obras, conselheiros matrimoniais, pregadores públicos, gerentes, leitores de mentes e administradores. Muitas vezes se encontram em competição acirrada com outros pastores para ganhar uma fatia maior do corpo de Cristo. Eles têm pouco tempo para a disciplina espiritual pessoal. Muitos se sentem presos em seus ministérios e são mal pagos. Suas congregações são seus clientes e seus patrões. Algumas vezes esses patrões e clientes podem dificultar bastante a vida.

Em comparação, é mais fácil para o pastor da igreja no lar. Primeiro, se ele leva uma vida exemplar de verdadeiro discípulo e ensina obediência inflexível aos mandamentos de Jesus, poucos bodes terão interesse em fazer parte desse grupo. Na verdade, o fato de se reunirem em casas é provavelmente o suficiente para mantê-las longe. Então, ele terá, em sua maioria, ovelhas para pastorear.

Segundo, ele pode amar e discipular todas as suas ovelhas em uma base pessoal, pois só tem de doze a vinte adultos para liderar. Ele pode desfrutar de uma proximidade real com eles, já que é como o pai de uma família. Pode dar a eles o tempo que merecem. Lembro de quando era pastor institucional. Sentia-me sozinho frequentemente. Não podia me aproximar de ninguém em minha congregação, para que os outros não ficassem ressentidos por não os incluir em meu círculo fechado de amigos ou não ficassem com inveja daqueles dentro desse círculo. Eu ansiava pela proximidade genuína com outros crentes, mas não arriscava o preço em potencial de ganhar verdadeiros amigos.

Na família unida da igreja no lar, os membros naturalmente ajudam a manter o pastor responsável, já que ele é um amigo íntimo e não um ator no palco.

O pastor de igrejas nos lares pode gastar tempo formando líderes de futuras igrejas nos lares, para que quando chegue a hora de multiplicar, os líderes estejam prontos. Ele não precisa assistir seus futuros líderes mais promissores levarem seus dons da igreja para uma escola bíblica em outro lugar.

Ele também pode ter tempo para desenvolver outro ministério fora de sua congregação local. Talvez possa ministrar em prisões, asilos ou se envolver em evangelismo um a um com refugiados ou empresários. Dependendo de sua experiência, pode dedicar parte de seu tempo para o plantio de mais igrejas nos lares, ou ser mentor de outros jovens pastores de igrejas nos lares que cresceram debaixo de seu ministério.

Ele não sente a pressão de ser um artista no domingo de manhã. Nunca precisa preparar um sermão com três pontos em um sábado à noite, se perguntando como é possível que ele satisfaça tantas pessoas que estão em tantos níveis de crescimento espiritual diferentes.[5] Ele pode se encantar vendo o Espírito Santo usar a todos nas reuniões e encorajá-los a usar seus dons. Pode faltar às reuniões e tudo correr bem, mesmo sem ele.

Ele não tem um prédio para distraí-lo e nem empregados para gerenciar.

Não tem motivo para competir com outros pastores locais.

Não existe “liderança da igreja” para fazer sua vida miserável e pela qual discussões políticas se tornam comuns.

Resumindo, ele pode ser o que foi chamado por Deus para ser, e não o que foi imposto sobre ele pelo cristianismo cultural. Ele não é o ator principal, o presidente da companhia ou o centro do centro. É um fazedor de discípulos, alguém que equipa os santos.

Ovelhas Felizes (Happy Sheep)

Tudo na bíblica e verdadeira igreja nos lares é o que verdadeiros crentes desejam e desfrutam.

Todos verdadeiros crentes anseiam por relacionamentos genuínos com outros crentes, porque o amor de Deus foi esparramado em seus corações. Tais relacionamentos são parte da vida da igreja nos lares. É ao que a Bíblia se refere de comunhão, o compartilhamento genuíno de uma vida com outros irmãos e irmãs. Igrejas nos lares criam um ambiente onde crentes podem fazer o que devem fazer, que é encontrado nas muitas passagens “uns aos outros” do Novo Testamento. No ambiente de igrejas nos lares, crentes podem exortar, encorajar, edificar, confortar, ensinar, servir e orar uns pelos outros.

Eles podem levar uns aos outros a amar e fazer as boas obras, confessar seus pecados uns aos outros, levar o fardo de outros e admoestar uns aos outros com salmos, hinos e cânticos. Eles podem chorar com aqueles que choram e se alegrar com aqueles que se alegram. Essas coisas não acontecem com muita frequência nos cultos de domingo de manhã nas igrejas institucionais, onde os crentes se sentam e assistem. Como um membro de igreja no lar me disse, “Quando alguém está doente em nosso corpo, eu não levo uma refeição para um estranho porque escolhi o ‘ministério de refeições.’ Naturalmente, levo uma refeição para alguém que conheço e amo.”

Verdadeiros crentes gostam de interagir e se envolver uns com os outros. Sentar passivamente e ouvir a sermões irrelevantes ou redundantes ano após ano insulta sua inteligência e espiritualidade. Eles preferem ter a oportunidade de compartilhar seu ponto de vista a respeito de Deus e Sua Palavra, e igrejas nos lares dão essa oportunidade. Seguindo um modelo bíblico ao invés de um cultural, cada pessoa “tem um salmo ou uma palavra de instrução, uma revelação, uma palavra, uma língua ou uma interpretação” (1 Co. 14:26). Em igrejas nos lares ninguém fica perdido na multidão ou excluído por uma panelinha na igreja.

Verdadeiros crentes desejam ser usados por Deus em serviço. Em uma igreja no lar, há oportunidade para todos serem usados para abençoar outros, e responsabilidades são divididas entre todos, para que ninguém experiencie o esgotamento que é comum entre membros comprometidos de igrejas institucionais. No mínimo, todos podem trazer comida para uma refeição comum, o que as Escrituras se referem como “festas de fraternidade” (Jd. 1:12). Para muitas igrejas nos lares, essa refeição segue o exemplo da ceia original, que era parte da refeição de Páscoa. A ceia não é, como um garotinho a chamou em uma igreja institucional que pastoreei, “o lanche santo de Deus.” A ideia de comer um pãozinho e beber um pouco de suco com estranhos durante alguns segundos em um culto é completamente estranha à Bíblia e às igrejas nos lares. O significado sacramental da ceia é ressaltado durante uma refeição compartilhada entre discípulos que se amam.

Em uma igreja no lar, o louvor é simples, sincero e participativo, não uma apresentação. Verdadeiros crentes amam adorar a Deus em espírito e em verdade.

Balanço Doutrinário e Tolerância (Doctrinal Balance and Toleration)

Em fóruns abertos e casuais de pequenas reuniões de igreja, todos ensinamentos podem ser examinados por qualquer um que possa ler. Irmãos e irmãs que se conhecem e se amam estão inclinados a considerar pontos de vista que diferem dos deles respeitosamente, e mesmo que o grupo não chegue a um consenso, o amor, e não a doutrina, os mantêm unidos. Qualquer ensinamento por qualquer pessoa no grupo, incluindo diáconos/pastores/bispos, está sujeito à examinação amorosa por qualquer outra pessoa, pois o Mestre mora em cada membro (veja 1 Jo. 2:27). As checagens e balanceamento do modelo bíblico ajudam a prevenir o desvio doutrinário.

Esse é um bom contraste da norma em igrejas institucionais modernas, onde a doutrina da igreja é estabelecida desde o início e não pode ser desafiada. Consequentemente, más doutrinas permanecem por tempo indeterminado e a doutrina se torna o teste de tornassol de aceitação. Por essa mesma razão, um ponto em um único sermão pode resultar no êxodo imediato de dissidentes que pulam do barco para temporariamente encontrar alguns “crentes com as mesmas ideias.” Eles sabem que não faz sentido em mesmo conversar com o pastor sobre seus desacordos doutrinários. Mesmo que ele seja convencido a mudar seu ponto de vista, ele teria que escondê-lo de muitos na igreja assim como dos maiorais de sua denominação. Diferenças doutrinárias dentro de igrejas institucionais produzem pastores que são alguns dos políticos mais hábeis do mundo, oradores que falam em vagas generalidades e evitam qualquer coisa que resulte em controvérsias, levando todos a crer que ele está do seu lado.

Uma Tendência Moderna (A Modern Trend)

É interessante que cada vez mais igrejas institucionais desenvolvem pequenos grupos estruturais dentro de seus modelos institucionais, reconhecendo seu valor no discipulado. Algumas igrejas vão mais além, tendo como base de sua estrutura central, pequenos grupos, considerando-os como o aspecto mais importante de seu ministério. “Reuniões festivas” maiores são de segunda importância para os pequenos grupos (pelo menos em teoria).

Esses são passos na direção certa, e Deus os abençoa já que Suas bênçãos sobre nós são proporcionais a nossa obediência a Sua vontade. De fato, “igrejas célula” são melhores estruturadas que igrejas institucionais padrões, para facilitar a formação de discípulos. Elas ficam entre o modelo de igreja institucionais e o modelo de igrejas nos lares, combinando elementos de ambos.

Como igrejas institucionais modernas com pequenos grupos se comparam a igrejas nos lares modernas e antigas? Existem algumas diferenças.

Por exemplo, infelizmente, às vezes pequenos grupos em igrejas institucionais servem para promover muitas coisas erradas dentro das igrejas, especialmente quando a verdadeira razão no começo de pequenos grupos é construir o reino da igreja do pastor titular. Ele consequentemente usa pessoas a sua própria vontade, e pequenos grupos se encaixam bem nesse plano. Quando isso ocorre, líderes de pequenos grupos são selecionados por sua lealdade à igreja mãe, e não podem ter muitos dons ou ser muito carismáticos, se não o diabo enche suas cabeças de ideias que poderão adotar como sendo deles. Esse tipo de política prejudica a eficiência de pequenos grupos e, assim como qualquer outra igreja institucional, espanta os líderes ascendentes chamados por Deus para escolas bíblicas e seminários, roubando da igreja verdadeiros dons, e levando tais pessoas para lugares onde serão ensinados por palestras ao invés de discipulados no trabalho.

Pequenos grupos em igrejas institucionais várias vezes viram pouco mais que simples grupos de comunhão. A formação de discípulos não acontece. Já que supostamente as pessoas estão sendo alimentadas no domingo de manhã, os pequenos grupos às vezes focam em outras coisas além da Palavra de Deus, não querendo uma repetição dos domingos de manhã.

Pequenos grupos em igreja institucionais são geralmente organizados por um membro da liderança da igreja, ao invés de nascidos do Espírito. Eles se tornam mais um dentre os muitos programas da igreja. Pessoas são agrupadas baseadas na idade, status social, interesses, estado marital ou localização geográfica. Bodes são misturados à ovelhas. Toda essa organização mundana não ajuda os crentes a se amarem uns aos outros apesar de suas diferenças. Lembre-se que muitas igrejas primitivas eram uma mistura de judeus e gentios. Eles regularmente compartilhavam refeições, uma coisa proibida pela tradição judaica. Que experiência de aprendizado suas reuniões devem ter sido! Que oportunidades para andar em amor! Que testemunhos do poder do evangelho! Então, por que pensamos que precisamos dividir todos em grupos homogêneos para garantir o sucesso de pequenos grupos?

Igrejas institucionais com pequenos grupos ainda têm performances de domingo de manhã, onde espectadores assistem à atuação de profissionais. Pequenos grupos não são permitidos se reunir quando cultos “de verdade” estão acontecendo, indicando a todos que os cultos institucionais são mais importantes. Por causa dessa mensagem, muitos, se não a maioria, dos presentes no domingo de manhã não se envolvem com um pequeno grupo mesmo se encorajado a fazê-lo, já que o veem como opcional. Eles estão satisfeitos pelo fato de estarem indo ao culto semanal mais importante. Então, o conceito de pequenos grupos pode ser promovido, sendo um pouco importante, mas não tão importante quanto o culto institucional de domingo. A melhor oportunidade de real comunhão, discipulado e crescimento espiritual é efetivamente subestimada. A mensagem errada é enviada. O culto institucional ainda é rei.

Mais Diferenças (More Differences)

Igrejas institucionais com pequenos grupos ainda estão estruturadas como uma pirâmide, onde todos sabem seus lugares na hierarquia. As pessoas no topo podem se chamar “servos líderes,” mas frequentemente estão mais para diretores gerais, pois são responsáveis por fazer decisões executivas. Quanto maior é a igreja, maior é a distância entre o pastor e os membros de seu rebanho. Se ele for um pastor de verdade e você puder fazê-lo admitir a verdade quando baixar a guarda, ele provavelmente te dirá que era mais feliz quando pastoreava um rebanho menor.

Similarmente, igrejas institucionais com pequenos grupos ainda promovem a divisão de laicidade sarcedotal. Líderes de pequenos grupos estão sempre em uma classe subordinada aos profissionais pagos. Lições de estudos bíblicos são frequentemente entregues ou aprovadas pelo clero, já que líderes de pequenos grupos não podem ser portadores de muita autoridade. Pequenos grupos não podem realizar ceia ou batismo. Essas tarefas sagradas são reservadas para a elite com os títulos e diplomas. Aqueles que são chamados para o ministério vocacional dentro do corpo devem ir a uma escola bíblica ou seminário para ser qualificado para o ministério “de verdade” e se juntar à elite.

Pequenos grupos em igrejas institucionais são às vezes nada mais que mini cultos, que não duram mais que 60 a 90 minutos, onde uma pessoa dotada dirige o louvor e outra dá a lição aprovada. Há pouco espaço para o Espírito usar outros, distribuir dons ou desenvolver ministros.

Ás vezes, as pessoas não estão seriamente comprometidas com os pequenos grupos em igrejas institucionais, aparecendo esporadicamente, e os grupos são designados para serem temporários, então, a profundidade da comunidade é menor que em igrejas nos lares.

Pequenos grupos em igrejas institucionais se reúnem geralmente durante a semana para não encher o fim de semana com mais uma reunião. Consequentemente, um pequeno grupo que se reúne no meio da semana é normalmente limitado quanto ao tempo, tendo não mais que duas horas para aqueles que podem comparecer e “proibido” para aqueles que têm filhos que vão para a escola ou moram longe.

Mesmo quando igrejas institucionais promovem o ministério de pequenos grupos, ainda há um prédio para gastar dinheiro. De fato, se o programa de pequenos grupos adiciona pessoas à igreja, ainda mais dinheiro é gasto em programações no prédio. Continuando, pequenos grupos organizados dentro de igrejas institucionais, várias vezes requerem pelo menos um líder pago. Isso significa mais dinheiro para mais um programa de igreja.

Talvez, o pior de tudo, seja que pastores de igrejas institucionais com pequenos grupos são muito limitados na formação de discípulos pessoais. Eles ficam tão ocupados com suas muitas responsabilidades que encontram pouco tempo com o discipulado um a um. O mais próximo que podem chegar é discipular um pequeno grupo de líderes, mas mesmo isso é limitado a uma reunião por mês.

Tudo isso é para dizer que, na minha opinião, igrejas nos lares são mais bíblicas e efetivas na formação e multiplicação de discípulos e discipuladores. Contudo, eu sei que minha opinião não vai mudar centenas de anos de tradição da igreja muito rápido. Então, eu encorajo pastores institucionais a fazerem algo na direção de mover suas igrejas a um modelo mais bíblico de formação de discípulos.[6] Eles podem considerar discipular pessoalmente futuros líderes ou iniciar o ministério de pequenos grupos. Podem ter um “domingo da igreja primitiva,” onde o prédio da igreja fica fechado, todos compartilham uma refeição nas casas e tentam se reunir como os cristão se reuniam pelos primeiros três séculos.

Pastores que têm pequenos grupos em suas igrejas poderiam considerar a liberação de alguns desses grupos para formar igrejas nos lares e ver o que acontece. Se pequenos grupos são saudáveis e liderados por pastores/diáconos/bispos liderados por Deus, eles devem ser capazes de operar sozinhos. Não precisam da igreja mãe mais que qualquer jovem igreja não organizada precisa da igreja mãe. Por que não os liberar?[7] O dinheiro do membro que está indo para a igreja mãe pode manter o pastor da igreja no lar.

O meu endosso de igrejas nos lares significa que não há nada bom nas igrejas institucionais? É claro que não! Quando vemos que discípulos que obedecem a Cristo estão sendo formados em igrejas institucionais, elas devem elogiadas. Suas práticas e estrutura, contudo, podem sim, estar prejudicando mais que ajudando a alcançar o alvo que Cristo colocou diante de nós, e são frequentemente assassinos de pastores.

O que Acontece em Reuniões de Igrejas nos Lares? (What Happens at a House Church Gathering?)

As igrejas nos lares não precisam ser todas estruturadas igualmente, há espaço para bastante variação. Cada igreja no lar deve refletir sua própria cultura e pequenas diferenças sociais — uma razão das igrejas nos lares serem tão efetivas no evangelismo, especialmente em países que não têm uma tradição cultural cristã. Membros de igrejas nos lares não convidam seus vizinhos para irem a um prédio de igreja que lhes é completamente estranho onde seriam envolvidos em rituais totalmente desconhecidos — enormes obstáculos para conversas. Ao invés disso, convidam seus vizinhos para uma refeição com seus amigos.

A refeição comum é geralmente um dos componentes mais importantes em uma igreja no lar. Para muitas igrejas essa refeição inclui ou é a ceia, e cada igreja no lar pode decidir como melhor trazer seu significado espiritual. Como previamente mencionado, a ceia original começou como uma refeição da Páscoa que era cheia de significado espiritual. A celebração da ceia como uma refeição ou parte de uma refeição é o padrão aparentemente seguido pelos primeiros crentes. Lemos sobre os primeiros cristãos:

Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações…Todos os dias, continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração (At. 2:42,46, ênfase adicionada).

Os primeiros cristãos estavam literalmente pegando, dividindo e compartilhando os pães, uma coisa que era feita praticamente em todas as refeições em sua cultura. Será que o partir do pão tinha algum significado espiritual para os primeiros cristãos? A Bíblia não diz com clareza. Contudo, William Barclay escreveu em seu livro The Lord´s Supper (A Ceia do Senhor) *, “Não há dúvidas que a ceia começou como uma refeição familiar ou uma refeição de amigos em uma casa…A ideia de um pedacinho de pão e um pequeno gole de vinho não tem relação alguma com a ceia original…A ceia era originalmente uma refeição familiar na casa de amigos.” É incrível que todos os eruditos modernos concordem com Barclay, mesmo assim, a igreja ainda segue a tradição ao invés da Palavra de Deus a esse respeito!

Jesus ordenou a Seus discípulos que ensinassem seus discípulos a obedecerem a tudo o que Ele lhes tinha ordenado. Portanto, quando Ele ordenou que Seus discípulos comessem pão e bebessem vinho juntos em memória dEle, eles teriam ensinado seus discípulos a fazerem o mesmo. Isso poderia ser feito em refeições comuns? Com certeza, parece que é assim que era feito quando lemos algumas das palavras de Paulo aos coríntios:

Quando vocês se reúnem [e ele não está falando de reuniões em prédios de igrejas, porque estes não existiam] não é para comer a ceia do Senhor, porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim enquanto um fica com fome, outro se embriaga (1 Co. 11:20-21, ênfase adicionada).

Como essas palavras fariam sentido se Paulo estivesse falando sobre a ceia como é praticada em igrejas modernas? Você já ouviu do problema de alguém em um culto de igreja moderna que comeu sua própria ceia primeiro e de outro que ficou com fome enquanto outro ficou embriagado durante a ceia do Senhor? Tais palavras só fariam sentido se a ceia fosse realizada juntamente com a refeição. Paulo continua:

Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a igreja de Deus [lembrem-se, Paulo não estava falando de um prédio, mas de uma reunião de pessoas, a igreja de Deus] e humilham os que nada têm? Que lhes direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não (1 Co. 11:22)!

Como pessoas que nada têm ficariam envergonhadas se o que fosse feito não estivesse no contexto de uma refeição? Paulo estava apontando para o fato de que alguns coríntios que chegavam mais cedo nas reuniões comiam suas próprias comidas sem esperar pelos outros. Quando alguns chegavam, que talvez fossem tão pobres que não levavam comida para compartilhar na refeição, eles ficavam com fome, como também envergonhados já que era tão óbvio que não tinham levado nada.

Imediatamente depois disso, Paulo escreveu sobre a ceia, um sacramento que recebeu “do Senhor” (1 Co. 11:23), e recontou o que aconteceu na primeira ceia (veja 1 Co. 11:24-25). Então ele advertiu os coríntios contra tomar a ceia de maneira indigna, dizendo que se não se examinassem, iriam comer e beber para sua própria condenação em forma de fraqueza, doença e morte prematura (veja 1 Co. 11:26-32).

Então, ele concluiu,

Portanto, meus irmãos, quando vocês se reunirem para comer, esperem uns pelos outros. Se alguém estiver com fome, come em casa, para que, quando vocês se reunirem, isso não resulte em condenação (1 Co. 11:33-34).

No contexto, a ofensa sendo cometida na ceia era em consideração a outros crentes. Paulo novamente advertiu que os que estavam comendo sua própria ceia primeiro ao invés de dividir na refeição, corriam perigo de serem julgados (ou disciplinados) por Deus. A solução era simples. Se alguém estivesse com tanta fome que não pudesse esperar pelos outros, ele deveria comer alguma coisa antes de ir à reunião. E aqueles que chegassem mais cedo deveriam esperar por aqueles que chegassem mais tarde para a refeição, uma refeição que, aparentemente, incluía a ceia.

Quando olhamos para a passagem inteira, parece claro que Paulo estava dizendo que se fosse a ceia do Senhor que estivesse sendo comida, ela teria que ser feita de um modo que fosse agradável ao Senhor, mostrando amor e consideração uns para com os outros.

De qualquer modo, é claro como cristal que a igreja primitiva praticava a ceia como parte de uma refeição comum em casas sem um clero oficial. Por que nós não?

Pão e Vinho (Bread and Wine)

A natureza dos elementos da ceia do Senhor não é a coisa mais importante. Se nós precisamos nos esforçar para imitar a ceia original, teríamos que saber quais eram os ingredientes exatos do pão e o tipo exato de uvas do qual o vinho original era feito. (Durante os primeiros séculos alguns pais da igreja prescreveram estritamente que o vinho tinha que ser diluído em água, caso contrário a comunhão estaria sendo praticada impropriamente.)

Pão e vinho eram alguns dos elementos mais comuns das refeições judias antigas. Jesus deu significância a duas coisas que eram incrivelmente comuns, comidas que praticamente todos consumiam todos os dias. Se Ele tivesse visitado outra cultura em outro tempo da história, a primeira ceia poderia ter sido constituída de queijo e leite de cabra, ou bolo de arroz e suco de abacaxi. Então, qualquer comida e bebida poderiam representar Seu corpo e sangue em uma refeição compartilhada entre Seus discípulos. A coisa mais importante é o significado espiritual. Não vamos nos esquecer do espírito da lei enquanto tentamos obedecer suas palavras!

Não é necessário que uma refeição comum seja solene. Os primeiros cristãos, como já lemos, “Partiam o pão em suas casas…e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração” (At. 2:46, ênfase adicionada). Contudo, seriedade com certeza é apropriada durante a parte da refeição em que o sacrifício de Jesus é lembrado e os elementos consumidos. Autoavaliação é sempre apropriada antes de comer a ceia, como indicado pelas solenes palavras de advertência de Paulo à igreja de Corinto em 1 Coríntios 11:17-34. Qualquer transgressão do mandamento de Cristo de amar uns aos outros é um convite à disciplina de Deus. Todo e qualquer conflito e divisão deve ser resolvido antes da refeição. Todos os cristãos devem se examinar e confessar qualquer pecado, que seria o equivalente a “examine-se cada um a si mesmo,” usando as palavras de Paulo.

O Espírito Manifestado pelo Corpo (The Spirit Manifested Through the Body)

A refeição pode acontecer antes ou depois de uma reunião onde louvor, ensinos e dons espirituais são compartilhados. Cada igreja no lar deve determinar seu formato, e formatos podem variar de reunião para reunião da mesma igreja no lar.

As Escrituras deixam bem claro que as reuniões da igreja primitiva eram bem diferentes dos cultos de igrejas institucionais. 1 Coríntios 11-14, em particular, nos dá uma abundância de detalhes sobre o que acontecia quando a igreja primitiva se reunia, e não há razão para pensar que o mesmo formato não pode e não deve ser seguido hoje. Também é claro que o que acontecia nas reuniões da igreja que Paulo descreveu, só poderia acontecer em pequenos grupos. O que Paulo descreveu, logicamente, não podia ter acontecido em uma reunião grande.

Eu serei o primeiro a admitir que não entendo tudo o que Paulo escreveu dentro daqueles quatro capítulos de 1 Coríntios. Contudo, parece óbvio que a característica mais saliente das reuniões descritas em 1 Coríntios 11-14 era a presença do Espírito Santo entre eles e Sua manifestação nos membros do corpo. Ele deu dons a indivíduos para a edificação do corpo inteiro.

Paulo cita no mínimo nove dons espirituais: revelação, línguas, interpretação de línguas, palavra de instrução, palavra de sabedoria, discernimento de espíritos, dons de cura, fé e milagres. Ele não fala que todos esses dons eram manifestados em todas as reuniões, mas com certeza indica a possibilidade de suas operações e parece resumir algumas das manifestações do Espírito mais comuns em 1 Coríntios 14:26:

Portanto, que diremos irmãos? Quando vocês se reúnem, cada um de vocês tem um salmo, ou uma palavra de instrução, uma revelação, uma palavra em uma língua ou uma interpretação. Tudo seja feito para a edificação da igreja.

Vamos levar em consideração todas estas cinco manifestações, e em um capítulo mais adiante vamos levar a fundo os nove dons do Espírito listado em 1 Coríntios 12:8-10.

O primeiro da lista é o salmo. Salmos dados pelo Espírito são mencionados por Paulo em duas de suas outras cartas às igrejas, enfatizando sua importância nas reuniões cristãs.

Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito, falando entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor (Ef. 5:18-19).

Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração (Cl. 3:16).

A diferença entre salmos, hinos e cânticos espirituais não é clara, mas o importante é que todos são baseados na Palavra de Deus, são inspirados pelo Espírito, e devem ser entoados pelos salvos para ensinar e advertir uns aos outros. Com certeza, muitos dos hinos e refrões que os salvos têm cantado durante a história da igreja encaixam-se em uma dessas categorias. Infelizmente, muitos hinos e corinhos modernos não têm profundidade bíblica, indicando que não foram dados pelo Espírito, e por serem superficiais, não têm valor real para ensinar e advertir salvos. Mesmo assim, crentes que se reúnem em igrejas nos lares devem esperar que o Espírito vá, não só inspirar membros individuais a conduzir músicas evangélicas conhecidas, novas e velhas, mas também dará músicas especiais para alguns dos membros que poderão ser utilizadas para a edificação de todos. Sem dúvida, quão especial é que igrejas tenham suas próprias músicas dadas pelo Espírito!

Ensino (Teaching)

O segundo dom na lista de Paulo é o ensino. Novamente, isso indica que qualquer um pode compartilhar um ensino inspirado pelo Espírito em uma reunião. É claro que todos os ensinos seriam julgados para ver se são coerentes aos ensinos dos apóstolos (já que todos eram devotados a isso; veja Atos 2:42) e devemos fazer o mesmo hoje. Mas perceba que não há indicação em lugar algum do Novo Testamento de que a mesma pessoa pregava todas as semanas quando a igreja local se reunia, dominando a reunião.

Havia, em Jerusalém, reuniões maiores no Templo onde os apóstolos ensinavam. Sabemos que os anciãos também tinham a responsabilidade do ensino em igrejas, e que algumas pessoas têm um chamado para o ministério de ensino. Paulo ensinou muito, publicamente e de casa em casa (veja Atos 20:20). Mas em pequenas reuniões de salvos o Espírito Santo pode usar outros para ensinar além dos apóstolos, anciãos ou professores.

Quando nos referimos ao ensino, parece que teríamos uma grande vantagem sobre a igreja primitiva, podendo levar cópias pessoais da Bíblia conosco para as nossas reuniões. Por outro lado, talvez o fácil acesso à Bíblia tem nos ajudado a elevar a doutrina acima de amar a Deus com todo o nosso coração e de amar ao nosso próximo como a nós mesmos, nos roubando da vida que a Palavra de Deus devia nos dar. Temos sido doutrinados demais. Muitos pequenos grupos de estudo bíblico têm sido tão irrelevantes e chatos quanto os sermões de domingos de manhã. Uma boa regra para seguirmos a respeito do ensino em igrejas nos lares é esta: Se as crianças maiores não estão escondendo seu tédio, os adultos provavelmente estão escondendo o deles. Crianças são ótimos barômetros da verdade.

Revelação (Revelation)

Terceiro, Paulo lista “revelação.” Isso poderia significar qualquer coisa revelada por Deus a algum membro do corpo. Por exemplo, Paulo menciona especificamente que um ímpio pode visitar uma reunião cristã e ter “os segredos do seu coração…expostos” por meio de dons de profecia. O resultado é que ele seria “convencido” e “julgado” e “se prostrará, rosto em terra, e adorará a Deus exclamando: ‘Deus realmente está entre vocês’”(1 Co. 14:24-25).

Aqui, nós vemos novamente que a presença verdadeira do Espírito Santo era uma característica esperada em reuniões da igreja, e que coisas sobrenaturais aconteceriam por causa de Sua presença. Os primeiros cristãos realmente acreditavam na promessa de Jesus que, “onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt. 18:20). Se Jesus em pessoa estava no meio deles, milagres poderiam acontecer. Eles literalmente adoram “pelo Espírito de Deus” (Fp. 3:3).

De qualquer modo, profecias, do qual vou falar mais em breve, podem conter revelações sobre os corações das pessoas. Mas revelações podem ser dadas sobre outras coisas e por outros meios, como por visões ou sonhos (veja At. 2:17).

Línguas e Interprerações (Tongues and Interpretation)

Quarto, Paulo listou dois dons que trabalham juntos: línguas e interpretações de línguas. Em Corinto, havia um excesso de pessoas falando em línguas. Mais especificamente, pessoas estavam falando em línguas durante as reuniões da igreja e não havia interpretação; então, ninguém sabia o que estava sendo dito. Podemos nos perguntar como os coríntios podem ser culpados, já que a culpa parecia ser do Espírito Santo, pois dava dons de línguas para alguns sem dar a outros o dom de interpretação. Há uma resposta muito satisfatória para essa pergunta à qual me reportarei em um capítulo mais adiante. De qualquer modo, Paulo não proibiu falar em línguas (como muitas igrejas institucionais fazem). Ao invés disso, ele proibiu a proibição de falar em línguas, e declarou que esse era o mandamento de Deus (veja 1 Coríntios 14:37-39)![8] Era um dom que, quando usado de forma correta, podia edificar o corpo e afirmar a presença sobrenatural de Deus no meio deles. Era Deus falando pelas pessoas, lembrando-as da Sua verdade e da Sua vontade.

No capítulo 12, Paulo falou sobre a superioridade da profecia sobre o falar em línguas sem interpretação. Ele encorajou os coríntios a desejarem o profetizar, e isso indica que os dons do Espírito são, provavelmente, manifestados entre aqueles que os desejam. Similarmente, Paulo advertiu os salvos de Tessalônica: “Não apaguem o Espírito. Não tratem com desprezo as profecias” (1 Ts. 5:19-20). Isso indica que os salvos podem “apagar” ou “apagar o fogo” do Espírito guardando no coração uma atitude errada em relação ao dom de profecia. É por isso, sem dúvida, que o dom de profecia é manifestado tão raramente entre os crentes de hoje.

Como Começar (How to Start)

Igrejas nos lares nascem do Espírito Santo pelo ministério de um plantador de igrejas nos lares ou de um diácono/pastor/bispo a quem Deus deu uma visão de uma igreja no lar. Mantenha em mente que um diácono/pastor/bispo bíblico pode ser aquele a quem a igreja institucional se refere como sendo um leigo maduro. Nenhum pastor de igreja no lar precisa de uma educação formal de ministério.

Uma vez que a visão de uma igreja no lar é entregue pelo Espírito Santo ao fundador, ele precisa buscar ao Senhor a respeito de outros que possam se juntar a ele. O Senhor o colocará em contato com pessoas com uma visão similar, confirmando o seu chamado. Ou o levará a pecadores receptivos aos quais ele poderá levar à Deus e discipular em uma igreja no lar.

Aqueles que estão começando a aventura da igreja no lar devem antecipar que levará tempo para que os membros se sintam confortáveis uns com os outros e aprendam a se relacionar e fluir com o Espírito. Será um caminho de dificuldades e erros. Os conceitos de participação de todos os membros, liderança bíblica e serva, diáconos ajudantes, liderança e dons do Espírito Santo, a refeição compartilhada e uma atmosfera casual ao mesmo tempo que espiritual é bem estranha para aqueles que só estão familiarizados com cultos institucionais. Portanto, é o sábio uso de graça e paciência quando uma nova igreja no lar nasce. O formato inicial pode ser mais como uma devocional familiar: uma pessoa liderando o louvor, outra compartilhando um ensino preparado e então, encerrando com uma oportunidade de oração em grupos, comunhão e uma refeição. Contudo, enquanto o grupo estuda o formato bíblico de igrejas no lar, o diácono/pastor/ bispo deve encorajar os membros a se esforçarem para se tornarem o melhor para Deus. Então, divirtam-se no passeio!

Igrejas no lar podem mudar da casa de um membro para outro cada semana, ou uma pessoa pode abrir sua casa todas as semanas. Algumas igrejas nos lares ficam ao ar livre ocasionalmente quando o tempo está bom. O horário e local da reunião não precisa ser no domingo de manhã, mas a qualquer hora que ficar melhor para os membros. Finalmente, é melhor começar pequeno; com no máximo doze pessoas.

Como mudar de Instituição para Igreja no Lar (How to Transition from Institution to House Church)

Provavelmente, muitos dos pastores que estão lendo isto estão trabalhando dentro de estruturas de igrejas institucionais, e talvez você, querido leitor, seja um deles. Se eu toquei em sua ferida e se você anseia pelo tipo de igreja que eu tenho descrito, então já deve estar se perguntando como pode fazer a transição. Deixe-me encorajar a não ficar com pressa. Comece ensinando somente a verdade bíblica e fazendo o que puder dentro da moldura de sua estrutura já existente para fazer discípulos que obedeçam aos mandamentos de Jesus. É muito mais provável que verdadeiros discípulos queiram fazer a transição para uma estrutura bíblica quando eles a entendem. Já os bodes e pessoas religiosas, provavelmente resistirão a tais transições.

Segundo, estude o que as Escrituras dizem sobre o assunto e ensine sua congregação sobre estruturas de igrejas nos lares e suas bênçãos herdadas. Você pode, eventualmente, cancelar seu culto de quarta-feira ou de domingo à noite para começar células semanais em casas, lideradas por crentes maduros. Encoraje todos a irem. Cada vez mais, padronize essas reuniões para seguirem o formato do modelo bíblico de igreja nos lares o mais perto possível. Então, dê tempo para que as pessoas comecem a apreciar as bênçãos de seus pequenos grupos.

Uma vez que todos gostem das reuniões, você pode anunciar que um certo domingo do mês que vem será um “Domingo da Igreja Primitiva.” Naquele domingo, o prédio da igreja ficará fechado e todos irão para determinadas casas para se reunirem assim como a Igreja primitiva se reunia, apreciando refeições juntos, a ceia do Senhor, comunhão, oração, louvor, compartilhando ensinamentos e dons espirituais. Se for um sucesso, você pode começar a ter reuniões assim um domingo em cada mês; então, eventualmente dois, e então, três domingos. Depois de um tempo, você pode liberar cada grupo para ser uma igreja no lar independente, livre para crescer e multiplicar, e talvez se reunir para reuniões maiores uma vez a cada dois meses.

Todo esse processo de transição que estou descrevendo pode levar de um a dois anos.

Ou, se você quiser ir com ainda mais cautela, pode começar com somente uma reunião no lar com alguns de seus membros mais interessados liderados por você mesmo. (Novamente, igrejas nos lares não precisam se reunir aos domingos de manhã.) Pode ser apresentado como um experimento e com certeza será uma experiência de aprendizado para todos.

Se der certo, então aponte um líder e libere o grupo para se tornar uma igreja independente que só participará do culto na igreja institucional uma vez por mês. Desse modo a nova igreja ainda faria parte da igreja mãe e não seria vista tão negativamente por aqueles que ainda fazem parte da igreja institucional. Isso também pode ajudar a influenciar outros dentro da igreja a considerar fazer parte de outra igreja no lar sendo plantada pela igreja institucional.

Se o primeiro grupo crescer, ore e o divida para que os dois grupos tenham bons líderes e dons suficientes entre seus membros. Ambos os grupos poderiam se reunir em uma celebração maior em ocasiões combinadas, talvez uma vez por mês ou uma vez a cada três meses.

Independentemente do caminho que você tomar, mantenha seus olhos no alvo, mesmo durante as decepções, o que provavelmente haverá. Igrejas nos lares são formadas por pessoas, e pessoas causam problemas. Não desista.

É bem improvável que todos na congregação de sua igreja institucional façam essa transição; então, você terá que decidir em que ponto irá começar a se devotar completamente a uma igreja no lar ou a um grupo de igrejas nos lares, deixando a instituição para trás. Esse será um dia importante para você!

A Igreja Ideal (The Ideal Church)

O pastor de uma igreja no lar pode mesmo ter mais sucesso aos olhos de Deus que o pastor de uma mega igreja com um prédio enorme e milhares de atendentes todo domingo? Sim, se ele estiver multiplicando obedientes discípulos e discipuladores, seguindo o modelo de Jesus, ao invés de simplesmente reunindo bodes espirituais uma vez por semana para assistir a um concerto e ouvir um sermão divertido santificado por algumas passagens fora de contexto.

Um pastor que decide seguir o modelo de igreja nos lares nunca terá uma congregação grande. Mas em longo prazo, ele terá frutos que permanecerão por um bom tempo, já que seus discípulos fazem discípulos. Muitos pastores de “pequenas” congregações de 40 a 50 pessoas que ainda querem mais podem precisam ajustar suas ideias. Suas igrejas podem já ser muito grande. Talvez eles devam parar de orar por um prédio maior e começar a orar sobre quem será apontado para liderar duas novas igrejas nos lares. (Por favor, quando isso acontecer, não dê um nome à sua nova denominação e o título de “bispo” a si mesmo!)

Precisamos erradicar a ideia de que maior é melhor a respeito da igreja. Se nós formos julgar puramente com base bíblica, congregações que consistem de centenas de espectadores não discipulados que se reúnem em prédios especiais seriam consideradas um tanto estranho. Se os primeiros apóstolos visitassem igrejas institucionais modernas, ] coçariam as cabeças! (Estariam perdidos?)

Uma Objeção Final (A Final Objection)

Várias vezes, ouvimos que no mundo Ocidental, onde o cristianismo já se tornou parte da cultura, as pessoas nunca aceitarão a ideia de igrejas se reunirem em casas. E é então argumentado que devemos permanecer no modelo institucional.

Primeiro, isso tem provado não ser verdade, já que igrejas nos lares têm ganhado força rapidamente no mundo Ocidental.

Segundo, as pessoas já se reúnem alegremente em casas para festas, refeições, comunhão, estudos bíblicos e grupos de célula. A aceitação da ideia de uma igreja em uma casa só precisa de um pequeno ajustamento de pensamento.

Terceiro, é verdade que pessoas religiosas, “bodes espirituais,” nunca aceitarão o conceito de igrejas nos lares. Eles nunca farão alguma coisa que pareça esquisito aos seus vizinhos. Mas verdadeiros discípulos de Jesus Cristo com certeza aceitam o conceito de igrejas nos lares uma vez que entendem a base bíblica. Eles logo percebem como os prédios são desnecessários para o discipulado. Se você quiser construir uma grande igreja com “madeira, feno ou palha” (veja 1 Co. 3:12), você precisará de um prédio, mas tudo será queimado no final. Mas se você quiser multiplicar discípulos e discipuladores, construindo a Igreja de Jesus Cristo com “ouro, prata, [e] pedras preciosas,” então você não precisa gastar energia e dinheiro em prédios.

É interessante que o maior movimento evangelístico natural do mundo hoje, o movimento “de volta à Jerusalém” das igrejas nos lares chinesas, tem adotado uma estratégia específica para evangelizar a janela 10/40. Eles dizem: “Nós não temos o desejo de construir prédios de igrejas em lugar algum! Isso permite que o evangelho se espalhe rapidamente, dificulta sermos localizados pelas autoridades e nos permite canalizar todos os nossos recursos diretamente ao ministério do evangelho.”[9] Certamente um exemplo sábio e bíblico para seguirmos!

 


[1] Veja “Jesus on Money” (Jesus Sobre o Dinheiro) debaixo de Biblical Topics (Tópicos Bíblicos) no home page de www.shepherdserve.org.

[2] Mesmo parecendo radical, o único motivo da necessidade de prédios de igrejas é a falta de líderes que dirijam igrejas nos lares menores, que é o resultado de um discipulado pobre a líderes em potencial dentro de igrejas institucionais. Seria possível que pastores de igrejas institucionais grandes são, na verdade, culpados de roubar pastores chamados por Deus dentro de suas congregações de seus ministérios por direito? Sim.

[3] Essa proporção um por dez ou vinte não deve ser considerada um exagero à luz do modelo bíblico de Jesus de discipular doze homens e dos juízes de Moises sobre dez pessoas (veja Ex. 18:25). A maioria dos pastores institucionais administra muito mais pessoas do que pode discipular efetivamente sozinho.

[4] Também podemos nos perguntar o por que de “pastores titulares,” “pastores auxiliares,” ou “co-pastores” não serem mencionados nas Escrituras. Novamente, esses títulos, que parecem tão essenciais nas igrejas modernas por causa de suas estruturas, eram desnecessários na igreja primitiva por causa da estrutura dela. Igrejas nos lares com vinte pessoas não precisam de pastores titulares, auxiliares e co-pastores.

[5] Muitos pastores nunca se tornam bons oradores, mesmo sendo servos de Cristo chamados por Deus. Na realidade, é ser muito duro dizer que muitos sermões de pastores são chatos, ou pelo menos, às vezes? O que um crítico de igreja se refere com “fitar o horizonte” é muito comum entre os presentes. Mas esses mesmos pastores que são oradores entediantes são frequentemente bons conversadores, e as pessoas raramente ficam entediadas enquanto estão conversando. É por isso que o ensinamento interativo em igrejas nos lares é normalmente sempre interessante. O tempo voa nessas horas, em contraste com os muitos olhares velados aos relógios de pulso durante os sermões de igreja. Pastores de igrejas nos lares não precisam se preocupar se estão sendo chatos.

[6] Uma das minhas definições preferidas para a palavra insanidade é: Fazer a mesma coisa repetidamente esperando por resultados diferentes. Pastores podem ensinar por anos sobre a responsabilidade de cada membro de estar envolvido na formação de discípulos, mas a menos que ele faça algo para mudar formas ou estruturas, as pessoas vão continuar indo à igreja para sentar, escutar e ir embora. Pastor, se você continuar fazendo o que não mudou as pessoas no passado, não vai mudar as pessoas no futuro. Mude o que você está fazendo!

[7] É claro que o motivo principal de muitos pastores serem contrários a essa ideia é porque estão, na verdade, construindo seus próprios reinos, não o Reino de Deus.

* Nota do tradutor: este livro ainda não foi traduzido para o português.

[8] Eu sei que existem pessoas que transferem toda manifestação sobrenatural do Espírito ao primeiro século, o tempo que supostamente cessaram. Portanto, nós não temos razão para buscar o que a igreja primitiva vivenciou, e o dom de línguas não é mais válido. Eu tenho pouca simpatia por tais pessoas que são como saduceus modernos. Como alguém que em várias ocasiões louvou a Deus em japonês, de acordo com falantes japoneses que me ouviram, e nunca tendo aprendido japonês, eu sei que esses dons não deixaram de ser dados pelo Espírito Santo. Eu também me pergunto por que esses saduceus acreditam que o Espírito Santo chama, convence e regenera pecadores, mas negam o trabalho do Espírito além desses milagres. Esse tipo de “teologia” é o resultado da descrença e desobediência humana; não tem prova bíblica e na verdade vai contra o objetivo de Cristo. Isso é desobediência direta a Cristo, de acordo com o que Paulo escreveu em 1 Co. 14:37.

[9] Brother Yun, Back to Jerusalém* (De Volta á Jerusalém), p. 58.

* Nota do tradutor: Esse livro ainda não foi traduzido para o Português.

Continuando Apropriadamente

Capítulo Três (Chapter Three)

Por muitos anos e de várias formas, sem perceber segui práticas que eram contra o objetivo que Deus tinha para mim, o objetivo de fazer discípulos. Mas gradualmente, o Espírito Santo abriu meus olhos para ver meus erros. Algo que tenho aprendido é: devo examinar tudo o que tenho visto e acreditado à luz da Palavra de Deus. Nossas tradições, mais que qualquer outra coisa, nos cegam para o que Deus tem falado. Pior, temos muito orgulho de nossas tradições, achando que estamos entre a elite que tem uma maior compreensão da verdade que outros cristãos. Como um professor disse sarcasticamente, “Existem 32,000 denominações no mundo hoje. Você não tem sorte de ser membro da única que é certa?”

Como resultado de nosso orgulho, Deus resiste a se aproximar de nós. Ele resiste ao orgulho. Se queremos progredir e estar preparados para ficar diante de Jesus, precisamos nos humilhar. A esses, Deus dá graça.

O Papel do Pastor Levado em Consideração (The Role of the Pastor Considered)

O objetivo do ministro fazedor de discípulos deve moldar tudo o que ele faz no ministério. Ele deve se perguntar continuamente: “Como o que eu estou fazendo irá contribuir com o processo de fazer discípulos que irão obedecer a todos os mandamentos de Jesus?” Essa simples pergunta, se feita honestamente, eliminará muito do que é feito sob a fachada de atividade cristã.

Vamos considerar o ministério de pastor/presbítero/bispo,[1] de alguém cuja tarefa foca uma igreja local específica. Se essa pessoa quer fazer discípulos que irão obedecer a todos os mandamentos de Jesus, qual deve ser uma de suas principais responsabilidades? Ensino vem naturalmente à mente. Jesus disse que discípulos são feitos por meio do ensino (veja Mt. 28:19-20). Um dos requisitos para alguém ser presbítero/pastor/ bispo é que ele seja “apto para ensinar” (1 Tm. 3:2). Aqueles “cujo trabalho é a pregação e o ensino” devem ser “dignos de dupla honra” (1 Tm. 5:17).

Portanto, um pastor deve avaliar cada sermão se fazendo a seguinte pergunta: “Como esse sermão ajudará a alcançar o objetivo de fazer discípulos?”

Contudo, será que a responsabilidade de ensinar do pastor é cumprida somente por seus sermões de domingo e de meio da semana? Se ele acha que sim, está fazendo vista grossa ao fato de que as Escrituras indicam que sua responsabilidade de ensino é cumprida principalmente através de sua vida e do exemplo que dá. O exemplo de ensino de sua vida diária é completado por seu ministério público de ensino. É por isso que as exigências para presbíteros/pastores/bispos têm muito mais a ver com o caráter e estilo de vida de uma pessoa do que com sua habilidade de comunicação verbal. De quinze requisitos para bispos, listados em 1 Timóteo 3:1-7, quatorze são relacionados ao caráter e somente um à habilidade de ensino. De dezoito requisitos para presbíteros, listados em Tito 1:5-9, dezessete são relacionados ao caráter e somente um à habilidade de ensino. Paulo primeiro lembrou a Timóteo, “Seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1 Tm. 4:12b, ênfase adicionada). Depois ele disse, “Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino” (1 Tm. 4:13). Portanto, o exemplo do caráter de Timóteo foi mencionado antes de seu ministério de ensino público, enfatizando assim sua maior importância.

Pedro escreveu similarmente:

Portanto, apelo para os presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo, como alguém que participará da glória a ser revelada: pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplo para o rebanho (1 Pe. 5:1-3, ênfase adicionada).

Quem nos inspira a negarmos a nós mesmos e obedecermos a Cristo? São aqueles cujos sermões admiramos ou aqueles cujas vidas admiramos? Pastores sem compromisso e de estilo leve não inspiram ninguém a carregar a cruz. Se tais pastores pregam uma mensagem de compromisso com Cristo de vez em quando, eles pregam com vagas generalidades, caso contrário, seus ouvintes questionariam sua sinceridade. A maioria dos líderes cristãos do passado não é lembrada pelos seus sermões, mas pelos seus sacrifícios. Seus exemplos nos inspiram muito tempo depois que se foram.

Se um pastor não dá exemplo de obediência como um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, ele perde tempo pregando qualquer sermão. Pastor, seu exemplo fala dez vezes mais alto do que seus sermões. Você está inspirando as pessoas a negarem a si mesmas e seguirem a Cristo enquanto você nega a si mesmo e segue a Cristo?

Mas como pode um pastor, por meio de exemplo e estilo de vida, ensinar pessoas que o conhecem apenas como um orador das manhãs de domingo? O mais perto que podem chegar de vê-lo viver sua vida é por meio de um aperto de mão de cinco segundos enquanto respeitosamente saem da igreja. Talvez exista alguma coisa que não está muito certa no modelo pastoral moderno.

O Sermão Semanal de Domingo de Manhã (The Weekly Sunday Morning Sermon)

Se o pastor pensa que sua principal responsabilidade de ensino é dar sermões semanais públicos, assumiu erroneamente de novo. O ministério de ensino de Jesus não consistiu somente de sermões públicos (e a maior parte deles parecia bem curto), mas também de conversas particulares que eram iniciadas por Seus discípulos inquiridores. Mais adiante, essas conversas não eram limitadas a meia hora de um dia da semana no edificio da igreja, mas acontecia nas praias, nas casas e nas caminhadas pelas estradas empoeiradas, enquanto Jesus vivia Sua vida plenamente à vista de Seus discípulos. Esse mesmo modelo de ensino foi seguido pelos apóstolos. Depois do Pentecostes, os doze ensinaram “no templo e de casa em casa” (At. 5:42, ênfase adicionada). Eles tinham interação diária com a comunidade de crentes. Paulo também ensinou “publicamente e de casa em casa” (At. 20:20, ênfase adicionada).

A esse ponto, se você é pastor, pode estar comparando seu ministério de ensino com aquele de Jesus e dos primeiros apóstolos. Talvez você esteja até começando a se perguntar se o que tem feito é o que Deus quer que você faça, ou se tem feito o que centenas de anos de tradição da igreja têm te ensinado a fazer? Se estiver se fazendo essa pergunta, isso é bom. É muito bom. Esse é o primeiro passo na direção certa.

Talvez você tenha ido ainda mais além. Talvez tenha dito a si mesmo: “Onde eu poderia encontrar o tempo que um ministério como esse requer, ensinando pessoas de casa em casa, ou os envolvendo em minha vida diária para que eu primeiramente os influencie pelo meu exemplo?” Agora, essa é uma pergunta maravilhosa, pois ela pode te levar a continuar se perguntando se há alguma coisa ainda mais errada no conceito do papel de pastor.

Talvez você tenha até pensado consigo mesmo, “Eu não tenho certeza de que gostaria de viver tão próximo das pessoas de minha igreja. A faculdade teológica me ensinou que um pastor nunca deve chegar muito perto de sua congregação. Ele deve manter uma distância para conservar o respeito profissional. Ele não pode ser amigo íntimo delas.”

Tal pensamento revela que realmente há algo de muito errado com o modo como, muitas vezes, as coisas são feitas na igreja moderna. Jesus era tão próximo dos doze que um deles se sentiu confortável para deitar sua cabeça em Seu peito em uma refeição comum (veja Jo. 13:23-25). Eles literalmente moraram juntos por alguns anos. Quanto trabalho hoje para manter uma distância profissional dos discípulos para ministrar com sucesso a eles!

Comparação de Métodos Antigos e Modernos

(A Comparison of Methods, Ancient and Modern)

Se o objetivo é obedecer a Jesus e fazer discípulos, não seria sábio seguir Seus métodos para fazer discípulos? Eles funcionaram bem para Ele. Também funcionaram bem para os apóstolos que O seguiram.

Quão bem os métodos modernos estão funcionando para fazer discípulos que obedecem a todos os mandamentos de Cristo? Quando, por exemplo, estudos feitos com crentes americanos mostram repetidamente que virtualmente não há diferença entre o estilo de vida da maioria de crentes professos e o dos descrentes, talvez seja hora de fazermos algumas perguntas e re-examinarmos as Escrituras.

Aqui está uma pergunta reveladora para fazermos a nós mesmos: Como a igreja primitiva teve tanto sucesso fazendo discípulos sem nenhum edificio sede, líderes profissionalmente treinados, faculdades teológicas e seminários, hinários e sistema de multimídia, microfones sem fio e duplicadores de fita, currículos de escola dominical e ministério de jovens, equipe de louvor e corais, computadores e copiadoras, rádios e canais de TV evangélicos, centenas e milhares de livros evangélicos e até Bíblia própria? Eles não precisaram de nenhuma dessas coisas para fazer discípulos e Jesus também não. E porque nenhuma delas era essencial lá, nenhuma é essencial agora. Elas podem ajudar, mas não são essenciais. De fato, muitas delas podem atrapalhar e na verdade nos atrapalham a fazer discípulos. Deixe-me dar dois exemplos.

Vamos primeiramente considerar o essencial moderno de ter somente pastores treinados em faculdades teológicas – ou seminários – liderando igrejas. Esse era um conceito desconhecido por Paulo. Em algumas cidades, depois de ter plantado igrejas, ele saia por algumas semanas ou meses, e então retornava para apontar líderes para administrá-las (veja, por exemplo, At. 13:14, 14:23). Isso significa que aquelas igrejas, privadas da presença de Paulo, não tiveram uma liderança formal por algumas semanas ou meses, e que a maioria dos líderes eram novos na fé quando apontados. Eles não tiveram nada parecido com uma educação formal de dois ou três anos para se prepararem para o trabalho.

Portanto, a Bíblia ensina que pastores/presbíteros/bispos não precisam de dois ou três anos de educação formal para serem efetivos em seus ministérios. Ninguém pode argumentar inteligentemente contra esse fato. Mesmo assim, o requisito moderno manda continuamente uma mensagem para cada crente: “Se você quer ser um líder na igreja, precisará de anos de educação formal.”[2] Isso faz o processo de formação de líderes mais lento, fazendo, então, mais lenta a formação de discípulos, atrasando assim a expansão da Igreja. Eu me pergunto o quanto as companhias americanas Avon e Amway teriam saturado seu público alvo se tivessem requerido que cada vendedor se mudasse com sua família para outra cidade para receber três anos de treinamento formal antes de poder vender sabão ou perfume?

“Mas o pastoreio é uma tarefa tão difícil e complexa!” alguns dizem. “A Bíblia diz que não devemos colocar um novo convertido na posição de bispo” (veja 1 Tm. 3:6).

Em primeiro lugar, a nossa definição de novo convertido é claramente diferente do conceito de Paulo, já que ele apontou pessoas para o cargo de presbítero/pastor/bispo que haviam se convertido há apenas alguns meses.

Em segundo lugar, um motivo para o pastoreio moderno ser tão difícil e complexo é o fato do nosso sistema inteiro de estrutura e ministério da igreja estar tão longe do modelo bíblico. Nós o fizemos tão complexo que, de fato, somente algumas pessoas super-humanas podem sobreviver as suas demandas!

“Deus nos livre de ter a igreja liderada por alguém sem uma faculdade teológica ou seminário!” outros dizem. “Esse líder sem treinamento pode levar seu rebanho a heresias!”

Essa aparentemente não era a preocupação de Paulo. O fato é que hoje temos líderes treinados por seminários e faculdades teológicas que não acreditam no nascimento virginal, aprovam a homossexualidade, ensinam que Deus quer que todos dirijam um automóvel de luxo, dizem que Deus predestinou algumas pessoas para serem condenadas, ou dizem sem vacilar que é possível receber a vida eterna sem obedecer a Cristo. As faculdades teológicas e seminários modernos têm várias vezes servido para promover falsas doutrinas, e os líderes profissionais têm servido para levá-las adiante.

Os “leigos” da igreja têm medo de contestá-los, porque os profissionais foram para seminários e podem encontrar mais “textos-prova.” Além do mais, esses líderes têm definido e dividido suas igrejas do resto do corpo de Cristo usando suas doutrinas peculiares, a ponto de colocar essas diferenças nos nomes que colocam nas placas na frente dos prédios de suas igrejas, mandando uma mensagem para o mundo: “Nós não somos como aqueles outros cristãos.” Para piorar a situação, eles se referem a qualquer um que discorde de suas doutrinas incontestáveis e divisórias como “causadores de divisão.” A Inquisição ainda está à tona, liderada por homens com diplomas. É esse o exemplo que Jesus quer dar usando aqueles que deviam estar fazendo discípulos que são conhecidos pelo mundo por seu amor uns pelos outros?

Os cristãos agora escolhem igrejas baseando-se em doutrinas particulares, e ter a teologia certa se tornou mais importante que ter o estilo de vida certo, tudo porque um modelo bíblico foi abandonado.

Uma Alternativa Bíblica (A Biblical Alternative)

Eu estarei ajudando a causa se der a convertidos de apenas três meses a liderança de uma igreja (a mesma coisa que Paulo fez)? Sim, mas somente se esses convertidos preencherem os requisitos bíblicos para presbíteros/bispos, e só se forem dados como líderes a igrejas que seguem um modelo bíblico. Isso é, a igreja deve ser primeiramente recém-plantada, submetida a um ministro-fundador maduro, como um apóstolo, que possa supervisioná-la.[3] Desse modo, líderes recém-apontados não estarão completamente sozinhos.

Segundo, as congregações devem ser pequenas o suficiente para se reunirem em casas, como a igreja primitiva.[4] Isso torna as igrejas mais manejáveis. É provavelmente por isso que um dos requisitos para presbíteros/bispos é que governem bem suas próprias famílias (veja Tm. 3:4-5). Administrar uma pequena “família da fé” não é muito mais desafiador que administrar uma família.

Terceiro, a congregação deve consistir de pessoas que responderam em arrependimento ao evangelho bíblico, e que são, assim, discípulos genuínos do Senhor Jesus Cristo. Isso elimina todos os desafios que surgem ao tentar pastorear ovelhas que são, na verdade, bodes.

E quarto, os pastores/presbíteros/bispos devem seguir seus papéis bíblicos ao invés dos papéis culturais. Isso é, eles não devem se posicionar no centro como astros, como fazem na maioria das igrejas modernas.[5] Ao invés disso, eles devem ser somente parte do corpo, servos humildes que ensinam pelo exemplo e preceito, que têm o objetivo de fazer discípulos, não por serem oradores aos domingos de manhã, mas por seguirem os métodos de Jesus.

Quando esse padrão é seguido, então alguns convertidos de três meses podem administrar igrejas.

Prédios da Igreja (Church Buildings)

E os prédios da igreja? Eles são outro “essencial” moderno que a Igreja primitiva passou muito bem sem. Eles ajudam o processo de fazer discípulos?

Quando eu era pastor, várias vezes me sentia mais como um corretor, banqueiro, contratante geral e um levantador de fundos profissional. Eu já sonhei com prédios, procurei por prédios, remodelei prédios velhos, aluguei prédios, construí prédios novos e os reformei quando Deus mandou chuva pelas rachaduras. Prédios consomem muito tempo e energia. O motivo de eu ter feito tantas coisas que giravam ao redor de prédios é que eu tinha certeza, como a maioria dos pastores, que não havia outra forma de obter sucesso sem um prédio, um lugar para a igreja se reunir.

Prédios também consomem dinheiro, muito dinheiro. (Nos Estados Unidos, algumas congregações consomem dezenas de milhões de dólares em seus prédios.) Depois de meus sonhos de ter prédios serem alcançados, eu sonhava várias vezes com o dia em que as hipotecas dos meus prédios seriam pagas, para que pudéssemos usar todo esse dinheiro para o ministério. Uma vez me ocorreu, enquanto eu ensinava minha congregação sobre boa mordomia e sair de dívidas, que eu tinha posto todos nós em dívidas! (Eu com certeza estava ensinando pelo exemplo.)

A maioria dos prédios de igrejas é usada por umas duas horas, uma ou duas vezes por semana. Que outra organização no mundo inteiro constrói prédios que serão usados tão pouco? (Resposta: apenas seitas e falsas religiões.)

Esse buraco de sugar dinheiro causa muitos problemas. Um pastor com um prédio sempre precisa de um fluxo de dinheiro, e isso afeta o que ele faz. Ele é tentado a atender aos ricos (os quais várias vezes dão sem nenhum sacrifício), a comprometer qualquer ensinamento que possa ofender alguém e a torcer as Escrituras para servir seu propósito. Seus sermões gravitam em assuntos que não prejudiquem o fluxo de dinheiro, mas encorajem seu aumento. Por causa disso, alguns cristãos, às vezes, chegam a pensar que os aspectos mais importantes de ser crente são (1) dar o dízimo (que a propósito, Jesus disse que é um mandamento menor) e (2) ir à igreja (onde os dízimos são recolhidos todos os domingos). Essa dificilmente é uma ilustração da formação de discípulos. Ainda assim, muitos pastores sonham em ter congregações onde todos fizessem somente essas duas coisas. Se um pastor tivesse uma congregação onde só a metade das pessoas fizesse essas coisas, ele poderia escrever livros e vender seus segredos para milhares de outros pastores!

Os fatos revelam isto: Não há registro de nenhuma congregação comprando ou construindo um prédio no livro de Atos. A maioria das vezes, os crentes reuniam-se regularmente em casas.[6] Nunca houve uma coleta para a construção de prédios. Não há instruções nas epístolas para a construção de prédios. Além disso, ninguém pensou em construir uma igreja até que o cristianismo atingisse 300 anos, quando a igreja se uniu ao mundo debaixo do decreto de Constantino. Trezentos anos! Pense em quanto tempo isso é! E a igreja floresceu e se multiplicou espontaneamente, mesmo durante tempos de perseguição intensa, tudo isso sem prédios. Tal fenômeno tem se repetido muitas vezes nos séculos que se seguiram. Tem acontecido na China recentemente. Provavelmente existem mais de um milhão de igrejas nos lares na China.

Domingo às Nove Horas é a Hora de maior Segregação (Eleven O’Clock Sunday is the Most Segregated Hour)

É esperado que instalações de igrejas modernas que imitam o modelo americano tenham, no mínimo, espaço dividido o suficiente para prover salas separadas para ministérios e para grupos de todas as idades. Contudo, na igreja primitiva a ideia de ministérios especiais separados para homens, mulheres e crianças de todas as idades era desconhecida. A igreja era unida em todos os sentidos, e não fragmentada em todos os sentidos. A unidade familiar era mantida, e a responsabilidade espiritual dos pais era reforçada pela estrutura da igreja, ao invés de corroída por ela como tem acontecido na estrutura da igreja moderna.

Um prédio de igreja contribui ou atrapalha na formação de discípulos? Historicamente, a formação de discípulos pelos séculos obteve maior sucesso sem eles, e por muitos bons motivos.

Reunir em lares, como a igreja primitiva fez pelos primeiros três séculos, onde uma refeição cheia de alegria, ensinamentos, músicas e dons espirituais eram compartilhados provavelmente de três a cinco horas, proporcionou um ambiente para o crescimento espiritual genuíno dos crentes. Membros do corpo de Cristo se sentiam participantes, enquanto sentavam-se frente a frente, ao invés de como a audiência nas igrejas modernas se sente — como espectadores em um teatro, sentados olhando para a nuca dos outros, enquanto tentam não perder nada do show no palco. A atmosfera casual de uma refeição comum levou a transparência, a relacionamentos com uma preocupação autêntica e à comunhão verdadeira, que não tem comparação à “comunhão” moderna, que muitas vezes não passa de apertos de mão com os estranhos do próximo banco quando o pastor manda.

Os ensinamentos eram mais uma sessão de perguntas e respostas e discussões abertas entre iguais, ao invés de sermões dados por aqueles que usam roupas chiques, falam com vozes teatrais e ficam em um lugar mais alto que a educada (e várias vezes entediada) audiência. Os pastores não “preparavam um sermão semanal.” Qualquer um (com certeza incluindo os presbíteros/pastores/bispos) podia receber um ensinamento dado pelo Espírito Santo.

Quando uma casa ficava lotada, os diáconos não pensariam em obter um prédio maior. Ao invés disso, todos sabiam que tinham que se dividir em duas casas, e era só um problema de tempo para encontrar o querer do Espírito em relação a onde a nova reunião deveria acontecer e quem deveria administrá-la. Felizmente, eles não precisavam recolher currículos de estranhos e de teólogos de crescimento de igreja para examinar minuciosamente seu ponto de vista filosófico ou doutrinário. Já havia líderes entre eles, que tinham treinamento no trabalho e já conheciam os membros de seu futuro pequeno rebanho. Aquela nova igreja no lar tinha a oportunidade de lançar o evangelho em uma nova área, e demonstrar para os descrentes o que os cristãos eram — pessoas que se amavam. Eles podiam convidar os incrédulos para as reuniões tão facilmente como para as refeições.

O Pastor Abençoado (The Blessed Pastor)

Nenhum pastor/presbítero/bispo de igreja no lar sofria com o “esgotamento” ministerial por estar sobrecarregado de responsabilidades pastorais, algo que tem se espalhado na igreja moderna. (Um estudo mostrou que 1.800 pastores por mês têm deixado o ministério nos E.U.A.) Ele só tinha um pequeno rebanho para cuidar, e se esse rebanho suprisse suas necessidades financeiras para que o ministério fosse sua vocação, ele até tinha tempo para orar, meditar, pregar para os ímpios, ajudar os pobres, visitar e orar pelos doentes e gastar tempo de qualidade equipando novos discípulos para fazer todas essas coisas com ele. A administração da igreja era simples.

Ele trabalhava em uníssono com os outros presbíteros/pastores/bispos de sua região. Não havia disputas para ter “a maior igreja da cidade” ou competição entre pastores para ter “o melhor ministério de jovens” ou o programa “mais animado para crianças.” As pessoas não iam para as reuniões da igreja para julgar como a equipe de louvor tocou ou se o pastor tinha sido engraçado. Eles tinham nascido de novo e amavam Jesus e Seu povo. Eles amavam comer juntos e compartilhar os dons que Deus tinha lhes dado. Seu objetivo era obedecer a Jesus e estar pronto para comparecer ao Seu julgamento.

Com certeza, havia problemas nas igrejas nos lares, e estas estão enfocadas nas epístolas. Mas vários dos problemas, que inevitavelmente atormentam as igrejas modernas e atrapalham a formação de discípulos, eram desconhecidos da igreja primitiva, simplesmente porque seu modelo de igreja local era muito diferente do que evoluiu depois do terceiro século e desde a idade das trevas. Novamente, pense nesse fato: Não havia prédios de igrejas até o começo do quarto século. Se você tivesse vivido durante os primeiros três séculos, qual seria a diferença do seu ministério para o de agora?

Resumindo, quanto mais nos aproximarmos dos padrões bíblicos, maior será nossa efetividade em alcançar o objetivo de Deus de fazer discípulos. O maior empecilho na formação de discípulos nas igrejas hoje se origina de estruturas e práticas não-bíblicas.

 


[1] Parece bem claro que um pastor (o substantivo Grego é poimain, que significa pastor de ovelhas) é equivalente a um presbítero (o substantivo Grego presbuteros), e também é equivalente a bispo (o substantivo grego episkopos). Paulo, por exemplo, instruiu os presbíteros efésios (presbuteros), a quem ele disse que Deus tinha feito bispos (episkopos), para pastorear (o verbo grego poimaino) o rebanho de Deus (veja At. 20:28). Ele também usou os termos presbíteros (presbuteros) e bispos (episkopos) como sinônimos em Tt. 1:5-7. Pedro também exortou os presbíteros (presbuteros) a pastorear (poimaino) o rebanho (veja 1 Pd. 5:1-2). A ideia de que um bispo (episkopos) tem um cargo mais alto que o de um pastor ou presbítero, e que ele fiscaliza várias igrejas é invenção humana.

[2] A ênfase moderna nos líderes profissionalmente treinados é de várias formas um sintoma de uma doença maior, aquela que iguala o ganho de conhecimento ao crescimento espiritual. Nós pensamos que a pessoa que sabe mais é mais madura espiritualmente, enquanto na verdade pode ser menos, já que tem tando orgulho do que tem aprendido. Paulo escreveu, “conhecimento traz orgulho” (1 Co. 8:1). E com certeza a pessoa que escuta palestras entediantes todos os dias por dois ou três anos está preparada para dar sermões semanais entediantes!

[3] Na primeira carta de Paulo a Timóteo e em sua carta para Tito ele menciona deixá-los para apontar presbíteros/bispos a igrejas. Então, Timóteo e Tito teriam supervisionado esses presbíteros/bispos por algum tempo. Eles teriam, provavelmente, se encontrado periodicamente com os presbíteros/bispos para discipulá-los, como Paulo escreveu: “E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros” (2 Tm. 2:2).

[4] Veja At. 2:2, 46; 5:42; 8:3; 12:12; 16:40; 20:20; Rm. 16:5; 1 Co. 16:19; Cl. 4:15; Fm. 1:2; 2 Jo. 1:10

[5] É notável que as cartas de Paulo às igrejas são endereçadas para todos nas várias igrejas, e não para os diáconos ou bispos. Em somente duas de suas cartas às igrejas ele menciona os presbíteros/pastores/bispos. Em um momento eles estão incluídos na saudação, adicionados como se Paulo não quisesse que eles se sentissem excluídos (veja Fp. 1:1). Em outro momento Paulo menciona pastores em uma lista de ministros que equipam os santos (veja Ef. 4:11-12). Também é especialmente notável como Paulo não menciona o papel dos presbíteros enquanto dá certas instruções que pensaríamos envolve-los, como a administração da ceia, e a resolução de conflitos entre cristãos. Tudo isso aponta para o fato que presbíteros/pastores não eram centralizados com o papel de importância que eles têm na maioria das igrejas modernas.

[6] Veja At. 2:2, 46; 5:42; 8:3; 12:12; 16:40: 20:20; Rm. 16:5; 1 Co. 16:19; Cl. 4:15; Fm. 1:2; 2 Jo. 1:10