Então você é um pastor e quer que sua igreja cresça. Esse é um desejo muito comum entre pastores. Mas por que quer que sua igreja cresça? Honestamente, qual é o motivo do seu coração?
Você quer que sua igreja cresça para que se sinta bem sucedido? Quer se sentir respeitado e influente? Quer ter poder sobre as pessoas? Espera ficar rico? Todos esses são motivos errados para querer que sua igreja cresça.
Agora, se quiser que sua igreja cresça para que Deus seja glorificado enquanto mais e mais vidas são transformadas pelo Espírito Santo, então esse é o motivo certo para desejar o crescimento da igreja.
É possível que estejamos enganando a nós mesmos, pensando que nossos motivos são puros quando de fato são na verdade egoístas.
Como podemos conhecer nossos motivos verdadeiros? Como podemos saber se queremos construir o reino de Deus o simplesmente o nosso reino?
Um modo é pelo monitoramento de nossas reações internas ao sucesso de outros pastores. Se pensarmos que nossos motivos são puros, se achamos que sinceramente queremos que o Reino de Deus e que Sua igreja cresçam, mas descobrimos um pouco de inveja e ciúmes em nosso coração quando ouvimos sobre o crescimento de outra igreja, isso revela que nossos motivos não são tão puros. Mostra que realmente não estamos tão interessados no crescimento da Igreja, e sim no crescimento da nossa igreja. E por que isso? Porque nossos motivos são pelo menos parcialmente egoístas.
Também podemos checar nossos motivos monitorando nossa reação interna quando ouvimos sobre outra igreja que está abrindo em nossa área. Se nos sentimos ameaçados, é um sinal que estamos mais preocupados com nosso próprio reino que o Reino de Deus.
Mesmo pastores de igrejas grandes ou em crescimento podem checar seus motivos dessa mesma maneira. Tais pastores também podem se fazer perguntas como: “Eu consideraria enviar e abrir de mão líderes e pessoas chave da minha congregação para plantar novas igrejas, resultando na redução da minha igreja?” Um pastor que for muito resistente a essa ideia está provavelmente construindo sua igreja para sua própria glória. (Por outro lado, o pastor de uma igreja grande também poderia plantar igrejas para sua própria glória, só para poder se gabar de quantas igrejas nasceram de sua igreja.) Outra pergunta que poderíamos fazer é: “Eu me associo com pastores de igrejas menores ou tenho me distanciado deles, sentindo-me melhor que eles?” Ou: “Eu estaria disposto a pastorear apenas de doze a vinte pessoas em uma igreja no lar, ou isso seria duro de mais para o meu ego?”[1]
O Movimento de Crescimento da Igreja (The Church Growth Movement)
Em livrarias evangélicas pela América e Canadá, existem às vezes seções inteiras de prateleiras dedicadas a livros sobre o crescimento de igrejas. Esses livros e seus conceitos têm se espalhado pelo mundo. Os pastores estão famintos para aprender como aumentar o número de atendentes de suas igrejas, e muitas vezes são bem rápidos em adotar conselhos de pastores de mega igrejas americanas que são considerados bem sucedidos em virtude do tamanho de seus prédios e do número de pessoas que comparecem aos domingos.
Contudo, aqueles que são um pouco mais perspicazes entendem que o número de atendentes e o tamanho do prédio não são necessariamente indicações da qualidade da formação de discípulos. Algumas igrejas americanas têm crescido devido a doutrinas pervertidas da verdade bíblica. Eu tenho falado a pastores ao redor do mundo que ficam chocados ao saber que multidões de pastores americanos acreditam e declaram que uma vez que uma pessoa é salva, nunca poderá perder sua salvação, independentemente do que acredita ou de como vive sua vida. Similarmente, muitos pastores americanos proclamam um evangelho aguado, de graça barata, levando pessoas a crer que podem ir para o céu sem santidade. Vários outros proclamam um evangelho de prosperidade, alimentando o orgulho de pessoas das quais a religião é um meio de acumular ainda mais tesouros na terra. Esses são pastores dos quais as técnicas de crescimento de igrejas não devem ser imitadas.
Eu já li minha cota de livros sobre o assunto, e tenho um mistura de sentimentos a respeito deles. Muitos têm estratégias e conselhos que são, até certo ponto, bíblicos, fazendo valer a pena ler o livro. Contudo, a maioria é baseada no modelo da igreja institucional de 1700 anos, ao invés do modelo bíblico. Consequentemente, o foco não é construir o corpo de Cristo através da multiplicação de discípulos e discipuladores, mas construir congregações institucionais individuais, o que sempre requer prédios maiores, liderança de programas mais especializados e uma estrutura que é mais parecida com a de uma corporação de negócios que de uma família.
Algumas estratégias modernas de crescimento de igrejas parecem sugerir que, pelo bem de ganhar membros, os cultos sejam mais atraentes às pessoas que não querem seguir a Jesus. Eles aconselham sermões curtos e sempre positivos, louvor sem expressão, muitas atividades sociais, que o dinheiro nunca seja mencionado, e assim por diante. Isso não resulta na formação de discípulos que se neguem e obedeçam a todos os mandamentos de Cristo. Resulta em crentes professos que estão no caminho largo para o inferno. Essa não é a estratégia de Deus para ganhar o mundo, mas a de Satanás para ganhar a Igreja. Não é “crescimento da Igreja” e sim “crescimento do mundo.”
O Modelo Seeker-Sensitive (The Seeker-Sensitive Model)
A estratégia americana de crescimento de igrejas mais popular é muitas vezes chamada de modelo “seeker-sensitive”. Nessa estratégia, os cultos das manhãs de domingo são designados para que (1) cristãos se sintam confortáveis para convidar amigos incrédulos e (2) que os mesmos ouçam ao evangelho em termos não-ofensivos, aos quais possam se relacionar e entender. Cultos e pequenos grupos no meio da semana são reservados para discipular os salvos.
Desse modo, algumas igrejas individuais têm crescido muito. Entre igrejas institucionais americanas, essas podem ter o maior potencial para evangelizar e discipular pessoas, desde que todos sejam incorporados aos pequenos grupos (o que muitas vezes não acontece) e lá discipulados, e que o evangelho não seja comprometido (o que sempre acontece quando o alvo é não ser ofensivo, pois o evangelho é ofensivo ao orgulho humano). Pelo menos igrejas seeker-sensiteve têm implementado alguma estratégia para alcançar os perdidos, algo que a maioria das igrejas institucionais não têm feito.
Mas como o modelo americano seeker-sensitive se compara ao modelo bíblico quanto ao crescimento de igrejas?
No livro de Atos, apóstolos e evangelistas chamados por Deus pregavam o evangelho publicamente e de casa em casa, acompanhados de sinais e maravilhas que atraíam a atenção dos pecadores. Aqueles que se arrependiam e acreditavam no Senhor Jesus se dedicavam aos ensinamentos dos apóstolos, e regularmente se reuniam em casas onde aprendiam a Palavra de Deus, exerciam dons espirituais, celebravam a ceia, oravam juntos e assim por diante, tudo de baixo da administração de presbíteros/pastores/bispos. Professores e profetas chamados por Deus circulavam entre as igrejas. Todos compartilhavam o evangelho com amigos e vizinhos. Não havia prédios para construir, atrasar o crescimento das igrejas e roubar o Reino de Deus de recursos que ajudariam a espalhar o evangelho e fazer discípulos. Líderes eram treinados rapidamente no trabalho ao invés de serem mandados para seminários e faculdades teológicas. Tudo isso resultava no crescimento exponencial das igrejas por tempo limitado, até que todas as pessoas receptivas de uma área fossem alcançadas.
Em comparação, o modelo seeker-sensitive não tem sinais e maravilhas, portanto não tem o meio divino de propaganda, atração e convicção. Ele depende de meios naturais de marketing e propaganda para atrair pessoas a um prédio onde podem ouvir a mensagem. O talento oratório do pastor e seu poder de persuasão são seus principais meios de convicção. Isso difere tanto dos métodos que Paulo escreveu: “Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus” (1 Co. 2:4-5).
Mais Diferenças (More Differences)
O modelo seeker-sensitive geralmente não tem apóstolos e evangelistas, porque a figura principal é o pastor. Uma pergunta: A eliminação de apóstolos e evangelistas de seus cargos de evangelização e a doação dessa responsabilidade a pastores é um meio superior de conseguir o crescimento de igrejas?[2]
O pastor seeker-sensitive prega uma vez por semana em um culto de domingo, onde cristãos são encorajados a levar pessoas não-salvas. Portanto, falando de modo geral, o evangelho só pode ser ouvido uma vez por semana por associados dos membros da igreja. Estes incrédulos devem estar dispostos a irem à igreja e devem ser convidados por membros da igreja que estão dispostos a convidá-los. No modelo bíblico, apóstolos e evangelistas proclamam continuamente o evangelho em lugares públicos e privados, e todos os crentes compartilham o evangelho com seus amigos e vizinhos. Desses dois modelos, por qual mais incrédulos ouviriam o evangelho?
O modelo seeker-sensitive requer um prédio aceitável para que os crentes não tenham vergonha de convidar seus associados incrédulos e para que estes não tenham vergonha de visitar. Isso sempre requer uma soma substancial de dinheiro. Antes do evangelho poder ser “espalhado,” um prédio aceitável deve ser obtido ou construído. Na América esse prédio precisa ser bem localizado, normalmente em subúrbios ricos. Em contraste, o modelo bíblico não precisa de prédios, locais especiais ou dinheiro. O espalhar do evangelho não é limitado ao número de pessoas que cabem em prédios especiais aos domingos.
Ainda Mais Diferenças (Still More Differences)
Quando comparamos algumas igrejas seeker-sensitive com o modelo bíblico, existem ainda mais diferenças.
Os apóstolos e evangelistas do livro de Atos chamavam pessoas para se arrependerem, acreditarem no Senhor Jesus e serem batizadas imediatamente. Era esperado que na sua conversão, a pessoa se tornasse discípula de Cristo, de acordo com as condições de Jesus para o discipulado, listadas em Lucas 14:26-33 e João 8:31-32. Eles começaram a amar a Jesus acima de tudo, vivendo Sua palavra, levando suas cruzes, abrindo mão de todos os seus direitos de posses e se tornando novos mordomos do que agora pertencia a Deus.
O evangelho que é muitas vezes proclamado em igrejas seeker-sensitive é diferente. Dizem aos pecadores o quanto Deus os ama, como Ele pode prover em suas necessidades e como podem ser salvos por “aceitar a Jesus como Salvador.” Depois de fazerem uma pequena “oração de salvação,” nunca sendo avisados a calcular o custo do discipulado, eles são, muitas vezes, assegurados que são genuinamente salvos e são solicitados a se juntarem a uma classe, onde começarão a crescer em Cristo. Se eles se juntarem a essa classe (muitos nunca voltam à igreja), a maioria das vezes, são levados por um processo de aprendizado sistemático que foca em ganhar conhecimento das doutrinas da igreja ao invés de se tornar mais obediente aos mandamentos de Cristo. O auge desse programa de “discipulado” é quando o crente eventualmente começa a dar o dízimo de seu salário à igreja (para pagar principalmente a hipoteca e salários não-bíblicos da equipe de liderança, o que soma a uma mordomia horrível, sustentando muitas coisas que não são ordenadas por Deus e roubando daquelas que Deus quer que sejam sustentadas) e é levado a acreditar que “encontrou seu ministério” quando começa a executar um papel auxiliador na igreja institucional que nunca foi mencionado nas Escrituras.
O que aconteceria se o governo de sua nação, preocupado com a falta de homens no exército, decidisse se tornar “seeker-sensitive”? Imagine que eles prometessem ao recrutas em potencial que nada seria esperado deles — seus pagamentos seriam de graça, desmerecidos. Poderiam se levantar de manhã a hora que quisessem. Poderiam participar dos treinamentos se quisessem, mas teriam a opção de assistir TV ao invés disso. Se uma guerra começasse poderiam escolher participar das batalhas ou ir à praia. Qual seria o resultado?
Com certeza, o status do exército iria crescer! Mas não seria mais um exército, estando despreparado para seu propósito. E é isso que as igrejas seeker-sensitive se tornam. Baixar os padrões faz o número de atendentes aumentar aos domingos, mas acaba com o discipulado e a obediência. Aquelas igrejas seeker-sensitive que tentam “pregar o evangelho” nos domingos e fazer “discipulado” no meio da semana descobrem que têm um problema se disserem às pessoas que vão aos cultos do meio da semana que somente os discípulos de Jesus vão para o céu. As pessoas vão sentir que foram enganadas nos domingos de manhã. Portanto, tais igrejas devem enganar as pessoas nos cultos do meio da semana também, colocando discipulado e obediência como opções ao invés de requisitos.[3]
Eu entendo que algumas igrejas institucionais incorporam aspectos do modelo bíblico que outras não. Independente disso, o modelo bíblico é, com certeza, o mais efetivo em multiplicar discípulos e discipuladores.
Por que o modelo bíblico não é seguido hoje? A lista de desculpas parece sem fim, mas na analise final, os motivos são tradição, descrença e desobediência. Muitos dizem que é impossível seguir o modelo bíblico no mundo de hoje. Mas o fato é que ele está sendo seguido em muitos lugares ao redor do mundo. O crescimento explosivo da Igreja na China no meio século passado, por exemplo, é resultado de crentes simplesmente seguirem o modelo bíblico. Deus é diferente na China que em outros lugares?
Tudo isso é para dizer que pastores que não são americanos devem tomar cuidado com métodos americanos de crescimento de igrejas que são promovidos ao redor do globo. Eles teriam muito mais sucesso em alcançar o objetivo de Cristo de fazer discípulos, se seguissem o modelo bíblico de crescimento da Igreja.
As Consequências (The Aftermath)
Tenho observado que muitos devotos dos ensinamentos modernos de crescimento de igrejas não entram em contato com pastores de nível médio ao redor do mundo. A grande maioria de pastores pastoreia rebanhos que consistem em menos de cem pessoas. Muitos desses pastores ficam desanimados depois de tentar técnicas de crescimento que não funcionam ou cujo tiro sai pela culatra, não por culpa deles. Parece que ninguém admite que existem vários fatores, além do controle dos pastores que limitam o crescimento de suas igrejas. Vamos levar em consideração alguns deles agora.
Primeiramente, o crescimento da igreja é limitado ao tamanho da população local. É óbvio que a maioria das grandes igrejas institucionais são encontradas em grandes áreas metropolitanas. Muitas vezes elas têm milhões de pessoas para se tornarem membros. Contudo, se números são uma determinação verdadeira de sucesso, então a igreja deveria ser julgada, não por tamanho, mas por sua porcentagem da população local. Com essa base, algumas igrejas com dez pessoas têm mais sucesso que outras com dez mil. Uma igreja de dez membros em uma comunidade de cinquenta pessoas tem mais sucesso que uma de dez mil em uma comunidade de 5 milhões. (Mesmo assim, os pastores de dez pessoas nunca serão convidados para falar em convenções de crescimento de igrejas.)
Um Segundo Fator Limitante para o Crescimento de Igrejas (A Second Limiting Factor to Church Growth)
Segundo, o crescimento das igrejas é limitado ao nível de saturação entre as pessoas receptivas por todas as igrejas de uma dada região. Em um certo tempo, existe somente um número de pessoas em uma área que têm os corações abertos ao evangelho. Uma vez que os receptivos são alcançados, nenhuma igreja crescerá, amenos que algumas pessoas que já vão à igreja se transfiram a outra (que é como muitas igrejas grandes têm crescido — do custo de outras igrejas dentro de suas regiões).
É claro que todo cristão de hoje já foi não-receptivo ao evangelho a um ponto ou outro e se tornou receptivo debaixo da influência do Espírito Santo. Portanto, é muito possível que pessoas que agora não estão abertas ao evangelho se tornem receptivas. Quando isso ocorre, as igrejas podem crescer. O que várias vezes chamamos de “reavivamento” ocorre quando muitas pessoas não-receptivas se tornam receptivas de repente. Contudo, não devemos esquecer que uma pessoa se tornar receptiva também é um reavivamento, mas em escala menor. Cada grande reavivamento começa com uma pessoa se tornando receptiva. Portanto, pastores, não desprezem o dia de pequenos começos.
Jesus enviou Seus discípulos para pregar o evangelho em cidades que sabia que não seriam receptivas, onde nenhuma pessoa se arrependeria (veja Lc. 9:5). Mesmo assim Ele mandou que pregassem o evangelho lá. Esses discípulos voltaram sem sucesso? Não, mesmo não tendo convertidos (e nenhum crescimento de igreja) eles obtiveram sucesso, porque obedeceram a Jesus.
Do mesmo modo, Jesus ainda manda pastores a vilas, cidades e subúrbios onde sabe que somente uma pequena porcentagem das pessoas será receptiva ao evangelho. Esses pastores, que com fé servem a suas pequenas congregações, têm sucesso aos olhos de Deus, mesmo sendo fracassos aos olhos de alguns experts em crescimento de igrejas.
Todos os pastores em todas as áreas devem se sentir encorajados pelo fato de, por causa da grande misericórdia de Deus, e em resposta às intercessões de Seu povo, Ele estar trabalhando para tornar receptivas, pessoas não-receptivas. Ele tenta influenciar os descrédulos por meio de suas consciências, Sua criação, as circunstâncias, Seus julgamentos, o testemunho vivo de Sua igreja, a pregação do evangelho e a convicção do Espírito Santo. Portanto, pastores, tenham esperança. Continuem obedecendo, orando e pregando. Antes de cada reavivamento em grande escala existe a necessidade de um reavivamento. E sempre existe alguém que está sonhando com um reavivamento. Continue sonhando!
Um Terceiro Fator Limitantes no Crescimento de Igrejas (A Third Limiting Factor to Church Growth)
Um terceiro fator que limita o crescimento de igrejas individuais é a habilidade do pastor. A maioria dos pastores não tem a habilidade necessária para administrar uma grande congregação, e não é culpa deles. Eles simplesmente não possuem o dom de organização, administração ou a habilidade de pregar/ensinar, que são necessárias para uma grande congregação. Claramente, tais pastores não foram chamados por Deus para pastorear grandes congregações, e estariam errados em tentar pastorear outra coisa além de igrejas institucionais médias ou igrejas nos lares.
Recentemente li um livro popular sobre liderança, pelo pastor titular de uma das maiores igrejas da América. Enquanto lia as páginas que ele tinha enchido de conselhos experientes a pastores modernos, meu pensamento prioritário era esse: “Ele não está nos dizendo como ser pastor — ele está nos falando como ser o diretor geral de uma organização enorme.” E não há outra escolha para o pastor titular de uma mega igreja institucional americana. Ele precisa de uma equipe de ajudantes, e dirigir esta equipe é um trabalho integral. O autor do livro que li tinha habilidades suficientes para ser diretor geral de uma grande organização secular. (Aliás, em seu livro ele citava, várias vezes, famosos consultores de grandes negócios, aplicando seus conselhos a seus pastores leitores.) Mas muitos, se não a maioria de seus leitores, não têm as habilidades de liderança e administração que ele tem.
Naquele mesmo livro, o autor relatou com toda franqueza como, em várias ocasiões enquanto construía sua enorme congregação, cometeu erros quase fatais, coisas que poderiam ter custado sua família ou seu futuro no ministério. Pela graça de Deus ele sobreviveu. Contudo, suas experiências me lembraram de muitos momentos que outros pastores institucionais, em busca do mesmo tipo de sucesso, fizeram erros similares e foram completamente arruinados. Alguns, se devotando às suas igrejas, perderam seus filhos ou arruinaram seus casamentos. Alguns sofreram crises nervosas ou sérias sobrecargas ministeriais. Outros ficaram tão desiludidos que abandonaram o ministério de vez. Muitos outros sobreviveram, mas isto é praticamente tudo que se pode dizer sobre eles. Continuam tendo vidas de quieto desespero, se perguntando se seus sacrifícios sobrenaturais valeram a pena.
Enquanto lia aquele livro em particular, ele continuamente reforçava em minha mente a sabedoria da igreja primitiva, onde nada havia que lembrasse as igrejas institucionais modernas, e portanto, nenhum pastor era responsável por um rebanho maior ou de mais ou menos vinte e cinco pessoas. Conforme já falei em um capítulo anterior, muitos pastores que pensam que suas congregações são muito pequenas devem reconsiderar seu ministério à luz das Escrituras. Se eles têm cinquenta pessoas, suas igrejas podem ser, na verdade, grandes de mais. Se existe liderança capaz dentro da igreja, com muita oração podem considerar se dividir em três igrejas nos lares e fechar o templo, com o objetivo de fazer discípulos e construir o Reino de Deus à maneira de Deus.
Se isso parecer muito radical, podem pelo menos começar a discipular futuros líderes, ou começar pequenos grupos, ou se já têm alguns pequenos grupos, liberar alguns para serem igrejas nos lares autônomas e ver o que acontece.
Outras Técnicas Modernas para o Crescimento de Igrejas (Other Modern Church-Growth Techniques)
Existem outras técnicas sendo promovidas hoje como essenciais para o crescimento de igrejas, além do modelo de igreja seeker-sensitive. Muitas dessas outras técnicas não são bíblicas e entram na categoria de “campanha espiritual.” Elas são anunciadas com nomes do tipo “destruindo fortalezas”, “campanha de oração” e “mapeamento espiritual.”
Vamos falar dessas práticas em um capítulo mais adiante sobre batalhas espirituais. Contudo, sendo breve, podemos nos perguntar por que tais práticas, que eram completamente desconhecidas para os apóstolos são consideradas essenciais para o crescimento de igrejas hoje.
Muitos dos novos meios de crescimento de igrejas são resultados de experiências de alguns pastores que dizem: “Eu fiz isso e aquilo e minha igreja cresceu. Então, se você fizer as mesmas coisas sua igreja também vai crescer.” Contudo, a verdade é que não havia conexão real entre o crescimento da igreja deles e as coisas peculiares que fizeram, mesmo que pensem o contrário. Isso é provado repetidamente quando outros pastores seguem esses ensinamentos peculiares, fazem coisas idênticas, e suas igrejas não crescem.
É possível ouvir um pastor de crescimento de igrejas dizer: “Aconteceu um reavivamento em nossa igreja quando começamos a gritar com os demônios de nossa cidade. Então, se você quiser um reavivamento na sua igreja vocês precisam gritar com os demônios.”
Mas por que têm acontecido tantos reavivamentos maravilhosos ao redor do mundo nos últimos 2000 da história da igreja, onde não havia pessoas gritando com demônios nas cidades? Isso mostra que, mesmo que o pastor tenha pensado que o reavivamento foi um resultado de gritar com demônios, ele estava errado. É mais provável que as pessoas daquela cidade se tornaram receptivas ao evangelho, talvez como resultado das orações da igreja e aconteceu que aquele pastor estava pregando quando eles se tornaram receptivos. A maioria das vezes, o crescimento da igreja é resultado de estar no lugar certo na hora certa. (E o Espírito Santo nos ajuda a estar no lugar certo na hora certa.)
Se gritar com demônios pela cidade trouxe um reavivamento à igreja de um certo pastor, por que, depois de um tempo, o reavivamento diminuiu e acabou, como sempre acontece? Se gritar com demônios é a chave, então faz sentido que se continuarmos gritando com os demônios, todos na cidade virão a Cristo. Mas isso não acontece.
A verdade é óbvia quando paramos para pensar um pouco. Os únicos meios bíblicos de crescimento de igrejas são oração, pregação, formação de discípulos, ajuda do Espírito Santo e assim por diante. E mesmo esses meios bíblicos não garantem o crescimento da igreja, porque Deus fez as pessoas agentes morais livres. Elas podem escolher se arrepender ou não. Poderia ser dito que, às vezes, até Jesus fracassou no crescimento da igreja, quando as cidades que Ele visitava não se arrependiam.
Tudo isso é para dizer que nós só precisamos praticar meios bíblicos para construir a Igreja. Todo o resto é perca de tempo. São trabalhos que consistem de madeira, palha e feno que um dia serão queimados e não serão recompensados (veja 1 Co. 3:12-15).
Finalmente, o objetivo não deve ser só o crescimento em número, mas na formação de discípulos. Se a igreja crescer enquanto fazemos discípulos, então glória a Deus!
[1] Esta é outra vantagem do modelo de igreja no lar — os pastores não se esforçam para ter grandes congregações pelos motivos errados, pois o tamanho da congregação é limitado ao tamanho da casa.
[2] Esse é um grande motivo de porque temos tantos evangelistas, professores, profetas e até apóstolos pastoreando igrejas. Muitos ministérios dados por Deus não recebem seu lugar de direito ou lugar algum dentro da estrutura da igreja institucional, e então, ministros não pastorais acabam pastoreando igrejas, roubando a igreja da bênção maior que poderiam ser para o grupo maior de crentes dentro da estrutura bíblica. Parece que todos têm se voltado para construir seu próprio reino na forma de igreja institucional, independentemente de seu verdadeiro chamado. Porque supostamente, os pastores têm direito ao dízimo do “seu povo,” e muito dele vai para a construção e manutenção dos prédios, ministros não pastorais recorrem ao pastoreio de igrejas para receber apoio financeiro para o ministério que foram realmente chamados.
[3] Lembre-se que os requerimentos que Jesus listou para que fossemos Seus verdadeiros discípulos, em Lucas 14:26-33, não foram ditos a pessoas que já eram salvas, como se estivesse oferecendo a elas um segundo passo em sua jornada espiritual. Pelo contrário, Ele estava falando às multidões. Tornar-se Seu discípulo foi o único passo que Jesus ofereceu, que é nada menos que o passo da salvação. Isso entra em contraste com o que é ensinado na maioria das igrejas seeker-sensitive.