Nos últimos vinte e cinco anos, tenho tido o privilégio de visitar mais de quarenta nações do mundo e a falar a milhares de ministros em conferências que duram de três a cinco dias. Essas conferências tem atraido e reunido líderes cristãos dedicados oriundos de vários ramos e denominações do corpo de Cristo. Contudo, cada viagem tem provado que conferências de três a cinco dias simplesmente não são suficientes para atender e resolver as necessidades existentes no terreno. Tanta coisa precisa ainda ser feita para que líderes cristãos sejam adequadamente equipados e este livro é fruto de esforços feitos na tentativa de preencher um pouco mais esse vazio. e este livro é uma das tentativas de se preencher um pouco esse vazio.
Também tive o privilégio de experimentar cerca de vinte anos de pastoreio de igrejas. Mesmo sendo “bem sucedido” por alguns padrões de medida, por muito tempo encontrei- -me em luta por não entender alguns dos princípios fundamentais do ministério bíblico. Por esta razão tenho uma grande preocupação pelos milhões de ministros sinceros que sentem falta do que eu senti e que precisam ser melhores equipados para o desafio que está adiante deles. Alguns dos princípios dos quais me faltavam entendimento são tão significantes que, uma vez compreendidos traçam o curso de ministério para o resto da vida do ministro. Eles se tornam o padrão pelo qual todos os aspectos do ministério são medidos. Esses princípios são encontrados nos capítulos iniciais, para os quais, nenhum leitor deverá fazer vista grossa; todos os outros capítulos servirão para praticamente nada sem a base dos primeiros.
Este livro tem uma aplicação especial a para pastores, sendo que eles, com certeza, são os líderes cristãos mais comuns; mas tudo que eu tenho escrito também se aplica a evangelistas, professores, missionários, plantadores de igrejas, profetas, pessoas que trabalham na Escola Dominical e assim por diante. Não há ninguém no corpo de Cristo que não poderá se beneficiar com a leitura deste livro, porque todo membro do corpo de Cristo tem sido agraciado por Deus com uma função.
Eu tenho escrito primeiramente a ministros que moram fora dos Estados Unidos, do leste da Europa, Austrália e Nova Zelândia. Mas isso não quer dizer que não tenha aplicação a ministros nessas partes do mundo. Na verdade, o que tenho escrito, penso que pode ajudá- -los consideravelmente, mas eles já têm vários professores. De qualquer modo, dependendo do conhecimento, experiência e nação onde atua, você verá que alguns capítulos o ajudarão mais do que outros. Vários pastores chineses, cubanos e vietnamitas de igrejas nos lares, por exemplo, encontrarão no capítulo Igrejas nos Lares muito pouco que não sabiam, enquanto pastores não familiarizados com o modelo de igreja nos lares deverão achar nesse capítulo uma grande ajuda.
É muito improvável que todos os leitores irão concordar com tudo que tenho escrito em cada tópico do livro. Há cinco anos, eu também não teria concordado com algumas coisas que acabei de escrever! Portanto, não deixe que pequenos desentendimentos impeçam-no de aprender o máximo de cada capítulo.
Como Jesus nos ensinou, ninguém põe vinho novo em odre velho, senão, a vasilha dura e inflexível, arrebentará. Somente os odres novos são flexíveis o suficiente para aguentar a pressão do vinho novo que está fermentando. Apesar de algumas coisas que tenho escrito parecerem vinho novo, na verdade, já são vinho bem velho — pelo menos tão velho quanto o Novo Testamento. Portanto, qualquer odre velho que arrebentar não se dará por causa do vinho derramado das páginas a seguir! Jesus alegrou-se por Deus revelar Sua Verdade aos pequeninos e escondê-la “dos sábios e cultos” (Mt. 11:25). Da mesma forma, “Deus dá graça ao humilde, mas se opõe ao orgulhoso” (veja Tg. 4:6). Graças a Deus pelas multidões de líderes cristãos humildes por todo o mundo. Que Deus os abençoe enquanto leem.
David Servant
Capítulo Um (Chapter One)
Estabelecendo a Meta Certa (Setting the Right Goal)
Para ser bem sucedido aos olhos de Deus, é essencial que o ministro conheça de cor a meta que Deus colocou diante de si. Se ele não a conhece não terá como avaliar seu desempenho e saber se a alcançou ou fracassou.[1] Ele pode chegar a pensar que foi bem sucedido enquanto que realidade fracassou. E essa é uma grande tragédia. É como aquele atleta que vinha liderando a prova e que alegremente atravessa a faixa de chegada depois de ter concluído os 800 metros da corrida. Jubilando em sua vitória, levanta as mãos diante da platéia, sem dar conta que a competição tinha como meta final os 1600 metros. Seu entendimento distorcido sobre a meta condenou-o ao fracasso, e pensar que tinha ganhado assegurou sua derrota. Nesse caso, é verdadeiro o ditado popular: “Os primeiros serão os últimos”.
A maioria dos ministros tem algum tipo de alvo específico ao qual sempre se referem como sua “visão.” É pelo qual que lutam sem igual para alcançar, baseado especificamente em seu chamado e dons. O dom e o chamado de cada um é particular, seja para pastorear uma igreja em certa cidade, evangelizar certa região, ou ensinar certas verdades. Mas o alvo dado por Deus ao qual estou me referindo é geral e aplicado a todos os ministros. É a grande visão. Por trás de cada visão específica deveria estar a visão geral, mas na maioria das vezes não está é o que acontece. Muitos ministros têm visões específicas que não estão em harmonia com a visão geral de Deus, e ainda outros têm visões específicas que vão contra a visão de Deus. Eu com certeza já fiz isso uma vez, mesmo pastoreando uma igreja em crescimento.
Qual é a visão ou objetivo geral que Deus tem dado a todos os ministros? Nós começamos a encontrar a resposta em Mateus 28:18-20, uma passagem que nos é tão familiar que à vezes deixamos escapar seu significado. Vamos considerar versículo por versículo:
Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra” (Mt 28:18).
Jesus queria que seus discípulos entendessem que Seu Pai tinha lhe dado autoridade suprema. É claro que a intenção do Pai era (e é) que Jesus fosse obedecido, como acontece sempre que o Pai dá autoridade a alguém. Mas Jesus é único, pois Seu Pai lhe deu toda autoridade nos céus e na terra, e não uma autoridade limitada, como a que às vezes dá a outros. Jesus é Senhor.
Desta forma, qualquer pessoa que não se refere a Jesus como Senhor não está se referindo a Ele corretamente. Jesus, mais que qualquer outra coisa, é Senhor. É por esse motivo que é mencionado como “Senhor” mais de 600 vezes no Novo Testamento. (Ele só é mencionado como Salvador 15 vezes.) Jesus morreu e voltou à vida com o propósito de reinar como Senhor sobre a humanidade.
Verdadeira Fé que conduz a Salvação (True Saving Faith)
Quando pastores e evangelistas modernos convidam os descrentes para “aceitarem Jesus como Salvador,” (uma frase e conceito nunca encontrados nas Escrituras), revelam uma falha aguda em seu entendimento do evangelho. Quando o carcereiro de Filipo, por exemplo, perguntou a Paulo o que precisava fazer para ser salvo, Paulo não respondeu “Aceite Jesus como seu Salvador.” Contudo, ele disse, “Creia no Senhor Jesus, e serás salvo” (Atos 16:31, ênfase adicionada). As pessoas são salvas quando crêem no Senhor Jesus Cristo. Perceba, não são salvos por crêrem em uma doutrina sobre a salvação ou sobre Jesus, mas quando crêem em uma pessoa — o Senhor Jesus Cristo. Esse é o tipo de fé que gera salvação. Muitos pensam que por acreditar que a morte de Jesus foi um sacrifício suficiente por seus pecados, ou que salvação é pela fé, ou centenas de outras coisas sobre Jesus ou a salvação, é o suficiente para serem salvos. Isso não basta porque, até o diabo as conhece. Ele acredita em todas essas coisas sobre Jesus e a salvação. A fé salvadora consiste na fé em Jesus. E quem é Ele? Ele é o Senhor.
Obviamente, se acredito que Jesus é Senhor, vou agir perante Ele como tal, me submetendo a Ele de coração. Se não me submeto a Ele, não acredito nEle. Se alguém diz: “Eu acredito que há uma serpente mortalmente venenosa em minha bota,” e então, calmamente calça a bota, ele obviamente não acredita realmente no que diz acreditar. Pessoas que dizem acreditar em Jesus, mas não têm se arrependido de seus pecados e se submetido a Ele em seus corações, na realidade, não acreditam em Jesus. Podem acreditar em um Jesus imaginário, mas não no Senhor Jesus, aquele que tem toda a autoridade nos céus e na terra.
Tudo isso é para dizer que quando o entendimento do ministro sobre as verdades fundamentais da menssagem cristã estiver distorcida esse ministro ver-se-á metido em problemas logo desde o começo. Não tem jeito de ter sucesso na avaliação de Deus enquanto apresenta erroneamente a mensagem fundamental que Deus quer que todo o mundo ouça. Ele pode ser o pastor de uma igreja em crescimento, mas está fracassando miseravelmente em alcançar a visão geral de Deus para seu ministério.
A Grande Visão (The Big Vision)
Vamos voltar a Mateus 28:18-19. Depois de declarar Sua supremacia como Senhor, Jesus deu um mandamento:
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer tudo o que eu lhes ordenei (Mt. 28:19-20a).
Perceba que Jesus usa a palavra “portanto.” Ele disse, “Portanto, vão e façam discípulos…” Isso para dizer, “Por causa do que eu acabei de falar … porque Eu tenho toda autoridade … porque Eu sou Senhor … vocês devem, é claro, obedecer-Me … então estou ordenando vocês (e vocês devem Me obedecer) a ir e fazer discípulos, ensinando-lhes a obedecer todos os Meus mandamentos.
E isto, colocado do jeito simples, é o objetivo geral, a visão geral de Deus para todos os nossos ministérios: Nossa responsabilidade é fazer discípulos que obedeçam a todos os mandamentos de Cristo.
É por isso que Paulo diz que a graça de Deus tinha sido dada a ele como apóstolo para “trazer obediência de fé entre os gentios” (Rm. 1:5, ênfase adicionada). O objetivo era obediência; o meio para levar a obediência era a fé. Pessoas que têm uma fé genuína no Senhor Jesus obedecem a seus mandamentos.
É por isso que Pedro pregou no dia de Pentecoste, “Portanto, que todo o Israel fique certo disto: Este Jesus a quem vocês crucificaram, Deus o fez Senhor e Cristo” (At. 2:36). Pedro queria que os crucificadores de Jesus soubessem que Deus tinha feito Jesus Senhor e Cristo. Eles haviam crucificado aquele a quem Deus queria que obedecessem! Sob grande convicção, eles perguntaram, “Que faremos?” e Pedro respondeu antes de qualquer outra coisa, “Arrependam-se”! Quer dizer, passem da desobediência para a obediência. Façam Jesus, Senhor. Depois Pedro disse-lhes para serem batizados, como Cristo ordenou. Pedro estava fazendo discípulos — seguidores obedientes de Cristo — e estava começando da maneira certa com a mensagem certa.
Desta forma, todo ministro deve ser capaz de avaliar seu sucesso. Todos nós devemos nos perguntar, “Será que Meu ministério está levando pessoas a se tornarem obedientes a todos os mandamentos de Cristo?” Se estiver, estamos realmente obtendo sucesso. Se não, estamos fracassando.
O evangelista que só convence pessoas a “aceitar Jesus,” sem dizer a elas para se arrependerem de seus pecados, está fracassando. O pastor, que está tentando construir uma grande congregação por manter os membros felizes e por organizar muitas atividades sociais, está fracassando. O professor, que só ensina o último “vento de doutrina” carismático, está fracassando. O apóstolo, que planta igrejas que consistem de pessoas que dizem acreditar em Jesus, mas não o obedecem, está fracassando. O profeta, que profetiza só para dizer às pessoas sobre as bênçãos que consequentemente virão, está fracassando.
Meu Fracasso (My Failure)
Há alguns anos atrás, quando pastoreava uma igreja em crescimento, o Espírito Santo fez-me uma pergunta que abriu meus olhos para ver o quão longe eu estava de eficientemente desempenhar meu papel no cumprimento da visão geral de Deus. O Espírito Santo fez-me as seguintes perguntas, enquanto eu lia sobre o futuro julgamento das ovelhas e bodes descrito em Mateus 25:31-46: “Se todos na sua congregação morressem hoje e comparecessem ao julgamento de ovelhas e bodes, quantos seriam ovelhas e quantos seriam bodes?” Ou mais especificamente, “No último ano, quantas pessoas da sua congregação têm dado comida aos irmãos em Cristo que têm fome, água aos cristãos que têm sede, abrigo aos viajantes seguidores de Cristo, roupas aos cristãos nus, ou visitado um crente doente ou preso?” Percebi que pouquíssimos tinham feito qualquer uma dessas atividades, ou qualquer outra coisa, mesmo aqueles que vinham a igreja, cantavam musicas de louvor, escutavam aos meus sermões e davam ofertas. Então, eles eram bodes, pelo critério de Cristo, e eu tinha pelo menos parte da culpa, porque não estava lhes ensinando quão importante era para Deus que ajudássemos nossos irmãos em Cristo em suas dificuldades. Eu não lhes estava os ensinando a obedecer todos os mandamentos de Cristo. Aliás, percebi que estava negligenciando o que era extremamente importante para Deus — o segundo maior mandamento, ame a teu próximo como a si mesmo — sem mencionar o novo mandamento que Jesus nos deu de amar uns aos outros como Ele nos amou.
Além disso, finalmente percebi que estava, na verdade, ensinando contra o objetivo geral de Deus de fazer discípulos, enquanto ensinava uma modesta visão do popular “Evangelho da Prosperidade” à minha congregação. Mesmo sendo da vontade de Deus que seu povo não acumule tesouros na terra (veja Mt. 6:19-24) e que sejam satisfeitos com o que têm, mesmo que seja só comida e roupas (veja Hb. 13:5 e I Tm. 6:7-8), estava ensinando a minha rica congregação americana que Deus queria que eles possuíssem mais. Eu estava ensinando meu povo a não obedecer a Jesus em um ponto (assim como centenas de outros pastores ao redor do mundo).
Uma vez que percebi o que estava fazendo, me arrependi e pedi à minha congregação que me perdoasse. Comecei a tentar fazer discípulos, ensinando-os a obedecer a todos os mandamentos de Cristo. Eu fiz isso com temor e tremor, receando que alguns em minha congregação realmente não quisessem obedecer a todos os mandamentos de Cristo, preferindo um cristianismo que, convenientemente, não requeresse sacrifício algum da parte deles. E estava certo. De fato, vários não ligavam para os crentes que estavam sofrendo pelo mundo. Eles não queriam se incomodar em espalhar o Evangelho àqueles que nunca haviam ouvido. Pelo contrário, só queriam conseguir mais para si mesmos. A respeito da santidade, só evitavam os pecados mais escandalosos, pecados que eram condenados até pelos incrédulos, e viviam comparáveis aos americanos conservadores medianos. Mas, de fato, eles não amavam ao Senhor, pois não queriam guardar os mandamentos de Jesus, exatamente o ponto que Ele disse que iria provar o nosso amor por Ele (veja Jo.14:21).
O que eu temia provou ser verdade — alguns cristãos assumidos eram, na verdade, bodes vestidos de ovelhas. Quando os chamei para negarem a si mesmos e levarem sua cruz, alguns ficaram com raiva. Para eles, a igreja era primeiramente uma experiência social acompanhada de boa música, exatamente o que o mundo aproveita em clubes e bares. Toleravam um pouco de pregação desde que afirmasse sua salvação e o amor de Deus por eles. Mas não queriam ouvir sobre o que Deus requeria deles. Não queriam que ninguém questionasse sua salvação e estavam indispostos a ajustar suas vidas para viverem em conformidade com a vontade de Deus se isso lhes custasse alguma coisa. Obviamente, eles estavam dispostos a dar um pouco do seu dinheiro, desde que pudessem ser convencidos que Deus os daria mais em troca e desde que se beneficiassem diretamente do que deram, como quando o dinheiro deles melhorava o ambiente da igreja.
Tempo para auto- Avaliação (A Time for Self-Examination)
Este seria um bom tempo para todos os ministros que estão lendo este livro se perguntarem a mesma coisa que o Espírito Santo me perguntou: “Se as pessoas para as quais ministro morressem agora e comparecessem ao julgamento das ovelhas e bodes, quantas seriam ovelhas e quantas seriam bodes?” Quando ministros asseguram às pessoas de sua congregação que agem como bodes, que elas são salvas, estão falando exatamente o contrário do que Deus quer seja dito. Esse ministro está trabalhando contra Cristo. Está falando o oposto do que Jesus quer que seja dito a essas pessoas de acordo com o que Ele disse em Mateus 25:31-46. Jesus disse isso para avisarmos aos bodes, pois não quer que pensem que estão indo para o céu.
Jesus disse que todo homem saberia que somos seus discípulos pelo amor que temos uns pelos outros (veja Jo. 13:35). Com certeza Ele deve ter falado do amor que excede o amor que os incrédulos mostram pelos outros; caso contrário, seus seguidores não poderiam ser distinguidos dos ímpios. O tipo de amor que Jesus falou é um amor que se sacrifica, quando nós nos amamos como Ele nos amou, dando nossa vida pelos outros (veja Jo. 13:34 e 3:16-20). João também escreve que sabemos que passamos da morte para a vida, ou seja, renascemos, quando amamos uns aos outros (1 Jo. 3:14). As pessoas que reclamam, falam mal e odeiam ministros que ensinam os mandamentos de Deus estão mostrando que o amor é a marca dos renascidos? Não, eles são bodes no caminho do inferno.
Discípulos de Todas as Nações (Disciples of All Nations)
Antes de continuarmos, vamos dar mais uma olhada em Mateus 28:19-20, a Grande e Geral Comissão que Jesus deu a seus discípulos, para ver se podemos encontrar mais algumas verdades.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer tudo o que eu lhes ordenei (Mt. 28:19-20a).
Note que, Jesus quer que discípulos sejam feitos em todas as nações; ou, colocado mais corretamente de acordo com o grego original, todos os grupos étnicos do mundo. Se Jesus mandou, sou levado a acreditar que é possível. Nós podemos fazer discípulos de Jesus em todos os grupos étnicos do mundo. A tarefa não foi dada somente aos primeiros onze discípulos, mas para cada discípulo depois deles, porque Jesus disse aos onze para ensinar seus discípulos a observar tudo que Ele tinha-lhes ordenado. Portanto, os primeiros onze ensinaram seus discípulos a obedecerem aos mandamentos de Cristo, de fazer discípulos de todas as nações, e esse seria um mandamento perpétuo para todo discípulo subsequente. Todos os discípulos de Jesus precisam estar envolvidos de alguma maneira no discipulado das nações.
Isso explica, em parte, porque a “Grande Comissão” ainda não foi cumprida. Mesmo existindo milhões de cristãos assumidos, o número de discípulos dedicados a obedecer a Jesus é muito menor. A maioria dos cristãos assumidos não liga para discípulos sendo feitos em todos os grupos étnicos, porque simplesmente não são dedicados a obedecer aos mandamentos de Cristo. Quando o assunto é levantado, muitas vezes usam desculpas do tipo: “Esse não é o meu ministério,” e “Eu não me sinto direcionado para esse caminho”. Vários pastores mencionam essas frases, assim como os bodes que escolhem quais mandamentos de Cristo valem à pena encaixar em suas agendas.
Se cada cristão assumido realmente acreditasse no Senhor Jesus Cristo, em pouco tempo todos no mundo iriam ouvir o Evangelho. O compromisso coletivo dos discípulos de Jesus faria isso acontecer. Eles parariam de gastar todo seu tempo e dinheiro em coisas mundanas e passageiras e começariam a usá-los para cumprir a ordem do Senhor. No entanto, quando pastores anunciam que um missionário estará falando em certo culto, ele pode esperar que, na maioria das vezes, o número de frequentadores do culto irá cair. Muitos bodes ficarão em casa ou irão a outro lugar. Não estão interessados em obedecer ao último mandamento do Senhor Jesus Cristo. As ovelhas, por outro lado, sempre comparecem animadas com a perspectiva de serem envolvidas no ministério de fazer discípulos de todas as nações.
Um último destaque em Mateus 28:18-20: Jesus também disse aos Seus discípulos para batizarem seus discípulos, e os apóstolos fielmente obedeceram a esse mandamento. Eles imediatamente batizaram aqueles que se arrependeram e acreditaram no Senhor Jesus. O batismo, é claro, representa a identificação do crente com a morte de Cristo, sepultamento e ressurreição. Novos crentes têm morrido e ressuscitado como novas criaturas em Cristo. Essa verdade Jesus queria dramatizada no batismo de cada novo convertido, imprimindo em sua mente que ele agora é uma nova pessoa, com uma nova natureza. Ele é um em espírito com Cristo, e agora está autorizado por Cristo, que vive nele, a obedecer a Deus. Estava morto em seus pecados, mas agora foi lavado e ressuscitado pelo Espírito Santo. Ele é mais que “somente perdoado.” Ele foi radicalmente transformado. Então, Deus está indicando mais uma vez que verdadeiros crentes são pessoas diferentes que agem muito mais diferente do que agiam quando estavam espiritualmente mortos. Isso também está implícito nas palavras finais de Jesus: “E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt. 28:20). Não é lógico pensar que a presença contínua de Cristo nas pessoas afetaria seus comportamentos?
Jesus Define Discipulado (Jesus Defines Discipleship)
Já estabelecemos que o objetivo primordial de Jesus para nós é que façamos discípulos, quer dizer, pessoas que se arrependeram de seus pecados e estão aprendendo a obedecer aos Seus mandamentos. Mais tarde, Jesus definiu em João 8:32 o que é um discípulo:
Se vocês permanecerem firmes na minha Palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade e a verdade vos libertará.
De acordo com Jesus, verdadeiros discípulos são aqueles que vivem a Sua Palavra e nela fazem morada. Enquanto aprendem a verdade em Sua palavra, são progressivamente “libertos,” e mais tarde o contexto indica que Jesus estava falando sobre ser liberto do pecado (veja Jo. 8:34-36). Então, vemos mais uma vez que, pela definição de Jesus, discípulos estão aprendendo e obedecendo a seus mandamentos.
Mais tarde Jesus disse,
Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto, então prove para serem Meus discípulos (Jo. 15:8 ênfase adicionada).
Portanto, pela definição de Jesus, discípulos glorificam a Deus dando fruto. Aqueles que não dão fruto não provam ser Seus discípulos.
Jesus definiu mais especificamente o tipo de fruto que identifica seus verdadeiros discípulos em Lucas 14:25-33. Vamos começar lendo somente o versículo 25:
Uma grande multidão ia acompanhando Jesus; este voltando-se para ela disse…
Jesus estava satisfeito porque uma grande multidão o estava “seguindo”? Ele tinha alcançado seu objetivo agora que teve sucesso em ganhar uma grande congregação?
Não, Jesus não estava satisfeito porque uma grande multidão o estivesse seguindo, ouvindo os seus sermões, vendo seus milagres e, às vezes, comendo Sua comida. Jesus procura pessoas que amam a Deus de todo o coração, mente, alma e força. Ele quer pessoas que obedeçam aos Seus mandamentos. Ele quer discípulos. Por isso disse àquela multidão que estava com Ele:
Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo (Lc. 14:26).
Não há erro: Jesus apresentou o custo/requisitos para uma pessoa ser Seu discípulo. Mas Seus discípulos precisam mesmo odiar essas pessoas as quem iriam naturalmente amar mais? Isso parece improvável, já que as Escrituras nos mandam honrar nossos pais e amar nossas esposas e filhos.
Jesus devia estar usando uma hipérbole, isto é, exagerando para dar ênfase. Mesmo assim, o mínimo que Ele quis dizer é: Se nós quisermos ser Seus discípulos, precisamos amá-Lo acima de tudo, muito mais do que as pessoas a quem naturalmente amamos muito. A expectativa de Jesus com certeza é razoável já que Ele é Deus, a quem nós devemos amar com todo coração, mente, alma e força.
Não esqueça — a tarefa dada aos ministros é fazer discípulos, o que significa que precisam produzir pessoas que amem a Jesus como Ser supremo, que O amem muito, muito mais do que amam seus cônjuges, filhos e pais. Seria bom para cada ministro que esteja lendo isso se perguntar, “Estou obtendo sucesso em produzir pessoas assim?”
Como sabemos se alguém ama a Jesus? Jesus nos disse em João 14:21: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama.” Então, com certeza, é razoável concluir que, pessoas que amam Jesus mais do que seus cônjuges, filhos e pais também são pessoas que guardam Seus mandamentos. Discípulos de Jesus obedecem aos Seus mandamentos.
Uma Segunda Condição (A Second Requirement)
Naquele mesmo dia, Jesus continuou falando à multidão que estava indo com Ele dizendo:
E aquele que não carrega sua cruz e não Me segue não pode ser Meu discípulo (Lc. 14:27).
Esta é a segunda condição que Jesus impõe para alguém ser Seu discípulo. O que Ele quis dizer? Os discípulos são literalmente obrigados a carregar grandes pedaços de tora com eles? Não, Jesus estava novamente usando uma figura de linguagem.
A maioria, se não todas, as pessoas da plateia judaica de Jesus teria presenciado criminosos condenados morrendo em cruzes. Os romanos crucificavam os criminosos nas estradas do lado de fora dos portões da cidade, para maximizar o efeito da crucificação como meio de desencorajar o crime.
Por esse motivo, suspeito que a frase, “carregar sua cruz” era uma expressão comum nos dias de Jesus. Todas as pessoas que eram crucificadas ouviam um soldado romano dizer, “Pegue sua cruz e siga-me.” Essas eram as palavras que os condenados temiam, já que sabiam que marcava o começo de horas e dias de horrível agonia. Então, uma frase como essa pode ter facilmente se tornado uma expressão comum que significava, “Aceite a dificuldade inevitável que está se aproximando.”
Imagine pais dizendo aos seus filhos, “Filho, eu sei que você odeia esvaziar a latrina. É um trabalho sujo e fedorento. Mas é a sua responsabilidade uma vez por mês, então pegue a sua cruz. Vá esvaziar a latrina.” Eu imagino esposas dizendo a seus maridos, “Meu bem, eu sei o quanto você odeia pagar impostos aos romanos, mas os nossos impostos vencem hoje e o cobrador de impostos está subindo a nossa rua agora. Então pegue a sua cruz. Vá pagar o homem.”
Levar a sua cruz é sinônimo de negação de si mesmo, e Jesus usou isso naquele sentido em Mateus 16:24: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” Poderia ser modernizado, “Se alguém quer vir após Mim, ponha de lado sua agenda, abrace a dificuldade inevitável que vem como consequência desta decisão, e siga- -Me.”
Verdadeiros discípulos estão dispostos a sofrer por seguirem a Jesus. Eles já calcularam quanto vai custar antes de começarem, e sabendo que as dificuldades são inevitáveis, lançaram-se com determinação para terminar a corrida. Essa interpretação tem como suporte o que Jesus disse a seguir sobre calcular o custo de segui-Lo. Duas ilustrações demonstram esse ponto:
Qual de vocês, se quiser construir uma torre, primeiro não se assenta e calcula o preço, para ver se tem dinheiro suficiente para completá-la? Pois, se lançar o alicerce e não for capaz de terminá-la, todos os que a virem rirão dele, dizendo: “Este homem começou a construir e não foi capaz de terminar”. Ou, qual é o rei, que pretendendo sair à guerra contra outro rei, primeiro não se assenta e pensa se com dez mil homens é capaz de enfrentar aquele que vem contra ele com vinte mil? Se não for capaz, enviará uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, e pedirá um acordo de paz (Lc. 14:28-32).
O que Jesus quis falar não pode ficar mais claro: “Se você quer ser Meu discípulo, calcule o preço antes; para que não aconteça que venhas a desistir quando a viajem começar a ficar difícil. Verdadeiros discípulos aceitam as dificuldades que vêm como um resultado de Me seguir.”
Uma Terceira Condição (A Third Requirement)
Naquele mesmo dia, Jesus listou mais uma condição de discípulo para a multidão:
Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não poderá ser meu discípulo (Lc. 14:33).
Novamente, parece lógico concluir que Jesus está usando outra hipérbole. Não precisamos nos livrar de todas as nossas posses no sentido de ficar sem abrigo, roupas e comida. Contudo, precisamos renunciar todas as nossas posses no sentido de entregá-las a Deus, e de chegar ao ponto em que não estejamos mais servindo às riquezas, mas sim a Deus com nossas riquezas. O resultado certamente poderá ser abrir mão de várias coisas desnecessárias e viver uma vida simples e santificada, quer seja administrando ou compartilhando os bens, assim como os primeiros cristãos sobre quem lemos no livro de Atos. Ser discípulo de Jesus significa obedecer aos Seus mandamentos, e ordenou a Seus seguidores que não acumulassem tesouros na terra, mas os acumulassem no céu.
Resumindo, de acordo com Jesus, se eu for ser Seu discípulo, preciso dar fruto. Preciso amá-Lo acima de tudo, muito mais do que a minha própria família. Devo estar disposto a encarar as dificuldades inevitáveis que surgirão como resultado da minha decisão de segui-Lo. É preciso fazer o que Ele ordenar com meu sustento e posses. (Vários de Seus mandamentos falam algo sobre isso; então, não devo me enganar, como muitos fazem, dizendo: “Se o Senhor me mandasse fazer algo com todas as minhas posses, eu o faria.”)
E estes são o tipo de os seguidores comprometidos de Cristo que nós, como ministros, precisamos formar! Este é o nosso alvo dado por Deus! Somos chamados para ser ministros formadores de discípulos!
Essa é uma verdade fundamental que está faltando por completo a muitos ministros ao redor do mundo. Se avaliarem seus ministérios, como eu fiz, terão que concluir, como eu conclui, que não estão satisfazendo o desejo e expectativas expectações de Deus. Quando levei em consideração o nível de submissão a Cristo demonstrado pelas pessoas de minha congregação, não tive dúvida que muitos não poderiam ser classificados como verdadeiros discípulos.
Pastores, deem uma olhada em sua congregação. Quantos do seu povo, Jesus considera Seus discípulos de acordo com Seu critério em Lucas 14:26-33? Evangelistas, a mensagem que vocês pregam está produzindo pessoas que se submetem a obedecer a todos os mandamentos de Cristo?
Agora é a hora oportuna de avaliar nossos ministérios, antes de nos apresentarmos diante de Jesus na avaliação final. Se eu estiver fracassando em alcançar o objetivo dEle, prefiro descobrir aqui e agora a descobrir lá. Você não?
Um Último Pensamento Preocupante (A Final Sobering Thought)
Obviamente, Jesus quer que pessoas tornem-se Seus discípulos, como revelado em Sua Palavra à multidão em Lucas 14:26-33. Então, qual é a importância de se tornar seu discípulo? E se alguém optar não se tornar Seu discípulo? Jesus respondeu a essas perguntas no fechamento de seu discurso em Lucas 14.
Portanto, o sal é bom, mas se ele perder o sabor, como restaurá-lo? Não serve nem para o solo nem para adubo; é jogado fora. “Aquele que tem ouvidos para ouvir ouça” (Lc. 14:34-35 traduzido da versão em inglês New American Standard Bible).
Note que essa declaração não está fora do contexto. Ela começa com portanto.
O sal deve ser salgado. É isso que o faz sal. Se ele perder o sabor, não serve para nada e é “jogado fora”.
O que isso tem a ver com ser discípulo? Da mesma forma como se espera que o sal seja salgado, assim Jesus espera que as pessoas se tornem Seus discípulos. Sendo Ele Deus, a nossa obrigação meramente razoável é amá-Lo acima de tudo e levar nossas cruzes. Se não nos tornarmos seus discípulos, rejeitamos Sua razão para a nossa existência. Nós não somos bons para coisa alguma e somos destinados a sermos “jogados fora.” Esse não parece o céu, parece?
Em outro momento, Jesus disse aos Seus discípulos (veja Mt. 5:13):
Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens (Mt. 5:13).
Estes realmente são avisos preocupantes. Primeiro, somente aqueles que são salgados (uma metáfora óbvia para “submetidos à obediência”) têm algum uso para Deus. O resto “não serve para nada… exceto para ser jogado fora e pisado.” Segundo, deve ser possível para alguém “salgado” tornar-se “sem gosto”, caso contrário, Jesus não teria achado necessidade de avisar aos Seus discípulos. Como estas verdades contradizem o que muitos ensinam hoje, dizendo que alguém pode ser um crente destinado ao céu, mas não ser um discípulo de Cristo, ou que alguém não pode perder sua posição de salvo. Iremos considerar essas ideias errôneas mais detalhadamente nos próximos capítulos.
[1] 1 Neste livro, me refiro a ministros usando o pronome masculino, simplesmente para manter a consistência, e porque a maioria dos ministros vocacionais, como pastores, são homens. Mas fui convencido pelas Escrituras que Deus também chama mulheres para o ministério vocacional, e conheço algumas com ministérios bem efetivos. Este é o tópico do capítulo intitulado, Mulheres no Ministério.