Mulheres no Ministério

Capítulo Doze (Chapter Twelve)

Já que é do conhecimento geral que as mulheres formam mais da metade da Igreja do Senhor Jesus Cristo, é importante entender suas funções ordenadas por Deus dentro do corpo. Na maioria das igrejas e ministérios, elas são vistas como trabalhadoras valiosas, já que fazem a maior parte do ministério geral.

Mesmo assim, nem todos concordam sobre as funções das mulheres. Muitas vezes, elas não são aceitas em certos ministérios ligados a falar e liderar na igreja. Algumas igrejas permitem pastoras; muitas outras não. Algumas permitem que mulheres ensinem, enquanto outras não. Algumas proíbem que mulheres falem durante os cultos.

A maioria desses desacordos surgiu de variadas interpretações das palavras de Paulo a respeito das funções das mulheres. Encontradas em 1 Coríntios 14:34-35 e 1 Timóteo 2:11-3:7, essas passagens serão o foco de nosso estudo, principalmente no fim desse capítulo.

Do Início (From the Beginning)

Enquanto começamos, vamos considerar o que as Escrituras revelam sobre as mulheres desde suas primeiras páginas. Elas, assim como os homens, são criadas à imagem de Deus:

Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn. 1:27).

Sabemos, é claro, que Deus criou Adão antes de Eva, e este é, com certeza, um fato espiritual significante de acordo com Paulo (veja 1 Tm. 2:3). Mais tarde levaremos em consideração o significado dessa ordem da criação como é explicada por Paulo, mas agora basta dizer que isso não prova a superioridade do homem sobre a mulher. Sabemos que Deus criou os animais antes dos seres humanos (veja Gn. 1:24-28), e ninguém argumentaria que animais são superiores a pessoas.[1]

A mulher foi criada para ser a ajudante de seu marido (veja Gn. 2:18). Mais uma vez, isso não prova sua inferioridade, somente revela seu papel no casamento. O Espírito Santo é dado como nosso ajudante, mas com certeza não é inferior a nós; pelo contrário: é superior a nós! E pode ser dito que a criação da mulher para ser ajudante de seu marido prova que os homens precisam de ajuda! Foi Deus quem disse que não era bom que o homem ficasse só (veja Gn. 2:18). Essa verdade tem sido provada incontáveis vezes na história quando homens ficam sem esposas para ajudá-los.

Finalmente, notamos na primeira página de Gênesis que a primeira mulher foi formada da carne do primeiro homem. Ela foi tirada dele, mostrando o fato que sem ela, ele é incompleto e que os dois eram originalmente um. Mais adiante, o que Deus separou foi planejado por Ele que se tornasse um novamente através da união sexual, um meio não só de procriação, mas de expressão de amor e apreciação, de prazer mútuo, do qual ambos dependem um do outro.

Tudo nessas lições de criação se opõe à ideia de um sexo ser superior ao outro ou um ter o direito de domínio sobre o outro. E o fato de Deus ter designado funções diferentes para mulheres no casamento ou ministério nada tem a ver com sua igualdade aos homens, em Cristo, em quem “não há…homem nem mulher” (Gl. 3:28).

Mulheres no Ministério no Velho Testamento (Women in Ministry in the Old Testament)

Com essa fundação feita, vamos considerar algumas das mulheres que Deus usou para alcançar Seus propósitos divinos no Velho Testamento. É óbvio, que Deus chamou principalmente homens para o ministério vocacional durante o tempo do Velho Testamento, assim como fez no tempo do Novo Testamento. As histórias de homens como Moisés, Arão, Josué, Samuel e Davi enchem as páginas do Velho Testamento.

Contudo, muitas mulheres são provas de que Deus pode chamar e usar quem quiser, e mulheres equipadas por Deus são suficientes para qualquer tarefa para a qual Ele as chamar.

Antes de considerarmos qualquer dessas mulheres em particular, note que cada grande homem de Deus do Velho Testamento nasceu e foi criado por uma mulher. Não haveria Moisés sem uma mulher chamada Joquebede (veja Ex. 6:20). Também não existiria nenhum outro grande homem de Deus se não fosse pelas mães daqueles homens. Deus entregou às mulheres a pesada responsabilidade e o ministério louvável de criar filhos no Senhor (veja 2 Tm. 1:5).

Joquebede não foi somente mãe de dois homens chamados por Deus, chamados Moisés e Arão, mas também de uma mulher chamada por Deus, irmã deles, uma profetisa e líder de louvor chamada Miriã (veja Ex. 15:20). Em Miqueias 6:4, Deus classificou Miriã, juntamentt com Moisés e Arão, como uma entre os líderes de Israel:

Eu o tirei do Egito, e o redimi da terra da escravidão; enviei Moisés, Arão e Miriã para conduzi-lo (ênfase adicionada).

É claro, o papel de liderança de Miriã em Israel não era tão dominante quanto o de Moisés. Mesmo assim, como profetisa, ela falou por parte de Deus, e acho seguro assumir que as mensagens de Deus através dela não eram destinadas apenas às mulheres, mas também aos homens de Israel.

Uma Juíza Sobre Israel (A Female Judge Over Israel)

Outra mulher que Deus levantou como líder em Israel foi Débora, que viveu nos tempos dos juízes de Israel. Ela também era profetiza, e era juíza tanto quanto Gideão, Jefté e Samuel que foram juízes durante suas vidas. Somos informados que “os israelitas a procuravam, para que ela decidisse as suas questões” (Jz. 4:5). Portanto, ela fazia decisões para homens, e não somente mulheres. Não pode haver dúvidas sobre isso: Uma mulher dizia aos homens o que fazer, e Deus a ungiu para que assim o fizesse.

Como a maioria das mulheres que são chamadas por Deus para a liderança, Débora, aparentemente, encontrou pelo menos um homem que tinha dificuldade para receber a palavra de Deus através de uma mulher. Seu nome era Baraque, e por causa de sua incredulidade às instruções proféticas de Débora para que fosse à guerra contra o general cananita Sísera, ela lhe disse que a honra de matar Sísera seria de uma mulher. Ela estava certa, e uma mulher chamada Jael é lembrada nas Escrituras como a mulher que enfiou uma estaca de tenda na cabeça de Sísera enquanto este dormia (veja Jz. 4). A hitória termina com Baraque cantando um dueto com Débora! Algumas das frases estão cheias de louvor a ambas, Débora e Jael (veja Jz. 5); portanto, creio que Baraque tenha começado a acreditar no “ministério feminino” depois de tudo.

Uma Terceira Profetisa (A Third Prophetess)

Uma terceira mulher que é mencionada no Velho Testamento como uma respeitada profetisa é Hulda. Deus a usou para dar discernimento e instrução profética a um homem, o aflito rei de Judá, Josias (veja 2 Rs. 22). Vemos novamente um exemplo de Deus usando uma mulher para instruir um homem. É bem provável que Hulda era usada por Deus em tal ministério com certa frequência, caso contrário, Josias não teria tanta fé no que ela lhe disse.

Mas, por que Deus chamou Miriã, Débora e Hulda como profetisas? Ele não poderia ter escolhido homens ao invés?

Com certeza Deus poderia ter chamado homens para fazer exatamente o que aquelas três mulheres fizeram. Mas não chamou. E ninguém sabe a razão. O que devemos aprender com isso é que é melhor termos cuidado para não colocarmos Deus em uma caixa quando falamos sobre quem Ele chama para o ministério. Mesmo que, normalmente Deus tenha chamado homens no Velho Testamento, Ele algumas vezes escolheu mulheres.

Finalmente, deve ser notado que os três preeminentes exemplos de ministras no Velho Testamento foram profetisas. Existem alguns ministérios no Velho Testamento para os quais nenhuma mulher foi chamada. Por exemplo, nenhuma mulher foi chamada para ser sacerdotisa. Portanto, Deus pode reservar alguns ministérios exclusivamente para homens.

Mulheres no Ministério no Novo Testamento (Women in Ministry in the New Testament)

É interessante que também encontramos uma mulher sendo chamada por Deus como profetisa no Novo Testamento. Quando Jesus tinha somente alguns dias de nascido, Ana O reconheceu e começou a proclamar sobre o Messias:

Estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era muito idosa; tinha vivido com seu marido sete anos depois de se casar e então permanecera viúva até a idade de oitenta e quatro anos. Nunca deixava o templo: adorava a Deus jejuando e orando dia e noite. Tendo chegado ali naquele exato momento, deu graças a Deus e falava a respeito do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém (Lc. 2:36-38, ênfase adicionada).

Note que Ana falou sobre Jesus “a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.” Isso incluiria, é claro, homens. Portanto, pode ser dito que Ana estava ensinando a homens sobre Cristo.

Há outras mulheres no Novo Testamento a quem Deus usou com o dom de profecia. Maria, a mãe de Jesus, estava, com certeza, nesse grupo (veja Lc. 1:46-55). Todas as vezes que as palavras proféticas de Maria são lidas no culto, pode ser dito que uma mulher está ensinando à igreja. (E sem dúvida, Deus honrou as mulheres mandando Seu Filho ao mundo através de uma mulher, algo que poderia ter feito de muitas outras formas.)

A lista continua. Deus revelou através da boca do profeta Joel que quando derramasse Seu Espírito, os filhos e as filhas em Israel profetizariam (veja Jl. 2:28). Pedro confirmou que a profecia de Joel era, certamente, aplicável à distribuição da nova aliança (veja At. 2:17).

Vemos em Atos 21:8-9 que Filipe, o evangelista, tinha quatro filhas que eram profetisas.

Paulo escreveu sobre mulheres profetizando nas reuniões da igreja (veja 1 Co. 11:5). Pelo contexto fica claro que homens estavam presentes.

Com todos os exemplos bíblicos de mulheres sendo usadas por Deus como profetisas e para profetizar, com certeza não temos um bom motivo para nos fechar à ideia de que Deus pode usar mulheres em tais ministérios! Mais adiante, nada existe que nos leve a pensar que mulheres não possam profetizar a homens por parte de Deus.

Mulheres Como Pastoras? (Women as Pastors?)

E mulheres servindo como pastoras? Parece claro que Deus quis que o papel de pastor/presbítero/bispo fosse destinado a homens:

Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função. É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar (1 Tm. 3:1-2, ênfase adicionada).

A razão de tê-lo deixado em Creta foi para que você pusesse em ordem o que ainda faltava e constituísse presbíteros em cada cidade, como eu o instruí. É preciso que o presbítero seja irrepreensível, marido de uma só mulher (Tt. 1:5-6, ênfase adicionada).

Paulo não diz expressamente que mulheres são proibidas de atuar no posto de pastor, e portanto, devemos tomar cuidado ao chegarmos a uma conclusão absoluta. Parece que existem várias pastoras/presbíteras/bispas ao redor do mundo que são muito eficientes, especialmente em nações em desenvolvimento; ainda assim, são minoria. Talvez, Deus chame ocasionalmente, mulheres para esse papel quando isso serve aos Seus sábios propósitos para o Reino ou quando há falta de liderança masculina qualificada. Também é possível que muitas pastoras no corpo de Cristo hoje são, na verdade, chamadas a outros ministérios que são biblicamente válidos para mulheres, como o de profetisa, mas a estrutura atual da igreja só permite que trabalhem no papel pastoral.

Por que o posto de pastor/presbítero/bispo é reservado para homens? Conhecer a função desse posto pode nos ajudar a descobrir. Um dos requisitos bíblicos para pastor/presbítero/bispo é:

Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus? (1 Tm. 3:4-5).

Esse requisito faz muito sentido quando percebemos que o líder do Novo Testamento administrava uma pequena igreja no lar. Esse papel era parecido com o de um pai administrando sua casa. Isso nos ajuda a entender por que o posto pastoral deve ser ocupado por um homem — porque é muito parecido com a estrutura familiar que, se estiver de acordo com o projeto de Deus, deve ser liderada pelo marido, não pela esposa. Falaremos sobre esse ponto mais tarde.

Mulheres Como Apóstolos? (Women as Apostles?)

Estabelecemos conclusivamente que mulheres podem servir no posto de profetisas (se chamadas por Deus). E a respeito de outros ministérios? É esclarecedor ler a saudação de Paulo em Romanos 16, onde ele louva várias mulheres que serviram no ministério pelo bem do Reino de Deus. Uma pode até ter sido listada como apóstolo. Nas três citações consecutivas que se seguem, eu coloquei em itálico todos os nomes femininos:

Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva da igreja em Cencréia. Peço que a recebam no Senhor, de maneira digna dos santos, e lhe prestem a ajuda de que venha a necessitar; pois tem sido de grande auxílio para muita gente, inclusive para mim (Rm. 16:1-2, ênfase adicionada).

Mas que endosso! Não sabemos com exatidão que ministério Febe exerceu, mas Paulo a chamou de “serva da igreja em Cencréia” e “grande auxílio para muita gente”, incluindo ele próprio. Seja lá o que for que ela fazia para o Senhor, deve ter sido bem significante para garantir-lhe o endosso de Paulo ante toda a igreja de Roma.

Agora leremos sobre Priscila (Prisca), que juntamente com seu marido, Áquila, tinha um ministério tão significante que todas as igrejas dos gentios os estimavam:

Saúdem Priscila (Prisca) e Áqüila, meus colaboradores em Cristo Jesus. Arriscaram a vida por mim. Sou grato a eles; não apenas eu, mas todas as igrejas dos gentios. Saúdem também a igreja que se reúne na casa deles. Saúdem meu amado irmão Epêneto, que foi o primeiro convertido a Cristo na província da Ásia. Saúdem Maria, que trabalhou arduamente por vocês. Saúdem Andrônico e Júnias [ou Júnia, como a versão RC traduz, que é feminino], meus parentes que estiveram na prisão comigo. São notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim (Rm. 16:3-7, ênfase adicionada).

A respeito de Júnias, parece lógico pensar que uma pessoa que é notável “entre os apóstolos” só poderia ser um apóstolo. Se a correção correta for Júnia, então ela era uma apóstolo. Priscila e Maria trabalhavam para o Senhor.

Saúdem Amplíato, meu amado irmão no Senhor. Saúdem Urbano, nosso cooperador em Cristo, meu amado irmão Estáquis. Saúdem Apeles, aprovado em Cristo. Saúdem os que pertencem à casa de Aristóbulo. Saúdem Herodião, meu parente. Saúdem os da casa de Narciso, que estão no Senhor. Saúdem Trifena e Trifosa, mulheres que trabalham arduamente no Senhor. Saúdem a amada Pérside, outra que trabalhou arduamente no Senhor. Saúdem Rufo, eleito no Senhor, e sua mãe, que tem sido mãe também para mim. Saúdem Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que estão com eles. Saúdem Filólogo, Júlia, Nereu e sua irmã, e também Olimpas e todos os santos que estão com eles (Rm. 16:8-15, ênfase adicionada).

Claramente, mulheres podem ser “trabalhadoras” no ministério.

Mulheres Como Professoras? (Women as Teachers?)

E professoras? O Novo Testamento não menciona nenhuma. É claro que a Bíblia também não menciona nenhum homem chamado para ser professor. Priscila (mencionada acima e também conhecida de Prisca), esposa de Áquila, estava envolvida no ensino pelo menos em pequena escala. Por exemplo, quando ela e Áquila ouviram Apolo pregando um evangelho deficiente em Éfeso, “convidaram-no para ir à sua casa e explicaram com mais exatidão o caminho de Deus” (At. 18:26). Ninguém pode argumentar que Priscila não ajudou seu esposo a ensinar Apolo, um homem. Mais adiante, Paulo menciona ambos Priscila e Áquila duas vezes nas Escrituras quando escreve sobre “a igreja que se reúne na casa deles” (veja Rm. 16:3-5; 1 Co. 16:19), e chama ambos de “colaboradores em Cristo Jesus” em Romanos 16:3. Há pouca dúvida que Priscila teve um papel ativo no ministério ao lado de seu marido.

Quando Jesus Mandou Mulheres Ensinarem Homens (When Jesus Commanded Women to Teach Men)

Antes de falarmos sobre as palavras de Paulo sobre mulheres ficarem em silêncio na igreja e sua proibição a mulheres ensinarem a homens, vamos considerar uma outra passagem que nos ajudará a balancear essas.

Quando Jesus ressuscitou, um anjo mandou pelo menos três mulheres ensinarem aos discípulos de Jesus. Essas mulheres foram instruídas a falar aos discípulos que Jesus tinha ressuscitado e que apareceria a eles na Galileia. Mas isso não é tudo. Pouco tempo depois, Jesus em pessoa apareceu às mesmas mulheres e as mandou instruir os discípulos a irem para a Galileia (veja Mt. 28:1-10; Mc. 16:1-7).

Em primeiro lugar, acho significante que Jesus escolheu aparecer primeiramente a mulheres e depois a homens. Segundo, se houvesse algo fundamentalmente ou moralmente errado com mulheres ensinando homens, Jesus não teria mandado mulheres ensinarem aos homens sobre Sua ressurreição, uma informação essencial, e que Ele mesmo poderia ter entregue (o que fez mais tarde). Ninguém pode argumentar esse fato: o Senhor Jesus instruiu mulheres a ensinarem a verdade vital e dar algumas instruções espirituais a alguns homens.

As Passagens Problemáticas (The Problem Passages)

Agora que temos algum entendimento do que a maioria da Bíblia nos diz sobre o papel da mulher no ministério, somos mais capazes de interpretar as “passagens problemáticas” nas escritas de Paulo. Vamos primeiro considerar suas palavras sobre mulheres manterem o silêncio nas igrejas:

Permaneçam as mulheres em silêncio nas igrejas, pois não lhes é permitido falar; antes permaneçam em submissão, como diz a Lei. Se quiserem aprender alguma coisa que perguntem a seus maridos em casa; pois é vergonhoso uma mulher falar na igreja (1 Co. 14:34-35).

Alguns questionam, por vários motivos, se essas são realmente as instruções de Paulo ou somente uma citação do que os coríntios haviam lhe escrito. Está claro que na segunda metade de sua carta, Paulo estava respondendo as questões que os coríntios lhe perguntaram na carta que lhe enviaram (veja 1 Co. 7:1, 25; 8:1; 12:1; 16:1, 12).

Em seguida, no próximo versículo, Paulo escreve o que pode ser considerado sua reação à política dos coríntios de silenciar as mulheres nas igrejas:

Acaso a palavra de Deus originou-se entre vocês? São vocês o único povo que ela alcançou? (1 Co. 14:36).

A Versão King James traduz esse versículo de modo que Paulo parece ainda mais atônito com a atitude dos coríntios:

O quê? A Palavra de Deus veio de vocês? Ou somente para vocês? (1 Co. 14:36).*

De qualquer modo, Paulo está obviamente fazendo duas perguntas retóricas. A resposta para ambas é: Não. Os coríntios não foram os criadores da Palavra de Deus e ela não foi dada somente a eles. As perguntas de Paulo são óbvias censuras ao orgulho deles. Se elas são sua reação aos dois versículos que as precedem, elas parecem dizer: “Quem vocês pensam que são? Desde quando vocês fazem os decretos a respeito de quem Deus pode usar para ensinar Sua Palavra? Deus pode usar mulheres se quiser, e vocês são tolos por silenciá-las”.

Essa interpretação parece lógica quando levamos em consideração que Paulo já havia, na mesma carta, escrito sobre a maneira própria para mulheres profetizarem nas igrejas (veja 1 Co. 11:5), algo que requer que não fiquem em silêncio. Mais adiante, apenas alguns versículos após aqueles em consideração, Paulo exorta todos os coríntios, [2] incluindo as mulheres, a buscar “com dedicação o profetizar” (1 Co. 14:39). Portanto, ele se contradiria se realmente mandasse as mulheres manterem silêncio nas reuniões das igrejas em 1 Coríntios 14:34-35.

Outras Possibilidades (Other Possibilities)

Vamos assumir por um momento que as palavras em 1 Coríntios 14:34-35 são originalmente de Paulo e que ele está instruindo mulheres as a manterem silêncio. Como então devemos interpretar o que ele diz?

Mais uma vez, devemos nos perguntar por que Paulo estava mandando que mulheres ficassem completamente caladas nas reuniões quando disse na mesma carta que podiam orar e profetizar publicamente, aparentemente em reuniões da igreja.

Mais adiante, com certeza Paulo estava ciente das muitas passagens bíblicas que já consideramos de Deus usando mulheres para falar Sua Palavra publicamente, até mesmo a homens. Por que ele silenciaria aquelas a quem Deus tem ungido para falar?

Certamente, o senso comum diz que Paulo não pretendia dizer que mulheres deveriam ficar completamente caladas quando a igreja se reunisse. Mantenha em mente que a igreja primitiva se reunia em lares e compartilhava refeições. Devemos pensar, então, que as mulheres não falavam desde a hora em que entravam na casa até a hora em que saíam? Que não falavam enquanto preparavam ou comiam a refeição? Que não falavam com seus filhos o tempo inteiro? Tal pensamento parece absurdo.

Se “onde se reunirem dois ou três” no nome de Jesus, Ele está entre eles (veja Mt. 18:20), dessa forma, certamente, constituindo uma reunião de igreja, quando duas mulheres se reúnem no nome de Jesus, elas, então, não devem falar uma com a outra?

Não. Se 1 Coríntios 14:34-35 realmente for instrução de Paulo, ele estava simplesmente se dirigindo a um pequeno problema de ordem nas igrejas. Algumas mulheres estavam de alguma forma interrompendo a ordem fazendo perguntas. Paulo não quis dizer que mulheres devem ficar quietas durante as reuniões, do mesmo modo que, quando dava instruções aos profetas alguns versículos atrás, não quis dizer que devessem ficar em silêncio durante toda a reunião.

Se vier uma revelação a alguém [profeta] que está sentado, cale-se o primeiro (1 Co. 14:30, ênfase adicionada).

Nesse caso, a palavra “cale-se” significa “conter-se temporariamente de falar”.

Paulo também instruiu aqueles que falavam em línguas que permanecessem quietos se não houvesse intérprete na reunião:

Se não houver intérprete, fique calado na igreja, falando consigo mesmo e com Deus (1 Co. 14:28, ênfase adicionada).

Paulo estava instruindo tais pessoas a ficarem completamente caladas durante toda a reunião? Não, ele estava simplesmente dizendo a elas para ficarem em silêncio a respeito de falarem em línguas quando não houvesse intérprete. Note que Paulo disse “fique calado na igreja”, a mesma instrução que deu a mulheres em 1 Coríntios 14:34-35. Então, por que devemos interpretar as palavras de Paulo às mulheres para ficarem quietas na reunião, significando “ficarem caladas durante toda a reunião” e interpretar suas palavras aos que falam em línguas e interrompem a ordem como “conter-se de falar durante momentos específicos da reunião”?

Finalmente, note que Paulo não estava falando a todas as mulheres na passagem sob consideração. Suas palavras só têm aplicação a mulheres casadas, pois são instruídas a perguntarem a “seus maridos em casa”, se tivessem dúvidas.[3] Talvez parte ou todo o problema era que mulheres casadas estavam fazendo perguntas a outros homens além de seus próprios maridos. Tal cenário seria certamente considerado inapropriado e poderia revelar desrespeito e falta de submissão a seus maridos. Se esse fosse o problema ao qual Paulo se dirigia, talvez seja por isso que baseou seu argumento no fato que mulheres devem ser submissas (obviamente a seus maridos), como a Lei revelou de muitas formas desde as primeiras passagens de Gênesis (veja 1 Co. 14:34).

Resumindo, se Paulo está realmente instruindo mulheres a manterem silêncio em 1 Coríntios 14:34-35, ele está dizendo que apenas mulheres casadas devem manter silêncio a respeito de fazer perguntas em momentos inoportunos ou de modo que seja desrespeitoso a seus maridos. Caso contrário, podem profetizar, orar e falar.

A Outra Passagem Problemática (The Other Problem Passage)

Finalmente, chegamos à segunda “passagem problemática”, encontrada na primeira carta de Paulo a Timóteo:

A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a mulher que, tendo sido enganada, tornou-se transgressora (1 Tm. 2:11-14).

Com certeza Paulo sabia sobre Miriã, Débora, Hulda e Ana, quatro profetisas que falavam por parte de Deus a homens e mulheres, ensinando-os efetivamente sobre a Sua vontade. Certamente, ele sabia que Débora, uma juíza sobre Israel, tinha autoridade sobre homens e mulheres. Com certeza sabia que Deus tinha derramado Seu Espírito no dia de Pentecoste, cumprindo parte da profecia de Joel sobre os últimos dias, quando Deus derramaria Seu Espírito sobre toda a carne para que Seus filhos e filhas profetizassem a Sua Palavra. Ele, com certeza, sabia que Jesus enviou algumas mulheres para levarem uma mensagem dEle para Seus discípulos. Ele se lembrava, com toda a certeza, de suas próprias palavras de aprovação, escritas à igreja de Corinto, a respeito de mulheres orando e profetizando durante as reuniões da igreja. Certamente se lembrava que havia dito aos coríntios que qualquer um deles poderia receber um ensino do Espírito Santo para compartilhar com o corpo de Cristo (veja 1 Co. 14:26). Então, o que ele queria expressar quando escreveu essas palavras a Timóteo?

Note que Paulo recorre a dois fatos relacionados em Gênesis como base de suas instruções: (1) Adão foi criado antes de Eva e (2) Eva; foi enganada e não Adão, e tornou-se transgressora. O primeiro fato estabelece o relacionamento próprio entre marido e mulher. Como ensinado pela ordem da criação, o marido deve ser o cabeça, algo que Paulo ensina em outro lugar (veja 1 Co. 11:3; Ef. 5:23-24).

O segundo fato que Paulo menciona não significa que mulheres são enganadas mais facilmente que homens, pois não são. Aliás, já que existem mais mulheres que homens no corpo de Cristo, pode ser argumentado que homens são mais facilmente enganados que mulheres. Ao invés disso, o segundo fato mostra que quando a ordem familiar que Deus planejou foi negligenciada, Satanás pôde entrar. Todo o problema da humanidade começou no jardim quando o relacionamento entre o homem e sua mulher ficou fora de ordem — a esposa de Adão não era submissa a ele. Adão deve ter dito a sua mulher as instruções de Deus a respeito da fruta proibida (veja Gn. 2:16-17; 3:2-3). Contudo, ela não seguiu suas instruções. De certo modo, até exerceu autoridade sobre ele quando lhe deu a fruta proibida (veja Gn. 3:6). Neste caso, Adão não estava conduzindo Eva, e sim Eva conduzindo Adão. O resultado foi desastroso.

A Igreja — Um Modelo da Família (The Church — A Model of the Family)

A ordem familiar planejada por Deus deve, certamente, ser demonstrada na igreja. Como disse antes, é importante lembrar que, pelos primeiros trezentos anos da história da igreja, as congregações eram pequenas. Elas se encontravam em casas. O pastor/presbítero/bispo era como o pai de uma família. Essa estrutura da igreja ordenada por Deus se parecia tanto com uma família, e era, na verdade, uma família espiritual; portanto, que uma liderança feminina teria enviado uma mensagem errada às famílias dentro e fora da igreja. Imagine uma pastora/presbítera/bispa ensinando regularmente em uma igreja no lar, enquanto seu marido se senta passivamente, ouvindo os seus ensinos e se submetendo a sua autoridade. Isso iria contra a ordem familiar de Deus, e o exemplo errado seria proposto.

É isso que as palavras de Paulo querem dizer. Note que elas são encontradas próximas ao texto sobre as exigências de Paulo aos presbíteros (veja 1 Tm. 3:1-7), um dos quais é que a pessoa seja homem. Também deve ser notado que presbíteros devem ensinar regularmente na igreja (veja 1 Tm. 5:17). As palavras de Paulo a respeito de mulheres receberem instruções em silêncio e não receberem permissão para ensinar ou exercer autoridade sobre homens estão, obviamente, relacionadas à ordem apropriada na igreja. O que ele descreve como impróprio é uma mulher cumprir, parcialmente ou completamente, o papel de presbítero/pastor/bispo.

Isso não quer dizer que uma mulher/esposa não possa, em submissão ao seu marido, orar, profetizar, receber um breve ensino para compartilhar com o corpo, ou falar em geral durante uma reunião de igreja. Ela poderia fazer tudo isso na igreja sem violar a ordem divina de Deus, assim como poderia fazer tudo isso em casa sem violação a essa ordem. O que ela era proibida de fazer na igreja não era nada mais ou menos do que era proibida de fazer em casa — exercer autoridade sobre seu esposo.

Também notamos alguns versículos mais adiante que mulheres podiam servir como diaconisas, assim como homens (veja 1 Tm. 3:12). Servir uma igreja como diaconisa, ou serva, que é o que a palavra significa, não requer violação da ordem divina de Deus entre marido e mulher.

Este é o único modo que vejo de harmonizar as palavras de Paulo em 1 Timóteo 2:11-14 com o que o resto do que as Escrituras ensinam. Nenhum dos outros exemplos bíblicos que consideramos de Deus usando mulheres, serve de modelo para a família como a igreja e, portanto, nenhum viola a ordem dada por Deus. Em nenhum encontramos um modelo impróprio de esposas exercendo autoridade sobre seus maridos em um ambiente familiar. Visualize novamente uma pequena reunião de várias famílias em uma casa e a esposa estando no controle, ensinando e administrando enquanto seu marido senta-se passivamente e se submete a sua liderança. Isso não é o que Deus deseja, já que é contra Sua ordem para a família.

Mesmo Débora tendo sido juíza em Israel, Ana ter falado a homens sobre Cristo, Maria e suas amigas terem contado aos apóstolos sobre a ressurreição de Cristo, nenhuma delas envia uma mensagem errada ou modelo impróprio da ordem de Deus na unidade familiar. A reunião regular da igreja é um ambiente único, onde existe o perigo da mensagem errada ser enviada se mulheres/esposas exercerem autoridade e ensinarem a homens/maridos regularmente.

Concluindo (In Conclusion)

Se perguntarmos a nós mesmos: “O que pode ser fundamentalmente errado em mulheres trabalhando no ministério, servindo a outros de coração compassivo e usando seus dons dados por Deus? Que principio moral ou ético isso pode violar?” Então, logo devemos perceber que a única violação possível seria se o ministério de uma mulher violasse a ordem de Deus para relacionamentos entre homens e mulheres, maridos e esposas. Nas duas “passagens problemáticas” que consideramos, Paulo recorre à ordem divina no casamento como base de sua preocupação.

Portanto, percebemos que mulheres são restritas no ministério somente em um pequeno sentido. Deus quer usar mulheres para Sua glória de várias outras formas, e Ele tem feito isso a milhares de anos. As Escrituras falam de muitas contribuições positivas que mulheres fizeram para o Reino de Deus, algumas das quais já consideramos. Não vamos esquecer que alguns dos amigos mais íntimos de Jesus eram mulheres (veja Jo. 11:5), e que mulheres apoiavam Seu ministério financeiramente (veja Lc. 8:1-3), algo que não é dito sobre homem algum. A mulher do poço de Samaria compartilhou sobre Cristo com os homens de sua vila, e muitos creram nEle (veja Jo. 4:28-30, 39). É dito que uma discípula chamada Tabita “se dedicava a praticar boas obras e dar esmolas” (At. 9:36). Foi uma mulher que ungiu Jesus para o enterro, e Ele a louvou por isso quando alguns homens reclamaram (veja Mc. 14:3-9). Finalmente, a Bíblia diz que foram mulheres que choraram por Jesus enquanto carregava Sua cruz pelas ruas de Jerusalém, algo que não foi dito de nenhum homem sequer. Tais exemplos e muitos outros como estes devem encorajar mulheres a se levantarem para cumprir seus ministérios ordenados por Deus. Precisamos de todas elas!

 


[1] Também deve ser notado que após ter criado Adão, Deus criou todos os outros homens através das mulheres que deram à luz a eles. Todos os homens depois de Adão vieram de mulheres, como Paulo nos lembra em 1 Coríntios 11:11-12. Com certeza, ninguém argumentaria que essa divina ordem prova que homens são inferiores a suas mães.

* Nota do tradutor: Versículo traduzido da Versão King James.

[2] A exortação de Paulo é endereçada aos “irmãos”, um termo que usa 27 vezes nessa carta, e que se refere claramente a todo o corpo de cristãos em Corinto e não somente aos homens.

[3] Deve ser notado que não havia, no grego original, palavras diferentes para mulher e esposa, ou homem e marido. Portanto, devemos determinar pelo contexto se o escritor se refere a homens e mulheres ou maridos e esposas. Na passagem sob consideração, Paulo está falando a esposas, já que somente estas poderiam perguntar qualquer coisa a seus maridos em casa.