Mitos Modernos Sobre Batalhas Espírituais, Parte 2

Capítulo Trinta e Um (Chapter Thirty-One)

 

Continuamos este capítulo considerando mais alguns ensinos errados, mas populares a respeito de Satanás e batalhas espirituais. Na conclusão, consideraremos o que as Escrituras realmente dizem a respeito de batalhas espirituais que cada crente deve praticar.

Mito no 5: “ Podemos acabar com fortalezas demoníacas na atmosfera através da batalha espiritual”. (Myth #5: “We can pull down demonic strongholds in the atmosphere through spiritual warfare.”)

De acordo com as Escrituras, não há dúvida de que Satanás reina sobre uma hierarquia de espíritos malignos que habitam na atmosfera da Terra e que o ajudam a governar o reino das trevas. Que esses espíritos malignos são “territoriais”, governando sobre certas áreas geográficas, é um conceito também encontrado na Bíblia (veja Dn. 10:13, 20-21; Mc. 5:9-10); como também é bíblico que cristãos têm autoridade para expulsar demônios de outras pessoas e a responsabilidade de resistir ao demônio (veja Mc. 16:17; Tg. 4:7; 1 Pd. 5:8-9). Mas, podem os cristãos derrubar os espíritos malignos que reinam sobre cidades? A resposta é não; e tentar fazer isso é uma perca de tempo.

Só porque podemos expulsar demônios de pessoas, não devemos assumir que podemos derrubar os espíritos malignos que reinam sobre cidades. Existem vários exemplos nos evangelhos e no livro de Atos de expulsão de demônios das pessoas, mas você pode pensar em pelo menos um exemplo, nos evangelhos ou no livro de Atos, de alguém ter derrubado um espírito maligno que reinava sobre uma cidade ou região geográfica? Não pode, porque não existem tais exemplos. Você pode pensar em uma instrução em alguma epístola sobre nossa responsabilidade de derrubar espíritos malignos da atmosfera? Não, porque não existe. Por esse motivo, não temos base bíblica para crer que podemos ou devemos nos engajar em “batalhas espirituais” contra espíritos malignos na atmosfera.

Aprofundando Demasiadamente nas Parábolas (Pushing Parables Too Far)

Encontrar mais sentido na Bíblia do que Deus intencionou é um erro que cristãos cometem com grande frequência quando leem passagens que contêm linguagem metafórica. Um exemplo clássico de má interpretação de linguagem metafórica tem como base as palavras de Paulo sobre “derrubar fortalezas”:

Pois embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; ao contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo. E estaremos prontos para punir todo ato de desobediência, uma vez estando completa a obediência de vocês (2 Co. 10:3-6).

Ao invés de dizer “destruímos argumentos”, a versão King James* diz que estamos “destruindo fortalezas”. Desta única frase metafórica, praticamente uma teologia inteira foi criada para defender a ideia de fazer “batalhas espirituais” para “destruir fortalezas” que consistem de espíritos malignos na atmosfera. Mas como a New American Standard Version* deixa claro, Paulo não está falando de espíritos malignos na atmosfera, mas de fortalezas de falsas crenças que existem nas mentes das pessoas. Argumentos é o que Paulo está destruindo, não espíritos malignos nos lugares altos.

Isso fica ainda mais claro quando lemos o contexto. Paulo disse: “Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (ênfase adicionada). A batalha da qual Paulo escreveu simbolicamente é uma batalha contra pensamentos ou ideias que são contra o verdadeiro conhecimento de Deus.

Usando metáforas militares, Paulo explica que estamos em uma batalha, uma batalha pelas mentes das pessoas que acreditam nas mentiras de Satanás. Nossa arma principal nessa batalha é a Verdade, que é o porquê de termos sido enviados ao mundo inteiro para pregar o evangelho, invadindo o território inimigo com uma mensagem que pode libertar os cativos. Os fortes que temos destruído foram construídos com tijolos de mentiras unidos pelo cimento da decepção.

Toda a Armadura de Deus (The Whole Armor of God)

Outra passagem de Paulo que muitas vezes é mal interpretada encontrada-se em Efésios 6:10-17, onde escreveu sobre nossa responsabilidade de colocar a armadura de Deus. Mesmo que essa passagem seja definitivamente sobre nossa luta contra o demônio e espíritos malignos, não há menção de derrubar espíritos malignos que estão sobre as cidades. Quando estudamos a passagem de perto, torna-se claro que Paulo estava escrevendo principalmente sobre a responsabilidade de cada indivíduo de resistir ao esquemas de Satanás em sua vida pessoal aplicando a verdade da Palavra de Deus.

Quando lemos essa passagem em particular, notamos também a linguagem metafórica evidente. Obviamente, Paulo não falava literalmente sobre uma armadura material que os cristãos devem vestir. A armadura sobre a qual escreveu é figurativa. Esses pedaços de armadura representam as várias verdades bíblicas que os cristãos devem usar como proteção contra o demônio e espíritos malignos. Por saber, crer e agir de acordo com a Palavra de Deus, os cristãos estão, figurativamente falando, vestidos da armadura de Deus.

Vamos examinar essa passagem em Efésios versículo por versículo, enquanto nos perguntamos, o que Paulo realmente queria nos transmitir?

A Fonte de Nossa Força Espiritual (The Source of Our Spiritual Strength)

Primeiramente, Paulo nos diz: “fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder” (Ef. 6:10). A ênfase está no fato de que não devemos tirar nossa força de nós mesmos, mas de Deus. Isso se torna mais claro na próxima afirmação de Paulo: “Vistam toda a armadura de Deus” (Ef. 6:11a). Essa armadura é de Deus, não nossa. Paulo não está dizendo que o próprio Deus usa armadura, mas que precisamos da armadura que Deus providenciou.

Por que precisamos dessa armadura que Deus providenciou?A resposta é: “para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo” (Ef. 6:11b). Essa armadura é principalmente para uso defensivo, não ofensivo. Não é para que possamos sair e derrubar espíritos malignos que estão sobre cidades; é para que possamos ficar firmes contra as ciladas do Diabo.

Aprendemos que o Diabo tem planos para nos atacar, e a menos que estejamos usando a armadura que Deus providenciou, estaremos vulneráveis. Note também que a responsabilidade de colocar a armadura é nossa, não de Deus.

Vamos continuar:

Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Ef. 6:12).

Aqui, torna-se claro como cristal que Paulo não está falando sobre uma batalha física ou material, mas espiritual. Estamos lutando contra os planos de várias hierarquias de espíritos malignos os quais foram listados por Paulo. A maioria de leitores assume que Paulo os listou em ordem de autoridade, de baixo para cima; “poderes” sendo a classe mais baixa e “forças espirituais do mal nas regiões celestiais” sendo a classe mais alta.

Como podemos lutar contra seres espirituais? Essa pergunta pode ser respondida se perguntarmos: Como os seres espirituais podem nos atacar? Eles nos atacam principalmente com tentações, pensamentos, sugestões e ideias que contradizem a Palavra e a vontade de Deus. Portanto, nossa defesa é saber, crer e obedecer a Palavra de Deus.

Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo (Ef. 6:13).

Note mais uma vez que o propósito de Paulo é nos equipar para resistir aos ataques de Satanás e permanecer. Seu propósito não é nos equipar para atacarmos Satanás e derrubar espíritos malignos da atmosfera. Paulo nos diz para permanecermos inabaláveis três vezes. Nossa posição é a defesa, não o ataque.

Verdade — Nossa Defesa Principal (Truth — Our Primary Defense)

Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade (Ef. 6:14a).

A verdade é o que mantém nossa armadura no lugar. O que é a verdade? Jesus disse ao Seu Pai: “A tua palavra é a verdade” (Jo. 17:17). Não podemos permanecer firmes contra Satanás a menos que conheçamos a verdade com a qual podemos combater suas mentiras. Jesus demonstrou isso maravilhosamente quando foi tentado no deserto e respondia a todas as sugestões de Satanás com: “Está escrito”.

Paulo continuou:

Vestindo a couraça da justiça (Ef. 4:14b).

Como cristãos, devemos ser familiares com dois tipos de justiça. A primeira, recebemos como um presente, a justiça de Cristo (veja 2 Co. 5:21). Sua justiça tem sido implantada naqueles que creem em Jesus, aos que deixaram seus pecados na cruz. Essa justiça nos libertou dos domínios de Satanás.

Segunda, devemos viver em justiça, obedecendo os mandamentos de Jesus, e isso é provavelmente o que Paulo tinha em mente a respeito da couraça da justiça. Através da obediência a Cristo, não damos lugar ao Diabo (veja Ef. 4:26-27).

Pés Firmes nos Sapatos do Evangelho (Firm Footing in Gospel Shoes)

E tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz (Ef. 6:15).

Conhecer, crer e agir de acordo com a verdade do evangelho nos dá pés firmes para prevalecermos contra os ataques de Satanás. Os sapatos que os soldados romanos usavam tinham travas nas solas que lhes davam firmeza no campo de batalha. Quando Jesus é nosso Senhor, temos pés firmes para prevalecermos contra as mentiras de Satanás.

Além disso, usem o escudo da fé com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno (Ef. 6:16).

Note novamente a ênfase de Paulo em nossa postura defensiva. Ele não está falando de derrubarmos os demônios de sobre as cidades. Está falando sobre o uso da nossa fé na Palavra de Deus para resistir às mentiras do Diabo. Quando cremos e agimos de acordo com o que a Palavra de Deus diz, é como ter um escudo que nos protege das mentiras de Satanás, representadas figuradamente como “setas inflamadas do Maligno”.

Nossa Espada Espiritual — A Palavra de Deus (Our Spiritual Sword — God’s Word)

Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus (Ef. 6:17).

A salvação, como a Bíblia a descreve, inclui nossa libertação do cativeiro de Satanás. Deus nos “resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado” (Cl. 1:13). Saber isso é como ter um capacete que guarda nossas mentes de acreditar na mentira de Satanás de que ainda estamos em seu domínio. Satanás não é mais nosso mestre — Jesus é.

Além do mais, devemos pegar a “espada do Espírito” que, como Paulo explica, é uma figura para a Palavra de Deus. Como já mencionei, Jesus foi o exemplo perfeito de um guerreiro espiritual que manejou habilmente Sua espada espiritual. Durante Sua tentação no deserto Ele respondeu cada vez a Satanás, citando diretamente a Palavra de Deus. Da mesma forma, se formos derrotar o Diabo em um combate espiritual, devemos conhecer e crer no que Deus disse, se não, sucumbiremos a suas mentiras.

Note também que Jesus usou a “espada do Espírito” defensivamente. Alguns gostam de ressaltar para os que mantém a postura de que a armadura que Paulo escreveu é principalmente defensiva, que definitivamente a espada é uma arma ofensiva. Portanto, com um argumento fraco, tentam justificar sua teoria de que a passagem em Efésios 6:10-12 é aplicável a nossa suposta responsabilidade de “derrubar fortalezas” de espíritos malignos nos lugares celestiais.

Obviamente, depois de ler o motivo de Paulo do porquê os cristãos devem vestir a armadura de Deus (para que possam “ficar firmes contra as ciladas do Diabo”), sabemos que ele está falando principalmente de um uso defensivo da armadura. Além do mais, mesmo que pensem em uma espada como uma arma ofensiva, também podemos vê-la como defensiva, já que protege dos ataques da espada do inimigo e os bloqueia.

Além do mais, devemos ter cuidado para não deformarmos a metáfora, enquanto tentamos retirar das várias partes da armadura, significados que nem existem. Quando começamos a discutir sobre a natureza defensiva e ofensiva da espada, tendemos a “ir longe de mais nas parábolas”, por quanto desmontamos os pedaços de uma simples metáfora que nunca foi planejada para ser tão dissecada.

Mas Deus não nos Instruiu a “Amarrar o Homem Forte”? (But Didn’t Jesus Instruct Us to “Bind the Strong Man”?)

Encontramos três vezes nos evangelhos Jesus mencionando “amarrar o homem forte”. Contudo, em nenhum dos três casos Ele disse aos Seus seguidores que “amarrar o homem forte” era algo que devessem praticar. Vamos examinar exatamente o que Jesus disse, e vamos ler dentro do contexto:

E os mestres da lei que haviam descido de Jerusalém diziam: “Ele está com Belzebu! Pelo príncipe dos demônios é que ele expulsa demônios”. Então Jesus os chamou e lhes falou por parábolas: “Como pode Satanás expulsar Satanás?Se um reino estiver dividido contra si mesmo, não poderá subsistir. Se uma casa estiver dividida contra si mesma, também não poderá subsistir. E se Satanás se opuser a si mesmo e estiver dividido, não poderá subsistir; chegou o seu fim. De fato, ninguém pode entrar na casa do homem forte e levar dali os seus bens, sem que antes o amarre. Só então poderá roubar a casa dele. Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados, mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: é culpado de pecado eterno”. Jesus falou isso porque eles estavam dizendo: “Ele está com um espírito imundo”. (Mc. 3:23-30).

Note que Jesus não estava ensinando Seus seguidores a amarrarem nenhum homem forte. Ele estava respondendo às críticas dos escribas de Jerusalém com lógica indiscutível e uma metáfora clara.

Eles O acusaram de expulsar demônios usando poder demoníaco. Ele respondeu dizendo que Satanás seria insano de trabalhar contra si mesmo. Ninguém pode inteligentemente argumentar contra isso.

Se não foi o poder de Satanás que Jesus estava usando para expulsar demônios, de quem era o poder?Tinha que ser um poder maior que o de Satanás. Tinha que ser o poder de Deus, o poder do Espírito Santo. Portanto, Jesus falou metaforicamente de Satanás, comparando-o a um homem forte guardando suas posses. O único capaz de tirar as posses do homem forte seria alguém ainda mais forte, o próprio Deus. Essa foi a verdadeira explicação de como Ele expulsava demônios.

Essa passagem que menciona o homem forte, assim como as similares encontradas em Mateus e Lucas, não podem ser usadas para justificar “amarrar o homem forte” sobre cidades. Adicionalmente, quando examinamos o resto do Novo Testamento, não encontramos exemplo algum de uma pessoa “amarrando o homem forte” sobre cidades, ou qualquer instrução para que assim o façam. Portanto, podemos concluir seguramente que não é bíblico que qualquer cristão tente amarrar e render um suposto “homem forte – espírito maligno” sobre uma cidade ou área geográfica.

Mas e Sobre “Amarrar no Céus e na Terra”? (What About “Binding on Earth and in Heaven”?)

Só encontramos duas vezes nos evangelhos as palavras de Jesus: “O que você amarrar na terra será [ou ‘terá sido’] amarrado nos céus, e o que você liberar na terra será [ou ‘terá sido’] liberado nos céus”*. Ambas estão registradas no evangelho de Mateus.

Jesus estava nos ensinando que podemos e devemos “amarrar” espíritos demoníacos na atmosfera?

Primeiro, vamos considerar Suas palavras amarrar e liberar. O uso dessas palavras por Jesus é obviamente figurativo, já que, com certeza, Ele não quis dizer que Seus seguidores pegariam cordas e literalmente amarrariam algo ou libertariam algo que estava amarrado com cordas. Então, o que Jesus quis dizer?

Para encontrarmos a resposta devemos olhar ao Seu uso das palavras amarrar e liberar dentro do contexto do que estava falando naquela hora. Ele estava falando sobre espíritos malignos? Se sim, podemos concluir que Sua palavra sobre amarrar tem aplicação ao amarrar de espíritos malignos.

Vamos examinar a primeira passagem em que Jesus menciona amarrar e liberar:

“E vocês?”, perguntou ele [Jesus]. “Quem vocês dizem que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Respondeu Jesus: “Feliz é você Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la. Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você amarrar na terra terá sido amarrado nos céus, e o que você liberar na terra terá sido liberado nos céus” (Mt. 16:15-19, ênfase adicionada).

Sem dúvida a razão dessa passagem ter sido interpretada de tantas maneiras diferentes é que ela contém pelo menos cinco expressões metafóricas: (1) “carne ou sangue”, (2) “pedra”, (3) “portas do Hades”, (4) “chaves do Reino dos céus” e (5) “amarrar/liberar”. Todas essas expressões são figurativas, ou seja, falam de outra coisa.

Portas do Hades (Hades’ Gates)

Mesmo sem considerar o significado preciso das metáforas, podemos ver que, nessa passagem, Jesus não estava falando de espíritos malignos. O mais perto que chegou foi quando mencionou “as portas do Hades”, que são obviamente simbólicas, já que não é possível que as portas do Hades façam algo para prejudicar a Igreja.

O que “as portas do Hades” representam? Talvez simbolizam o poder de Satanás, e Jesus quis dizer que o poder de Satanás não impediria que Sua Igreja fosse construída. Ou talvez, quis dizer que a Igreja que Ele construiria salvaria as pessoas para que não fossem aprisionadas “atrás” das portas do Hades.

Note que, na verdade, Jesus mencionou duas portas: as portas do Hades e as portas para o céu, implícitas quando Ele deu a Pedro as “chaves dos céus”. Esse contraste suporta ainda mais a ideia de que a afirmação de Jesus representa o papel da Igreja de salvar as pessoas que estão indo para o Hades.

Mesmo que Jesus tenha dito que “todo o poder de Satanás não pararia Sua Igreja”, não podemos pular para a conclusão que Seus comentários sobre amarrar e liberar são instruções para o que devemos fazer com espíritos malignos que pairam sobre cidades, pela simples razão de que não podemos encontrar exemplos nos evangelhos ou em Atos de alguém amarrando tais espíritos malignos, nem podemos encontrar instruções nas epístolas para que façamos tal coisa. De qualquer forma que interpretarmos as palavras de Cristo sobre amarrar e liberar, nossa interpretação deve ser baseada contextualmente com o resto do Novo Testamento.

Já que não há exemplo bíblico algum, é incrível a frequência com que cristãos dizem coisas como: “Eu amarro o Diabo no nome de Jesus” ou “Eu libero os anjos sobre aquela pessoa” e assim por diante. Não encontramos ninguém dizendo tais coisas no Novo Testamento. A ênfase de Atos e das epístolas não é em falar com o Diabo ou amarrar e liberar espíritos malignos, mas em pregar o evangelho e orar a Deus. Por exemplo, quando Paulo estava sendo continuamente atormentado por um mensageiro (literalmente “anjo”) de Satanás, ele não tentou “amarrá-lo”. Ele orou a Deus sobre isso (veja 2 Co. 12:7-10).

As Chaves para o Céu (The Keys to Heaven)

Vamos olhar mais profundamente o contexto imediato das palavras de Jesus sobre amarrar e liberar. Note que logo após ter mencionado amarrar e liberar, Jesus disse que daria a Pedro “as chaves do Reino dos céus”. Pedro nunca recebeu chaves de verdade para as portas do céu, e portanto, as palavras de Jesus devem ser interpretadas figuradamente. O que as “chaves”representam? Representam um meio de acessar algo que está trancado. Quem tem a chave, tem meios que os outros não têm para abrir certas portas.

Enquanto consideramos o ministério de Pedro como registrado no livro de Atos, o que ele está fazendo que poderia ser considerado comparável a abrir portas que estão trancadas a outros?

Acima de tudo, o encontramos proclamando o evangelho; o evangelho que abre as portas do céu para todos os que creem (e o evangelho que fecha as portas do Hades). Nesse sentido, todos nós recebemos as chaves para o Reino dos céus, já que somos todos embaixadores de Cristo. As chaves para o Reino dos céus só podem ser o evangelho de Jesus Cristo, a mensagem que pode abrir as portas do céu.

E Agora, Amarrar e Liberar (And Now, Binding and Loosing)

Finalmente, depois de prometer dar a Pedro as chaves para o Reino dos céus, Jesus faz Sua afirmação sobre amarrar e liberar; Sua quinta expressão figurativa na passagem sob consideração.

Dentro do contexto das afirmações que já examinamos, o que Jesus quis dizer? Que ligação há entre: Pedro amarrar e liberar, Jesus construir Sua Igreja, a salvação de pessoas do Hades e a proclamação do evangelho?

Realmente só há uma possibilidade. Jesus quis dizer: “Estou autorizando você a ser o representante do céu. Cumpra sua responsabilidade na terra, e o céu irá te apoiar”.

Se um patrão dissesse ao seu vendedor : “O que você fizer na filial em Bangcoc será feito na matriz”, como o vendedor interpretaria as palavras de seu chefe? Ele entenderia que estava autorizado a representar sua companhia em Bangcoc. Tudo o que Jesus quis dizer é que Pedro, na terra, estava autorizado a representar Deus no céu. Essa promessa a Pedro seria um reforço para a sua confiança quando começasse a proclamar a mensagem de Deus em Jerusalém sob os olhos críticos dos escribas e fariseus — pessoas que se consideravam representantes autorizados de Deus e pessoas a quem Pedro antes reverenciava como tais.

Essa interpretação das palavras de Jesus está em harmonia com Seu segundo uso, encontrado dois capítulos à frente no evangelho de Mateus:

Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de modo que qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano. Digo-lhes a verdade: Tudo o que vocês amarrarem na terra terá sido amarrado no céu, e tudo o que vocês liberarem na terra terá sido liberado no céu. Também lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus. Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles (Mt. 18:15-20, ênfase adicionada).*

Nessa segunda passagem, não há absolutamente nada dentro do contexto que nos levaria a crer que Jesus estava falando de amarrar espíritos malignos. Aqui, Cristo falou sobre amarrar e liberar imediatamente depois de falar sobre disciplina da Igreja.

Isso pareceria indicar que a respeito de amarrar e liberar nessa passagem, Jesus quis dizer algo como: “Estou dando a você a responsabilidade de determinar quem deve estar na Igreja e quem não deve. É seu trabalho. Enquanto você cumpre suas responsabilidades, o céu te apoiará”.

Em uma aplicação mais abrangente, Jesus estava simplesmente dizendo: “Vocês são representantes autorizados do céu na terra. Vocês têm responsabilidades e enquanto cumprirem suas responsabilidades na terra, o céu sempre lhes apoiará”.

Amarrar e Liberar no Contexto (Binding and Loosing in Context)

Essa interpretação se encaixa bem no contexto imediato, assim como no contexto mais remoto do Novo Testamento.

A respeito do contexto imediato, notamos que, imediatamente depois de Sua afirmação sobre amarrar e liberar, Jesus disse: “Também lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus” (Mt. 18:19, ênfase adicionada).

Aqui está novamente o tema “o que você fizer na terra será apoiado no céu”. Nós, na terra, estamos autorizados a orar e somos responsáveis por essa tarefa. Quando assim o fizermos, o céu responderá. As palavras de Jesus, “Também lhes digo…” parecem indicar que Ele está expandindo Sua afirmação anterior sobre amarrar e liberar.

A afirmação final de Jesus nessa passagem: “Pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles”, também suporta o tema “o céu lhes apoiará”. Quando crentes se reúnem em Seu nome, Ele, que mora no céu, aparece.

Mesmo que você discorde completamente da minha interpretação das passagens sob consideração, você será colocado contra a parede para apresentar um argumento bíblico e forte provando que Jesus estava falando sobre amarrar e liberar espíritos malignos que pairam sobre cidades.

O Plano Divino de Deus Inclui Satanás (God’s Divine Plan Includes Satan)

Satanás e seus anjos são um exército rebelde, mas não um exército que está além do controle de Deus. Esse exército rebelde foi criado por Deus (mesmo que não fosse rebelde quando criado). Paulo escreveu:

Pois nele [Cristo] foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele (Cl. 1:16, ênfase adicionada).

Jesus criou todos os espíritos angelicais de todos os postos, incluindo Satanás. Ele sabia que alguns iriam se rebelar? É claro que sim. Então, por que os criou? Porque usaria aqueles espíritos rebeldes para ajudá-lo a cumprir Seu plano. Se Ele não tivesse um plano para eles, simplesmente os teria encarcerado, como sabemos que já fez com alguns anjos rebeldes (veja 2 Pd. 2:4) e como fará um dia com Satanás (veja Ap. 20:2).

Deus tem motivos para permitir que Satanás e todos os espíritos malignos operem na terra. Se não tivesse, estariam completamente fora de serviço. Quais são os motivos de Deus para permitir que Satanás opere na terra?Acho que ninguém entende todos os motivos; mesmo assim, Deus revelou alguns deles em Sua Palavra.

Primeiro, Deus permite que Satanás opere limitadamente na terra para cumprir Seu plano de testar os humanos. Satanás é a escolha alternativa para a fidelidade humana. Percebendo ou não, as pessoas estão sujeitas a Deus ou a Satanás. Deus permitiu que Satanás tentasse Adão e Eva, duas pessoas que tinham o livre arbítrio dado por Deus, para testá-los. Todos os que possuem livre arbítrio devem ser testados para que seja revelado o que realmente está em seus corações: obediência ou desobediência. [1]

Segundo, Deus permite que Satanás opere limitadamente na terra como um agente de Sua ira sobre os malfeitores. Já provei isso anteriormente, mostrando vários exemplos específicos nas Escrituras, onde Deus trouxe julgamento sobre as pessoas que mereciam através de espíritos malignos. O fato de Deus ter permitido que Satanás reinasse sobre as pessoas incrédulas do mundo é uma indicação de Sua ira sobre elas. Deus julga grupos de pessoas corruptas permitindo que humanos perversos reinem sobre elas, assim também como espíritos malignos, tornando suas vidas ainda mais miseráveis.

Terceiro, Deus permite que Satanás opere limitadamente na terra para glorificar a Si mesmo. “Para isso o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo (1 Jo. 3:8). Cada vez que Deus destrói um dos trabalhos de Satanás, Seu poder e sabedoria são glorificados.

Jesus é o Cabeça Sobre os Poderes e Principados (Jesus is the Head Over Principalities and Powers)

Como cristãos, nossa responsabilidade bíblica para lidar com Satanás e espíritos malignos é dupla: resistir a eles em nossas próprias vidas (Tg. 4:7) e expulsá-los da vida de quem quer ser liberto (Mc. 16:17). Qualquer cristão que tenha experiência em expulsar demônios de pessoas sabe que, como regra geral, ele não será capaz de expulsar o demônio a menos que a pessoa endemoninhada queira ser liberta. [2] Deus honra o livre arbítrio de cada pessoa e se alguém quiser permanecer possesso, Deus não o impedirá.

Esse é outro motivo do porquê não podermos derrubar espíritos territoriais de sobre áreas geográficas. Aqueles espíritos estão segurando pessoas enlaçadas porque é isso que elas escolheram. Através da proclamação do evangelho a elas, oferecemos uma escolha. Se fizerem a escolha certa, o resultado será sua libertação de Satanás e dos espíritos malignos. Se fizerem a escolha errada, escolhendo não se arrependerem, Deus continuará permitindo que Satanás os mantenha cativos.

Jesus é mencionado nas Escrituras como “o Cabeça de todo poder e autoridade” (Cl. 2:10). Mesmo que as palavras gregas para poder (arche) e autoridade (exousia) sejam, às vezes, usadas para descrever líderes políticos humanos, também são usadas no Novo Testamento como títulos para governadores espirituais demoníacos. A passagem clássica sobre a luta dos cristãos contra poderes (arche) e autoridades (exousia) em Efésios 6:12 é um exemplo.

Quando lemos dentro do contexto o que Paulo escreveu sobre Jesus ser o Cabeça de todo poder e autoridade em Colossenses 2:10, parece claro que está falando de poderes espirituais. Por exemplo, na mesma passagem, somente quatro versículos depois, Paulo escreve sobre Jesus: “E, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz” (Cl. 2:15, ênfase adicionada).

Se Jesus é o Cabeça dos poderes e autoridades espirituais, Ele é soberano sobre eles. Essa é uma maravilhosa revelação aos cristãos que vivem em culturas pagãs e animistas e que gastaram parte de suas vidas adorando ídolos com medo dos espíritos malignos que sabiam, reinavam sobre eles.

O Único Meio de Fuga (The Only Way of Escape)

A única maneira de escapar do cativeiro de espíritos malignos é se arrepender e crer no evangelho. Esse é o escape que Deus providenciou. Ninguém pode amarrar as forças demoníacas que pairam sobre cidades e se libertar completamente ou parcialmente. Até que uma pessoa se arrependa e creia no evangelho, ela permanecerá na ira de Deus (veja Jo. 3:36), que inclui estar presa por poderes demoníacos.

É por isso que não há mudanças mensuráveis nas cidades onde as grandes conferências sobre batalhas espirituais acontecem, porque nada aconteceu que tenha realmente afetado as hierarquias demoníacas que reinam sobre essas áreas. Os cristãos podem gritar com os poderes e principados dia e noite; podem tentar atormentar o Diabo com o que chamam de “línguas guerreiras”; podem dizer “eu vos amarro, espíritos malignos de sobre essa cidade” um milhão de vezes; podem até fazer todas essas coisas de aviões ou do andar mais alto dos arranhacéus (como alguns fazem); mas a única coisa que provocarão nos espíritos malignos é fazê-los rir muito dos cristãos tolos.

Vamos prosseguir para o sexto mito moderno sobre batalhas espirituais.

Mito no6: “Batalhas espirituais contra espíritos territoriais abrem as portas para evangelismo efetivo”. (Myth #6: “Spiritual warfare against territorial spirits opens the door for effective evangelism.”)

A motivação de muitos cristãos que estão grandemente envolvidos em batalhas espirituais contra espíritos territoriais é seu desejo de ver o Reino de Deus crescer. Por isso devem ser elogiados. Todos os cristãos devem desejar ver mais pessoas escaparem das garras de Satanás.

Contudo, é importante que usemos os métodos de Deus para construirmos Seu Reino. Deus sabe o que funciona e o que é perca de tempo. Ele tem nos falado exatamente quais são nossas responsabilidades a respeito da expansão de Seu Reino. Pensar que podemos fazer algo que multiplicará a efetividade de nosso evangelismo, algo que não está nas Escrituras ou que Jesus, Pedro ou Paulo nunca praticaram em seus ministérios, é besteira.

Por que tantos cristãos pensam que batalhas espirituais podem abrir as portas para o evangelismo efetivo?Sua linha de raciocínio é algo parecido com isso: “Satanás tem cegado as mentes dos pecadores; portanto, precisamos fazer batalhas espirituais contra ele para impedir que faça isso. Uma vez que os tapa-olhos sejam retirados, mais pessoas crerão no evangelho”. Isso é verdade?

Com certeza, não há dúvida de que Satanás tem cegado as mentes dos descrentes. Paulo escreveu:

Mas se o nosso evangelho está encoberto, para os que estão perecendo é que está encoberto. O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes. Para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus (2 Co. 4:3-4).

A questão é, Paulo deu essa informação aos crentes de Corínto com a intenção de motivá-los a fazerem batalhas espirituais e derrubar espíritos territoriais, para que pessoas incrédulas se tornassem mais receptivas?

A resposta é não por vários motivos óbvios.

Primeiro, porque Paulo não continuou dizendo: “Portanto coríntios, porque Satanás tem cegado as mentes dos ímpios, quero que vocês façam batalhas espirituais e derrubem espíritos territoriais para que os tapa-olhos sejam removidos”. Em vez disso, a próxima coisa que mencionou foi sua pregação de Cristo, que é a maneira de remover a cegueira espiritual.

Segundo, em nenhuma de suas cartas Paulo instruiu qualquer crente a se envolver em derrubar fortalezas de sobre suas cidades para que o evangelismo crescesse.

Terceiro, depois de ler todas as cartas de Paulo sabemos que ele não acreditava que os tapa-olhos de Satanás eram o motivo principal do porquê os descrentes continuavam a não crer. Os tapa-olhos de Satanás contribuem, mas não são o único ou principal fator. O principal fator que mantém as pessoas incrédulas é a dureza de seus corações. Isso é óbvio pelo simples motivo de que Satanás não é capaz de manter todos cegos. Algumas pessoas, quando ouvem a verdade, creem e, portanto, rejeitam qualquer mentira em que acreditavam. Não é que os tapa-olhos de Satanás causam a falta de crença, mas sim a falta de crença que permite os tapa-olhos de Satanás.

Corações Duros (Callous Hearts)

Em sua carta aos efésios, o apóstolo Paulo explicou exatamente porque os ímpios permanecem na falta de crença:

Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento [talvez uma referência aos tapa-olhos de Satanás] e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração. Tendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza (Ef. 4:17-19, ênfase adicionada).

Paulo disse que os incrédulos estão excluídos da vida de Deus “por causa da ignorância em que estão”. Mas por que são ignorantes?Por que foram “obscurecidos no entendimento”?A resposta é: “devido ao endurecimento do seu coração”. Eles perderam a “sensibilidade”. Essa é a razão principal do porquê as pessoas continuarem descrentes. [3] Elas são as culpadas. Satanás só fornece as mentiras que querem acreditar.

A parábola de Jesus do semeador e do solo ilustra esse conceito perfeitamente:

O semeador saiu a semear. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram… Este é o significado da parábola: A semente é a palavra de Deus. As que caíram à beira do caminho são os que ouvem, e então vem o Diabo e tira a palavra do seu coração, para que não creiam e não sejam salvos (Lc. 8:5, 11-12).

Note que a semente, que representa o evangelho, caiu na beira da estrada e foi pisada. Ela não pôde penetrar no solo duro onde as pessoas andavam com frequência. Portanto, foi fácil para que pássaros, que representam o Diabo, a roubassem.

O objetivo da parábola é comparar a condição dos corações das pessoas (e sua receptividade à Palavra de Deus) a vários tipos de solo. Jesus estava explicando por que algumas pessoas creem e outras não: tudo depende delas.

Como Satanás aparece nessa imagem? Ele só é capaz de roubar a Palavra daqueles que estão com o coração duro. Os pássaros da parábola só foram uma causa secundária do porquê as sementes não germinaram. O problema principal era o solo; na verdade, foi a dureza do solo que tornou possível que os pássaros pegassem as sementes.

Isso também se aplica ao evangelho. O problema real é a dureza dos corações dos agentes morais. Quando as pessoas rejeitam o evangelho, elas tomam a decisão de continuarem cegas. Elas preferem acreditar em mentiras do que na verdade. Como Jesus disse: “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas obras eram más” (Jo. 3:19, ênfase adicionada).

A Bíblia não nos leva a acreditar que as pessoas são sinceras e de bom coração e que certamente acreditariam no evangelho, se Satanás simplesmente parasse de cegá-las. Pelo contrário, ela nos dá uma imagem bem escura do caráter humano, e Deus cobrará cada um por suas escolhas pecaminosas. Sentado em Seu trono de julgamento, Ele não aceitará a desculpa: “o Diabo me fez fazer isso”.

Como Satanás Cega as Mentes das Pessoas (How Satan Blinds People’s Minds)

Como exatamente Satanás cega as mentes das pessoas?Ele tem algum poder espiritual místico que derrama sobre a cabeça das pessoas para entorpecer seu entendimento?Um demônio enfia suas garras em seus cérebros, causando um curto-circuito em seu pensamento racional?Não, Satanás cega as pessoas fornecendo-lhes mentiras em que acreditem.

Obviamente, se as pessoas realmente acreditassem na verdade que Jesus é o Filho de Deus que morreu por seus pecados, se realmente acreditassem que um dia terão que comparecer diante dEle para prestar contas de suas vidas, então se arrependeriam e se tornariam seguidoras dEle. Mas não acreditam nessas coisas; porém, acreditam em algo. Podem acreditar que não há um Deus ou que não há vida após a morte. Podem acreditar em reencarnação ou que Deus nunca mandaria alguém para o inferno. Podem acreditar que suas obras as levarão ao céu. Mas não importa no que acreditam, se não for no evangelho, pode ser resumido em um palavra: mentiras. Elas não acreditam na verdade e, portanto, Satanás as mantém cegas através de mentiras. Se, contudo, elas se humilharem e acreditarem na verdade, Satanás não será capaz de cegá-las mais.

As Mentiras das Trevas (The Lies of Darkness)

O reino de Satanás é mencionado nas Escrituras como o “domínio das trevas” (Cl. 1:13). As trevas, é claro, representam a ausência da verdade — a ausência de luz ou claridade. Quando você está nas trevas, caminha de acordo com a sua imaginação e normalmente acaba ferido. É assim no reino de trevas de Satanás. Os que estão lá levam suas vidas de acordo com suas imaginações e estas foram contaminadas pelas mentiras de Satanás. Estão em trevas espirituais.

Portanto, o reino de Satanás é melhor definido, não como um reino geográfico com fronteiras definidas, mas como um reino de crença — isto é, de mentiras. O reino das trevas está localizado no mesmo lugar que o reino de luz. Os que acreditam na verdade vivem entre os que acreditam em mentiras. [4] Nosso trabalho principal é proclamar a verdade às pessoas que já acreditam em mentiras. Quando alguém crê na verdade, Satanás perde outro servo, pois não é mais capaz de enganá-lo.

Portanto, libertamos os pecadores das mãos de Satanás, não por “amarrar” os espíritos que estão sobre eles, mas por proclamar a verdade. Jesus disse: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo. 8:32, ênfase adicionada). A verdade cura a cegueira espiritual.

Dentro dessa mesma passagem das Escrituras no evangelho de João, Jesus disse a uma multidão de ímpios:

Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira. No entanto, vocês não crêem em mim, porque lhes digo a verdade (Jo. 8:44-45, ênfase adicionada).

Note o contraste que Jesus fez entre Ele e o Diabo. Ele fala a verdade; Satanás é o primeiro mentiroso.

Note também que mesmo Jesus tendo falado a Seus ouvintes que tinham como pai o Diabo, e mesmo tendo exposto Satanás como mentiroso, ainda colocou sobre eles a responsabilidade de crerem na verdade que falava. Não era por culpa do Diabo que eles estavam cegos — a culpa era deles. Jesus os considerou responsáveis. Satanás ajuda as pessoas que “amam as trevas” a permanecerem nas trevas fornecendo a elas mentiras nas quais acreditem. Mas Satanás não pode enganar ninguém que crê na verdade.

Tudo isso sendo verdade, a principal maneira de atrapalharmos o reino das trevas é espalhando a luz — a verdade da Palavra de Deus. É por isso que Jesus não falou: “Vão a todo o mundo e amarrem o Diabo”, mas: “Vão a todo o mundo e preguem o evangelho”. Jesus disse a Paulo que o objetivo de sua pregação seria “abrir-lhes os olhos e convertê-los das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus” (At. 26:18, ênfase adicionada). Isso deixa claro que as pessoas fogem do domínio de Satanás quando são expostas à verdade do evangelho e tomam a decisão de saírem das trevas e irem para a luz, crendo na verdade ao invés de em uma mentira. As únicas fortalezas que estamos “derrubando” são fortalezas de mentiras construídas nas mentes das pessoas.

Este é o Plano de Deus (This is God’s Plan)

Não se esqueça que foi Deus quem lançou Satanás do céu para a terra. Ele poderia ter colocado Satanás em qualquer lugar do universo ou tê-lo encarcerado para sempre. Mas não fez isso. Por quê? Porque Deus queria usar Satanás para alcançar Seu objetivo final — o objetivo de, um dia, ter uma grande família de agentes morais livres que O amem, tendo escolhido servi-Lo.

Se Deus queria uma família de filhos que O amassem, duas coisas eram necessárias. Primeiro, teria que criar pessoas com o livre arbítrio, pois a base do amor é o livre arbítrio. Robôs e máquinas não podem amar.

Segundo, teria que testá-los em um ambiente onde teriam que enfrentar a escolha de obedecer ou desobedecer; amá-Lo ou odiá-Lo. Agentes morais livres devem ser testados. E se haverá um teste de fidelidade, deverá existir uma tentação à infidelidade. Assim, começamos a entender porque Deus colocou Satanás na terra. Satanás serviria como a escolha alternativa para a fidelidade humana; sendo-lhe permitido (com algumas limitações) influenciar qualquer um receptivo às suas mentiras. Todos enfrentariam uma escolha: Acreditarei em Deus ou em Satanás? Servirei a Deus ou a Satanás? Percebendo ou não, todos já fizeram uma escolha. Nosso trabalho é encorajar as pessoas que tomaram a decisão errada a se arrependerem e acreditarem no evangelho, tomando a decisão certa.

Não foi isso o que aconteceu no Jardim do Éden? Deus colocou a árvore do conhecimento do bem e do mal ali e então proibiu que Adão e Eva comessem dela. Se Deus não queria que comessem dela, por que a colocou ali? A resposta é que ela servia como um teste.

Também notamos que Satanás recebeu permissão de Deus para tentar Eva. Novamente, se a fidelidade precisa ser testada, deve existir a tentação para ser infiel. Satanás mentiu para Eva e ela acreditou nele; portanto, ao mesmo tempo decidiu não acreditar no que Deus lhe tinha dito. O resultado? Os primeiros agentes morais revelaram a deslealdade que estava em seus corações.

De maneira similar, todos os agentes morais livres são testados no decorrer de suas vidas. Deus se revelou através de Sua criação e, portanto, todos podem ver que existe um Deus incrível (veja Rm. 1:19-20). Deus deu a cada um de nós uma consciência, e em nossos corações, distinguímos o errado do certo (veja Rm. 2:14-16). Foi permitido a Satanás e a seus espíritos malignos que, de maneira limitada, mentissem e tentassem as pessoas. O resultado é que todos os agentes morais livres são testados.

A triste verdade é que todos os agentes morais livres se rebelaram e “trocaram a verdade de Deus pela mentira” (Rm. 1:25). Contudo, podemos agradecer a Deus por ter providenciado para nós um resgate de nossos pecados e uma maneira de nascermos em Sua família. A morte sacrificial de Jesus é o único caminho e a resposta suficiente para o nosso problema.

A Decepção de Satanás, Agora e Mais Tarde (Satan’s Deception, Now and Later)

Então, entendemos pelo menos uma razão do porquê é permitido que o Diabo e seu exército rebelde trabalhem neste planeta: para enganar aqueles que amam as trevas.

Essa verdade é comprovada quando consideramos que, de acordo com o livro de Apocalipse, um dia Satanás será preso por um anjo e encarcerado por mil anos. O motivo desse aprisionamento? “Para assim impedi-lo de enganar as nações” (Ap. 20:3). Durante esse Milênio, Jesus reinará o mundo pessoalmente de Jerusalém.

Mas depois desse mil anos, Satanás será solto por um curto período de tempo. O resultado? Ele “sairá para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra”(Ap. 20:8).

Se Deus não quer que Satanás engane as pessoas naquele tempo, por que Ele o libertará? Especialmente sob a luz de que Deus originalmente encarcerou Satanás “para impedi-lo de enganar as nações”?

É claro que Deus preferiria que Satanás nunca enganasse alguém. Mas Ele sabe que as únicas pessoas a quem Satanás pode enganar são aquelas que rejeitam a verdade, e é por isso que Deus permite que ele opere agora, e permitirá que opere depois. Enquanto Satanás engana as pessoas, a condição dos corações delas é aparente, e então, Deus pode separar o “trigo do joio” (veja Mt. 13:24-30).

Isso é exatamente o que acontecerá no fim do Milênio quando Satanás for solto. Ele enganará todos os que amam as trevas, e então reunirá seus exércitos ao redor de Jerusalém em uma tentativa de acabar com o reinado de Cristo. Deus saberá exatamente quem O ama e quem O odeia, e imediatamente mandará fogo do céu que os devorará (veja Ap. 20:9). Satanás servirá aos propósitos de Deus, assim como faz agora. Por esse motivo, entre outros, é besteira pensar que podemos “derrubar espíritos territoriais”. Deus permite que operem, pois tem Seus motivos.

Evangelismo Bíblico (Biblical Evangelism)

O fato é que nem Jesus nem qualquer um dos apóstolos do Novo Testamento praticaram o tipo de batalha espiritual que alguns dizem ser a chave perdida para o evangelismo efetivo de hoje. Nunca encontramos Jesus, Pedro, João, Estevão, Filipe ou Paulo “derrubando fortalezas” ou “amarrando o homem forte” de sobre as cidades onde pregavam. Ao invés disso, vemos que seguiam o Espírito Santo a respeito de onde deveriam pregar; encontramos esse homens proclamando o evangelho simples — chamando as pessoas ao arrependimento e fé em Cristo — e os encontramos aproveitando os resultados maravilhosos. E nos casos em que pregaram a pessoas não-receptivas que rejeitaram o evangelho, não os vemos “fazendo batalhas espirituais para que Satanás não fosse capaz de continuar cegando suas mentes”. Contudo, os encontramos sacudindo o pó de seus pés, como Jesus mandou e indo para a próxima cidade (veja Mt. 10:14; At. 13:5).

É incrível que alguém possa dizer que “derrubar fortalezas” e “amarrar o homem forte” sejam pré-requisitos ao evangelismo com sucesso, quando existem milhares de exemplos de grandes reavivamentos na história da Igreja onde “batalhas espirituais” nunca foram praticadas.

“Mas nossas técnicas funcionam!”, alguns dizem. “Desde que começamos a fazer esse tipo de batalha espiritual, mais pessoas têm sido salvas que antes”.

Se isso for verdade, lhe direi porquê. Porque têm havido mais orações de acordo com a Bíblia e mais evangelismo feitos ao mesmo tempo, ou porque um grupo de pessoas se tornou repentinamente receptível ao evangelho.

O que você diria se um evangelista lhe dissesse: “Hoje, antes de pregar no culto de reavivamento, comi três bananas. E quando preguei, dezesseis pessoas foram salvas! Finalmente encontrei o segredo do evangelismo efetivo! De agora em diante, sempre comerei três bananas antes de pregar!”?

Com certeza, você diria ao evangelista: “O fato de você ter comido três bananas não influenciou em nada com o fato das dezesseis pessoas terem sido salvas. A chave para o seu sucesso é que você pregou o evangelho e havia dezesseis ouvintes receptivos”.

Deus honra Sua Palavra. Se Ele fizer uma promessa e alguém se encaixar naquela promessa em particular, manterá Sua promessa, mesmo que essa pessoa esteja fazendo outras coisas não-bíblicas.

Isso se aplica às atuais práticas de batalhas espirituais. Se você começar a evangelizar e a “amarrar o homem forte” que está sobre sua cidade, certa porcentagem de pessoas será salva. E se começar a evangelizar sem amarrar o homem forte, a mesma porcentagem de pessoas será salva.

Como Orar Biblicamente por uma Colheita Espiritual (How to Pray Scripturally for a Spiritual Harvest)

Como devemos orar por pessoas incrédulas? Primeiro, devemos entender que não há instrução no Novo Testamento que nos diga como orar para que Deus salve pessoas, nem há registros dos

Mordomia

Capítulo Trinta e Dois (Chapter Thirty-Two)

 

No capítulo sobre o Sermão do Monte, consideramos algumas palavras que Jesus falou a Seus discípulos a respeito de mordomia. Ele lhes disse para não acumular tesouros na terra, mas no céu. Mostrou a tolice daqueles que investem em tesouros temporais e também as trevas que há em seus corações (veja Mt. 6:19-24).

O dinheiro é o verdadeiro deus dos que acumulam tesouros na terra, pois lhe servem e ele reina sobre suas vidas. Jesus declarou que é impossível servir a Deus e ao dinheiro, indicando claramente que se Deus é nosso verdadeiro Mestre, também é Mestre de nosso dinheiro. O dinheiro, mais que qualquer outra coisa, compete com Deus pelo coração das pessoas. Sem dúvida, é por isso que Jesus ensinou que não podemos ser Seus discípulos, a menos que abramos mão de todas as nossas posses (veja Lc. 14:33). Os discípulos de Cristo nada têm; são simplesmente mordomos do que é de Deus, e Ele gosta de fazer coisas com Seu dinheiro que reflitam Seu caráter e Seu reino.

Jesus tinha muito a dizer a respeito de mordomia, mas parece que, muitas vezes, Suas palavras são ignoradas por aqueles que dizem ser Seus seguidores. Ainda mais popular é o torcer das Escrituras para fabricar a moderna “doutrina da prosperidade” em suas muitas formas, delicada e primitiva. Contudo, o ministro discipulador, deseja ensinar as pessoas a obedecerem a todos os mandamentos de Cristo. Portanto, ele ensinará através de seu exemplo e de suas palavras, a mordomia bíblica.

Vamos considerar o que as Escrituras ensinam sobre a mordomia, e ao mesmo tempo, expor alguns dos exemplos mais comuns de falsos ensinamentos sobre a prosperidade. De forma alguma, esse será um estudo exaustivo. Escrevi um livro inteiro sobre esse assunto que está disponível à leitura em inglês em nosso site (SheperdServe.org). Ele pode ser encontrado abaixo do título “Biblical Topics” e do subtítulo “Jesus on Money”.

O Supridor das Necessidades (The Supplier of Needs)

Começando com algo positivo, lembramos que Paulo, sob a inspiração do Espírito Santo, escreveu: “O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” (Fp. 4:19). Essa promessa familiar é muitas vezes citada e exigida por pessoas que se dizem cristãs; mas qual é o contexto? Quando lemos dentro do contexto, logo descobrimos a razão de Paulo ter sido tão confiante que Deus supriria todas as necessidades dos crentes de Filipo:

Apesar disso, vocês fizeram bem em participar de minhas tribulações. Como vocês sabem, filipenses, nos seus primeiros dias no evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja partilhou comigo no que se refere a dar e receber, exceto vocês; pois, estando eu em Tessalônica, vocês me mandaram ajuda, não apenas uma vez, mas duas, quando tive necessidade. Não que eu esteja procurando ofertas, mas o que pode ser creditado na conta de vocês. Recebi tudo, e o que tenho é mais que suficiente. Estou amplamente suprido, agora que recebi de Epafrodito os donativos que vocês enviaram. São uma oferta de aroma suave, um sacrifício aceitável e agradável a Deus. O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus (Fp. 4:14-19, ênfase adicionada).

Paulo tinha certeza que Jesus realmente supriria as necessidades dos filipenses porque tinham preenchido a condição de Jesus: Estavam buscando em primeiro lugar o Reino de Deus, o que foi provado pelas ofertas sacrificiais a Paulo para que pudesse continuar plantando igrejas. Lembre-se que no Sermão do Monte, Jesus disse:

O Pai celestial sabe que vocês precisam delas [“dessas coisas”]. Busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas (Mt. 6:32-33).

Portanto, vemos que a promessa de Paulo em Filipenses 4:19 não se aplica a todos os cristãos que a citam e a exigem. Ao invés disso, só se aplica àqueles que estão buscando em primeiro lugar o Reino de Deus.

Do que Realmente Precisamos? (What Do We Really Need?)

Há algo mais que podemos aprender da promessa de Jesus em Mateus 6:32-33. Às vezes temos dificuldade em distinguir nossas necessidades de nossas vontades. Contudo, Jesus definiu quais são nossas necessidades. Ele disse: “O Pai celestial sabe que vocês precisam delas [“dessas coisas”]”.

Quais são essas “coisas” das quais Jesus se referiu que seriam acrescentadas àqueles que buscam primeiro o Reino de Deus e a Sua justiça? São comida, bebida e roupas. Ninguém pode discutir sobre isso, pois foi isso que Jesus disse antes de fazer a promessa sob consideração (veja Mt. 6:25-31). Comida, bebida e roupas são nossas únicas necessidades materiais. Na verdade, essas são as únicas coisas que Jesus e Seus discípulos viajantes possuíam.

É evidente que Paulo concordava com a definição de Jesus sobre nossas necessidades, já que escreveu a Timóteo:

De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos. Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos (1 Tm. 6:6-10, ênfase adicionada).

Paulo acreditava que as únicas coisas materiais que realmente precisamos são comida e roupas, caso contrário não teria dito que deveríamos ficar satisfeitos com essas coisas somente. Isso nos leva a uma perspectiva um pouco diferente a respeito de Sua promessa aos filipenses de que Deus supriria suas necessidades! Pela forma como alguns pregadores explicam esse versículo, daria para pensar que ele diz: “O meu Deus suprirá todas as cobiças de vocês”! Além do mais, se devemos nos alegrar somente com comida e roupas, não devemos nos alegrar muito mais com o que realmente temos, o que para a maioria de nós é muito mais que somente comida e roupas?

Descontentamento (Discontentment)

Nosso problema é que pensamos que necessitamos de muito mais do que aquilo que realmente precisamos. Considere o fato de que quando Deus criou Adão e Eva eles não possuíam nada, e mesmo assim moravam no paraíso. Obviamente, Deus não planejou que obtivéssemos felicidade por causa das coisas materiais que juntamos. Você já pensou que Jesus nunca abriu uma torneira ou ficou embaixo de um chuveiro em um banheiro? Ele nunca lavou Suas roupas em uma máquina de lavar; nunca abriu a porta de uma geladeira. Ele nunca dirigiu um carro ou mesmo andou de bicicleta. Nenhuma vez ouviu rádio, falou com alguém pelo telefone, usou um fogão ou pregou por meio de um sistema de autofalante. Ele nunca assistiu a um filme ou a um programa de televisão, nunca acendeu uma lâmpada ou se refrescou na frente de um ar-condicionado ou ventilador. Ele nunca teve um relógio de pulso. Nunca teve um armário cheio de roupas. Como pôde ser feliz?

Nos Estados Unidos (e talvez em seu país também), somos bombardeados com propagandas que nos mostram pessoas felizes enquanto usam seus novos bens materiais. Consequentemente, recebemos uma lavagem cerebral para pensarmos que conseguiremos felicidade se comprarmos mais; mas independente do quanto acumulamos, nunca ficamos felizes. Foi a isso que Jesus se referiu como “o engano das riquezas” (Mt. 13:22). Coisas materiais prometem felicidade, mas raramente cumprem a promessa. E quando nos juntamos à corrida maluca do mundo para adquirir mais bens materiais, na verdade nos tornamos mais idólatras, escravos de Mamom, que se esquecem de Deus e de Seus mandamentos mais importantes que são amar a Ele de todo o coração e ao próximo como a si mesmo. Deus exortou Israel a respeito disso:

Tenham o cuidado de não se esquecer do Senhor, o seu Deus, deixando de obedecer aos seus mandamentos, às suas ordenanças e aos seus decretos que hoje lhes ordeno. Não aconteça que, depois de terem comido até ficarem satisfeitos, de terem construído boas casas e nelas morado, de aumentarem os seus rebanhos, a sua prata e o seu ouro, e todos os seus bens, o seu coração fique orgulhoso e vocês se esqueçam do Senhor, o seu Deus, que os tirou do Egito, da terra da escravidão (Dt. 8:11-14).

Da mesma forma, Jesus advertiu que “o engano das riquezas” tem o potencial de sufocar a vida espiritual de um verdadeiro crente que se permite ser distraído (veja Mt. 13:7, 22). Paulo avisou que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” e disse que “Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos” (1 Tm. 6:10). Somos exortados pelo autor do livro de Hebreus: “Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: ‘Nunca o deixarei, nunca o abandonarei’” (Hb. 13:5). Esses são somente exemplos das exortações das Escrituras a respeito do perigo das riquezas.

Quando o Dinheiro é o Senhor (When Money is Master)

Talvez não haja melhor medidor do nosso relacionamento com Deus que nossa relação com o dinheiro. Ele — o tempo e os meios que usamos para adquiri-lo e o que fazemos com ele — revela muito sobre nossas vidas espirituais. Dinheiro, quando o temos ou não, é o maior combustível para tentações. Ele pode facilmente entrar em choque com os dois maiores mandamentos, já que pode se tornar um deus acima do único Deus, e pode nos tentar a amarmos mais a nós e menos ao nosso próximo. Por outro lado, o dinheiro pode ser usado como um meio de provarmos nosso amor a Deus e ao nosso próximo.

Uma vez Jesus contou uma parábola sobre um homem que permitiu que o dinheiro, e não Deus, reinasse sobre ele:

A terra de certo homem rico produziu muito. Ele pensou consigo mesmo: “O que vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita”. Então disse: “Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus celeiros e construir outros maiores, e ali guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E direi a mim mesmo: ‘Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se’”. Contudo, Deus lhe disse: “Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?” Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus. (Lc. 12:16-21).

Jesus retrata esse homem rico como um tolo. Mesmo sendo abençoado com riquezas, terra produtiva e habilidades com agricultura, ele não conhecia a Deus, caso contrário não teria pensado em guardar os excessos e se aposentar, tendo uma vida de sossego e prazer egoísta. Ao invés disso, teria buscado o Senhor a respeito do que deveria fazer com sua bênção, sabendo que era somente mordomo de Deus. Deus, é claro, iria querer que dividisse sua colheita e continuasse trabalhando para que pudesse continuar a compartilhar. Talvez, a outra (e única) alternativa aceitável seria parar de cultivar a terra e dedicar o resto de sua vida a um ministério que ele mesmo sustentasse, se fosse esse o chamado de Deus para ele.

O agricultor rico da parábola de Jesus fez um grande erro ao calcular o dia de sua morte. Ele assumiu que tinha muitos anos pela frente, enquanto estava a somente algumas horas da eternidade. O ponto que Jesus quer destacar é inconfundível: Devemos viver cada dia como se fosse o último, sempre prontos para ficarmos diante de Deus e prestar contas.

Duas Perspectivas (Two Perspectives)

A perspectiva de Deus é tão diferente da do homem! O homem rico da parábola de Jesus seria invejado por quase todos que o conheciam; ainda assim, Deus tinha pena dele. Ele era rico aos olhos dos homens, mas pobre aos olhos de Deus. Ele poderia ter acumulado tesouros no céu, onde seriam sempre dele, mas escolheu acumulá-los na terra onde não tinham o menor valor para ele a partir do momento em que morreu. À luz do que Jesus ensinou sobre pessoas avarentas, não parece provável que Jesus quisesse que pensássemos que o homem rico foi para o céu quando morreu.

Essa parábola deve nos ajudar a lembrar que tudo o que temos é um presente de Deus e Ele espera que sejamos mordomos fiéis. Ela tem aplicação não somente para os que têm riquezas materiais, mas para qualquer um que for tentado a dar muita importância às coisas materiais. Jesus deixou isso bem claro quando continuou falando a Seus discípulos.

Portanto [isso significa que o que Ele diria em seguida era baseado no que tinha acabado de falar] eu lhes digo: Não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. A vida é mais importante do que a comida, e o corpo, mais do que as roupas. Observem os corvos: não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros; contudo, Deus os alimenta. E vocês têm muito mais valor do que as aves! Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Visto que vocês não podem sequer fazer uma coisa tão pequena, por que se preocupar com o restante? Observem como crescem os lírios. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, quanto mais vestirá vocês, homens de pequena fé! Não busquem ansiosamente o que comer ou beber; não se preocupem com isso. Pois o mundo pagão é que corre atrás dessas coisas; mas o Pai sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas. Não tenham medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-lhes o Reino.

Vendam o que têm e dêem esmolas. Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe, onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói. Pois onde estiver o seu tesouro, ali também estará o seu coração (Lc. 12:22-34).

As palavras de Jesus vão contra as dos modernos “pregadores da prosperidade”! Hoje nos dizem que Deus quer que tenhamos mais, enquanto Jesus mandou Seus discípulos venderem o que tinham e dar aos pobres! Ele novamente expôs a tolice dos que acumulam tesouros na terra — onde esses tesouros são destinados a perecer e onde estão os corações dos que possuem esses tesouros.

Note que Jesus aplicou a lição do tolo rico a pessoas que tinham tão pouco que eram tentadas a se preocupar com comida e roupas. A preocupação com tais coisas mostra que nosso foco está errado. Se confiarmos em nosso Pai provedor como devemos, não vamos nos preocupar, e essa atitude despreocupada nos libera para focarmos em construir o Reino de Deus.

O Exemplo de Cristo (Christ’s Example)

Jesus tinha muitas outras coisas para dizer a respeito de dinheiro. Contudo, ele ensinou, assim como todos os ministros discipuladores devem, através do exemplo. Ele pregava o que praticava. Como Jesus viveu?

Jesus não acumulou tesouros terrenos, mesmo que pudesse ter facilmente explorado Sua situação e se tornado extremamente rico. Muitos ministros abençoados assumem erroneamente que, se seus ministérios estão atraindo dinheiro, é porque Deus quer que eles sejam ricos. Contudo, Jesus não usou Sua unção para o ganho pessoal.

O dinheiro que Lhe foi dado foi usado para fazer discípulos. E até mesmo supria as necessidades dos que viajavam com Ele e daqueles que discipulava.[1] Em nossos dias, na maioria das vezes, jovens discípulos precisam pagar o transporte para serem ensinados pelos ministros mais velhos em escolas bíblicas. Mas Jesus deixou como exemplo o oposto!

Jesus também levou uma vida de confiança, crendo que Seu Pai supriria todas as Suas necessidades e o abençoaria para que pudesse suprir as necessidades de outros. Algumas vezes O convidavam para jantar em banquetes, e outras vezes O encontramos comendo grãos crus em um campo (veja Lc. 6:1).

Em pelo menos duas ocasiões Ele providenciou comida para milhares de pessoas que foram ouvi-Lo. Isso é tão diferente das conferências cristãs modernas onde todos os que querem ouvir o palestrante precisam pagar uma taxa! Às vezes, até riem de nós que damos comida aos que comparecem às nossas conferências ministeriais, pois dizem que estamos “pagando as pessoas para que nos ouçam”. Na verdade, estamos seguindo o modelo do Mestre.

Jesus também cuidava dos pobres, já que Seu grupo tinha uma bolsa de dinheiro da qual retiravam para dar esmolas. Dar aos pobres era algo tão regular no ministério de Jesus que quando Ele mandou Judas fazer rápido o que tinha que fazer, todos os outros discípulos assumiram enquanto ele saída da última ceia, que estava indo comprar comida para o grupo ou dar dinheiro aos pobres (veja Jo. 13:27-30).

Jesus realmente amava Seu próximo como a Si mesmo, portanto, vivia simplesmente e compartilhava; Ele não precisou se arrepender. A pregação de João Batista dizia: “Quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma” (Lc. 3:11). Jesus só tinha uma túnica.

Mas alguns pregadores da prosperidade tentam nos convencer de que Jesus era rico porque usava uma túnica sem costura (veja Jo. 19:23), algo supostamente usado somente por pessoas ricas. É incrível os significados que podem ser encontrados em um texto bíblico se alguém quer provar algo que contradiz muitas outras passagens! Podemos também chegar à conclusão igualmente absurda de que Jesus estava tentando esconder Sua riqueza, já que não usava uma capa sem costura.

Jesus tinha tantas coisas mais para falar sobre dinheiro que não temos espaço para considerá-las. Contudo, vamos dar uma olhada em mais alguns ensinamentos de pregadores modernos da prosperidade que são tão adeptos de torcer as Escrituras e enganar os mais fracos.

Deus Fez Salomão Rico (“God Made Solomon Rich”)

Essa é a justificação que muitos pregadores da prosperidade usam para disfarçar sua avareza. Eles esquecem que Deus deu riquezas a Salomão por um motivo. A razão é que quando Deus prometeu a Salomão que daria a ele qualquer coisa, Salomão pediu por sabedoria para reinar sobre o povo. Deus ficou tão feliz por Salomão não ter pedido por riquezas (entre outras coisas) que juntamente com a sabedoria também deu riquezas. Contudo, Salomão não usou sua sabedoria como Deus tinha planejado e consequentemente se tornou o homem mais tolo que já existiu. Se tivesse sido sábio, teria dado ouvidos ao que Deus disse a Israel na Lei muito antes de ter nascido:

Se quando entrarem na terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá, tiverem tomado posse dela, e nela tiverem se estabelecido, você disserem: “Queremos um rei que nos governe, como têm todas as nações vizinhas”, tenham o cuidado de nomear o rei que o Senhor, o seu Deus, escolher. Ele deve vir dentre os seus próprios irmãos israelitas. Não coloquem um estrangeiro como rei, alguém que não seja israelita. Esse rei, porém, não deverá adquirir muitos cavalos, nem fazer o povo voltar ao Egito para conseguir mais cavalos, pois o Senhor lhes disse: “Jamais voltem por este caminho”. Ele não deverá tomar para si muitas mulheres; se o fizer, desviará o seu coração. Também não deverá acumular muita prata e muito ouro (Dt. 17:14-17).

Aqui está outra passagem que os pregadores da prosperidade sempre ignoram, seguindo o exemplo de Salomão, que também a ignorou para sua própria morte. E assim como ele, também se tornam idólatras. Lembre-se de que o coração de Salomão foi desviado por suas muitas esposas para adorar ídolos, esposas que só pôde sustentar por causa do uso impróprio de suas riquezas.

Deus queria que Salomão usasse suas riquezas dadas por Deus para amar seu próximo como a si mesmo, mas Salomão as usou para amar somente a si próprio. Ele adquiriu mais ouro, prata, cavalos e esposas para si, desobedecendo diretamente o mandamento de Deus. No fim, ele tinha setecentas esposas e trezentas concubinas, fazendo assim com que mil homens ficassem sem esposas. Ao invés de dar aos pobres, Salomão satisfez a si mesmo. É incrível que pregadores da prosperidade tenham Salomão como modelo para todos os cristãos da nova aliança em vista de seu egoísmo e idolatria. Nosso objetivo não é nos tornarmos como Cristo?

“Deus Fez de Abraão um Homem Rico e Suas Bênçãos Também se Extendem a Nós” (“God Made Abraham Rich, and Abraham’s Blessings Are Promised To Us”)

Essa justificação é firmada na palavra de Paulo encontrada no terceiro capítulo de Gálatas. Citarei o versículo, que muitas vezes é mal interpretado, mas dentro do contexto.

Prevendo a Escritura que Deus justificaria os gentios pela fé, anunciou primeiro as boas novas a Abraão: “Por meio de você todas as nações serão abençoadas”. Assim, os que são da fé são abençoados junto com Abraão, homem de fé.

Já os que se apoiam na prática da Lei estão debaixo de maldição, pois está escrito: “Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei”. É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela Lei, pois o justo viverá pela fé. A Lei não é baseada na fé, ao contrário, “quem praticar estas coisas, por elas viverá”. Cristo nos redimiu da maldição da Lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: “Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro”. Isso para que em Cristo Jesus a bênção de Abraão chegasse também aos gentios, para que recebêssemos a promessa do Espírito mediante a fé (Gl. 3:8-14, ênfase adicionada).

A “bênção de Abraão” sobre a qual Paulo escreve no versículo 14 era a promessa de Deus de que todas as nações seriam abençoadas através de Abraão (o que Paulo disse no versículo 8), ou de forma mais específica, como Paulo explicou alguns versículos mais tarde, através do descendente de Abraão, Jesus (Gl. 3:16). De acordo com o que acabamos de ler, Jesus entregou a bênção prometida a todas as nações ao ser amaldiçoado por Deus, morrendo pelos pecados do mundo na cruz. Então, a bênção de Abraão que chega aos gentios não é a respeito de Deus tornar as pessoas ricas materialmente como ele, mas a respeito da promessa de Deus a Abraão de abençoar os gentios através de seu descendente — e seu cumprimento por Jesus através de Sua morte na cruz por eles. (O tema predominante de Paulo aqui é que os gentios podem ser salvos, assim como os judeus, pela fé em Jesus.)

Outra Torcida (Another Twisting)

Essa mesma passagem é muitas vezes usada de forma distorcida por pregadores da prosperidade para justificar sua doutrina. Eles dizem que, porque a Lei prometeu a maldição da pobreza para aqueles que não a cumprissem (veja Dt. 28:30-31, 33, 38-40, 47-48, 51, 68), e porque Paulo escreveu que “Cristo nos redimiu da maldição da Lei” em Gálatas 3:13, nós que estamos em Cristo fomos redimidos da maldição da pobreza.

Em primeiro lugar, é questionável que Paulo estivesse pensando nas maldições específicas encontradas em Deuteronômio 28 quando escreveu sobre a “maldição da Lei” da qual Cristo nos redimiu. Note que Paulo não disse que Cristo nos redimiu das “maldições” (plural) da Lei, mas da “maldição” (singular), talvez dando a entender que toda a Lei era uma maldição aos que tentassem encontrar a salvação cumprindo-a. Uma vez que somos redimidos por Cristo, não cometeríamos mais esse erro e, portanto, estaríamos redimidos da “maldição da Lei”.

Se Paulo estivesse realmente dizendo que Cristo nos redimiu de todas as coisas desastrosas citadas em Deuteronômio 28, garantindo assim nossa prosperidade material, teríamos que nos perguntar por que Paulo escreveu sobre si mesmo: “Até agora estamos passando fome, sede e necessidade de roupas, estamos sendo tratados brutalmente, não temos residência certa” (1 Co. 4:11). Também teríamos que nos perguntar por que Paulo escreveria:

Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: “Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro” (Rm. 8:35-36).

Obviamente, Paulo não teria escrito essas palavras se todos os cristãos fossem isentos de sofrerem perseguição, fome, nudez, perigo ou espada em virtude de Cristo ter nos redimido da maldição da Lei.

Também teríamos que nos perguntar por que Jesus predisse a seguinte cena celestial:

Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita? “Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram”. Então os justos lhe responderão: “Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos; ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?” O Rei responderá: “Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mt. 25:34-40, ênfase adicionada).

Portanto, não há dúvida de que alguns dos crentes que foram redimidos da “maldição da Lei” se encontrarão em circunstâncias não tão prósperas. Note, contudo, que nas circunstâncias que Jesus descreveu, Deus proveu as necessidades dos crentes que sofriam, e o fez através de outros crentes que tinham mais do que precisavam. Podemos sempre esperar que Deus suprirá nossas necessidades, mesmo que, temporariamente, pareça que não.

Finalmente, esses pregadores da prosperidade que querem ser ricos como Abraão devem se perguntar com sinceridade se querem morar em uma tenda por toda a vida sem eletricidade ou água corrente! Deus esperava que aqueles a quem abençoava com riquezas no Velho Testamento usassem suas riquezas para a Sua glória, compartilhando de sua abundância com outros. Abraão fez isso, fornecendo emprego a centenas de pessoas, o que supria suas necessidades (veja Gn. 14:14). Jó também fez isso, e ainda testificou usando sua riqueza cuidando das viúvas e dos órfãos (veja Jó 29:12-13, 31:16-22). Os que têm como dom construir empresas devem se certificar que seu alvo principal é obedecer a Deus e amar seu próximo como a si mesmo.

“As Escrituras Dizem que Jesus se Tornou Pobre Para que Nós nos Tornássemos Ricos” (“Scripture Says That Jesus Became Poor So That We Could Become Rich”)

Realmente, a Bíblia diz:

Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos (2 Co. 8:9).

É argumentado que já que essa passagem obviamente diz que Jesus era materialmente rico no céu e se tornou materialmente pobre na terra, Paulo tinha em mente riqueza material quando escreveu que seus leitores podem se tornar ricos através da pobreza de Cristo. Eles dizem que, se Paulo estava falando de riqueza e pobreza materiais na primeira parte do versículo, certamente não falaria de riquezas espirituais na segunda parte.

Contudo, se Paulo realmente quis dizer que nos tornaríamos materialmente ricos por causa da pobreza material de Cristo, devemos nos perguntar por que escreveu alguns versículos mais adiante na mesma carta:

Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez (2 Co. 11:27).

Se em 2 Coríntios 8:9 Paulo quis dizer que Cristo se tornou materialmente pobre para que pudéssemos nos tornar materialmente ricos, então, o propósito de Cristo não estava sendo cumprido na vida de Paulo! Logo, é óbvio que Paulo não quis dizer que Cristo se tornou materialmente pobre para que pudéssemos nos tornar materialmente ricos nessa terra. Ele quis dizer que nos tornaríamos espiritualmente ricos, “ricos para com Deus”, tomando emprestada uma expressão usada por Jesus (veja Lc. 12:21), e ricos nos céu, onde estão nossos tesouros e nosso coração.

É realmente seguro assumir que, porque Paulo falava de riqueza material em uma parte de uma frase não poderia falar de riqueza espiritual em outra parte dessa frase, como os pregadores da prosperidade dizem? Considere as seguintes palavras que Jesus falou a alguns de Seus seguidores na cidade de Esmirna:

Conheço as suas aflições e a sua pobreza; mas você é rico (Ap. 2:9a)!

Está claro que Jesus estava falando da pobreza material que os crentes de Esmirna estavam enfrentando, e apenas quatro palavras depois falava da riqueza espiritual desses mesmo crentes.

“Jesus Prometeu Devolver Cem Vezes Mais do que Damos” (“Jesus Promised a Hundred-Fold Return on Our Giving”)

Jesus prometeu dar cem vezes mais para aqueles que fizessem certos sacrifícios. Vamos ler exatamente o que Ele disse:

Digo-lhes a verdade: Ninguém que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, deixará de receber cem vezes mais, já no tempo presente, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, e com eles perseguição; e, na era futura, a vida eterna (Mc. 10:29-30).

Note que essa não é uma promessa para aqueles que dão dinheiro aos pregadores, como é muitas vezes dito por pregadores da prosperidade. Essa é uma promessa àqueles que deixam casas, campos e família para pregar o evangelho. Jesus prometeu para essas pessoas “cem vezes mais, já no tempo presente”.

Mas Jesus estava prometendo que tais pessoas literalmente se tornariam donas de cem casas ou campos como dizem alguns pregadores da prosperidade? Não mais do que prometia que tais pessoas teriam literalmente cem mães e cem filhos. Jesus estava simplesmente dizendo que os que deixam suas casas e famílias veriam que companheiros cristãos abririam suas casas e os acolheriam como família.

­Note que Jesus também prometeu perseguição e vida eterna a tais pessoas. Isso nos lembra do contexto da passagem, no qual os discípulos viam um jovem rico que queria a vida eterna sair abatido enquanto Jesus dizia: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mc. 10:25).

Os discípulos ficaram chocados com a afirmação de Jesus e se perguntaram sobre suas próprias chances de entrar no reino de Deus. Eles lembraram Jesus do que tinham deixado para trás para segui-Lo. Foi então que Ele fez a promessa “cem vezes mais”.

Tudo isso sendo verdade, é inacreditável que qualquer pregador da prosperidade tente nos convencer de que Jesus estava prometendo um retorno material de literalmente cem vezes mais (o que nos faria incrivelmente ricos em pouco tempo) já que segundos antes tinha dito a um homem rico que vendesse tudo o que tinha e desse aos pobres se quisesse a vida eterna!

Existem muitas outras passagens que os pregadores da prosperidade torcem além das que consideramos, mas o espaço nos limita neste livro. Tenha cuidado!

Um Princípio Fundamental para Lembrar (A Maxim to Remember)

João Wesley, fundador do movimento Metodista na igreja da Inglaterra, criou um princípio fundamental maravilhoso a respeito da perspectiva que se deve ter do dinheiro: “Faça o quanto puder; guarde o quanto puder; doe o quanto puder”.

Isto é, primeiro os cristãos devem trabalhar duro, usando suas habilidades e oportunidades dadas por Deus para fazer dinheiro, mas estando certos de que o façam honestamente e sem violar nenhum dos mandamentos de Cristo.

Em segundo lugar, devem viver de forma econômica e simples, gastando o mínimo possível em si mesmo, o que os capacita a guardar “o quanto puderem”.

Finalmente, depois de terem seguido os dois primeiros passos, devem “doar o quanto puderem”, sem se limitarem a um décimo, mas negando a si mesmo o quanto possível para que as viúvas e os órfãos possam ser alimentados e o evangelho proclamado ao redor do mundo.

Com certeza a Igreja primitiva praticava tal mordomia, e compartilhar com os necessitados era algo regular na vida do Novo Testamento. Os primeiros cristãos levavam a sério o mandamento de Jesus aos Seus seguidores: “Vendam o que têm e dêem esmolas. Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe, onde ladrão algum chega perto e nenhuma traça destrói” (Lc. 12:33). Lemos no relato de Lucas da Igreja primitiva:

Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham… e grandiosa graça estava sobre eles. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um (At. 2:44-45, 4:32-35).

As Escrituras também deixam claro que a Igreja primitiva alimentava e provia as necessidades das viúvas pobres (veja At. 6:1; 1 Tm. 5:3-10).

Paulo, o maior apóstolo que já viveu, confiado por Deus para levar o evangelho aos gentios, autor humano da grande maioria das epístolas do Novo Testamento, considerou que, prover as necessidades materiais dos pobres, era uma parte essencial de seu ministério. Entre as igrejas que fundou, Paulo levantou grandes somas de dinheiro para os cristãos pobres (veja At. 11:27-30; 24:17; Rm. 15:25-28; 1 Co. 16:1-4; 2 Co. 8-9; Gl. 2:10). Pelo menos dezessete anos após sua conversão, Paulo viajou a Jerusalém para submeter o evangelho que tinha recebido ao exame de Pedro, Tiago e João. Nenhum deles encontrou coisa alguma de errado com a mensagem que estava pregando, e como Paulo recontou na ocasião em sua carta aos Gálatas, “Somente pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que me esforcei por fazer” (Gl. 2:10). Na mente de Pedro, Tiago, João e Paulo, mostrar compaixão aos pobres vinha logo após a proclamação do evangelho.

Resumindo (In Summary)

Com respeito a isso, o melhor conselho a ministros discipuladores vem do apóstolo Paulo, que depois de advertir Timóteo dizendo que o “amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” e que “algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos”, o exortou:

Você, porém, homem de Deus, fuja de tudo isso e busque a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança e a mansidão (1 Tm. 6:11, ênfase adicionada).

 


[1] Muitas vezes os pregadores da prosperidade usam esse fato para provar que o ministério de Jesus era próspero. Não há dúvidas de que Deus supriu as necessidades de Jesus para que pudesse cumprir Sua missão. A diferença entre Jesus e os pregadores da prosperidade é que Jesus não era egoísta e não usou o dinheiro de seu ministério para ficar rico.

O Arrebatamento e o Fim dos Tempos

Capítulo Vinte e Nove (Chapter Twenty-Nine)

 

Quando Jesus andou sobre a terra em forma humana, disse claramente aos Seus discípulos que partiria e, então voltaria para buscá-los um dia. Quando voltasse, os levaria para o céu com Ele (o que os cristãos modernos chamam de “arrebatamento”). Por exemplo, na noite antes de Sua crucificação, Jesus disse aos Seus onze fiéis apóstolos:

Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver (Jo. 14:1-2, ênfase adicionada).

Está claramente implicado nas palavras de Jesus que Sua volta poderia acontecer durante a vida dos onze. Aliás, depois de ouvir o que Jesus disse, eles simplesmente teriam assumido que Ele retornaria durante a vida deles.

Jesus também advertiu Seus discípulos a estarem prontos para Sua volta, novamente implicando a possibilidade de Sua volta durante o tempo de vida deles (veja, por exemplo, Mt. 24:42-44).

A Volta Iminente de Jesus nas Epístolas (Jesus’ Imminent Return in the Epistles)

Os apóstolos que escreveram as cartas do Novo Testamento certamente afirmavam sua crença em que Jesus poderia voltar durante o tempo de vida de seus leitores do primeiro século. Por exemplo, Tiago escreveu:

Portanto, irmãos, sejam pacientes até a vinda do Senhor. Vejam como o agricultor aguarda que a terra produza a preciosa colheita e como espera com paciência até virem as chuvas do outono e da primavera. Sejam também pacientes e fortaleçam o seu coração, pois a vinda do Senhor está próxima (Tg. 5:7-8, ênfase adicionada).

Não haveria necessidade de Tiago ter exortado seus leitores a serem pacientes pelo que não poderia acontecer durante suas vidas. Contudo, ele cria que a vinda do Senhor estava próxima. Contextualmente, Tiago escreveu em um tempo em que a Igreja estava sofrendo perseguição (veja Tg. 1:2-4), um tempo em que os crentes, naturalmente, ansiavam pela volta do seu Senhor.

Similarmente, Paulo também acreditava que Jesus poderia voltar durante a vida de muitos dos seus contemporâneos:

Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram. Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com essas palavras (1 Ts. 4:13-18, ênfase adicionada).[1]

Dessa passagem, também aprendemos que quando Jesus voltar do céu, os corpos dos cristãos mortos serão ressuscitados e, juntamente com os crentes que estiverem vivos na Sua volta, serão “arrebatados… para o encontro com o Senhor nos ares” (o arrebatamento). Porque Paulo também disse que Jesus traria com Ele, dos céus, os que “nele dormiram”, só podemos concluir que no arrebatamento, os espíritos dos cristãos celestiais serão unidos aos seu corpos recém ressuscitados.

Pedro também acreditava que a vinda de Cristo era iminente quando escreveu sua primeira epístola:

Portanto, estejam com a mente preparada, prontos para agir; estejam alertas e coloquem toda a esperança na graça que lhes será dada quando Jesus Cristo for revelado… O fim de todas as coisas está próximo. Portanto, sejam criteriosos e estejam alertas; dediquem-se à oração… Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria (1 Pd. 1:13, 4:7, 13, ênfase adicionada).[2]

Finalmente, quando João escreveu sua carta às igrejas, ele também cria que o fim estava próximo e que os leitores de seus dias poderiam ver a volta de Jesus:

Filhinhos, esta é a última hora e, assim como vocês ouviram que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora… Filhinhos, agora permaneçam nele para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos envergonhados diante dele na sua vinda… Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro (1 Jo. 2:18, 28; 3:2-3, ênfase adicionada).

Seu Atraso (His Delay)

Olhando para os últimos 2000 anos, percebemos que Jesus não voltou tão cedo quanto os apóstolos esperavam. Mesmo nos dias deles, haviam os que estavam começando a achar que Jesus nunca voltaria, vendo o quanto já tinha passado desde Sua partida. Quando a vida terrena de Pedro chegava ao fim, por exemplo (veja 2 Pd. 1:13-14), Jesus ainda não havia voltado e então, Pedro se dirigiu aos que tinham pensamentos duvidosos em sua última carta:

Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões. Eles dirão: “O que houve com a promessa da sua vinda: Desde que os antepassados morreram, tudo continua como desde o princípio da criação”. Mas eles deliberadamente se esquecem de que há muito tempo, pela palavra de Deus, existem céus e terra, esta formada da água e pela água. E pela água o mundo daquele tempo foi submerso e destruído. Pela mesma palavra os céus e a terra que agora existem estão reservados para o fogo, guardados para o dia do juízo e para a destruição dos ímpios. Não se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não demora em cumprir a sua promessa, como julgam alguns. Ao contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento. O dia do Senhor, porém virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada (2 Pd. 3:3-10).

Pedro afirmou que a demora de Jesus foi por causa de Seu amor e misericórdia — Ele quer dar mais tempo para que as pessoas se arrependam. Mas também afirmou que não havia dúvida de que Ele voltaria. E quando voltar, virá com grande ira.

Como veremos, as Escrituras deixam bem claro que a volta cheia de ira de Cristo será precedida de anos de tribulação mundial, como nunca antes houve, e o despejo da ira de Deus sobre os perversos. A maior parte do livro de Apocalipse fala sobre esse tempo futuro. Como veremos mais adiante em nosso estudo, as Escrituras indicam que haverá sete anos de tribulação futura. Não há dúvida de que o arrebatamento acontecerá durante ou perto desses sete anos.

Quando Exatamente Acontecerá o arrebatamento?(When Exactly Does the Rapture Occur?)

A questão que muitas vezes divide cristãos é o tempo exato do arrebatamento. Alguns dizem que o arrebatamento acontecerá um pouco antes dos sete anos de tribulação e, portanto, pode acontecer a qualquer hora. Outros dizem que acontecerá exatamente no meio dos sete anos de tribulação; outros, que acontecerá algum tempo depois da metade dos sete anos; e ainda outros, que o arrebatamento acontecerá na volta de Cristo, no fim da tribulação.

Com certeza, não vale a pena nos dividir por causa desse assunto, e todos os quatro lados devem lembrar que todos concordam que o arrebatamento acontecerá durante ou em um futuro bem próximo aos sete anos. Essa é um janela bem estreita entre milhares de anos de história. Então, ao invés de nos dividirmos por causa de nossos desentendimentos, vamos nos alegrar no que concordamos! Além do mais, o que cada um acredita não mudará o que irá acontecer.

Isso sendo dito, devo dizer-lhes que pelos primeiros vinte e cinco anos de minha vida cristã, acreditei que o arrebatamento aconteceria antes dos sete anos de tribulação. Cria nisso porque foi o que me ensinaram, e também não queria rever tudo o que tinha lido no livro de Apocalipse! Contudo, enquanto estudava as Escrituras sozinho, comecei a adotar uma visão diferente. Então, vamos dar uma olhada no que a Bíblia diz e ver que conclusões podem ser tiradas. Mesmo que eu não consiga te persuadir a se juntar ao meu lado, ainda devemos nos amar!

O Sermão do Monte (The Olivet Discourse)

Vamos começar considerando o 24o capítulo de Mateus, uma seção das Escrituras que é fundamental a respeito dos eventos do fim dos tempos e a volta de Jesus. Juntamente com o 25o capítulo, são conhecidos como o Sermão do Monte, porque esses dois capítulos são o registro de um sermão que Jesus deu a alguns de Seus discípulos mais íntimos[3] no Monte das Oliveiras. Enquanto lemos, vamos aprender sobre vários eventos do fim dos tempos, e considerar o que os discípulos de Jesus, a quem Ele endereçou Seu discurso, teriam concluído sobre o tempo do arrebatamento:

Jesus saiu do templo e, enquanto caminhava, seus discípulos aproximaram-se dele para lhe mostrar as construções do templo. “Vocês estão vendo tudo isto?”, perguntou ele. “Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas”.Tendo Jesus se assentado no monte das Oliveiras, os discípulos dirigiram-se a ele em particular e disseram: “Dize-nos, quando acontecerão essas coisas: E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?” (Mt. 24:1-3).

Os discípulos de Jesus queriam saber sobre o futuro. Queriam saber especificamente quando as construções do templo seriam destruídas (como Jesus tinha dito), e quais seriam os sinais da Sua volta e do fim dos tempos.

Olhando em retrospectiva, sabemos que as construções do templo foram completamente destruídas em 70 d.C. pelo general Tito e o exército romano. Também sabemos que Jesus ainda não voltou para reunir a Igreja; portanto, dificilmente esse dois eventos são simultâneos.

Jesus Responde as Perguntas Deles (Jesus Answers Their Questions)

Parece que Mateus não registrou a resposta de Jesus quanto à primeira pergunta sobre a futura destruição do templo, mas Lucas sim (veja Lc. 21:12-24). No evangelho de Mateus, Jesus começou a falar imediatamente sobre os sinais que precederiam Sua volta e o fim dos tempos:

Jesus respondeu: “Cuidado, que ninguém os engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o Cristo!’ e enganarão a muitos. Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras, mas [vocês] não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá fomes e terremotos em vários lugares. Tudo isso será o início das dores (Mt. 24:4-8, ênfase adicionada).

Está claro desde o início desse sermão que Jesus acreditava que Seus discípulos, do primeiro século, poderiam estar vivos durante os eventos que levariam à Sua volta. Note quantas vezes ele se referiu aos discípulos com o pronome pessoal vocês. Jesus usou o pronome pessoal vocês pelo menos vinte vezes no capítulo 24, portanto, todos os Seus discípulos acreditaram que veriam as coisas que Jesus estava dizendo.

Sabemos, é claro, que todos os discípulos que ouviram Jesus naquele dia, morreram há muito tempo. Contudo, não devemos concluir que Jesus os estava enganando, mas que Ele mesmo não sabia a hora exata de Sua volta (veja Mt. 24:36). Realmente, seria bem possível então, que aqueles que ouviram Seu discurso no Monte das Oliveiras estivessem vivos na Sua volta.

A maior preocupação de Jesus era que Seus discípulos fossem enganados por falsos cristos, assim como muitos serão durante os últimos dias. Sabemos que o anticristo será um falso cristo, enganando a muitos. Eles o considerarão um maravilhoso salvador.

Jesus disse que haverá guerras, fome e terremotos, mas indicou que esses eventos não são sinais de Sua volta, mas somente “o início das dores”. Seria seguro dizer que esses sinais têm acontecido pelos últimos dois mil anos. Contudo, depois disso, Jesus fala de algo que ainda não aconteceu.

Começa a Tribulação Mundial (Worldwide Tribulation Begins)

“Então eles os entregarão para serem perseguidos e condenados à morte, e vocês serão odiados por todas as nações por minha causa. Naquele tempo muitos ficarão escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros, e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até o fim será salvo. E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt. 24:9-14, ênfase adicionada).

Novamente, se você perguntasse aos que ouviram Jesus naquele dia: “Você acha que estará vivo para ver o cumprimento dessas coisas?”, com certeza, teriam respondido que sim. Jesus continuava usando o pronome pessoal vocês.

Como acabamos de ler, depois das “dores” virá um evento que certamente ainda não aconteceu, um tempo como nenhum outro de perseguição mundial aos cristãos. Seremos odiados “por todas as nações” ou literalmente, por “todos os grupos étnicos e tribos”. Jesus estava falando de um tempo específico quando isso acontecerá, não um tempo genérico de mais de cem anos, pois Ele disse na próxima frase: “Naquele tempo muitos ficarão escandalizados, trairão e odiarão uns aos outros”.

Obviamente, Sua afirmação é sobre a escandalização de cristãos que irão, então, odiar outros crentes, já que os ímpios não podem ficar “escandalizados”, e então odiar uns aos outros. Portanto, quando a perseguição mundial começar, o resultado será uma grande apostasia de muitos que se dizem seguidores de Cristo. Se são crentes genuínos ou falsos, ovelhas ou bodes, muitos ficarão escandalizados e, por sua vez, revelarão as verdadeiras identidades de outros crentes para as autoridades perseguidoras, odiando os que um dia disseram amar. O resultado será a purificação da Igreja por todo o mundo.

Também haverá um levantamento de falsos profetas, um dos quais é mencionado no livro de Apocalipse como o cúmplice do anticristo (veja Ap. 13:11-18; 19:20; 20:10). O caos aumentará a ponto de esfriar o pouco amor que restará nos corações das pessoas, e os corações dos pecadores se tornarão completamente duros.

Mártires e Sobreviventes (Martyrs and Survivors)

Mesmo que Jesus tenha profetizado que os crentes perderão suas vidas (veja 24:9) aparentemente nem todos irão, pois Ele prometeu que os que continuarem até o fim serão salvos (veja 24:13). Isto é, se não se permitirem serem enganados pelos falsos cristos ou profetas e resistirem à tentação de abandonarem a fé e desistir, serão salvos, ou resgatados por Cristo quando Ele voltar para reuni-los no céu. Esse futuro tempo de tribulação e resgate também foi revelado ao profeta Daniel, que ouviu:

Naquela ocasião Miguel, o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto. Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno (Dn. 12:1-2).

A salvação ainda será graciosamente oferecida mesmo durante esse dias, já que Jesus prometeu que o evangelho seria proclamado a todas as nações (literalmente, “grupos étnicos e tribos”), dando um última oportunidade de arrependimento, e então, o fim viria.[4] É interessante que lemos no livro de Apocalipse o que pode ser o cumprimento da promessa de Jesus:

Então vi outro anjo, que voava pelo céu e tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo. Ele disse em alta voz: “Temam a Deus e glorifiquem-no, pois chegou a hora do seu juízo. Adorem aquele que fez os céus , a terra, o mar e as fontes das águas” (Ap. 14:6-7, ênfase adicionada).

Alguns acham que a razão de um anjo proclamar o evangelho é porque até esse tempo da tribulação de sete anos, o arrebatamento terá acontecido e todos os crentes terão sido levados. Mas é claro que isso é especulação.

O Anticristo (The Antichrist)

O profeta Daniel revelou que o anticristo se assentará no templo reconstruído em Jerusalém no meio dos sete anos de tribulação e se proclamará Deus (veja Dn. 9:27, que estudaremos mais tarde). É esse evento que Jesus tinha em mente quando continuou Seu discurso no Monte das Oliveiras:

“Assim, quando vocês virem ‘o sacrilégio terrível’, do qual falou o profeta Daniel, no Lugar Santo — quem lê entenda — então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes. Quem estiver no telhado de sua casa não desça para tirar dela coisa alguma. Quem estiver no campo não volte para pegar seu manto. Como serão terríveis aqueles dias para as grávidas e para as que estiverem amamentando! Orem para que a fuga de vocês não aconteça no inverno nem no sábado. Porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá.[5] Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados” (Mt. 24:15-22).

Essa é uma elaboração mais específica a respeito da tribulação que Jesus tinha falado mais cedo (veja 24:9). Quando o anticristo declarar que é Deus do templo de Jerusalém, uma perseguição inimaginável começará contra os que creem em Jesus. Quando se declarar Deus, o anticristo irá esperar que todos reconheçam sua divindade; consequentemente, todos os verdadeiros seguidores de Cristo, imediatamente se tornarão inimigos oficiais do estado e serão caçados e mortos. É por isso que Jesus disse que os crentes na Judeia devem fugir para as montanhas sem demora, orando para que sua fuga não seja atrapalhada por motivo algum.

Acho que seria uma boa ideia que todos os crentes ao redor do mundo fugissem para algum lugar remoto quando isso acontecer, já que provavelmente será coberto por equipes de televisão do mundo inteiro. As Escrituras nos dizem que todo o mundo será enganado pelo anticristo, pensarão que ele é o Cristo e serão fiéis a ele. Quando se declarar Deus, acreditarão nele e o adorarão; quando blasfemar contra o verdadeiro Deus — o Deus dos cristãos — influenciará os enganados a odiar todos os que se recusam a adorá-lo (veja Ap. 13:1-8).

Jesus prometeu uma eventual libertação para Seu povo ao abreviar esses dias de tribulação; caso contrário “ninguém sobreviveria” (24:22). Sua abreviação desses dias “por causa dos eleitos” deve ser uma referência a libertação que trará quando aparecer e reuni-los no céu. Contudo, Jesus não nos diz aqui quanto tempo depois da declaração de divindade do anticristo, essa libertação acontecerá.

De qualquer forma, notamos mais uma vez que Jesus deixou Seus ouvintes daquele dia com a impressão de que viveriam para ver o anticristo declarar sua divindade e travar guerra contra os cristãos. Isso vai contra ao que alguns afirmam: os crentes serão arrebatados antes desse evento. Se você tivesse perguntado a Pedro, Tiago ou João se Jesus voltaria para resgatá-los antes da declaração de divindade do anticristo, eles teriam respondido: “Aparentemente não”.

Guerra Contra os Santos (War Against the Saints)

As Escrituras falam em outras passagens sobre a perseguição que o anticristo infligirá aos cristãos. Por exemplo, foi revelado a João, como ele registrou no livro de Apocalipse:

À besta foi dada uma boca para falar palavras arrogantes e blasfemas, e lhe foi dada autoridade para agir durante quarenta e dois meses. Ela abriu a boca para blasfemar contra Deus e amaldiçoar o seu nome e o seu tabernáculo, os que habitam nos céus. Foi-lhe dado poder para guerrear contra os santos e vencê-los. Foi-lhe dada autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação (Ap. 13:5-7, ênfase adicionada).

Note que o anticristo receberá “autoridade para agir” por quarenta e dois meses, ou seja, três anos e meio, exatamente a metade da tribulação. Parece lógico pensar que será nos últimos quarenta e dois meses de tribulação que o anticristo receberá “autoridade para agir”, já que sua autoridade será completamente tirada dele quando Cristo retornar para travar guerra contra ele e seus exércitos no fim da tribulação.

Obviamente, sua “autoridade para agir” por quarenta e dois meses fala de uma autoridade especial, já que o anticristo receberá autoridade de Deus durante sua ascendência ao poder. Essa “autoridade para agir” especial pode ser uma referência ao tempo que ele receberá para dominar os santos, pois lemos no livro de Daniel:

Enquanto eu observava, esse chifre [o anticristo] guerreava contra os santos e os derrotava, até que o ancião [Deus] veio e pronunciou a sentença a favor dos santos do Altíssimo; chegou a hora de eles tomarem posse do reino… Ele [o anticristo] falará contra o Altíssimo, oprimirá os seus santos e tentará mudar os tempos e as leis. Os santos serão entregues nas mãos dele por um tempo, tempos e meio tempo (Dn. 7:21-22, 25, ênfase adicionada).

Daniel predisse que os santos serão entregues nas mãos do anticristo por “um tempo, tempos e meio tempo”. Essa frase enigmática deve ser interpretada como três anos e meio, de acordo com uma comparação em Apocalipse 12:6 e 14. Lemos em Apocalipse 12:6 que uma certa mulher simbólica receberá um lugar para se esconder no deserto para que a “sustentassem durante mil duzentos e sessenta dias”, que é três anos e meio (anos de 360 dias). Então, oito versículos adiante, ela é mencionada novamente, e a Bíblia diz que ela receberá um lugar para se esconder no deserto, onde será “sustentada durante um tempo, tempos e meio tempo”. Portanto, “tempo, tempos e meio tempo” é o equivalente a 1.260 dias, ou três anos e meio.

Portanto, a palavra “tempo”, nesse contexto, significa ano, “tempos” significa dois anos e “meio tempo”, meio ano. Essa expressão incomum encontrada em Apocalipse 12:14 deve significar a mesma coisa que em Daniel 7:21. Então, sabemos que os santos serão entregues nas mãos do anticristo por três anos e meio, o mesmo tempo que lemos em Apocalipse 13:5 que o anticristo receberia “autoridade para agir”.

Acho que não é preciso dizer que ambos os períodos de quarenta e dois meses terão duração idêntica. Se o início do segundo período, no meio dos sete anos de tribulação, começar na declaração de divindade do anticristo, então, os santos serão entregues nas suas mãos pelos próximos três anos e meio, e Jesus os libertará quando aparecer no céu e os reunir para Si no fim ou perto do fim dos sete anos de tribulação. Contudo, se esse período começar em algum outro momento da tribulação, podemos concluir que o arrebatamento acontecerá antes do fim dos sete anos de tribulação.

O problema com a segunda possibilidade é que ela requer que os santos sejam entregues nas mãos do anticristo antes de correrem perigo e precisarem fugir para as montanhas na sua declaração de divindade. Isso parece ilógico.

O problema com a primeira possibilidade é que parece significar que os santos ainda estarão na terra durante muitos dos julgamentos mundiais cataclísmicos sobre os quais lemos no livro de Apocalipse. Consideraremos esse problema mais tarde.

Agora vamos voltar ao discurso no Monte das Oliveiras.

Falsos Messias (False Messiahs)

Depois, Jesus falou aos Seus discípulos sobre a importância de não serem enganados por relatos de falsos cristos:

“Se, então, alguém lhes disser [a vocês]: ‘Vejam, aqui está o Cristo!’ ou: ‘Ali está ele!’, não acreditem. Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos. Vejam que eu os avisei [a vocês] antecipadamente. Assim, se alguém lhes disser [a vocês]: ‘Ele está lá, no deserto!’, não saiam; ou: ‘Ali está ele, dentro da casa!’, não acreditem. Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente, assim será a vinda do Filho do homem. Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres (Mt. 24:23-28).

Note mais uma vez quantas vezes Jesus se dirigiu aos discípulos. Seus ouvintes no Monte das Oliveiras teriam esperado viver para ver a ascensão de falsos cristos e falsos profetas que fariam grandes milagres. E teriam esperado ver Jesus voltar no céu como relâmpago.

É claro que o perigo que virá durante esse tempo será muito grande, pois a perseguição contra os crentes será horrível e falsos cristos e profetas serão muito convincentes por causa de seus milagres. É por isso que Jesus avisou repetidas vezes aos Seus discípulos sobre o que aconteceria antes de Sua volta. Ele não queria que eles fossem enganados como muitos serão. Cristãos verdadeiros e firmes esperarão pela volta de Jesus no céu, como relâmpago, enquanto os que não são verdadeiros seguidores serão atraídos a falsos cristos como abutres são atraídos a carcassas no deserto.

Sinais no Céu (Signs in the Sky)

Jesus continuou:

“Imediatamente após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados’. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt. 24:29-31).

As imagens dessa seção do discurso de Jesus no Monte das Oliveiras eram conhecidas dos judeus de Seus dias, já que usou imagens de Isaías e Joel que falam do julgamento final de Deus e o fim do mundo, o que é muitas vezes chamado de “o dia do Senhor”, quando o sol e a lua escurecerão (veja Is. 13:10-11 e Jl. 2:31). Então, todos os habitantes da terra verão Jesus voltar no céu em Sua glória, e lamentarão. Então, os anjos de Jesus “reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus”, indicando que os cristãos serão reunidos para se encontrarem com Jesus no ar, e pode acontecer ao “grande som de trombeta”.

Novamente, se você tivesse perguntado a Pedro, Tiago ou João, nesse ponto do discurso no Monte das Oliveiras, se Jesus voltaria antes ou depois do anticristo e da grande tribulação, com certeza, teriam dito: “Depois”.

A Volta e o arrebatamento (The Return and the Rapture)

Essa seção do discurso no Monte das Oliveiras é bem parecido com um evento que Paulo descreveu, que é, sem dúvida, o arrebatamento da Igreja, mas um evento que muitos comentaristas dizem que acontecerá antes do período da tribulação começar. Considere a seguinte passagem que examinamos mais cedo nesse capítulo:

Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram. Dizemos a vocês, pela palavra do Senhor, que nós, os que estivermos vivos, os que ficarmos até a vinda do Senhor, certamente não precederemos os que dormem. Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre. Consolem-se uns aos outros com essas palavras. Irmãos, quanto aos tempos e épocas, não precisamos escrever-lhes, pois vocês mesmos sabem perfeitamente que o dia do Senhor virá como ladrão à noite. Quando disserem: “Paz e segurança”, a destruição virá sobre eles de repente, como as dores de parto à mulher grávida; e de modo nenhum escaparão (1 Ts. 4:13 – 5:3, ênfase adicionada).

Paulo escreveu sobre a vinda de Jesus do céu com a trombeta de Deus e sobre os cristãos sendo arrebatados “para o encontro com o Senhor nos ares”. Parece a mesma coisa que Jesus estava descrevendo em Mateus 24:30-31, o que obviamente acontecerá depois da ascensão do anticristo e da tribulação.

Além do mais, Paulo, enquanto continuou escrevendo sobre a volta de Cristo, mencionou o assunto de quando aconteceria “o fim dos tempos” e lembrou seus leitores que eles já sabiam bem que “o dia do Senhor virá como ladrão à noite”. Paulo acreditava que o arrebatamento e a volta de Cristo aconteceriam no “dia do Senhor”, um dia no qual terrível ira e destruição cairiam sobre os que esperavam “paz e segurança”. Quando Cristo voltar para reunir Sua Igreja, Sua ira cairá sobre o mundo.

Isso está em perfeita harmonia com o que Paulo escreveu em sua carta aos tessalonicenses a respeito da ira de Cristo na Sua volta:

É justo da parte de Deus retribuir com tribulação aos que lhes causam tribulação, e dar alívio a vocês, que estão sendo atribulados, e a nós também. Isso acontecerá quando o Senhor Jesus for revelado lá dos céus, com os seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes. Ele punirá os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder. Isso acontecerá no dia em que ele vier para ser glorificado em seus santos e admirado em todos os que creram, inclusive vocês que creram em nosso testemunho (2 Ts. 1:6-10, ênfase adicionada).

Paulo disse que quando Jesus voltasse para aliviar os cristãos tessalonicenses perseguidos (veja 2 Ts. 1:4-5), Ele apareceria “com os seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes” para afligir aqueles que tinham afligido, dando retribuição justa. Isso dificilmente parece com a crença dos pré-tribulacionistas, quando a Igreja é supostamente reunida por Cristo antes que o período de sete anos de tribulação comece, e o que é normalmente chamado de uma secreta aparição de Jesus e uma quieta reunião da Igreja. Não, isso parece exatamente com o que Jesus descreveu em Mateus 24:30-31, Sua volta no fim ou perto do fim do período de tribulação, quando Ele reunirá os cristãos e derramará Sua ira sobre os ímpios.

O Dia do Senhor (The Day of the Lord)

Mais adiante nessa mesma carta, Paulo escreveu:

Irmãos, quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele, rogamos a vocês que não se deixem abalar nem alarmar tão facilmente, quer por profecia, que por palavra, quer por carta supostamente vinda de nós, como se o dia do Senhor já tivesse chegado (2 Ts. 2:1-2, ênfase adicionada).

Primeiramente, note que o assunto de Paulo era a volta de Cristo e o arrebatamento. Ele escreveu sobre a “nossa reunião com ele” usando palavras idênticas às de Jesus em Mateus 24:31, quando Ele falou sobre os anjos que “reunirão” os Seus eleitos “de uma a outra extremidade dos céus”.

Em segundo lugar, note que Paulo igualou esses eventos ao “dia do Senhor”, assim como fez em 1 Tessalonicenses 4:13 – 5:2. Isso não pode ficar mais óbvio.

Paulo continuou:

Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição. Este se opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, chegando até a assentar-se no santuário de Deus, proclamando que ele mesmo é Deus (2 Ts. 2:3-4, ênfase adicionada).

De alguma forma, os cristãos tessalonicenses estavam sendo enganados, pensando que o dia do Senhor, que de acordo com Paulo deve começar com o arrebatamento e a volta de Cristo, já tinha começado. Mas Paulo deixou claro que Ele não pode vir antes da apostasia (talvez o grande escândalo do qual Jesus falou em Mateus 24:10) e antes do anticristo declarar sua divindade no templo de Jerusalém. Portanto, Paulo disse claramente aos cristãos tessalonicenses que eles não devem esperar a volta de Cristo, o arrebatamento ou o dia do Senhor antes da declaração de divindade do anticristo.[6]

Em seguida, Paulo descreve a volta de Cristo e a destruição do anticristo:

Não se lembram de que quando eu ainda estava com vocês costumava lhes falar essas coisas?E agora vocês sabem o que o está detendo, para que ele seja revelado no seu devido tempo. A verdade é que o mistério da iniqüidade já está em ação, restando apenas que seja afastado aquele que agora o detém. Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda. A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras. Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar (2 Ts. 2:5-10).

Paulo escreveu que o anticristo será “destruído pela manifestação da sua vinda”. Se essa “manifestação” é a mesma que Sua manifestação no arrebatamento, mencionada nove versículos mais cedo (veja 2:1), o anticristo será destruído no mesmo dia que a igreja for reunida para se encontrar com o Senhor nos ares. O registro de Apocalipse 19 e 20 apoia essa interpretação. Nesses capítulos, lemos sobre a volta de Cristo (veja Ap. 19:11-16), a destruição do anticristo e seus exércitos (veja 19:17-21), o aprisionamento de Satanás (veja 20:1-3) e a “primeira ressurreição” (veja 20:4-6), na qual os crentes que forem martirizados durante os sete anos de tribulação voltarão à vida. Se essa realmente for a primeira ressurreição no sentido de ser a primeira ressurreição geral dos santos, então, há menos dúvidas de que o arrebatamento e a volta de Cristo acontecerão na mesma hora em que a destruição do anticristo, já que as Escrituras deixam claro que os que morrerem em Cristo serão ressuscitados corporalmente no arrebatamento (veja 1 Ts. 4:15-17).[7]

Esteja Preparado (Being Ready)

Vamos voltar mais uma vez ao discurso no Monte das Oliveiras:

“Aprendam a lição da figueira: quando seus ramos se renovam e suas folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está próximo. Assim também quando virem todas estas coisas, saibam que ele está próximo, às portas. Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas estas coisas aconteçam.[8] Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt. 24:32-35).

Jesus não queria que Seus discípulos fossem pegos desprevenidos, esse era o ponto principal do discurso no Monte das Oliveiras. Eles saberiam que Ele estava “às portas” quando começassem a ver “todas estas coisas” — a tribulação mundial, a apostasia, o levantamento de muitos falsos profetas, a declaração de divindade do anticristo, e ainda mais perto do tempo de Sua volta, o escurecimento do sol e da lua, juntamente com a queda das estrelas.

Contudo, logo após lhes dizer os sinais que precederiam a Sua volta por alguns anos, meses ou dias, Ele lhes disse que a hora exata de Sua volta permaneceria um mistério:

“Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mt. 24:36).

Essa passagem é citada fora de contexto tantas vezes! É normalmente citada para sustentar o conceito de que não temos ideia de quando Jesus voltará, pois Ele pode voltar a qualquer hora e levar a Igreja. Contudo, dentro do contexto, não é isso que Jesus quis dizer. Ele tinha acabado de se esforçar para ter certeza de que Seus discípulos estariam preparados para Sua volta quando retornasse. Ele está simplesmente dizendo que o dia e a hora exata não seriam revelados a eles. Além do mais, é óbvio que nessa passagem Jesus não estava se referindo ao Seu suposto primeiro retorno, antes do início dos sete anos de tribulação, quando a Igreja seria supostamente arrebatada em segredo, mas de Sua volta no fim ou perto do fim da tribulação. Se olhado honestamente no contexto, esse assunto não é debatível.

Sua Volta — Uma Completa Surpresa?(His Return — A Complete Surprise?)

Um argumento que é normalmente usado contra a ideia do arrebatamento acontecer perto ou no fim da tribulação é que tal retorno não seria uma surpresa como Jesus (supostamente) disse que seria, pois tal retorno poderia ser antecipado pelos eventos da tribulação. Eles dizem que deve haver um arrebatamento antes da tribulação, caso contrário, os crentes não precisariam ficar preparados e alertas como as Escrituras dizem que devem ficar, pois saberiam que ainda haveria sete anos ou mais antes da volta de Jesus.

Contudo, contra essa objeção há o fato de que o objetivo do discurso de Jesus no Monte das Oliveiras era garantir que Seus discípulos estivessem prontos para Sua volta perto ou no fim da tribulação, por isso revelou a eles vários sinais que precederiam Sua volta. Por que o Sermão do Monte das Oliveiras tem tantas exortações para ficarmos preparados e alertas, apesar de Jesus saber que Seu retorno teria que acontecer pelo menos após sete anos do tempo em que falou que essas coisas aconteceriam originalmente?Aparentemente, Jesus acreditava que os cristãos precisavam estar preparados e alertas mesmo que Seu retorno ainda estivesse anos adiante. Os apóstolos que exortavam os crentes em suas cartas a ficarem preparados e prontos para a volta de Jesus estavam simplesmente O imitando.

Além do mais, aqueles que acreditam que somente o arrebatamento antes da tribulação justifica qualquer exortação para ficarmos preparados têm outro problema. De acordo com eles, a primeira volta de Cristo precede a tribulação de sete anos. Então, o primeiro retorno de Cristo não pode acontecer a qualquer hora — deve acontecer exatamente sete anos antes do fim da tribulação. Na verdade, não há necessidade de esperarmos que Jesus volte até que os eventos mundiais estejam prontos para dar início aos sete anos de tribulação, eventos que podem ser antecipados e verificados.

Se a maioria dos pré-tribulacionistas forem honestos dirão que sabem que Jesus não voltará hoje ou amanhã por causa da situação política no mundo. Ainda há eventos profetizados que devem ser cumpridos antes que os sete anos de tribulação possam começar. Por exemplo, no livro de Daniel, como veremos adiante, o anticristo fará uma aliança com Israel por sete anos, e isso marcará o início da tribulação. Portanto, se o arrebatamento acontecer sete anos antes do fim da tribulação, ele deve ocorrer quando o anticristo fizer sua aliança de sete anos com Israel. Até que algo no horizonte político faça o cenário possível, não há necessidade dos pré-tribulacionistas esperarem que Jesus volte.

Além do mais, para os devotos do pré-tribulacionismo, que acreditam que Jesus também voltará no fim da tribulação, significa que o dia exato da suposta segunda volta de Jesus pode ser calculada. Uma vez que o arrebatamento aconteça, que Jesus disse que somente o Pai sabe, a data pode ser calculada pela simples soma de sete anos.

Novamente, das coisas que Jesus realmente disse, Ele obviamente não queria que Sua volta fosse uma total surpresa. Aliás, Ele queria que ela fosse antecipada por certos eventos da tribulação. Dizendo simplesmente, Jesus não queria que Seus discípulos fossem pegos de surpresa, como o mundo. Ele continuou Seu discurso no Monte das Oliveiras:

“Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao Dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o Dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem. Dois homens estarão no campo: um será levado e o outro deixado. Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada e a outra deixada.[9] Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor. Mas entendam isto: se o dono da casa soubesse a que hora da noite o ladrão viria, ele ficaria de guarda e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Assim, vocês também precisam estar preparados, porque o Filho do homem virá numa hora em que vocês menos esperam” (Mt. 24:37:44).

Novamente, a preocupação óbvia de Jesus era que Seus discípulos permanecessem preparados para a Sua volta. Aliás, esse era o motivo principal de tudo o que Ele disse antes e depois desse ponto no discurso no Monte das Oliveiras. Suas muitas exortações para que permanecessem preparados não era tanto uma indicação que Sua volta seria uma completa surpresa, mas uma indicação de quão difícil será permanecer pronto e alerta debaixo das adversidades do tempo. Portanto, os que estão esperando um arrebatamento antes da tribulação a qualquer hora, achando que estão mais prontos que outros cristãos, podem, na verdade, não estar preparados para o que possam vir a enfrentar. Se não esperam tribulação e se encontram no meio de uma perseguição mundial debaixo do reino do anticristo, a tentação de abandonar a fé pode dominá-los. É melhor ficarmos preparados para o que as Escrituras dizem que deve acontecer.

E mais uma vez, se você perguntasse a Pedro, Tiago ou João quando esperavam ver a volta de Jesus, eles teriam lhe dito todos os sinais que Jesus lhes disse que aconteceriam antes de Sua volta. Eles não teriam esperado vê-Lo antes do período da tribulação ou da ascensão do anticristo.

Um Ladrão de Noite (A Thief in the Night)

Note que até a analogia de Jesus do “ladrão de noite” está dentro do contexto em que Ele revela vários sinais para que Seus discípulos não sejam pegos de surpresa na Sua volta. Portanto, a analogia do “ladrão na noite” pode ser usada para provar que ninguém deve ter ideia alguma de quando Jesus voltará.

Ambos Paulo e Pedro usaram a analogia de Jesus do “ladrão na noite” quando escreveram sobre “o dia do Senhor” (veja 1 Ts. 5:2-4; 2 Pd. 3:10). Eles acreditavam que a analogia tinha aplicação à volta cheia de ira de Jesus no fim ou perto do fim dos sete anos de tribulação. O que é interessante, é que Paulo disse aos seus leitores: “Mas vocês, irmãos, não estão nas trevas, para que esse dia os surpreenda como ladrão” (1 Ts. 5:4). Ele interpretou a analogia de Jesus corretamente, percebendo que os que estivessem alertas aos sinais e seguissem obedientemente a Jesus não estariam nas trevas; portanto, a volta de Cristo não os pegaria de surpresa. Para eles, Jesus não viria como um ladrão na noite. Somente os que estivessem nas trevas seriam surpreendidos; exatamente como Jesus ensinou. (Veja também o uso do conceito de Jesus de “ladrão na noite” em Apocalipse 3:3 e em 16:15, ao Se referir a Sua volta na batalha do Armagedom).

Desse ponto em diante no discurso no Monte das Oliveiras, Jesus exortou repetidamente Seus discípulos a ficarem preparados para a Sua volta. Ao mesmo tempo, também lhes disse como poderiam ficar prontos, enquanto contava as parábolas do servo infiel, das dez virgens e dos talentos e então, predisse o julgamento das ovelhas e bodes (todas valem a pena ser lidas). Em quase todos os casos, os advertiu que o inferno esperava aqueles que não estivessem prontos para a Sua volta (veja Mt. 24:50-51; 25:30, 41-46). A maneira de ficarmos prontos é sermos encontrados fazendo a vontade de Deus quando Ele retornar.[10]

Outra Objeção (Another Objection)

Alguns são contra a ideia do pós-tribulacionismo com a base bíblica de que os justos nunca são punidos com os injustos, o que é provado por exemplos como Noé, Ló e os israelitas no Egito.

Realmente, temos bons motivos para crermos que os justos não sofrerão a ira de Deus durante a tribulação de sete anos, já que seria o equivalente a contradizer muitas promessas e precedentes bíblicos (veja, por exemplo, 1 Ts. 1:9-10; 5:8).

Contudo, Jesus falou sobre a grande tribulação que os justos sofrerão durante esse tempo. Não será pelas mãos de Deus, mas pelas dos injustos. Os cristãos não são isentos de perseguições — Jesus prometeu que seriam perseguidos. Durante a tribulação de sete anos, muitos cristãos perderão suas vidas (veja Mt. 24:9; Ap. 6:9-11; 13:15; 16:5-6; 17:6; 18:24; 19:2). Muitos serão decapitados (veja Ap. 20:4).

Portanto, se todos os crentes de certa nação forem martirizados, nada poderá prevenir que a ira de Deus caia sobre todos naquela nação. E com certeza, se há crentes em certa nação, Deus é capaz de protegê-los de Seus julgamentos quando os mesmos caírem sobre os perversos. Durante Seus julgamentos no Egito no tempo de Moisés, Ele provou isso. Deus não deixou nem que um cachorro latisse contra os israelitas, enquanto julgamento após julgamento caía sobre os vizinhos egípcios (veja Ex. 11:7). Da mesma forma, lemos no livro de Apocalipse sobre os gafanhotos que serão libertos para picar e atormentar as pessoas da terra por cinco meses, mas não serão permitidos atormentar as 144.000 testemunhas que serão seladas com uma marca especial em suas testas (veja Ap. 9:1-11).

O Arrebatamento no Apocalipse (The Rapture in Revelation)

Em nenhum lugar do livro de Apocalipse lemos sobre o arrebatamento da Igreja, ou de outra aparição de Cristo, a não ser a que é mencionada em Apocalipse 19, quando Ele virá para destruir o anticristo na batalha do Armagedom. Até aí, não é mencionado que o arrebatamento tenha acontecido. Contudo, a ressurreição dos mártires da tribulação é mencionada nesse mesmo período de tempo (veja 20:4). Como Paulo escreveu que os mortos em Cristo ressuscitarão na volta de Cristo, que é o mesmo momento em que a Igreja será arrebatada, isso (juntamente com outras passagens que já consideramos) nos leva a crer que o arrebatamento não acontecerá até o fim da tribulação de sete anos, descrito em Apocalipse 19 e 20.

Mas existem outros pontos de vista. Alguns veem o arrebatamento em Apocalipse 6 e 7. Lemos em Apocalipse 6:12-13, sobre o sol se tornar “escuro como tecido de crina negra” e sobre as estrelas caírem do céu; dois sinais que Jesus disse que apareceriam logo antes da Sua manifestação e da reunião dos eleitos (veja Mt. 24:29-31). Então, um pouco mais adiante no capítulo 7, lemos sobre uma grande multidão no céu de todas as nações, tribos e línguas que “vieram da grande tribulação” (7:14). Eles não são mencionados como mártires como o outro grupo no capítulo anterior (veja 6:9-11), nos levando a especular que foram arrebatados ao invés de martirizados — crentes que foram resgatados da grande tribulação.

Com certeza, é correto assumirmos que o arrebatamento acontecerá em algum tempo depois dos eventos cósmicos descritos em Apocalipse 6:12-13, simplesmente por Jesus ter dito algo semelhante em Mateus 24:29-31. Contudo, não recebemos indicação conclusiva sobre quando os eventos cósmicos de Apocalipse 6:12-13 acontecerão dentro da tribulação. Se os eventos descritos em Apocalipse 6:1-13 forem sequenciais e se o arrebatamento acontecer logo depois de 6:13, isso nos leva a crer que o arrebatamento não acontecerá até depois da manifestação do anticristo (veja 6:1-2), das guerras (veja 6:3-4), da fome (veja 6:5-6), da morte de um quarto da terra por meio de guerras, fome, pragas e animais selvagens (veja 6:7-8), e da morte de vários mártires (veja 6:9-11). Com certeza, todos esses eventos descritos podem acontecer antes do fim dos sete anos de tribulação, mas também podem descrever todo o período de sete anos, colocando o arrebatamento no fim.

Dando suporte à ideia do arrebatamento acontecer antes do fim dos sete anos está o fato de que o Apocalipse descreve dois tipos de sete julgamentos depois de Apocalipse 8: o “julgamento das trombetas” e o “julgamento da taças”. É dito que o segundo julgamento completa a ira de Deus (veja 15:1). Contudo, antes dos julgamentos das taças começarem, João vê “em pé, junto ao mar, os que tinham vencido a besta, a sua imagem e o número do seu nome” (15:2). Esses santos vitoriosos podem ter sido arrebatados; por outro lado, podem ter sido martirizados. As Escrituras não nos esclarecem. Além do mais, não sabemos se Apocalipse 15:2 tem alguma ligação cronológica com as cenas descritas ao redor.

Outro fato encontrado em Apocalipse que pode sustentar ideia do pré-tribulacionismo é esse: na ocasião do quinto “julgamento da trombeta” registrado em Apocalipse 9:1-12, lemos que os gafanhotos atormentadores só terão permissão para ferir os que “não tinham o selo de Deus na testa” (9:4). Os únicos que sabemos que terão o selo são os 144.000 descendentes de Israel (veja Ap. 7:3-8). Portanto, parece que todos os outros crentes serão arrebatados antes do julgamento da quinta trombeta; caso contrário, não seriam isentos dos tormentos dos gafanhotos. Além do mais, já que os gafanhotos atormentarão as pessoas por cinco meses (9:5, 10), o arrebatamento deve acontecer pelo menos cinco meses antes do fim da tribulação.

Existem, é claro, vários caminhos ao redor dessa lógica. Talvez, outros serão selados e simplesmente não são mencionados na sinopse condensada de Apocalipse. De qualquer forma, se isso prova que o arrebatamento acontecerá antes do quinto julgamento da trombeta, também indica que haverá um grupo de crentes que não será arrebatado antes dos gafanhotos serem soltos — os 144.000 descendentes de Israel especialmente selados. Mesmo assim, eles serão graciosamente protegidos de serem feridos pela ira de Deus quando ela se manifestar com os gafanhotos atormentadores.

A conclusão disso tudo?Só posso concluir que o arrebatamento acontecerá perto do fim ou no fim da tribulação. Os cristãos não precisam ter medo de sofrer a ira de Deus, mas devem estar preparados para uma grande perseguição e um possível martírio.

O Período da Tribulação (The Tribulation Period)

Vamos dar uma olhada mais de perto no que as Escrituras nos ensinam sobre a tribulação. Como chegamos à conclusão de que a tribulação terá sete anos? Devemos estudar o livro de Daniel, que, além do livro de Apocalipse, é provavelmente o livro mais revelador da Bíblia a respeito do fim dos tempos.

No nono capítulo desse livro, lemos que Daniel é um cativo na Babilônia com seus companheiros judeus. Enquanto estudava o livro de Jeremias, Daniel descobriu que o tempo de cativeiro dos judeus na Babilônia seria de setenta anos (veja Dn. 9:2; Jr. 25:11-12). Percebendo que esse período estava quase completo, Daniel começou a orar, confessando os pecados de seu povo e pedindo misericórdia. Em resposta a sua oração, o anjo Gabriel apareceu e lhe revelou o futuro de Israel desde o tempo da tribulação até a volta de Cristo. A profecia contida em Daniel 9:24-27 é uma das mais maravilhosas das Escrituras. Eu a citei abaixo, juntamente com meus comentários em colchetes:

Setenta semanas [obviamente, cada dia dessas semanas simboliza uma ano, como veremos, ou um total de 490 anos] estão decretadas para o seu povo [Israel] e sua santa cidade [Jerusalém] a fim de acabar com a transgressão [possivelmente o ato culminante dos pecados de Israel — a crucificação do seu próprio Messias], dar fim ao pecado, [uma provável referência à obra de redenção de Cristo na cruz] expiar as culpas [sem dúvida uma referência à obra de redenção de Jesus na cruz], trazer justiça eterna [o início do reinado terreno de Jesus em Seu Reino], cumprir a visão e a profecia [talvez, uma referência ao término da compilação das Escrituras ou ao cumprimento de todas as profecias pré-milenares], e ungir o santíssimo [uma possível referência à construção do templo milenar]. Saiba e entenda que, a partir da promulgação do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém [esse decreto foi feito pelo rei Artaxerxes em 445 a.C.] até que o Ungido, o líder [o Senhor Jesus Cristo], venha, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas [um total de 69 semanas, ou seja, 483 anos]. Ela será reconstruída com ruas e muros, mas em tempos difíceis [essa é a reconstrução de Jerusalém, anteriormente destruída pelos babilônios]. Depois das sessenta e duas semanas [isto é, 483 anos depois do decreto de 445 a.C.], o Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele [Jesus foi crucificado em 32 d.C., se calcularmos pelo calendário judaico de 360 dias por ano]. A cidade e o Lugar Santo serão destruídos [uma referência à destruição de Jerusalém em 70 d.C. por Tito e as legiões romanas] pelo povo [os romanos] do governante que virá [o anticristo]. O fim virá como uma inundação: guerras continuarão até o fim, e desolações foram decretadas. Com muitos [Israel] ele [o “governante que virá” — o anticristo] fará uma aliança que durará uma semana [ou sete anos — esse é o período da tribulação]. No meio da semana [depois de mais ou menos três anos e meio] ele dará fim ao sacrifício e à oferta. E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível [quando o anticristo se sentar no templo judaico em Jerusalém, declarando-se Deus; veja 2 Ts. 2:1-4], até que chegue sobre ele [a volta de Jesus] o fim que lhe está decretado [a derrota do anticristo por Jesus] (Dn. 9:24-27, ênfase adicionada).

490 Anos Especiais (490 Special Years)

Desde o decreto de 445 a.C. do rei Artaxerxes para reconstruir Jerusalém, Deus decretou 490 anos especiais de história futura. Mas esses 490 anos não foram sequenciais; eles foram divididos em dois segmentos: um de 483 anos e outro de sete. Quando os primeiros 483 anos desse tempo determinado foram completados (no ano em que Jesus foi crucificado), o relógio parou. Provavelmente, Daniel nunca teria sonhado que o relógio pararia por, agora, quase 2.000 anos. Algum tempo no futuro, o relógio começará a correr novamente e continuará pelos últimos sete anos. Esse últimos sete anos são chamados, não só de “tribulação”, mas também de “a septuagésima semana de Daniel”.

Esses sete anos são divididos em dois períodos de três anos e meio. Como lemos na profecia de Daniel, no meio desse período o anticristo quebrará sua aliança com Israel e “dará fim ao sacrifício e à oferta”. E então, como Paulo escreveu, ele se sentará no templo de Jerusalém e se declarará Deus.[11] Esse é o “sacrilégio terrível” ao qual Jesus se referiu (veja Mt. 24:21). É por isso que os crentes na Judeia devem fugir para “os montes” (Mt. 24:16), já que isso marca o início da pior tribulação que o mundo presenciará (veja Mt. 24:21).

É possível que a “fuga judia” tenha sido vista simbolicamente por João em sua visão, registrada no décimo segundo capítulo do livro de Apocalipse. Se tiver, os judeus cristãos encontrarão um lugar especial de segurança preparado para eles no deserto, onde serão sustentados por exatamente três anos e meio, o restante do período dos sete anos de tribulação (veja Ap. 12:6, 13-17). João previu a raiva de Satanás com a fuga deles e a subsequente guerra que começaria com “os que obedecem aos mandamentos de Deus e se mantém fiéis ao testemunho de Jesus” (Ap. 12:17). É por isso que acho que seria uma boa ideia que todos os crentes ao redor do mundo fugissem para lugares remotos quando o anticristo declarar sua divindade em Jerusalém.

A Última Revelação de Daniel (Daniel’s Last Revelation)

Uma das passagens interessantes de Daniel que ainda não consideramos é encontrada nos últimos treze versículos desse maravilhoso livro. São palavras ditas por um anjo a Daniel. Citei a passagem com meus comentários em colchetes:

Naquela ocasião Miguel [o anjo], o grande príncipe que protege o seu povo, se levantará. Haverá um tempo de angústia como nunca houve desde o início das nações até então [essa seria a mesma angústia da qual Jesus falou em Mateus 24:21]. Mas naquela ocasião o seu povo, todo aquele cujo nome está escrito no livro, será liberto [essa pode ser uma referência à fuga dos judeus ou ao resgate dos cristãos no arrebatamento]. Multidões que dormem no pó da terra acordarão: uns para a vida eterna, outros para a vergonha, para o desprezo eterno [a ressurreição dos justos e dos perversos]. Aqueles que são sábios reluzirão como o fulgor do céu, e aqueles que conduzem muitos à justiça serão como as estrelas, para todo o sempre. [Depois da ressurreição, os justos receberão novos corpos que brilharão com a glória de Deus]. Mas você, Daniel, feche com um selo as palavras do livro até o tempo do fim. Muitos irão por todo lado em busca de maior conhecimento. [Os avanços extraordinários no transporte e conhecimento no último século parecem estar cumprindo essa profecia]

Então eu, Daniel, olhei, e diante de mim estavam dois outros anjos, um na margem de cá do rio e outro na margem de lá. Um deles disse ao homem vestido de linho, que estava acima das águas do rio: “Quanto tempo decorrerá antes que se cumpram essa coisas extraordinárias?” O homem vestido de linho, que estava acima das águas do rio, ergueu para o céu a mão direita e a mão esquerda, e eu o ouvi jurar por aquele que vive para sempre, dizendo: “Haverá um tempo, tempos e meio tempo [três anos e meio de acordo com a revelação decifrada de Apocalipse 12:6 e 12:14]. Quando o poder do povo santo for finalmente quebrado, todas essas coisas se cumprirão”. [Assim como Daniel 7:25 nos diz que os santos serão entregues nas mãos do anticristo por três anos e meio, aqui parece óbvio que esses são os três anos e meio finais dos sete anos de tribulação. O fim de todos os eventos falados pelo anjo será “quando o poder do povo santo for… quebrado”.] Eu ouvi, mas não compreendi. Por isso perguntei: “Meu senhor, qual será o resultado disso tudo:” Ele respondeu: “Siga o seu caminho, Daniel, pois as palavras estão seladas e lacradas até o tempo do fim. Muitos serão purificados, alvejados e refinados [sem dúvida através da tribulação], mas os ímpios continuarão ímpios. Nenhum dos ímpios levará isto em consideração, mas os sábios sim. Depois de abolido o sacrifício diário e colocado o sacrilégio terrível, haverá mil e duzentos e noventa dias. [Esse tempo não deve ser interpretado como estando entre aqueles dois eventos, pois ambos acontecerão no meio dos sete anos. Ao invés disso devemos interpretar que algo muito significante acontecerá no fim, depois de 1.290 dias que ambos os eventos aconteçam. 1.290 dias são 30 dias a mais que três anos e meio (anos de 360 dias) um período que é repetidamente mencionado nas escrituras proféticas de Daniel e Apocalipse. O porquê desses 30 dias serem adicionados é uma questão de especulação]. Feliz aquele que esperar e alcançar o fim dos mil trezentos e trinta e cinco dias. [Então, agora temos mais quarenta e cinco dias de mistério]. Quanto a você, siga o seu caminho até o fim. Você descansará e, então, no final dos dias, você se levantará [a ressurreição prometida de Daniel] para receber a herança que lhe cabe” (Dn. 12:1-13).

Obviamente, algo muito maravilhoso acontecerá no fim dos 75 dias extras! Teremos que esperar para ver.

Depois de lermos os capítulos finais de Apocalipse, percebemos que muitos eventos aparentemente, acontecerão logo após a volta de Cristo, uma delas sendo o banquete do casamento do Cordeiro, a respeito do qual um anjo disse a João: “Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro” (Ap. 19:9). Talvez essa seja a mesma bênção à qual um anjo se referiu quando falava a Daniel. Se for isso, esse banquete glorioso acontecerá depois de dois meses e meio da volta de Jesus.

Talvez esses setenta e cinco dias sejam preenchidos com outros eventos que, sabemos, acontecerão de acordo com o que está escrito nos capítulos finais de Apocalipse, como o lançamento do anticristo e do falso profeta no lago de fogo, o aprisionamento de Satanás e a preparação da administração do Reino mundial de Cristo (veja Ap. 19:20 – 20:4).

O Milênio (The Millennium)

O milênio é um termo que se refere ao tempo que Jesus reinará pessoalmente sobre toda a terra por um período de mil anos (veja Ap. 20:3, 5, 7), que acontecerá depois da tribulação. Há três mil anos Isaías previu o reinado governamental de Cristo sobre a terra:

Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado… Príncipe da Paz. Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, estabelecido e mantido com justiça e retidão, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isso (Is. 9:6-7, ênfase adicionada).

E da mesma forma, o anjo Gabriel anunciou a Maria que seu Filho reinaria sobre um reino sem fim:

Mas o anjo lhe disse: “Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim” (Lc. 1:30-33, ênfase adicionada).[12]

Durante o milênio, Jesus reinará pessoalmente do Monte Sião em Jerusalém, que será elevado acima de sua atual posição. Seu reinado será de perfeita justiça a todas as nações, e haverá paz sobre toda a terra:

Nos últimos dias o monte do templo do Senhor será estabelecido como o principal; será elevado acima das colinas, e todas as nações correrão para ele. Virão muitos povos e dirão: “Venham, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacó, para que ele nos ensine os seus caminhos, e assim andemos em suas veredas”. Pois a lei sairá de Sião, de Jerusalém virá a palavra do Senhor. Ele julgará entre as ações e resolverá contendas de muitos povos. Eles farão de suas espadas arados, e de suas lanças, foices. Uma nação não mais pegará em armas para atacar outra nação. Elas jamais tornarão a preparar-se para a guerra (Is. 2:2-4).

Zacarias previu a mesma coisa:

Assim diz o Senhor dos Exércitos: “Tenho muito ciúme de Sião; estou me consumindo de ciúmes por ela” Assim diz o Senhor: “Estou voltando para Sião e habitarei em Jerusalém. Então Jerusalém será chamada Cidade da Verdade, e o monte do Senhor dos Exércitos será chamado monte Sagrado”. Assim diz o Senhor dos Exércitos: “Povos e habitantes de muitas cidades ainda virão, e os habitantes de uma cidade irão a outra e dirão: ‘Vamos logo suplicar o favor do Senhor e buscar o Senhor dos Exércitos. Eu mesmo já estou indo’. E muitos povos e nações poderosas virão buscar o Senhor dos Exércitos em Jerusalém e suplicar o seu favor”. Assim diz o Senhor dos Exércitos: “Naqueles dias dez homens de todas as línguas e nações agarrarão firmemente a barra das vestes de um judeu e dirão: ‘Nós vamos com você porque ouvimos dizer que Deus está com o seu povo’” (Zc. 8:2-3, 20-23).

A Bíblia ensina que os crentes reinarão com Cristo durante os mil anos. O nível de responsabilidade deles no Seu reino dependerá da sua fidelidade agora (veja Dn. 7:27; Lc. 19:12-27; 1 Co. 6:1-3; Ap. 2:26-27; 5:9-10 e 22:3-5).

Teremos corpos ressurretos, mas aparentemente, haverá pessoas naturais vivendo em corpos mortais que povoarão a terra naqueles tempos. Além do mais, parece que a longevidade dos patriarcas será restaurada e os animais selvagens perderão a ferocidade:

Por Jerusalém me regozijarei e em meu povo terei prazer; nunca mais se ouvirão nela voz de pranto e choro de tristeza. Nunca mais haverá nela uma criança que viva por poucos dias, e um idoso que não complete os seus anos de idade; quem morrer aos cem anos ainda será jovem, e quem não chegar aos cem, será maldito… O lobo e o cordeiro comerão juntos, e o leão comerá feno, como o boi, mas o pó será a comida da serpente. Ninguém fará nem mal nem destruição em todo o meu santo monte (Is. 65:19-20, 25; veja também Is. 11:6-9).

Há muitas referências ao futuro milênio na Bíblia, especialmente no Velho Testamento. Para mais estudos, veja Is. 11:6-16; 25:1-12; 35:1-10; Jr. 23:1-5; Jl. 2:30-3:21; Am. 9:11-15; Mq. 4:1-7; Zc. 3:14-20; 14:9-21; e Ap. 20:1-6.

Muitos dos salmos também se aplicam profeticamente ao milênio. Por exemplo, leia esta passagem do Salmo 48:

Grande é o Senhor, e digno de todo louvor na cidade do nosso Deus. Seu santo monte, belo e majestoso, é a alegria de toda a terra. Como as alturas do Zafrom é o monte Sião, a cidade do grande Rei. Nas suas cidadelas Deus se revela como sua proteção. Vejam! Os reis somam forças, e juntos avançaram contra ela. Quando a viram, ficaram atônitos, fugiram aterrorizados. Ali mesmo o pavor os dominou; contorceram-se como a mulher no parto (Sl. 48:1-6, ênfase adicionada).

Aparentemente, quando Jesus estabelecer Sua administração em Jerusalém, muitos dos governantes da terra que sobreviverem à tribulação ouvirão notícias sobre o reinado de Jesus e viajarão para ver por si mesmos. Ficarão tão chocados com o que verão![13]

Para outros salmos referentes ao reino milenar de Cristo, veja Salmos 2:1-12; 24:1-10; 47:1-9; 66:1-7; 68:15-17; 99:1-9 e 100:1-5.

O Estado Eterno (The Eternal State)

O fim do milênio marca o início do que a Bíblia chama de “Estado Eterno”, que começa com os novos céus e nova terra. Então, Jesus entregará tudo ao Pai, de acordo com 1 Coríntios 15:24-28:

Então virá o fim, quando ele [Jesus] entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder. Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. O último inimigo a ser destruído é a morte. Porque ele “tudo sujeitou debaixo de seus pés” [Sl. 8:6]. Ora, quando se diz que “tudo” lhe foi sujeito, fica claro que isso não inclui o próprio Deus, que tudo submeteu a Cristo. Quando, porém, tudo lhe [ao Pai] estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos.

Satanás, que estava acorrentado durante os mil anos, será liberto no fim do milênio. Então, ele receberá os que, no interior, são rebeldes para com Jesus, mas que fingiram obediência a Ele (veja Sl. 66:3).

Deus permitirá que Satanás os engane para que a verdadeira condição de seus corações seja revelada para que possam ser julgados corretamente. Por causa de sua decepção, eles se reunirão para atacar a cidade santa, Jerusalém, para derrubar o governo de Jesus. A batalha não durará muito, pois fogo virá do céu e consumirá os exércitos ao redor, e Satanás será lançado no lago de fogo e enxofre pela eternidade (veja Ap. 20:7-10).

Essa reunião futura para a batalha foi prevista no Salmo 2:

Por que se amotinam as nações e os povos tramam em vão?Os reis da terra tomam posição e os governantes conspiram unidos contra o Senhor e contra o seu ungido [Cristo], e dizem: “Façamos em pedaços as suas correntes, lancemos de nós as suas algemas!” Do seu trono nos céus o Senhor põe-se a rir e caçoa deles. Em sua ira os repreende e em seu furor os aterroriza, dizendo: “Eu mesmo estabeleci o meu rei em Sião, no meu santo monte”. [Jesus fala agora] Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: “Tu és meu filho; eu hoje te gerei. Pede-me, e te darei as nações como herança e os confins da terra como tua propriedade. Tu as quebrarás com vara de ferro e as despedaçarás como a um vaso de barro”. Por isso, ó reis sejam prudentes; aceitem a advertência, autoridades da terra. Adorem o Senhor com temor; exultem com tremor. Beijem o filho, para que ele não se ire e vocês não sejam destruídos de repente, pois num instante acende-se a sua ira. Como são felizes todos os que nele se refugiam!

Um Julgamento Final (A Final Judgment)

Precedendo o Estado Eterno, um julgamento final acontecerá. Todos os infiéis de todas as épocas terão seus corpos ressuscitados para irem diante do trono de Deus e serem julgados de acordo com as suas obras (veja Ap. 20:5, 11-15). Todos os que estão agora no Hades serão trazidos para o julgamento, chamado de “Grande Trono Branco de Julgamento”, e então serão lançados no Gehenna, o lago de fogo. A Bíblia chama isso de “segunda morte” (Ap. 20:14).

O Estado Eterno começa com o fim do primeiro céu e da primeira terra, cumprindo a promessa de dois mil anos de Jesus: “Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mt. 24:35).

Então, Deus criará novos céus e nova terra, assim como Pedro predisse em sua segunda epístola:

O dia do Senhor, porém, virá como ladrão. Os céus desaparecerão com um grande estrondo, os elementos serão desfeitos pelo calor, e a terra, e tudo o que nela há, será desnudada. Visto que tudo será assim desfeito, que tipo de pessoas é necessário que vocês sejam?Vivam de maneira santa e piedosa, esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor. Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça. Portanto, amados, enquanto esperam estas coisas, empenhem-se para serem encontrados por ele em paz, imaculados e inculpáveis. (2 Pd. 3:10-14; veja também Is. 65:17-18).

Finalmente, a Nova Jerusalém descerá do céu para a terra (veja Ap. 21:1-2). Nossas mentes mal podem começar a entender as glórias daquela cidade, que cobre uma área de aproximadamente metade dos Estados Unidos (veja Ap. 21:16), ou nem maravilhas daquela época sem fim. Viveremos em uma sociedade perfeita para sempre, debaixo do governo de Deus, para a gloria de Jesus Cristo!

 


[1] Algumas outras passagens mostram a crença de Paulo de que Jesus possivelmente voltaria durante a vida de alguns de seus contemporâneos: Filipenses 3:20; 1 Tessalonicenses 3:13; 5:23; 2 Tessalonicenses 2:1-5; 1 Timóteo 6:14-15; Tito 2:11-13 e Hebreus 9:28.

[2] Outras passagens que indicam a convicção de Pedro de que Jesus poderia voltar durante a vida de seus contemporâneos são: 2 Pedro 1:15-19; 3:3-15.

[3] Marcos 13:3 menciona quatro nomes que estavam presentes: Pedro, Tiago, João e André. Incidentemente, também encontramos o Sermão do Monte registrado em Marcos 13:1-37 e Lucas 21:5-36. Lucas 17:22-37 também contém informações similares.

[4] Muitas vezes, essa promessa é tirada do contexto, e é frequentemente dito que antes de Jesus voltar, devemos completar a tarefa de evangelismo mundial. Mas dentro do contexto, essa promessa fala da proclamação final do evangelho a todo o mundo logo antes do fim.

[5] Se o arrebatamento da Igreja fosse ocorrer nesse exato momento da tribulação de sete anos, como alguns dizem, não haveria necessidade que Jesus instruísse os crentes a fugir para salvarem suas vidas, pois todos seriam arrebatados.

[6] Isso invalida a teoria que as palavras de Jesus no discurso no Monte das Oliveiras só tinha a plicação aos judeus que se converterem durante a tribulação, pois todos os que renascerem antes da tribulação, já terão supostamente sido arrebatados. Não, Paulo disse aos cristãos gentios tessalonicenses que o arrebatamento e a volta de Cristo não aconteceria antes da declaração de divindade do anticristo, que acontece no meio dos sete anos de tribulação.

[7] Alguns dizem que essa ressurreição mencionada em Apocalipse 20:4-6 é, na verdade, a segunda parte da primeira ressurreição, a ressurreição que acontecerá durante a primeira volta de Cristo no arrebatamento. Que garantia há para essa interpretação? Se a ressurreição de Apocalipse 20:4-6 é, na verdade, uma segunda ressurreição, por que não foi chamada de “segunda ressurreição”?

[8] Mesmo que os que tenham ouvido a Jesus naquele dia possam ter pensado que a geração deles veria todas essas coisas acontecer, sabemos que não viram. Portanto, devemos interpretar as palavras de Jesus em Mateus 24:34 como significando que todas essas coisas acontecerão em uma geração, ou talvez que a raça (como, às vezes, a palavra geração é traduzida) de cristãos (ou judeus) não passará até que todas essas coisas aconteçam.

[9] Não faz muita diferença se a pessoa que está sofrendo julgamento nesses exemplos foi a levada ou a deixada, como é muitas vezes debatido. O importante é que alguns estarão prontos para a volta de Cristo e outros não. Sua prontidão determinará seu destino final.

[10] Obviamente, para Jesus exortar Seus discípulos mais íntimos a permanecerem prontos para a Sua volta, é porque havia a possibilidade de não estarem prontos. Se Ele os advertiu sobre o castigo eterno por não estarem prontos por causa do pecado, então, é possível que eles perdessem a salvação por causa do pecado. Isso deve nos falar sobre a importância da santidade, e da tolice dos que dizem que é impossível que cristãos percam a salvação.

[11] Isso nos indica, é claro, que o templo de Jerusalém deve ser reconstruído, já que não há templo em Jerusalém no momento (no ano de 2005 quando este livro está sendo escrito).

[12] Essa passagem mostra que é fácil assumirmos algo erroneamente sobre o tempo dos eventos proféticos por interpretarmos mal o que as Escrituras realmente dizem. Maria poderia ter logicamente assumido que seu Filho especial reinaria no trono de Davi em algumas décadas. Gabriel disse que ela daria à luz um filho que reinaria sobre toda a casa de Jacó, fazendo parecer que o nascimento e reinado de Jesus seriam dois eventos ligados. Maria nunca teria imaginado que passariam pelo menos 2.000 anos entre eles. Também devemos ter cuidado ao assumirmos alguns pontos de vista enquanto tentamos interpretar passagens proféticas.

[13] Quando vejo outras passagens, parece que o milênio começará, não só com cristãos povoando a terra, mas com ímpios também (veja Is. 2:1-5; 60:1-5; Dn. 7:13-14).

Mitos Modernos Sobre Batalhas Espiriturais: Parte 1

Capítulo Trinta (Chapter Thirty)

 

O assunto de batalha espiritual tem se tornado cada vez mais popular na igreja nos últimos anos. Infelizmente, muito do que está sendo ensinado contradiz o que as Escrituras dizem. Consequentemente, muitos ministros ao redor do mundo estão ensinando e praticando um tipo de batalha espiritual que a Bíblia nunca descreveu. Com certeza existem coisas como batalhas espirituais bíblicas, e é isso que o ministro discipulador deve praticar e ensinar.

Nesse capítulo e no próximo me endereçarei a alguns dos mitos mais comuns a respeito de Satanás e batalhas espirituais. Trata-se apenas de um resumo de um livro inteiro que escrevi sobre esse assunto com o título de Modern Myths About Satan and Spiritual Warfare (Mitos Modernos Sobre Satanás e Guerras Espirituais)*. Esse livro pode ser lido por inteiro em inglês em nosso site: www.shepherdserve.org.

Mito No 1: “No passado da eternidade, Deus e Satanás estavam em uma grande batalha. Hoje, essa luta cósmica entre eles continua”. (Myth #1: “In eternity past, God and Satan engaged in a great battle. Today, the cosmic struggle still rages between them.”)

Esse mito em particular contradiz uma das verdades básicas mais bem fundadas sobre Deus que foi revelada nas Escrituras — que Ele é todo-poderoso, ou onipotente.

Jesus disse que todas as coisas são possíveis com Deus (veja Mt. 19:26). Jeremias afirmou que nada é difícil demais para Ele (veja Jr. 32:17). Nenhuma pessoa ou força pode impedi-lo de cumprir os Seus planos (veja 2 Cr. 20:6; Jó 41:10; 42:2). Através de Jeremias, Deus pergunta: “Quem é como eu que possa… me resistir?” (Jr. 50:44). A resposta é ninguém, nem mesmo Satanás.

Se Deus realmente é o todo-poderoso como as passagens mencionadas acima afirmam, então, dizer que Deus e Satanás estavam ou estão em uma batalha é implicar que Ele não é todo-poderoso. Se Deus tiver perdido um único rounde, tiver sido levemente superado por Satanás ou mesmo, teve que lutar por pouco tempo, então, Ele não é todo-poderoso como diz ser.

O Comentário de Cristo Sobre o Poder de Satanás (Christ’s Commentary on Satan’s Power)

Uma vez Jesus disse algo sobre a queda de Satanás do céu que nos ajudará a entender quanto poder Satanás tem em comparação ao nosso Deus onipotente:

Os setenta e dois voltaram alegres e disseram: “Senhor, até os demônios se submeteram a nós, em teu nome”. Ele respondeu: “Eu vi Satanás caindo do céu como relâmpago” (Lc. 10:17-18).

Quando o Deus todo-poderoso decretou a expulsão de Satanás do céu, Satanás não pôde resistir. Jesus escolheu a metáfora, como relâmpago, para enfatizar a velocidade em que Satanás caiu. Ele não caiu como melado, mas como relâmpago. Em um segundo Satanás estava no céu, no próximo — BOOM! — ele se foi!

Se Deus pode expulsar Satanás tão rápida e facilmente, não seria surpresa que Seus servos comissionados também pudessem expulsar demônios da mesma forma. Como os primeiros discípulos de Cristo, muitos cristãos hoje têm um grande respeito pelo poder dos demônios e ainda não entenderam que o poder de Deus é muito, muito, muito maior. Deus é o Criador e Satanás é só uma criação. Satanás não é páreo para Deus.

A Batalha que Nunca Aconteceu (The War That Never Was)

Por mais estranho que possa parecer para alguns de nós, precisamos entender que Deus e Satanás não estão, nunca estiveram e nunca estarão em uma batalha. Sim, eles têm objetivos divergentes, e podemos dizer que estão em oposição. Mas quando dois lados se opõe um ao outro e um é imensamente mais poderoso que o outro, seus conflitos não são considerados batalhas. Uma minhoca poderia lutar com um elefante?Satanás, como uma minhoca, fez uma pequena tentativa de se opor a Alguém imensamente mais poderoso. Sua oposição foi rapidamente resolvida, e ele foi expulso do céu “como relâmpago”. Não houve batalha — tudo o que houve foi uma expulsão.

Se Deus é todo-poderoso, Satanás não tem a menor chance de prejudicar o que Deus quer fazer. E se Deus permitir que Satanás faça algo, é somente para alcançar Sua própria vontade divina. Essa verdade se tornará abundantemente clara enquanto continuamos a examinar as passagens sobre esse assunto.

A autoridade suprema de Deus sobre Satanás não foi somente demonstrada no passado da eternidade, mas também, no futuro. Lemos em Apocalipse que um único anjo acorrentará Satanás e o prenderá por mil anos (veja Ap. 20:1-3). O incidente futuro não pode ser considerado uma batalha entre Deus e Satanás, assim como sua expulsão do céu também não pode. Note também que Satanás não terá o poder de fugir de sua prisão, e só será liberto no tempo de cumprir os propósitos de Deus (veja Ap. 20:7-9).

E Sobre a Futura “Guerra nos Céus”?(What About the Future “War in Heaven”?)

Se for verdade que Deus e Satanás não estão, nunca estiveram e nunca estarão em uma batalha, por que lemos no livro de Apocalipse sobre uma futura guerra nos céus que envolve Satanás (veja Ap. 12:7-9)?Essa é uma boa pergunta e pode ser facilmente respondida.

Note que essa guerra será entre Miguel e seus anjos contra Satanás e seus anjos. A Bíblia não diz que Deus estará envolvido na batalha. Se estivesse, o conflito dificilmente poderia ser chamado de guerra, porque Deus, sendo todo-poderoso, poderia facilmente esmagar qualquer oposição em um instante, como já provou.

Anjos, incluindo Miguel, não são todo-poderosos e, portanto, seu conflito com Satanás e seus anjos pode ser chamado de guerra, porque realmente haverá conflito por certo tempo. Mesmo assim, sendo mais poderosos, superarão Satanás e seus demônios.

Por que Deus não Se envolveria pessoalmente nessa batalha em particular, deixando-a a Seus anjos?Não tenho ideia. Certamente, Deus, sendo onisciente, sabia que Seus anjos poderiam ganhar a guerra, e talvez achou que não houvesse necessidade de Se envolver pessoalmente.

Não tenho dúvida de que Deus poderia ter aniquilado fácil e rapidamente os cananitas perversos nos dias de Josué, mas escolheu dar a tarefa aos israelitas. O que Deus poderia ter feito sem esforço e em segundos, Ele requereu que eles fizessem, aumentando grandes esforços por alguns meses. Talvez fosse mais agradável a Deus, já que exigia fé da parte dos israelitas. Talvez essa seja a razão dEle não se envolver pessoalmente naquela futura guerra no céu. Contudo, a Bíblia não nos diz.

O fato de que haverá uma guerra no céu um dia entre Miguel com seus anjos e Satanás com seus anjos, não é motivo para pensarmos que Deus não é todo-poderoso — assim como as batalhas de Israel contra Canaã também não o são.

Satanás não foi Derrotado por Jesus na Cruz?(Was Not Satan Defeated by Jesus on the Cross?)

Finalmente, a respeito desse primeiro mito sobre as batalhas entre Deus e Satanás, gostaria de concluir considerando uma frase muito usada: Jesus destruiu Satanás na cruz. As Escrituras nunca disseram que Jesus destruiu Satanás na cruz.

Quando dizemos que Jesus destruiu Satanás, parece que Jesus e Satanás estavam em uma batalha, o que implica que Deus não é todo-poderoso e que Satanás já não estava debaixo da completa autoridade de Deus. Existem outras maneiras bíblicas de descrever o que aconteceu a Satanás quando Jesus entregou Sua vida no calvário. Por exemplo, as Escrituras nos dizem que através de Sua morte, Jesus derrotou “aquele que tem o poder da morte” (veja Hb. 2:14-15).

Até que ponto Jesus tirou os poderes de Satanás?Obvimente, Satanás não está completamente sem poderes agora, caso contrário, o apóstolo João nunca teria escrito: “o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1 Jo. 5:19, ênfase adicionada). De acordo com Hebreus 1:14-15, Satanás ficou sem poder a respeito do “poder da morte”. O que isso significa?

As Escrituras falam sobre três tipos de morte: morte espiritual, física e segunda morte. Como aprendemos em um capítulo anterior, a segunda morte (ou morte eterna) é encontrada em Apocalipse 2:22; 20:6, 14 e 21:8, e é quando os ímpios serão lançados no lago de fogo.

A morte física acontece quando o espírito de uma pessoa deixa o corpo, que então para de funcionar.

A morte espiritual descreve a condição do espírito humano que não renasceu pelo Espírito Santo. Alguém espiritualmente morto está alienado de Deus, um espírito que possui uma natureza pecaminosa, isto é, até certo ponto, unida a Satanás. Efésios 2:1-3 nos dá uma imagem de alguém espiritualmente morto:

Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.

Paulo escreveu que os cristãos de Éfeso estavam mortos em suas transgressões e pecados. Obviamente, ele não estava se referindo à morte física, pois estava escrevendo a pessoas fisicamente vivas. Portanto, ele devia estar falando que estavam mortos, espiritualmente.

O que os matou espiritualmente?Foram suas “trangressões e pecados”. Lembre-se de que Deus disse a Adão no dia em que pecou, que ele morreria (veja Gn. 2:17). Deus não estava falando da morte física, mas espiritual, porque Adão não morreu fisicamente no dia em que comeu o fruto proibido. Ele morreu espiritualmente naquele dia, e não morreu fisicamente até centenas de anos depois.

Paulo continuou dizendo que os efésios, como espiritualmente mortos, tinham andado (ou praticado) naquelas trangressões e pecados, seguindo a “presente ordem deste mundo” (isto é, fazendo o que todos os outros faziam) e seguindo “o príncipe do poder do ar”.

Quem é o “príncipe do poder do ar”?É Satanás, que reina seu domínio de trevas como comandante chefe sobre outros espíritos malignos que habitam na atmosfera. Esses espíritos malignos são listados em vários postos em um capítulo mais adiante de Efésios (veja Ef. 6:12).

Paulo disse que o príncipe das trevas é um “espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência”. A expressão, “dos que vivem em desobediência”, é somente outra descrição para todos os ímpios, enfatizando que a natureza deles é pecaminosa. Mais tarde, Paulo disse que eles eram “por natureza merecedores da ira” (Ef. 2:3, ênfase adicionada). Adicionalmente, disse que Satanás estava trabalhando neles.

O Diabo como Pai (The Devil for a Dad)

Percebendo ou não, os ímpios estão seguindo a Satanás e são seus servos no reino das trevas. Eles têm a sua natureza maligna e egoísta vivendo em seu corpos espiritualmente mortos. Na verdade, Satanás é o pai e senhor espiritual deles. É por isso que Jesus disse uma vez a alguns líderes religiosos incrédulos: “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele” (Jo. 8:44).

Essa é a imagem sombria da pessoa que ainda não renasceu! Ela está vivendo espiritualmente morta, cheia da natureza de Satanás, indo em direção a uma morte física inevitável que teme; e percebendo ou não, um dia experimentará a pior morte de todas, a morte eterna, quando será lançada no lago de fogo.

É extremamente importante que entendamos que mortes espiritual, fisica e eterna são todas manifestações da ira de Deus na humanidade pecadora e que Satanás tem parte nisso. Deus permitiu que Satanás reinasse sobre as trevas e sobre todos os que “amaram as trevas” (Jo. 3:19). De fato, Deus disse a Satanás: “Você pode aprisionar através de seu poder aqueles que não são comprometidos Comigo”. Satanás se tornou um instrumento da ira de Deus sobre os humanos rebeldes. Porque todos pecaram, todos estão debaixo do poder de Satanás, cheios de sua natureza em seus espíritos e aprisionados para fazerem a sua vontade (veja 2 Tm. 2:26).

O Nosso Resgate do Cativeiro (The Ransom for Our Captivity)

Contudo, podemos agradecer a Deus por sua misericórdia para com a humanidade; por causa dessa misericórdia, ninguém precisa continuar em sua condição miserável. E como a morte de Jesus satisfez as exigências da justiça divina, todos os que creem em Cristo podem escapar da morte espiritual e do cativeiro de Satanás, pois não estão mais debaixo da ira de Deus. Quando cremos no Senhor Jesus, o Espírito Santo entra em nossos espíritos e extingui a natureza de Satanás de lá, fazendo com que nossos espíritos renasçam (veja Jo. 1:1-16) e permitindo que tenhamos a natureza divina de Deus (veja 2 Pd. 1:4).

Agora, de volta a nossa pergunta original. Quando o autor de Hebreus disse que Jesus, através de Sua morte, derrotou “aquele que tem o poder da morte, isto é, o Diabo”, ele quis dizer que o poder da morte espiritual, que Satanás exerce sobre todos os ímpios, foi quebrado de sobre aqueles que estão “em Cristo”. Estamos espiritualmente vivos por causa de Cristo, que pagou o preço por nossos pecados.

Além do mais, por não estarmos mais espiritualmente mortos e debaixo do domínio de Satanás, não precisamos mais temer a morte física, já que sabemos o que nos aguarda — uma herança gloriosa e eterna.

Finalmente, por causa de Jesus, fomos libertos e não sofreremos a segunda morte, sendo lançados no lago de fogo.

Jesus destruiu o Diabo na cruz?Não, porque não houve batalha entre Jesus e Satanás. Contudo, Jesus deixou Satanás sem poderes sobre a morte espiritual, pela qual ele mantém os ímpios cativos no pecado. Satanás ainda tem poder de morte espiritual sobre eles, mas não tem poder sobre as que estão em Cristo.

Desarmando os Poderes (The Disarming of the Powers)

Isso também nos ajuda a entender a afirmação de Paulo sobre Ele ter “despojado os poderes e as autoridades” encontrada em Colossenses 2:13-15:

Quando vocês estavam [espiritualmente] mortos em pecados… Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz (ênfase adicionada).

Paulo usa uma linguagem metafórica óbvia nessa passagem. Na primeira parte, ele compara nossa culpa a uma “escrita de dívida”. O que não podíamos pagar, foi pago por Cristo, que assumiu nossas dívidas de pecado na cruz.

Na segunda parte, assim como os antigos reis removiam as armas de seus conquistados e os faziam desfilar nas ruas da cidade, assim a morte de Cristo foi um triunfo sobre os “poderes e autoridades”, isto é, as classes mais baixas de demônios que reinam sobre os humanos rebeldes, mantendo-os cativos.

Baseando-nos nessa passagem, não podíamos dizer que Cristo destruiu Satanás?Talvez, mas com algumas especificações. Devemos manter em mente que nessa passagem, Paulo estava escrevendo metaforicamente. Todas as metáforas tem um ponto em que as semelhanças se transformam em diferenças, como aprendemos no capítulo sobre interpretação bíblica.

Devemos ter cuidado ao interpretar as metáforas de Paulo em Colossenses 2:13-15. Obviamente, não havia uma “escrita de dívida”, com todos os nossos pecados escritos nela, que foi pregada na cruz. Contudo, isso simboliza o que Jesus alcançou.

Da mesma forma, os demônios que reinavam sobre a humanidade incrédula não foram literalmente desarmados de suas espadas e escudos e desfilaram publicamente nas ruas com Jesus. Éramos cativos desses espíritos malignos, mas ao morrer por nossos pecados, Jesus nos libertou do cativeiro. Jesus não lutou literalmente com aqueles espíritos malignos e eles não estavam em guerra com Ele. Eles, pela permissão justa de Deus, nos mantinham debaixo de seus poder por toda a nossa vida. Seus “poderes” estavam apontados para nós, não para Cristo. Contudo, Jesus os “despojou”. Eles não podem mais nos manter cativos.

Não pensemos que havia uma briga antiga entre Jesus e os espíritos malignos de Satanás, e finalmente, Jesus venceu a batalha na cruz. Se formos dizer que Jesus destruiu o Diabo, tenhamos a certeza de que entendemos que Ele o destruiu por nós, e não por Si mesmo.

Uma vez espantei um cachorrinho do meu quintal que estava aterrorizando minha filha pequena. Posso dizer que eu derrotei aquele cachorrinho, mas espero que entenda que o cachorro nunca foi uma ameaça para mim, somente para minha filha. Foi a mesma coisa com Jesus e Satanás. Jesus espantou um cachorro de nós que nunca O incomodou.

Como Ele espantou aquele cachorro-Demônio?Ele o fez aguentando o castigo por nossos pecados, libertando-nos, assim, de nossa culpa diante de Deus e da ira de Deus; portanto, os espíritos malignos que Deus permite justamente que escravizem humanos rebeldes, não tinham mais direito de nos escravizar. Graças a Deus por isso!

Isso nos leva a um lugar apropriado para examinarmos um segundo mito relacionado ao primeiro.

Mito No 2: “Existem constantes batalhas no reino espiritual entre os anjos de Deus e os de Satanás. O resultado dessas batalhas é determinado por nossas batalhas espirituais”. (Myth #2: “There are constant battles in the spiritual realm between God’s angels and Satan’s angels. The outcome of those battles is determined by our spiritual warfare.”)

Já aprendemos no livro de Apocalipse que uma dia haverá uma guerra entre Miguel e seus anjos, e Satanás e seus anjos. Além disso, só há uma outra guerra angelical que as Escrituras mencionam, encontrada no décimo capítulo de Daniel. [1]

Daniel nos diz que havia estado chorando por três semanas durante o terceiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, quando um anjo lhe apareceu junto ao rio Tigre. O objetivo da visita do anjo era de lhe dar entendimento a respeito do futuro de Israel, e já estudamos brevemente o que o anjo disse a Daniel em uma capítulo anterior sobre o arrebatamento e o fim dos tempos. Durante a conversa deles, o anjo sem nome disse a Daniel:

Não tenha medo, Daniel. Desde o primeiro dia em que você decidiu buscar entendimento e humilhar-se diante do seu Deus, suas palavras foram ouvidas, e eu vim em resposta a elas. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e um dias. Então Miguel, um dos príncipes supremos, veio em minha ajuda, pois eu fui impedido de continuar ali com os reis da Pérsia (Dn. 10:12-13, ênfase adicionada).

Daniel entendeu que suas orações foram ouvidas três semanas antes de seu encontro com esse anjo, mas que o anjo levou três semanas para chegar. A razão do atraso foi que “o príncipe do reino da Pérsia” lhe resistiu. Contudo, ele pôde sair quando Miguel, “um dos príncipes supremos”, veio em sua ajuda.

Quando o anjo estava para deixar Daniel, ele lhe disse:

Tenho que voltar para lutar contra o príncipe da Pérsia e, logo que eu for, chegará o príncipe da Grécia; mas antes lhe revelarei o que está escrito no Livro da Verdade. E nessa luta ninguém me ajuda contra eles, senão Miguel, o príncipe de vocês (Dn. 10:20-21).

Podemos aprender alguns fatos interessantes dessa passagem das Escrituras. Novamente, vemos que os anjos de Deus não são todo-poderosos, e que podem estar envolvidos em lutas contra anjos perversos.

Segundo, aprendemos que alguns anjos (tais como Miguel) são mais poderosos que outros (como o que falou com Daniel).

Questões Para as Quais não Temos Respostas (Questions for Which We Have No Answers)

Podemos perguntar: “Por que Deus não mandou Miguel com a mensagem para Daniel para que não houvesse um atraso de três semanas?” O fato é que a Bíblia não nos diz porque Deus mandou um anjo que Ele sabia, sem dúvida, que não passaria pelo “príncipe da Pérsia” sem a ajuda de Miguel. Aliás, não temos ideia do porquê Deus usaria qualquer anjo para entregar uma mensagem a alguém! Por que Ele não foi pessoalmente, falou audivelmente a Daniel, ou o levou temporariamente ao céu para lhe dizer?Simplesmente não sabemos.

Mas essa passagem prova que há constantes batalhas nos reinos espirituais entre os anjos de Deus e os de Satanás?Não; só prova que há milhares de anos houve uma batalha de três semanas entre um dos anjos mais fracos de Deus e um dos anjos de Satanás chamado de “príncipe da Pérsia”, uma batalha que, se Deus desejasse, poderia nunca ter acontecido. A única outra batalha mencionada em toda a Bíblia é a futura guerra no céu, registrada no livro de Apocalipse; e só. Podem ter havido outras batalhas angelicais, mas seria suposição nossa concluir isso.

Um Mito Baseado em Outro Mito (A Myth Based Upon a Myth)

A história de Daniel e o príncipe da Pérsia prova que nossas batalhas espirituais podem determinar o resultado das batalhas angelicais?Novamente, essa ideia assume (baseada em algumas passagens) que há batalhas angelicais regulares. Mas, vamos dar um pulo no escuro e dizer que sim, batalhas angelicais regulares. Essa história de Daniel prova que nossas batalhas espirituais podem determinar o fim das batalhas espirituais que talvez ocorram?

A pergunta é normalmente feita pelos que divulgam esse mito em particular: “E se Daniel tivesse desistido depois de um dia?” A resposta para essa pergunta, é claro, é que ninguém sabe, porque o fato é que Daniel não parou de buscar a Deus em oração até que um anjo sem nome chegou. Contudo, a implicação em fazer a pergunta é nos convencer de que Daniel, através de batalha espiritual contínua, foi a chave para o avanço dos anjos nos lugares celestiais. Se Daniel parasse de lutar espiritualmente, o anjo, supostamente, nunca teria passado pelo príncipe da Pérsia. Eles querem que acreditemos que, como Daniel, devemos continuar lutando espiritualmente, caso contrário um anjo maligno pode triunfar sobre um dos anjos de Deus.

Deixe-me primeiramente mencionar que Daniel não estava “em luta espiritual” — estava orando a Deus. Não há menção dele dizendo algo a anjos demoníacos, os repreendendo ou “guerreando” contra eles. Na verdade, Daniel não tinha ideia de que havia um batalha angelical até que três semanas se passaram e o anjo sem nome lhe apareceu. Ele passou aquelas três semanas jejuando e buscando a Deus.

Então, vamos refazer a pergunta: Se Daniel tivesse parado de orar e buscar a Deus depois de um ou dois dias, o anjo sem nome teria fracassado em lhe entregar a mensagem de Deus?Não sabemos. Contudo, permita-me mencionar que o anjo sem nome nunca disse a Daniel: “Que bom que você continuou orando, caso contrário, nunca teria conseguido”. Não, o anjo deu crédito a Miguel por seu progresso. Obviamente, foi Deus quem mandou o anjo sem nome e Miguel, e os mandou em resposta à oração de Daniel para que entendesse o que iria acontecer em Israel no futuro.

Seria uma suposição achar que se Daniel tivesse parado de jejuar ou buscar a Deus, Ele teria dito: “Bem, Daniel parou de jejuar e orar; portanto, apesar de Eu ter enviado um de vocês para lhe levar uma mensagem no dia em que começou a orar, parece que nunca haverá um décimo primeiro ou décimo segundo capítulo no livro de Daniel”.

Obviamente, Daniel perseverou em oração (não “batalha espiritual”), e Deus respondeu lhe enviando anjos. Nós também devemos perseverar em oração a Deus, e, se Ele assim desejar, nossa resposta pode vir por meio de um anjo. Mas não se esqueça que há vários exemplos de anjos entregando importantes mensagens a pessoas bíblicas sem menção de que alguém estivesse fazendo uma oração, muito menos orando por três semanas. [2] Devemos continuar balanceados. Além do mais, há muitas referências sobre anjos que entregaram mensagens a pessoas bíblicas sem mencionar que tiveram que lutar com demônios no caminho do céu para a terra. Esses anjos podem ter tido que lutar contra anjos malignos para entregarem suas mensagens; mas se lutaram, não sabemos, porque a Bíblia não nos diz.

Então, passemos para um terceiro mito muito aceito.

Mito N0 3: “Quando Adão Caiu, Satanás Tomou a Posse de Adão para Controlar o Mundo (Myth #3: “When Adam Fell, Satan Got Adam’s Lease to Control the World.”)

O que exatamente aconteceu a Satanás na queda da humanidade?Alguns acham que Satanás foi promovido quando Adão caiu. Eles acham que Adão era originalmente “o deus desse mundo”, mas na sua queda Satanás ficou com essa ocupação, dando a ele o direito de fazer o que quisesse na terra. Até mesmo Deus era, supostamente, incapaz de impedi-lo daí em diante, porque Adão tinha o “direito legal” de dar seu cargo a Satanás, e Deus tinha que honrar Seu acordo com Adão, que agora era com Satanás. Supostamente, Satanás agora possui “a posse de Adão” e Deus não pode pará-lo até que a “posse de Adão vença”.

Essa teoria é verdadeira?Satanás ganhou a “posse de Adão” na queda da humanidade?Com certeza não. Satanás nada ganhou com a queda da humanidade, exceto uma maldição de Deus e uma promessa divina de sua morte total.

O fato é que a Bíblia nunca disse que Adão era originalmente “o deus deste mundo”. Segundo, a Bíblia nunca disse que Adão tinha o direito legal de dar para qualquer um sua suposta autoridade sobre o mundo. Terceiro, a Bíblia nunca disse que Adão tinha uma posse que uma dia venceria. Nenhuma dessas ideias é bíblica.

Que autoridade Adão originalmente possuiu?Lemos em Gênesis que Deus disse a Adão e Eva: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjulguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra” (Gn. 1:28, ênfase adicionada).

Deus nada disse a Adão sobre ser um “deus” sobre a terra, ou que ele podia controlar tudo, como o tempo, todas as pessoas futuras que nasceriam e assim por diante. Ele simplesmente deu a ambos, como primeiros humanos, o domínio sobre os peixes, aves e animais e ordenou que enchessem a terra e a subjulgassem.

Quando Deus proferiu Seu julgamento sobre o homem, nada disse sobre Adão perder sua suposta posição como “deus deste mundo”. Além do mais, nada disse ao casal que perderiam o domínio sobre os peixes, aves e animais. Na verdade, acho que fica bem óbvio, pois a humanidade ainda está reinando sobre os peixes, aves e “todos os animais que se movem”. A raça humana ainda está enchendo a terra e a subjulgando. Adão nada perdeu de sua original autoridade dada por Deus, quando caiu.

Satanás não é o “Deus deste Mundo”? (Isn’t Satan “God of This World”?)

Mas Paulo não se referiu a Satanás como o “deus deste mundo” e Jesus não se referiu a ele como o “governante deste mundo”?Sim, mas nenhum deles fez ligação alguma de que Adão era o antigo “deus deste mundo” ou que Satanás recebeu o título de Adão, quando este caiu.

Além do mais, o título de Satanás como “deus deste mundo” não prova que ele pode fazer tudo o que quer na terra ou que Deus não tem poder para impedi-lo. Jesus disse: “Toda a autoridade me foi dada nos céus e na terra” (Mt. 28:18, ênfase adicionada). Se Jesus tinha toda a autoridade na terra, Satanás só pode agir com Sua permissão.

Quem deu a Jesus toda a autoridade nos céus e na terra?Deve ter sido Deus o Pai, que a tinha para que pudesse dá-la a Jesus. É por isso que Jesus falou de Seu Pai como “Senhor dos céus e da terra” (Mt. 11:25; Lc. 10:21, ênfase adicionada). Deus tem tido toda a autoridade sobre toda a terra desde que Ele a criou. Ele deu um pouco de autoridade aos humanos no início, e a humanidade nunca perdeu o que Deus originalmente deu.

Quando a Bíblia fala de Satanás sendo o deus ou governante deste mundo, significa simplesmente que as pessoas do mundo (que não são salvas) estão seguindo a Satanás. É a ele que estão servindo, percebendo isso ou não. Ele é o deus deles.

A Oferta de Imóvel de Satanás (Satan’s Real-Estate Offer?)

Parte da teoria “Conquistado por Satanás” foi baseada na história da tentação de Satanás a Jesus no deserto, registrada em Mateus e Lucas. Vamos examinar o registro de Lucas e ver o podemos aprender:

O Diabo o levou a um lugar alto e mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo. E lhe disse: “Eu te darei toda a autoridade sobre eles e todo o seu esplendor, porque me foram dados e posso dá-los a quem eu quiser. Então, se me adorares, tudo será teu”. Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus, e só a ele preste culto’” (Lc. 4:5-8).

Esse incidente prova que Satanás tem controle sobre tudo no mundo, que Adão entregou a ele o controle ou que Deus é incapaz de impedi-lo?Não, e por vários bons motivos.

Primeiramente, devemos ter cuidado ao basear nossa teologia em uma afirmação feita por alguém que Jesus chamou de “pai da mentira” (Jo. 8:44). Às vezes, Satanás fala a verdade, mas nesse caso, nossa bandeira de aviso deve estar se movendo freneticamente, pois o que Satanás disse aparentemente contradiz algo que Deus havia dito.

No quarto capítulo do livro de Daniel, encontramos a história da humilhação do rei Nabucodonosor. Nabucodonosor, todo orgulhoso por causa de sua posição e realização, recebeu uma palavra do profeta Daniel de que receberia a mente de um animal até que reconhecesse “que o Altíssimo domina sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer” (Dn. 4:24, ênfase adicionada). Essa declaração é feita quatro vezes em conexão a esta história, diminuindo o valor de sua importância (veja Dn. 4:17, 25, 32; 5:21).

Note que Daniel disse: “o Altíssimo domina sobre os reinos dos homens”. Isso indica que Deus tem algum controle sobre a terra, não?

Note também que a afirmação de Daniel parece ser uma contradição direta ao que Satanás disse a Jesus. Daniel disse que Deus “os dá a quem quer”, e Satanás disse: “posso dá-los a quem eu quiser” (Lc. 4:6). Então, em quem acreditar?Pessoalmente, eu vou acreditar em Daniel.

Contudo, há uma possibilidade de que Satanás estivesse falando a verdade — se olharmos para o que ele disse, por um ângulo diferente.

Satanás é o “deus deste mundo”, que, como já disse, significa que ele domina sobre os reinos das trevas, que inclui as pessoas de todas as nações que estão em rebelião contra Deus. A Bíblia diz que “o mundo todo está sob o poder do Maligno” (1 Jo. 5:19). Quando Satanás disse que poderia dar a autoridade sobre todos os reinos para quem quisesse, ele poderia estar falando somente de seus próprios domínios, o reino das trevas, que é composto de sub-reinos que correspondem por alto a reinos geopolíticos. Somos informados pelas Escrituras que Satanás tem várias categorias de espíritos malignos, através dos quais reina sobre seus domínios (veja Ef. 6:12), e podemos assumir que ele é quem promove ou rebaixa esses espíritos de suas posições, já que é o chefe. Neste caso, Satanás estava oferecendo legitimamente a Jesus a segunda posição de espíritos maligos — abaixo de si — para ajudá-lo a governar seu reino das trevas. Tudo o que Jesus tinha que fazer era se prostrar diante de Satanás e adorá-lo. Graças a Deus, Jesus passou essa “promoção” adiante.

Quem Deu a Satanás Sua Autoridade?(Who Gave Satan His Authority?)

Mas e a declaração de Satanás de que a autoridade sobre esses reinos fora entregue a ele?

Novamente, há uma possibilidade real de que Satanás estava mentindo. Mas vamos dar a ele o benefício da dúvida e assumir que estava falando a verdade.

Note que Satanás não disse que Adão entregou a ele a autoridade. Como já vimos, Adão não poderia tê-la dado a Satanás porque ele nunca a teve para poder entregá-la. Adão reinava sobre peixes, pássaros e animais; não reinos. (Aliás, não havia reinos de pessoas para se reinar quando Adão caiu). Além disso, se Satanás estava oferecendo a Jesus o governo sobre o reino das trevas, que consistia de todos os espíritos malignos e incrédulos, é impossível que Adão tenha entregue essa jurisdição a Satanás, pois ele já reinava sobre anjos caídos antes de Adão ser criado.

Talvez Satanás quis dizer que todas as pessoas do mundo tinham dado a ele autoridade sobre elas, já que estavam em rebelião com Deus e eram, portanto, sabendo ou não, submetidas a ele.

Uma possibilidade ainda melhor é que Deus tenha lhe entregue. Sob a luz das Escrituras é bem possível que Deus tenha dito a Satanás: “Você e seus espíritos malignos têm a Minha permissão para reinar sobre todos os que não são comprometidos Comigo”. Isso pode parecer difícil de engolir, mas veremos que é provavelmente a melhor explicação para a afirmação de Satanás. Se Deus realmente “domina sobre os reinos dos homens” (Dn. 4:25), então qualquer autoridade que Satanás tenha sobre a humanidade deve ter sido entregue por Deus.

Satanás só está governando sobre o reino das trevas, que também pode ser chamado de “reino de rebelião”. Ele estava reinando sobre esse reino desde o dia em que foi expulso do céu, que foi anterior à queda de Adão. Até a queda de Adão, o reino das trevas consistia somente de anjos rebeldes. Mas quando Adão pecou, ele se juntou ao reino de rebelião, e desde então, o reino de Satanás não inclui somente os anjos rebeldes, mas os humanos rebeldes também.

Satanás tinha autoridade sobre seu reino das trevas antes mesmo de Adão ser criado; portanto, não vamos pensar que quando Adão caiu, Satanás ganhou algo que pertencia a Adão. Não; quando Adão caiu, ele se juntou a um reino de rebelião que já existia por algum tempo, um reino governado por Satanás.

Deus Foi Pego de Surpresa com a Queda?(Was God Surprised by the Fall?)

Outra falha na teoria “Conquistado por Satanás” é que ela faz com que Deus pareça bobo, como se fosse pego de surpresa pelos eventos da queda e como resultado, Se encontrou em difícil apuro. Deus sabia que Satanás tentaria Adão e Eva e no que resultaria a queda do homem?Se Deus era onipresente, e é, ele deveria saber o que iria acontecer. É por isso que a Bíblia nos informa que Ele fez planos para redimir a humanidade antes mesmo de tê-la criado (veja Mt. 25:34; At. 2:2-23; 4:27-28; 1 Co. 2:7-8; Ef. 3:8-11; 2 Tm. 1:8-10; Ap. 13:8).

Deus criou o Diabo sabendo que ele cairia, como também criou Adão e Eva sabendo que cairiam. De forma alguma Satanás poderia enganar a Deus e ganhar algo que Deus preferiria que ele não possuísse.

Estou dizendo que Deus quer que Satanás seja o “deus deste mundo”?Sim, desde que isso sirva ao Seu propósito divino. Se Deus não quisesse que Satanás operasse, Ele simplesmente o impediria, como vemos em Apocalipse 20:1-2 que um dia o fará.

Contudo, não estou dizendo que Deus quer que todos continuem debaixo do governo de Satanás. Deus quer que todos sejam salvos e escapem do reino de Satanás (At. 26:18; Cl. 1:13; 1 Tm. 2:3-4; 2 Pd. 3:9). Mesmo assim, Ele permite que Satanás reine sobre todos os que amam as trevas (veja Jo. 3:19) — os que continuam em rebelião.

Mas não há algo que possamos fazer para ajudar as pessoas a escaparem do reino das trevas de Satanás?Sim, podemos orar por elas e chamá-las para se arrependerem e crerem no evangelho (assim como Jesus nos mandou fazer). Se aceitarem, serão libertas da autoridade de Satanás. Mas pensar que podemos “arrancar” os espíritos malignos que seguram as pessoas, é errado. Se as pessoas querem continuar nas trevas, Deus as deixará. Jesus disse certa vez aos Seus discípulos que se, em certas cidades as pessoas não recebessem a mensagem deles, deveriam sacudir o pó de seus pés e ir para outra cidade (Mt. 10:14). Ele não disse que deveriam ficar e derrubar as fortalezas de sobre as cidades para que as pessoas ficassem mais receptivas. Deus permite que espíritos perversos mantenham cativos os que se recusam a se arrepender e se voltar para Ele.

Mais Provas da Autoridade Suprema de Deus Sobre Satanás (Further Proof of God’s Supreme Authority Over Satan)

Existem várias outras passagens que provam de forma abundante que Deus não perdeu controle algum sobre Satanás na queda do homem. A Bíblia afirma repetidamente que Deus sempre teve e sempre terá controle total sobre ele. O Diabo só pode fazer o que Deus permite. Vamos analizar, primeiramente, a ilustração do Velho Testamento sobre este fato.

Os dois primeiros capítulos do livro de Jó têm um exemplo clássico da autoridade de Deus sobre Satanás. Lemos sobre ele, diante do trono de Deus, acusando Jó. Naquele tempo, Jó estava obedecendo a Deus mais que qualquer outra pessoa na terra, e naturalmente, virou o alvo de Satanás. Deus sabia que Satanás tinha reparado em Jó e ouviu enquanto Satanás acusava Jó de servi-Lo somente por causa de todas as bênçãos que recebia (veja Jó 1:9-12).

Satanás disse que Deus tinha posto uma cerca em volta de Jó e pediu que Ele retirasse as suas bênçãos. Consequentemente, Deus permitiu que Satanás afligisse Jó de forma limitada. Inicialmente, Satanás não podia tocar no corpo dele. Contudo, mais tarde Deus permitiu que afligisse também o corpo, mas o proibiu de matá-lo (Jó 2:5-6).

Essa passagem das Escrituras prova claramente que Satanás não pode fazer tudo o que quer. Ele não pôde tocar nas posses de Jó, até que Deus permitisse. Não pôde roubar a saúde de Jó, até que Deus o permitisse. E não pôde matar Jó, porque Deus não o permitiu. [3] Deus tem o controle sobre Satanás, mesmo antes da queda de Adão.

O Espírito Maligno de Saul Vindo “de Deus” (Saul’s Evil Spirit “From God”)

Existem vários exemplos em que Deus usa espíritos malignos de Satanás como agentes de Sua ira no Velho Testamento. Lemos em 1 Samuel 16:14: “O Espírito do Senhor se retirou de Saul, e um espírito maligno, vindo da parte do Senhor, o atormentava”. Essa situação obviamente aconteceu por causa da disciplina de Deus sobre o desobediente rei Saul.

A pergunta é, o que a frase “um espírito maligno, vindo da parte do Senhor” significa?Quer dizer que Deus mandou um espírito maligno que vivia com Ele no céu, ou que, em Sua soberania, Deus permitiu que um dos espíritos malignos de Satanás afligisse Saul?Acho que a maioria dos cristãos aceitaria a segunda possibilidade em vista do resto do que a Bíblia ensina. A razão das Escrituras registrarem que o espírito maligno veio “da parte do Senhor” era porque o assédio do espírito maligno foi um resultado direto da disciplina divina de Deus a Saul. Portanto, vemos que espíritos malignos estão debaixo do controle soberano de Deus.

Lemos em Juízes 9:23: “Deus enviou um espírito maligno entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém” para que o julgamento divino pudesse vir sobre eles por suas obras perversas. Novamente, esse espírito não veio do céu, de Deus, mas dos domínios de Satanás, e recebeu permissão divina para colocar em ação planos malignos contra certas pessoas que mereciam punição. Espíritos malignos não podem colocar em prática com sucesso planos malignos sem a permissão de Deus. Se isso não for verdade, Deus não é onipotente. Portanto, mais uma vez, podemos concluir com segurança que, quando Adão caiu, Satanás não ganhou autoridade que estava além da concedida por Deus.

Exemplos no Novo Testamento do Poder de Deus Sobre Satanás (New Testament Examples of God’s Power Over Satan)

O Novo Testamento dá provas adicionais que refutam a teoria Conquistado por Satanás.

Por exemplo, lemos em Lucas 9:1 que Jesus deu aos Seus doze discípulos autoridade para expulsar todos os demônios”. Além do mais, em Lucas 10:19, Jesus disse a eles: “Eu lhes dei autoridade para pisarem sobre cobras e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada lhes fará dano” (ênfase adicionada).

Se Jesus lhes deu autoridade sobre todo o poder de Satanás, Ele primeiro precisava ter essa autoridade. Satanás está sob a autoridade de Deus.

Mais tarde no evangelho de Lucas, lemos que Jesus disse a Pedro: “Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo” (Lc. 22:31, ênfase adicionada). O texto indica que Satanás não poderia peneirar Pedro sem primeiro ter a permissão de Deus. Novamente, Satanás está debaixo do controle de Deus. [4]

A Prisão de Mil Anos de Satanás (Satan’s Thousand-Year Prison Term)

Quando lemos sobre a prisão de Satanás por um anjo em Apocalipse 20, não há menção do vencimento da escritura de posse de Adão. O motivo dado para seu encarceiramento é simplesmente para “impedi-lo de enganar as nações” (Ap. 20:3).

O interessante, é que depois de Satanás ser aprisionado por 1.000 anos, ele será solto “para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra” (Ap. 20:8). Então, as nações enganadas reunirão seus exércitos para atacar Jerusalém, onde Jesus estará reinando. Quando tiverem cercado a cidade, fogo descerá do céu e as devorará (veja Ap. 20:9).

Alguém seria tão tolo ao ponto de dizer que a escritura de posse de Adão incluía um curto período final depois dos 1.000 anos, e Deus seria obrigado a soltar Satanás por esse motivo?Tal ideia é absurda!

O que aprendemos mais uma vez dessa seção das Escrituras é que Deus tem controle total sobre o Diabo e permite que ele faça suas más obras somente para cumprir Seus próprios propósitos divinos.

Durante o futuro reinado de mil anos de Jesus, Satanás estará fora de operação, incapaz de enganar alguém. Contudo, haverá pessoas na terra que serão obedientes ao reinado de Cristo somente por fora, mas por dentro adorariam vê-Lo deposto. Mesmo assim, não tentarão um motim, sabendo que não têm chance de derrotar Aquele que “governará com cetro de ferro” (Ap. 19:15).

Mas quando Satanás for liberto, ele será capaz de enganar aqueles que, em seus corações, odeiam a Cristo, e eles imprudentemente tentarão o impossível. Quando for permitido que Satanás engane rebeldes em potencial, a condição do coração das pessoas será revelado, e então Deus julgará corretamente os que não merecem viver em Seu reino.

É claro que esse é um dos motivos pelo qual Deus permite que Satanás engane as pessoas hoje. Posteriormente, veremos mais a fundo os propósitos de Deus para Satanás, mas agora basta dizer que Deus não quer que as pessoas permaneçam enganadas. Contudo, Ele quer saber o que está nos corações delas. Satanás não pode enganar os que conhecem e creem na verdade. Mas Deus permite que o Diabo engane os que, por causa de seus corações duros, rejeitam a verdade.

Falando do tempo do anticristo, Paulo escreveu:

Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda. A vinda desse perverso é segundo a ação de Satanás, com todo o poder, com sinais e com maravilhas enganadoras. Ele fará uso de todas as formas de engano da injustiça para os que estão perecendo, porquanto rejeitaram o amor à verdade que os poderia salvar. Por essa razão Deus lhes envia um poder sedutor, a fim de que creiam na mentira, e sejam condenados todos os que não creram na verdade, mas tiveram prazer na injustiça (2 Ts. 2:8-12, ênfase adicionada).

Note que Deus recebe o crédito por enviar um “espírito sedutor, a fim de que creiam na mentira”. Mas note também que as pessoas que serão seduzidas são as “que não creram na verdade”, indicando que tiveram uma oportunidade, mas rejeitaram o evangelho. Deus permitirá que Satanás dê poder ao anticristo sobre falsos sinais e maravilhas para que os que rejeitarem a Cristo sejam enganados, e o propósito final de Deus é que “sejam condenados”. Por esse mesmo motivo, Deus permite que Satanás engane as pessoas hoje.

Se Deus não tivesse motivo para permitir que Satanás operasse na terra, Ele o teria banido para algum outro lugar do universo quando caiu. Ficamos sabendo em 2 Pedro 2:4 que há alguns anjos caídos que Deus lançou no inferno e aprisionou “em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo”. Nosso Deus onipotente poderia ter feito a mesma coisa a Satanás e a qualquer um de seus anjos se isso satisfizesse Seus propósitos divinos. Mas Deus tem bons motivos para permitir que Satanás e seus anjos operem na terra por mais um tempo.

Os Demônios Temem o Tormento (The Demons’ Fear of Torment)

Enquanto terminamos nosso estudo nesse mito em particular, veremos um último exemplo das Escrituras na história dos endemoninhados gadarenos:

Quando ele [Jesus] chegou ao outro lado, à região dos gadarenos, foram ao seu encontro dois endemoninhados, que vinham dos sepulcros. Eles eram tão violentos que ninguém podia passar por aquele caminho. Então eles gritaram: “Que queres conosco, Filho de Deus?Vieste aqui para nos atormentar antes do devido tempo?” (Mt. 8:28-29, ênfase adicionada).

Essa história é muito usada pelos devotos da teoria Conquistado por Satanás para sustentar suas ideias. Eles dizem: “Aqueles demônios apelaram à justiça de Jesus. Eles sabiam que Ele não tinha o direito de atormentá-los antes que a escritura de posse de Adão vencesse, o tempo em que eles e Satanás serão lançados no lago de fogo para serem atormentados dia e noite por toda a eternidade”.

Mas a verdade é exatamente o oposto. Eles sabiam que Jesus tinha o poder e todo o direito de atormentá-los a qualquer hora que desejasse, e é por isso que imploraram por misericórdia. Obviamente, eles estavam com muito medo de que o Filho de Deus pudesse mandá-los ao tormento muito mais cedo. Lucas nos diz que eles imploraram a Ele “que não os mandasse para o Abismo” (Lc. 8:31). Se Jesus não tivesse esse direito por causa de algum suposto direito legal do Diabo, eles não teriam se preocupado.

Aqueles demônios sabiam que estavam completamente à mercê de Jesus, como ilustrado por suas súplicas para não serem mandados para fora daquela região (Mc. 5:10), para poderem entrar nos porcos que estavam por perto (Mc. 5:12), para não serem mandados ao “Abismo” (Lc. 8:31), como também para não serem tormentados antes “do devido tempo”.

Mito no4: “Satanás, como o “deus desse mundo” tem controle sobre tudo na terra, os incluindo governos humanos, os desastres naturais e o clima”. (Myth #4: “Satan, as ‘the god of this world’ has control over everything on the earth, including human governments, natural disasters, and the weather.”)

Nas Escrituras, o apóstolo Paulo se refere a Satanás como “o deus dessa era” (2 Co. 4:4) e a Jesus como o “príncipe deste mundo” (Jo. 12:31; 14:30; 16:11). Com base nesse título para Satanás, muitos assumem que Satanás tem controle total sobre a terra. Mesmo que já tenhamos considerado passagens o suficiente para expor o erro desse mito em particular, nos fará bem estudar mais um pouco para que possamos ter um entendimento maior de como os poderes de Satanás são limitados. Devemos ter cuidado para que todo o nosso entendimento de Satanás não seja baseado em somente quatro passagens que se referem a ele como deus ou príncipe deste mundo.

Enquanto examinamos mais a Bíblia, descobrimos que Jesus não só se referiu a Satanás como o “príncipe deste mundo”, mas que também se referiu a Seu Pai celestial como “Senhor dos céus e da terra” (Mt. 11:25; Lc. 10:21, ênfase adicionada). Além do mais, o apóstolo Paulo não só se referiu a Satanás como “o deus dessa era”, mas, assim como Jesus, se referiu a Deus como “Senhor dos céus e da terra” (At. 17:24, ênfase adicionada). Isso nos prova que nem Jesus ou Paulo queriam que pensássemos que Satanás tem total controle sobre toda a terra; a autoridade de Satanás deve ser limitada.

Uma distinção mu

O Plano Eterno de Deus

Capítulo Vinte e Oito (Chapter Twenty-Eight)

 

Por que Deus nos criou? Ele tinha algum objetivo em mente desde o começo? Não sabia que todos se rebelariam contra Ele? Não previu as consequências de nossa rebelião e todo o sofrimento e tristeza que a humanidade tem enfrentado desde então? Por que, então Ele criou as pessoas?

A Bíblia responde essas perguntas para nós. Ela diz que mesmo antes de ter criado Adão e Eva, Ele sabia que eles, e todos depois deles, pecariam. Incrivelmente, Ele já tinha um plano para redimir a humanidade através de Jesus. Paulo escreveu sobre isso:

Deus, que nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas, obras mas por causa da sua própria determinação e graça. Esta graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos (2 Tm. 1:8b-9, ênfase adicionada).

A graça de Deus nos foi dada em Cristo desde a eternidade e não somente por toda a eternidade. Isso indica que Deus tinha planejado a morte sacrificial de Jesus eras atrás.

Paulo escreveu similarmente em sua carta aos efésios:

De acordo com o seu eterno plano que ele realizou em Cristo Jesus, nosso Senhor (Ef. 3:11, ênfase adicionada).

A morte de Jesus na cruz não foi uma ideia tardia, um plano elaborado rapidamente para consertar o que Deus não tinha previsto.

Deus não só tinha um propósito eterno em nos dar Sua graça desde a eternidade, mas também tinha previsto desde a eternidade passada quem escolheria receber Sua graça, e até escreveu seus nomes em um livro:

Todos os habitantes da terra adorarão a besta, a saber, todos aqueles que não tiveram seus nomes escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo (Ap. 13:8, ênfase adicionada).

A queda de Adão não pegou Deus de surpresa. Nem a sua ou a minha. Deus sabia que pecaríamos, e também sabia que nos arrependeríamos e acreditaríamos no Senhor Jesus.

A Próxima Pergunta (The Next Question)

Se Deus sabia que alguns creriam em Jesus e outros O rejeitariam, por que criou pessoas que, de antemão, sabia que O rejeitariam?Por que não, simplesmente, criar pessoas que sabia que se arrependeriam e creriam em Jesus?

A resposta para essa pergunta é um pouco mais difícil de entender, mas não impossível. Primeiro, precisamos entender que Deus nos criou com o livre arbítrio. Isto é, todos temos o privilégio de decidir sozinhos se serviremos ou não a Deus. Nossas decisões de obedecer ou desobedecer, se arrepender ou não, não são pré-determinadas por Deus. São escolhas nossas.

Portanto, todos nós devemos ser testados. É claro que Deus já sabia o que faríamos, mas tínhamos que fazer algo em algum momento para que Ele previsse.

Por exemplo, Deus sabe o resultado de todos os jogos de futebol antes que sejam jogados, mas devem acontecer jogos de futebol para que Ele saiba qual será o resultado. Deus não pode prever o resultado de jogos de futebol que nunca serão jogados, pois não haveria resultados para prever.

Da mesma forma, Deus só pode prever decisões de agentes morais livres se estes receberem a oportunidade de fazer decisões e as fizerem. Eles devem ser testados. E é por isso que Deus não criou, e não pode criar, somente pessoas que saiba que irão se arrepender e crer em Jesus.

Outra Pergunta (Another Question)

Também podemos perguntar: “Se tudo o que Deus quer é pessoas obedientes, por que Ele nos criou com livre arbítrio? Por que não criou um raça de robôs eternamente obedientes?

A resposta é porque Deus é um Pai. Ele quer ter um relacionamento de pai e filho conosco, e não há esse relacionamento com robôs. O desejo de Deus é ter um família eterna de filhos que tenham escolhido a amá-Lo por conta própria. De acordo com as Escrituras, este era Seu plano predeterminado:

Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade (Ef. 1:5, ênfase adicionada).

Se quiser ter uma ideia de como Deus se alegraria com robôs, coloque um fantoche em sua mão e faça com que ele diga que te ama. Com certeza, você não sentirá aquela coisa boa no coração! O fantoche só está falando o que você fez que ele falasse. Ele não te ama de verdade.

O que faz o amor tão especial é que ele é baseado na escolha de alguém com o livre arbítrio. Fantoches e robôs nada sabem sobre amor porque não podem fazer decisões sozinhos.

Porque Deus queria um família de filhos que escolhessem amá-Lo e servi-Lo de coração, Ele teve que criar agentes morais livres; e para essa decisão, teve que correr o risco de que alguns agentes morais livres escolhessem não amá-Lo ou servi-Lo. E esses agentes, depois de uma vida inteira resistindo a Deus (que Se revela e atrai todas as pessoas através de Sua criação, de suas consciências e da proclamação do evangelho) teriam que encarar seus castigos por direito, tendo provado que são dignos da ira de Deus.

Nenhuma pessoa no inferno pode apontar um dedo acusador contra Deus, porque Ele providenciou uma forma de cada pessoa escapar do castigo de seus pecados. Deus deseja que todos sejam salvos (veja 1 Tm. 2:4; 2 Pd. 3:9), mas cada um deve decidir sozinho.

Predestinação Bíblica (Biblical Predestination)

Mas e aquelas passagens do Novo Testamento que falam sobre Deus ter nos predestinado, escolhendo-nos antes da fundação do mundo?

Infelizmente, alguns acham que Deus escolheu especificamente alguns para serem salvos e o resto para ser condenado, sem basear Sua decisão nas coisas que esses indivíduos fizeram; isto é, supostamente, Deus escolheu quem seria salvo e quem seria condenado. Obviamente, essa ideia elimina o conceito de livre arbítrio e com certeza não é ensinado nas Escrituras. Vamos considerar o que a Bíblia ensina sobre a predestinação.

Realmente, as Escrituras ensinam que Deus nos escolheu, mas esse fato deve ser estudado. Deus escolheu desde a fundação do mundo redimir as pessoas que já sabia que iriam se arrepender e crer no evangelho debaixo da influência do Seu chamado, mas por conta própria. Leia o que o apóstolo Paulo diz sobre as pessoas que Deus escolhe:

Deus não rejeitou o seu povo, o qual de antemão conheceu. Ou vocês não sabem como Elias clamou a Deus contra Israel, conforme diz a Escritura?“Senhor, mataram os teus profetas e derrubaram os teu altares; sou o único que sobrou, e agora estão procurando matar-me.” E qual foi a resposta divina?“Reservei para mim sete mil homens que não dobraram os joelhos diante de Baal.” Assim, hoje também há um remanescente escolhido pela graça (Rm. 11:2-5, ênfase adicionada).

Note que Deus disse a Elias: “reservei para mim sete mil homens”, mas esses sete mil homens fizeram primeiro a escolha de não dobrar “os joelhos diante de Baal”. Paulo disse que da mesma forma, havia um remanescente de judeus crentes escolhidos pela graça. Então, podemos dizer que sim, Deus nos escolheu, mas escolheu os que primeiro fizeram a escolha certa sozinhos. Deus escolheu salvar todos os que acreditam em Jesus, e esse era Seu plano mesmo antes da criação.

O Pré-Conhecimento de Deus (God’s Foreknowledge)

As Escrituras também ensinam que Deus também conhecia todos os que escolheriam fazer a decisão correta. Por exemplo, Pedro escreveu:

Aos eleitos de Deus, peregrinos… escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai (1 Pd. 1:1-2a, ênfase adicionada).

Somos escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus. Paulo também escreveu sobre os eleitos pré-conhecidos:

Pois aqueles que de antemão conheceu [nós], também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele [Jesus] seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou (Rm. 8:29-30).

Deus pré-conhecia todos nós, os que escolheriam acreditar em Jesus, e predestinou que nos tornaríamos conforme a imagem de Seu Filho, nos tornando filhos regenerados dEle em Sua grande família. Mantendo Seu plano eterno, nos chamou através do evangelho, nos justificou (nos fez justos) e no fim nos glorificará em Seu futuro reino.

Paulo escreveu em outra carta:

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado (Ef. 1:3-6, ênfase adicionada).

A mesma verdade é apresentada aqui — Deus nos predestinou (os que pré-conhecia que iriam se arrepender e crer) antes da fundação do mundo para se tornarem Seus santos filhos através de Jesus Cristo.

Como já mencionei, alguns torcem o significado de passagens assim quando ignoram todas as outras coisas que a Bíblia ensina, dizendo que não temos escolha sobre nossa salvação — supostamente, a escolha foi toda de Deus. Eles chamam isso de doutrina da “eleição incondicional”. Mas quem já ouviu de tal coisa como “eleição incondicional”, isto é, uma eleição que não esteja baseada em condições? Em países livres, elegemos candidatos políticos baseando-nos nas condições que eles preenchem em nossas mentes. Escolhemos cônjuges baseando-nos nas condições que preenchem, características que possuem que os tornam desejáveis. Mesmo assim, alguns teólogos querem que acreditemos que a suposta escolha de Deus de quem será salvo e quem não será, é por “eleição incondicional”, não baseada em condições! Portanto, a salvação de indivíduos é por pura sorte; caprichos de um monstro cruel, injusto, hipócrita e irracional chamado Deus! A própria frase “eleição incondicional” se contradiz, já que a palavra eleição implica condição. Se for uma “eleição incondicional”, não é eleição; é somente sorte.

O Grande Quadro (The Big Picture)

Agora vemos o grande quadro. Deus sabia que todos pecaríamos, mas fez um plano, antes de qualquer um de nós nascer, para nos redimir. Esse plano revelaria Seu maravilhoso amor e justiça, já que iria requerer que Seu Filho, sem pecado, morresse como substituto pelos nossos pecados. E Deus não somente predestinou que nós, que nos arrependemos e cremos, fôssemos perdoados, como também que nos tornássemos como Seu Filho Jesus, como Paulo disse: “Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl. 2:20).

Nós, que somos renascidos filhos de Deus, receberemos, um dia, corpos incorruptíveis e viveremos em uma sociedade perfeita, servindo, amando e tendo comunhão com nosso maravilhoso Pai celestial! Viveremos em uma nova terra e na Nova Jerusalém. Tudo isso será possível por causa da morte sacrificial de Jesus! Glória a Deus por Seu plano predeterminado!

A Vida Presente (This Present Life)

Uma vez que entendemos o plano eterno de Deus, podemos compreender melhor sobre o que é a vida presente. Primeiramente, esta vida serve como um teste para cada pessoa. A escolha de cada pessoa determina se ela aproveitará o privilégio de ser um dos próprios filhos de Deus que viverão com Ele pela eternidade. Aqueles que se humilham e cedem ao chamado de Deus, se arrependendo e crendo, serão exaltados (veja Lc. 18:14). Essa vida é, primeiramente, um teste para a vida futura.

Isso também nos ajuda a entender alguns mistérios que rodeiam esta vida presente. Por exemplo, muitos se perguntam: “Por que é permitido que Satanás e seus demônios tentem as pessoas?” ou: “Quando Satanás foi lançado do céu, por que foi permitido que tivesse acesso à terra?”

Agora podemos ver que até Satanás serve para um propósito divino no plano de Deus. Primeiramente, Satanás serve como a opção alternativa para a humanidade. Se a única escolha fosse servir a Jesus, todos O serviriam; querendo ou não.

Seria parecido com uma eleição em que todos devessem votar, mas só houvesse um candidato. Esse candidato seria eleito por unanimidade, mas nunca teria confiança de que seus eleitores o amam ou mesmo gostem dele! Eles não tiveram escolha, a não ser votar nele! Deus estaria em uma situação parecida se não houvesse alguém competindo com Ele pelos corações das pessoas.

Considere deste ângulo: e se Deus tivesse colocado Adão e Eva em um jardim no qual nada fosse proibido? Então, Adão e Eva seriam robôs por causa do ambiente em que estavam. Eles não poderiam dizer: “Escolhemos obedecer a Deus”, porque não teriam oportunidade de desobedecê-Lo.

Mais importante ainda, Deus não poderia dizer: “Sei que Adão e Eva Me amam”, porque eles não teriam oportunidade de obedecer para provar seu amor por Deus. Deus deve dar a agentes morais livres a oportunidade de desobedecerem para que Ele determine se querem obedecê-Lo. Deus não tenta as pessoas (veja Tg. 1:13), mas testa a todos (veja Sl. 11:5; Pv. 17:3). Uma maneira que Ele os testa é permitindo que sejam tentados por Satanás, que então, serve a um propósito divino em Seu plano eterno.

Um Exemplo Perfeito (A Perfect Example)

Lemos em Deuteronômio 13:1-3:

Se aparecer entre vocês um profeta ou alguém que faz predições por meio de sonhos e lhes anunciar um sinal miraculoso ou um prodígio, e se o sinal ou prodígio de que ele falou acontecer, e ele disser: “Vamos seguir os outros deuses que vocês não conhecem e vamos adorá-los”, não dêem ouvidos às palavras daquele profeta ou sonhador. O Senhor, o seu Deus, está pondo vocês à prova para ver se o amam de todo o coração e de toda a alma (ênfase adicionada).

Parece lógico concluir que, se não foi Deus quem deu ao falso profeta a habilidade sobrenatural de fazer sinais ou maravilhas — deve ter sido Satanás. Mesmo assim, Deus lhe autorizou e usou a tentação de Satanás como Seu próprio teste para descobrir o que estava no coração de Seu povo.

Esse mesmo princípio também está ilustrado em Juízes 2:21-3:8 quando Deus permitiu que Israel fosse tentado pelas nações vizinhas para determinar se o povo O obedeceria ou não. Jesus também foi levado pelo Espírito ao deserto com o propósito de ser tentado por Satanás (veja Mt. 4:1) e, portanto, testado por Deus. Precisava ser provado que Ele não tinha pecados, e a única maneira disso acontecer foi através das tentações.

Satanás Não Merece Toda a Culpa (Satan Does Not Deserve All the Blame)

Satanás já enganou muitas pessoas no mundo, cegando suas mentes à verdade do evangelho, mas devemos perceber que Satanás não pode cegar a todos. Ele só pode enganar os que se permitem ser enganados, as pessoas que rejeitam a verdade.

Paulo declarou que os incrédulos são “obscurecidos no entendimento” (Ef. 4:18) e ignorantes, mas também revelou o motivo principal do entendimento obscurecido e ignorância deles:

Não vivam mais como os gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração. Tendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram à depravação, cometendo com avidez toda espécie de impureza (Ef. 4:17b-19, ênfase adicionada).

Os incrédulos não são somente pessoas infelizes que foram tristemente enganadas por Satanás. Pelo contrário, são pecadores rebeldes que são ignorantes por vontade própria e que querem continuar sendo enganados por causa de seus corações endurecidos. Ninguém precisa continuar sendo enganado, como a sua própria vida prova! Uma vez que tenha amaciado seu coração a respeito de Deus, Satanás não pode continuar te enganando.

Finalmente, Satanás será preso durante o reinado milenar de Cristo, e então não terá mais influência sobre as pessoas:

Ele [um anjo] prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo, Satanás, e o acorrentou por mil anos; lançou-o no Abismo, fechou-o e pôs um selo sobre ele, para assim impedi-lo de enganar as nações, até que terminassem os mil anos. Depois disso, é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo (Ap. 20:2-3).

Note que antes do aprisionamento de Satanás, ele terá enganado as nações, mas quando for acorrentado não poderá mais enganá-las. Contudo, uma vez que for solto, voltará a enganar as nações novamente:

Quando terminarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá para enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra… a fim de reuni-las para a batalha… As nações marcharam por toda a superfície da terra e cercaram o acampamento dos santos, a cidade amada; mas um fogo desceu do céu e as devorou (Ap. 20:7-9, ênfase adicionada).

Por que Deus soltará Satanás por esse curto período de tempo?Para que todos os que odeiam a Cristo em seus corações, mas que fingiram obediência a Ele durante Seu reinado, sejam manifestos. Então, poderão ser julgados corretamente. Esse será o teste final.

Pelo mesmo motivo, é permitido que Satanás opere na terra agora — para que os que odeiam a Cristo em seus corações sejam manifestos e julgados. Uma vez que Satanás não sirva mais para cumprir os propósitos divinos de Deus, ele será lançado no lago de fogo para ser atormentado para sempre (veja Ap. 20:10).

Preparando Para o Mundo Futuro (Preparing For the Future World)

Se você se arrependeu e creu no evangelho, passou no primeiro e mais importante teste desta vida. Contudo, não pense que não continuará sendo testado para que Deus determine sua contínua devoção e fidelidade a Ele. Somente os que continuam “alicerçados e firmes na fé” serão apresentados a Deus como “santos, inculpáveis e livres” (veja Cl. 1:22-23).

Além disso, as Escrituras deixam claro que, um dia, todos compareceremos diante do trono de julgamento de Deus, e seremos recompensados individualmente de acordo com nossa obediência na terra. Portanto, ainda estamos sendo testados para determinar o quanto somos dignos de recompensas especiais futuras no Reino de Deus. Paulo escreveu:

Portanto, você, por que julga seu irmão?E por que despreza seu irmão?Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus. Porque está escrito: “‘Por mim mesmo jurei’, diz o Senhor, ‘diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua confessará que sou Deus’”. Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus (Rm. 14:10-12, ênfase adicionada).

Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más (2. Co. 5:10).

Portanto, não julguem nada antes da hora devida; esperem até que o Senhor venha. Ele trará à luz o que está oculto nas trevas e manifestará as intenções dos corações. Nessa ocasião, cada um receberá de Deus a sua aprovação (1 Co. 4:5, ênfase adicionada).

Quais Serão as Recompensas?(What Will be the Rewards?)

Quais, exatamente, serão as recompensas dadas aos que provam seu amor e devoção a Jesus?

As Escrituras falam de pelo menos duas recompensas diferentes — a aprovação de Deus e mais oportunidades de servi-lo. Ambas são reveladas na parábola de Jesus sobre o homem nobre:

Um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar. Então, chamou dez dos seus servos e lhes deu dez minas. Disse ele: “Façam esse dinheiro render até a minha volta”. Mas os seus súditos o odiavam e por isso enviaram uma delegação para lhe dizer: “Não queremos que este homem seja nosso rei”. Contudo, ele foi coroado e voltou. Então mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber quanto tinham lucrado. O primeiro veio e disse: “Senhor, a tua mina rendeu outras dez”. “Muito bem, meu bom servo!”, respondeu o seu senhor. “Por ter sido confiável no pouco, governe sobre dez cidades”. O segundo veio e disse: “Senhor, a tua mina rendeu cinco vezes mais”. O seu senhor respondeu: “Também você, encarregue-se de cinco cidades”. Então veio outro servo e disse: “Senhor, aqui está a tua mina; eu a conservei guardada num pedaço de pano. Tive medo, porque és um homem severo. Tiras o que não puseste e colhes o que não semeaste”. O seu senhor respondeu: “Eu o julgarei pelas suas próprias palavras, servo mal! Você sabia que sou homem severo, que tiro o que não pus e colho o que não semeei. Então, por que não confiou o meu dinheiro ao banco?Assim, quando eu voltasse o receberia com os juros”. E disse aos que estavam ali: “Tomem dele a sua mina e dêem-na ao que tem dez”. “Senhor”, disseram, “ele já tem dez!” Ele respondeu: “Eu lhes digo que a quem tem, mais será dado, mas a quem não tem, até o que tiver lhe será tirado. E aqueles inimigos meus, que não queriam que eu reinasse sobre eles, tragam-nos aqui e matem-nos na minha frente!” (Lc. 19:12-27).

Obviamente, Jesus é o homem nobre que não estava presente, mas que eventualmente retorna. Quando Jesus voltar, teremos que dar contas a Ele do que fizemos com os dons, habilidades, ministérios e oportunidades que Ele nos deu, representados pelas minas dadas a cada servo na parábola. Se formos fiéis, seremos recompensados por Ele com louvor e autoridade para ajudá-lo a reinar sobre a terra (veja 2 Tm. 2:12; Ap. 2:26-27; 5:10; 20:6), que é representado pelas cidades que cada servo fiel foi autorizado a governar na parábola.

A Justiça de Nosso Futuro Julgamento (The Fairness of Our Future Judgment)

Outra parábola que Jesus contou ilustra a perfeita justiça de nosso julgamento futuro:

Pois o Reino dos céus é como um proprietário que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Ele combinou pagar-lhes um denário pelo dia e mandou-os para a sua vinha. Por volta das nove horas da manhã, ele saiu e viu outros que estavam desocupados na praça, e lhes disse: “Vão também trabalhar na vinha, e eu lhes pagarei o que for justo”. E eles foram. Saindo outra vez, por volta do meio-dia e das três horas da tarde, fez a mesma coisa. Saindo por volta das cinco horas da tarde, encontrou ainda outros que estavam desocupados e lhes perguntou: “Por que vocês estiveram aqui desocupados o dia todo?” “Porque ninguém nos contratou”, responderam eles. Ele lhes disse: “Vão vocês também trabalhar na vinha”. Ao cair da tarde, o dono disse a seu administrador: “Chame os trabalhadores e pague-lhes o salário, começando com os últimos contratados e terminando nos primeiros”. Vieram os trabalhadores contratados por volta das cinco horas da tarde, e cada um recebeu um denário. Quando vieram os que tinham sido contratados primeiro, esperavam receber mais. Mas cada um deles também recebeu um denário. Quando o receberam, começaram a se queixar do proprietário da vinha, dizendo-lhe: “Estes homens contratados por último trabalharam apenas uma hora, e o senhor os igualou a nós, que suportamos o peso do trabalho e o calor do dia”. Mas ele respondeu a um deles: “Amigo, não estou sendo injusto com você. Você não concordou em trabalhar por um denário? Receba o que é seu e vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que lhe dei. Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro?Ou você está com inveja porque sou generoso?” Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos (Mt. 20:1-16).

Nessa parábola, Jesus não estava dizendo que todos os servos de Deus receberão a mesma recompensa no fim, já que isso não só seria injusto, mas também contradiria muitas outras passagens (veja, por exemplo Lc. 19:12-27; 1 Co. 3:8).

Jesus estava ensinando que Deus recompensará cada um de seus servos baseando-se, não só no que fizeram por Ele, mas em quanta oportunidade Ele lhes deu. Na parábola de Cristo, os que trabalharam somente por uma hora teriam trabalhado o dia inteiro se o proprietário lhes tivesse dado oportunidade. Portanto, aqueles que fizeram o máximo em sua oportunidade de uma hora foram recompensados da mesma forma que os que receberam a oportunidade de trabalhar o dia inteiro.

Da mesma forma, Deus dá oportunidades diferentes a cada um de Seus servos. Para alguns Ele dá grandes oportunidades de servir e abençoar milhares de pessoas usando os maravilhosos dons que Ele lhes concede. Para outros Ele dá menos oportunidades e dons, mesmo assim, podem receber a mesma recompensa no fim se forem igualmente fiéis ao que Ele lhes tem dado.[1]

A Conclusão (The Conclusion)

Não há nada mais importante que obedecer a Deus, e um dia todos saberão disso. Os sábios já sabem e agem de acordo!

Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos, porque isso é o essencial para o homem. Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mal (Ec. 12:13-14).

O ministro discipulador obedece a Deus de todo o coração e faz todo o possível para motivar seus discípulos a fazerem o mesmo!

Para maiores estudos a respeito desse importante tópico de nosso futuro julgamento, veja Mt. 6:1-6, 16-18; 10:41-42; 12:36-37; 19:28-29; 25:14-30; Lc. 12:2-3; 14:12-14; 16:10-13; 1 Co. 3:5-15; 2 Tm. 2:12; 1 Pd. 1:17; Ap. 2:26-27; 5:10; 20:6.

 


[1] Essa parábola também não ensina que todos os que se arrependem na juventude e trabalham fielmente por muitos anos serão recompensados da mesma forma que os que se arrependeram no último ano de suas vidas e serviram a Deus fielmente somente por um ano. Isso seria injusto, e não seria baseado na oportunidade que Deus deu a cada um, já que Deus deu a cada um a oportunidade de se arrepender durante toda a vida. Portanto, os que trabalham por mais tempo receberão mais recompensas do que os que trabalharam por menos tempo.

A Vida Após a Morte

Capítulo Vinte e Sete (Chapter Twenty-Seven)

 

A maioria dos cristãos sabe que quando as pessoas morrem, vão para o céu ou para o inferno. Contudo, nem todos sabem que o céu não é a habitação final dos santos, e que o Hades não é a habitação final dos perdidos.

Quando os seguidores de Jesus Cristo morrem, seus espíritos/almas vão imediatamente para o céu, onde Deus mora (veja 2 Co. 5:6-8; Fp. 1:21-23; 1 Ts. 4:14). Contudo, no futuro, Deus criará um novo céu e uma nova terra, onde a Nova Jerusalém descerá dos céus para a terra (veja 2 Pd. 3:13; Ap. 21:1-2). Lá, os santos viverão para sempre.

Quando os ímpios morrem, vão imediatamente para o Hades, mas ele é somente um lugar para onde vão para esperar a ressurreição de seus corpos. Quando esse dia chegar, ficarão diante do trono de julgamento de Deus e serão lançados no lago que queima com fogo e enxofre, que é chamado de Geenna na Bíblia. Consideraremos tudo isso com mais detalhes das Escrituras.

Quando os Ímpios Morrem (When the Unrighteous Die)

Para melhor entendermos o que acontece aos ímpios depois da morte, devemos estudar um palavra hebraica do Velho Testamento e três palavras gregas do Novo Testamento. Mesmo que essas palavras hebraica e gregas descrevam três lugares diferentes, na maioria das vezes, são traduzidas como inferno em certas traduções bíblicas, o que pode ser confuso aos leitores.

Primeiro, vamos considerar a palavra hebraica do Velho Testamento, Sheol.

A palavra Sheol é mencionada mais de sessenta vezes no Velho Testamento. Claramente, ela se refere ao lugar após morte dos incrédulos. Por exemplo, quando Corá e seus seguidores se rebelaram contra Moisés no deserto, Deus os puniu abrindo o chão que os engoliu, bem como todas as suas posses. As Escrituras dizem que eles caíram no Sheol:

Desceram vivos à sepultura [Sheol], com tudo o que possuíam; a terra fechou-se sobre eles, e pereceram, desaparecendo do meio da assembléia (Nm. 16:33, ênfase adicionada).

Mais tarde na história de Israel, Deus os avisou de que Sua ira acendeu um fogo que queima até o Sheol:

Pois um fogo foi aceso pela minha ira, fogo que queimará até as profundezas do Sheol. Ele devorará a terra e as suas colheitas e consumirá os alicerces dos montes (Dt. 32:22, ênfase adicionada).

O rei Davi declarou:

Voltem os ímpios ao pó [Sheol], todas a nações que se esquecem de Deus (Sl. 9:17, ênfase adicionada).

E ele orou contra os ímpios dizendo:

Que a morte apanhe os meus inimigos de surpresa! Desçam eles vivos para a sepultura [Sheol], pois entre eles o mal acha guarida (Sl. 55:15, ênfase adicionada).

Advertindo jovens homens contra a astúcia das meretrizes, Salomão escreveu:

A casa dela é um caminho que desce para a sepultura [Sheol] para as moradas da morte… Mas eles nem imaginam que ali estão os espíritos dos mortos, que os seus convidados estão nas profundezas da sepultura [Sheol] (Pv.7:27; 9:18, ênfase adicionada).

Salomão escreveu outros provérbios que nos levam a crer que certamente não são os santos que acabarão no Sheol:

O caminho da vida conduz para cima quem é sensato, para que ele não desça à sepultura [Sheol] (Pv. 15:24, ênfase adicionada).

Castigue-a, você mesmo, com a vara, e assim a livrará da sepultura [Sheol] (Pv. 23:14, ênfase adicionada).

Finalmente, prevendo a descrição de Jesus do inferno, Isaías falou profeticamente ao rei da Babilônia, que tinha se exaltado, mas que seria lançado no Sheol:

Nas profundezas o Sheol está todo agitado para recebê-lo quando chegar. Por sua causa ele desperta os espíritos dos mortos, todos os governantes da terra. Ele os faz levantar-se dos seus tronos, todos os reis dos povos. Todos responderão e lhe dirão: “Você também perdeu as forças como nós, e tornou-se como um de nós”. Sua soberba foi lançada na sepultura [Sheol], junto com o som das suas liras; sua cama é de larvas, sua coberta, de vermes. Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como foi atirado à terra, você que derrubava as nações! Você, que dizia no seu coração: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo”. Mas às profundezas do Sheol você será levado, irá ao fundo do abismo! Os que olham para você admiram-se da sua situação, e a seu respeito ponderam: “É esse o homem que fazia tremer a terra, abalava os reinos, cidades e não deixou que os seu prisioneiros voltassem para casa?” (Pv. 14:9-17, ênfase adicionada).

Essas passagens e outras como elas nos levam a crer que o Sheol sempre foi e ainda é um lugar de tormento onde os ímpios são encarceirados depois de suas mortes. E há mais provas.

Hades (Hades)

Está claro que a palavra grega do Novo Testamento, Hades, se refere ao mesmo lugar que a palavra hebraica do Velho Testamento Sheol. Como prova disso, tudo o que temos que fazer é comparar Salmos 16:10 com Atos 2:27, onde lemos:

Porque tu não me abandonarás no sepulcro [Sheol], nem permitirás que o teu santo sofra decomposição (Sl. 16:10, ênfase adicionada)*.

Porque tu não me abandonarás no sepulcro [Hades], nem permitirás que o teu Santo sofra decomposição (At. 2:27, ênfase adicionada).

É interessante que em todos as dez vezes em que Hades é mencionado no Novo Testamento, é sempre no sentido negativo e muitas vezes como lugar de tormento, onde os maus são encarceirados após a morte. (veja Mt. 11:23; 16:18; Lc. 10:15; 16:23; At. 2:27; 2:31; Ap. 1:18; 6:8; 20:13-14). Novamente, tudo isso indica que o Sheol/Hades foi e é um lugar após morte para os ímpios, um lugar de tormento.[1]

Jesus Foi Para o Sheol/Hades? (Did Jesus Go to Sheol/Hades?)

Vamos considerar mais detalhadamente Salmos 16:10 e sua citação por Pedro registrada em Atos 2:27, dois versículos que indicam que o Sheol e Hades são o mesmo lugar. De acordo com o sermão de Pentecoste de Pedro, Davi não falava de si mesmo em Salmos 16:10, mas falava profeticamente de Cristo, pois o corpo de Davi, diferentemente do corpo de Cristo, sofreu decomposição (veja At. 2:29-31). Portanto, percebemos que, na verdade, era Jesus falando com Seu Pai no salmo 16:10, declarando Sua crença que Seu Pai não abandonaria Sua alma no Sheol ou permitiria que Seu corpo sofresse decomposição.

Alguns interpretam essa declaração de Jesus como prova que Sua alma foi ao Sheol/Hades durante os três dias entre Sua morte e ressurreição. Contudo, não é isso que está implícito. Veja novamente o que exatamente Jesus disse ao Seu Pai:

Porque tu não me abandonarás ao sepulcro [Sheol], nem permitirás que o teu santo sofra decomposição (Sl. 16:10, ênfase adicionada)*.

Jesus não estava dizendo ao Seu Pai: “Eu sei que minha alma ficará alguns dias no Sheol/Hades, mas creio que o Senhor não Me abandonará lá”. Ele estava dizendo: “Acredito que quando morrer não serei tratado como o ímpios, tendo minha alma abandonada no Sheol/Hades. Não ficarei lá nem um minuto. Não! Creio que Seu plano é me ressuscitar em três dias, e não permitirá que Meu corpo sofra decomposição”.

Com certeza, essa interpretação é garantida. Quando Jesus disse: “Nem permitirás que o teu Santo sofra decomposição”, não interpretamos que o corpo de Jesus se decompôs progressivamente por três dias até que fosse restaurado em Sua ressurreição. Interpretamos que Seu corpo nunca sofreu qualquer decomposição, desde a hora de Sua morte até Sua ressurreição.

Da mesma forma, Sua afirmação de que Sua alma não seria abandonada no Sheol/Hades não precisa ser interpretada de forma que Ele tenha ficado no Sheol/Hades por alguns dias, mas que não foi abandonado lá.[2] Ela deve ser interpretada de forma que signifique que Sua alma não seria tratada como a alma de um injusto que seria abandonada no Sheol/Hades. Sua alma nunca passaria um só minuto lá. Note também que Jesus disse: “Porque tu não me abandonarás ao sepulcro”* e não “Porque tu não me abandonarás no sepulcro”.

Onde Esteve a Alma de Jesus Durante os Três Dias?(Where Was Jesus’ Soul During the Three Days?)

Lembre-se que Jesus disse aos Seus discípulos que passaria três dias e três noites “no coração da terra” (Mt. 12:40). Essa não parece uma referência provável ao Seu corpo ficar em uma tumba por três dias, já que dificilmente seria considerado que uma tumba ficasse “no coração da terra”. Jesus devia estar falando sobre Seu espírito/alma estar dentro da terra. Portanto, podemos concluir que Seu espírito/alma não estava no céu entre Sua morte e ressurreição. Jesus afirmou isso em Sua ressurreição quando disse a Maria que ainda não tinha voltado ao Seu Pai (veja Jo. 20:17).

Tenha em mente que Jesus também disse ao ladrão arrependido na cruz que estaria com ele naquele mesmo dia no paraíso (veja Lc. 23:43). Juntando todos esse fatos, sabemos que o espírito/alma de Jesus passou três dias e três noites no coração da terra. Pelo menos parte desse tempo Ele ficou em um lugar chamado “paraíso”, que certamente não parece um sinônimo aceitável ao lugar de tormento chamado Sheol/Hades!

Tudo isso me leva a pensar que deve haver um lugar no coração da terra além do Sheol/Hades, um lugar chamado paraíso. Com certeza, essa ideia é sustentada por uma parábola que Jesus contou de duas pessoas que morrem, um justo e um injusto, Lázaro e o homem rico. Vamos lê-la:

Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia no luxo todos os dias. Diante do seu portão fora deixado um mendigo chamado Lázaro, coberto de chagas; este ansiava comer o que caía da mesa do rico. Até os cães vinham lamber suas feridas. Chegou o dia em que o mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão. O rico também morreu e foi sepultado. No Hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado. Então, chamou-o: “Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo”. Mas Abraão respondeu: “Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento. E além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem” (Lc. 16:19-26, ênfase adicionada).

É claro que ambos, Lázaro e o homem rico não estavam mais em seus corpos, uma vez que morreram, mas tinham ido para seus respectivos lugares como espíritos/almas.

Onde Estava Lázaro?(Where Was Lazarus?)

Note que o homem rico se encontrou no Hades, mas podia ver Lázaro em outro lugar com Abraão. Aliás, a Bíblia diz que Lázaro estava ao lado de Abraão, não como referência a um lugar, mas, provavelmente, ao conforto que Lázaro recebia quando lá chegou.

Qual era a distância entre o homem rico e Lázaro depois de mortos? As Escrituras dizem que o homem rico viu Lázaro “de longe”, e somos informados que havia “um grande abismo” entre eles. Então, a distância entre eles é uma questão de especulação. Contudo, parece lógico concluir que a distância entre eles não era tão grande quanto a distância entre o coração da terra e o céu. Caso contrário, parece que seria impossível que o homem rico fosse capaz de enxergar a Lázaro (sem contarmos a ajuda divina), e dificilmente haveria necessidade de mencionar o “grande abismo” entre os dois lugares especificamente para prevenir que alguém atravessasse de um lugar para o outro. Além do mais, o homem rico chamou Abraão e ele respondeu. Isso nos leva a pensar que estavam bem perto um do outro enquanto falavam em lados opostos do “grande abismo”.

Tudo isso me leva a crer que Lázaro não estava no que chamamos de céu, mas em um lugar separado dentro da terra.[3] Deve ser o paraíso do qual Jesus falou ao ladrão arrependido. Foi para esse paraíso, no coração da terra, que os justos do Velho Testamento foram depois de suas mortes. É para onde Lázaro foi e para onde Jesus e o ladrão arrependido foram.

Aparentemente, também é para onde o profeta Samuel foi após sua morte. Lemos em 1 Samuel 28 que quando Deus permitiu que o espírito do profeta morto, Samuel, aparecesse e falasse profeticamente a Saul, a feiticeira En-Dor descreveu Samuel como “um ser que sobe do chão” (1 Sm. 28:13, ênfase adicionada). Samuel disse a Saul: “Por que você me perturbou, fazendo-me subir?” (1 Sm. 28:15, ênfase adicionada). Aparentemente, o espírito/alma de Samuel estava no paraíso dentro da terra.

As Escrituras parecem sustentar o fato de que na ressurreição de Cristo, o paraíso foi esvaziado e que os justos que morreram durante o tempo do Velho Testamento foram levados ao céu com Jesus. A Bíblia diz que quando Jesus subiu ao céu das profundezas da terra, “levou cativos muitos prisioneiros” (Ef. 4:8-9; Sl. 68:18). Acredito que esses cativos eram os que viviam no paraíso. Com certeza, Jesus não libertou as pessoas do Sheol/Hades![4]

Jesus Pregou aos Espíritos Aprisionados (Jesus Preached to Spirits in Prison)

As Escrituras também nos dizem que Jesus proclamou a um grupo de pessoas, espíritos sem corpos, em alguma momento entre Sua morte e ressurreição. Lemos em 1 Pedro 3:

Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água (1 Pd.3:18-20).

Essa passagem das Escrituras, com certeza, levanta algumas perguntas para as quais não tenho respostas. Por que Jesus proclamaria especificamente a algumas pessoas desobedientes que morreram durante o dilúvio de Noé?O que Ele disse a elas?

De qualquer forma, essa passagem parece sustentar o fato que Jesus não passou os três dias e três noites inteiras entre Sua morte e ressurreição no paraíso.

Geenna (Gehenna)

Hoje, quando os corpos do justos morrem, seus espíritos/almas vão imediatamente para o céu (veja 2 Co. 5:6-8; Fp. 1:21-23; Ts. 4:14).

Os injustos ainda vão para o Sheol/Hades, onde são atormentados e esperam a ressurreição de seus corpos, o julgamento final, e a hora que serão lançados “no lago de fogo”, um lugar diferente e separado do Sheol/Hades.

Esse lago de fogo é descrito por um terceira palavra que às vezes, também é traduzida inferno, a palavra grega Geenna. Essa palavra é derivada do nome de um depósito de lixo fora de Jerusalém no vale de Hinnom, um vale profundo cheio de podridão que era infestado de vermes e bigatos e em uma de suas partes havia fogo e fumaça perpetuamente.

Quando Jesus falou de Geenna, Ele falou de um lugar onde as pessoas seriam lançadas em seu corpos. Por exemplo, Ele disse no evangelho de Mateus:

E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno [Geenna]… Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno [Geenna] (Mt. 5:30, 10:28, ênfase adicionada).

Geenna e Hades não podem ser o mesmo lugar, porque as Escrituras dizem que os ímpios são mandados ao Hades como espíritos/almas sem corpos. Somente depois do reinado de mil anos de Cristo quando os corpos dos incrédulos forem ressuscitados e julgados por Deus é que serão lançados no lago de fogo, ou Geenna (veja Ap. 20:5, 11-15). Além do mais, um dia, o Hades será lançado no lago de fogo (veja Ap. 20:14); portanto, deve ser um lugar diferente do lago de fogo.

Tártaro (Tartaros)

A quarta palavra que é traduzida várias vezes por inferno nas Escrituras é a palavra grega tártaro. Só encontrada uma vez no Novo Testamento:

Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno [tártaro], prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo (2 Pd. 2:4).

Normalmente, pensam no tártaro como uma prisão especial para certos anjos que pecaram; portanto, não é o Sheol/Hades ou Geenna. Judas também escreveu sobre anjos que foram detidos:

E, quanto aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade, mas abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos em correntes eternas para o juízo do grande Dia (Jd. 6).

Os Horrores do Inferno (The Horrors of Hell)

Uma vez que uma pessoa não arrependida morre, ela não recebe mais oportunidades de arrependimento. Seu destino está selado. A Bíblia diz: “O homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo” (Hb. 9:27).

O inferno é eterno, e os que lá estão confinados não têm esperança de escapar. Sobre a condenação futura dos injustos, Jesus disse: “E estes irão para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mt. 25:46, ênfase adicionada). O castigo para os injustos no inferno é tão eterno quanto a vida eterna para os justos.

Paulo escreveu similarmente:

É justo da parte de Deus retribuir com tribulação aos que lhes causam tribulação… quando o Senhor Jesus for revelado lá dos céus, com os seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes. Ele punirá os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder (2 Ts. 1:6-9, ênfase adicionada).

O inferno é um lugar de agonia indescritível, pois será um castigo eterno. Presos lá para sempre, os injustos carregarão sua culpa eterna e sofrerão a ira de Deus no fogo indistinguível.

Jesus descreveu o inferno como um lugar de “trevas”, onde haverá “choro e ranger de dentes”, e um lugar “onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga” (Mt. 22:13; Mc. 9:44). Oh, precisamos avisar as pessoas sobre esse lugar e dizer-lhes da salvação que só há em Cristo!

Uma denominação em particular ensina o conceito de purgatório, um lugar onde os crentes sofrerão por um tempo para serem purgados de seus pecados e, portanto, serem feitos dignos do céu. Contudo, essa ideia não é ensinada na Bíblia.

Os Justos Após a Morte (The Righteous After Death)

Quando um crente morre, seu espírito vai imediatamente para o céu para estar com o Senhor. Paulo deixou esse fato bem claro quando escreveu sobre sua própria morte:

Porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor (Fp. 1:21-23, ênfase adicionada).

Note que Paulo disse que tinha o desejo de partir e que se partisse, estaria com Cristo. Seu espírito não entraria em um estado inconsciente, esperando pela ressurreição (como infelizmente, alguns acham).

Note também que Paulo disse que para ele, morrer seria lucro. Isso só seria verdade se fosse para o céu quando morresse.

Paulo também declarou em sua segunda carta aos coríntios que se o espírito de um crente deixar seu corpo, ele irá “habitar com o Senhor”:

Portanto, temos sempre confiança e sabemos que, enquanto estamos no corpo, estamos longe do Senhor… e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor (2 Co. 5:6-8).

Para maior sustentação, Paulo também escreveu:

Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram (1 Ts. 4:13-14).

Se Jesus trará do céu com Ele na Sua volta “aqueles que nele dormiram”, eles devem estar no céu com Ele agora.

Antevisão do Céu (Heaven Foreseen)

Como é o céu? Em nossas mentes finitas nunca poderemos entender completamente as glórias que nos aguardam lá, e a Bíblia só nos dá um relance. Para os crentes, o fato mais animador sobre o céu é que veremos nosso Senhor e Salvador, Jesus, e Deus nosso Pai face a face. Viveremos na casa do Pai:

Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver (Jo. 14:2-3).

Quando chegarmos ao céu, muitos mistérios que nossas mentes não podem compreender agora serão entendidos. Paulo escreveu:

Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face (1 Co. 13:12).

O livro de Apocalipse nos dá a melhor imagem de como é o céu. Descrito como um lugar de muitas atividades, maravilhosa beleza, variação ilimitada e alegria inexpressível, o céu não será um lugar onde as pessoas ficam sentadas em nuvens e tocam harpa o dia todo!

João, que recebeu uma visão do céu, notou primeiro o trono de Deus, o centro do universo:

Imediatamente me vi tomado pelo Espírito, e diante de mim estava um trono no céu e nele estava assentado alguém. Aquele que estava assentado era de aspecto semelhante a jaspe e sardônio. Um arco-íris, parecendo uma esmeralda, circundava o trono, ao redor do qual estavam outros vinte e quatro tronos, e assentados neles havia vinte e quatro anciãos. Eles estavam vestidos de branco e na cabeça tinham coroas de ouro. Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões. Diante dele estavam acesas sete lâmpadas de fogo, que são os sete espíritos de Deus. E diante do trono havia algo parecido com um mar de vidro, claro como cristal. No centro, ao redor do trono, havia quatro seres viventes cobertos de olhos, tanto na frente como atrás. O primeiro ser parecia um leão, o segundo parecia um boi, o terceiro tinha rosto como de homem, o quarto parecia uma águia em vôo. Cada um deles tinha seis asas e era cheio de olhos, tanto ao redor como por baixo das asas. Dia e noite repetem sem cessar: “Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir”. Toda vez que os seres viventes dão glória, honra e graças àquele que está assentado no trono e que vive para todo o sempre, os vinte e quatro anciãos se prostram diante daquele que está assentado no trono e adoram aquele que vive para todo o sempre. Eles lançam as suas coroas diante do trono, e dizem: “Tu, Senhor, e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas (Ap. 4:2-11).

João fez o melhor possível para descrever em termos terrenos o que dificilmente pode ser comparado a qualquer coisa na terra. Obviamente, não compreenderemos tudo o que ele viu até que vejamos também. Mas, com certeza, a leitura é inspiradora.

As passagens mais inspiradoras sobre o céu são encontradas em Apocalipse 21 e 22, onde João descreveu a nova Jerusalém, que no momento está no céu, mas que descerá à terra depois do reinado milenar de Cristo:

Ele me levou no Espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia dos céus, da parte de Deus. Ela resplandecia com a glória de Deus, e o seu brilho era como o de uma jóia muito preciosa, como jaspe, clara como cristal. Tinha um grande e alto muro com doze portas e doze anjos junto às portas… O anjo que falava comigo tinha como medida uma vara feita de ouro, para medir a cidade, suas portas e seu muros. A cidade era quadrangular, de comprimento e largura iguais. Ele mediu a cidade com a vara; tinha dois mil e duzentos quilômetros de comprimento; a largura e a altura eram iguais ao comprimento… O muro era feito de jaspe e a cidade era de ouro puro, semelhante ao vidro puro… As doze portas eram doze pérolas, cada porta feita de uma única pérola. A rua principal da cidade era de outro puro, como vidro transparente. Não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo-poderoso e o Cordeiro são o seu templo. A cidade não precisa de sol nem de lua para brilharem sobre ela, pois a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua candeia… Então o anjo me mostrou o rio da água da vida que, claro como cristal, fluía do trono de Deus e do Cordeiro, no meio da rua principal da cidade. De cada lado do rio estava a árvore da vida, que frutifica doze vezes por ano, uma por mês. As folhas da árvore servem para a cura das nações. Já não haverá maldição nenhuma. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão. Eles verão a sua face, e o seu nome estará em sua testas. Não haverá mais noite. Eles não precisarão de luz de candeia, nem da luz do sol, pois o Senhor Deus os iluminará; e eles reinarão para todo o sempre (Ap. 21:10-22:5)

Todos os seguidores de Jesus podem esperar ansiosos por todas essas maravilhas, desde que continuem na fé. Sem dúvida passaremos nossos primeiros dias no céu dizendo um para o outro: “Ah! Então era isso que João tentou descrever no livro de Apocalipse”!

 


* Nota do tradutor: versículo traduzido diretamente do inglês; também em todo o capítulo.

[1] Alguns tentam fazer caso de algumas passagens, como Gênesis 37:35, Jó 14:13, Salmos 89:48, Eclesiastes 9:10 e Isaías 38:9-10, dizendo que o Sheol também era o lugar para onde os santos iam após suas mortes. A prova bíblica para essa ideia não é muito convincente. Se o Sheol era o lugar para onde ambos fossem após a morte, então, ele deve ter dois compartimentos separados: o inferno e o paraíso, o que é normalmente dito pelos que aderiram a essa ideia.

* Nota do tradutor: versículo traduzido diretamente do inglês; também em todo o capítulo.

[2] Os que aderem a essa interpretação devem aderir a outras duas teorias. Uma delas é que Sheol/Hades era o nome para um lugar após morte para os santos e os incrédulos que era dividido em dois compartimentos: o lugar de tormento e o paraíso, para onde Jesus foi. A outra teoria é que Jesus aguentou os tormentos dos perdidos por três dias e três noites no fogo do Sheol/Hades enquanto sofria a sentença dos pecados como nosso substituto. Ambas essas teorias são difíceis de provar através das Escrituras, e nenhuma é necessária se Jesus nunca passou tempo algum no Sheol/Hades. É isso que Sua declaração significa. A respeito da segunda teoria, Jesus não sofreu os tormentos dos perdidos por três dias e três noites entre Sua morte e ressurreição, pois nossa redenção foi comprada através de Seu sofrimento na cruz (veja Cl. 1:22), não por Seu sofrimento no Sheol/Hades.

* Nota do tradutor: versículo traduzido diretamente do inglês; também em todo o capítulo.

[3] Note também que ambos, Lázaro e o homem rico, mesmo separados de seus corpos, estavam conscientes e tinham todas a faculdades como visão, tato e audição. Podiam sentir dor e conforto e lembrar experiências passadas. Isso prova que a teoria de “alma dormente”, a ideia de que pessoas ficam em um estado inconsciente quando morrem, esperando recuperar a consciência na ressurreição de seus corpos, é falsa.

[4] Alguns acham, e talvez com razão, que os cativos mencionados em Efésios 4:8-9 somos todos nós que eramos prisioneiros do pecado, agora libertos através da ressurreição de Cristo.

A Disciplina do Senhor

Capítulo Vinte e Cinco (Chapter Twenty-Five)

 

Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem. Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o ponto de derramar o próprio sangue. Vocês se esqueceram da palavra de ânimo que ele lhes dirige como a filhos: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho”. Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Ora, qual filho que não é disciplinado por seu pai?Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados. Portanto, fortaleçam as mãos enfraquecidas e os joelhos vacilantes. “Façam caminhos retos para os seus pés”, para que o manco não se desvie, antes, seja curado (Hb. 12:3-13).

De acordo com o inspirado autor do livro de Hebreus, nosso Pai celestial disciplina a todos os Seus filhos. Se nunca somos disciplinados por Ele, isso indica que não somos um de Seus filhos. Portanto, devemos estar atentos e sensíveis à Sua disciplina. Alguns cristãos professos, que têm como foco as bênçãos e a bondade de Deus, interpretam todas as circunstâncias negativas como ataques de demônios sem nenhum propósito divino. Isso pode ser um grande erro se Deus estiver tentando trazê-los ao arrependimento através de Sua disciplina.

Bons pais terrenos disciplinam seus filhos com a esperança que aprendam, amadureçam e sejam preparados para a vida adulta. Da mesma forma, Deus nos disciplina para que cresçamos espiritualmente, nos tornemos mais úteis em Seu serviço e sejamos preparados para comparecer diante do Seu trono de julgamento. Ele nos disciplina porque nos ama e porque deseja que compartilhemos de Sua santidade. Nosso amoroso Pai celestial se dedica ao nosso crescimento espiritual. As Escrituras dizem: “Aquele que começou a boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp. 1:6).

Nenhuma criança gosta de ser disciplinada pelos pais, e quando somos disciplinados por Deus, a experiência não é “motivo de alegria… mas sim de tristeza”, como acabamos de ler. Contudo, no fim estamos melhores preparados, pois a disciplina “produz fruto de justiça”.

Quando e Como Deus nos Disciplina? (When and How Does God Discipline Us?)

Como qualquer bom pai, Deus só disciplina Seus filhos quando são desobedientes. Sempre que O desobedecemos corremos o risco de sermos disciplinados. Contudo, o Senhor é muito misericordioso e nos dá bastante tempo para nos arrependermos. Normalmente, Sua disciplina vem depois de nossos repetidos atos de desobediência e Seus repetidos avisos.

Como Deus nos disciplina?Como aprendemos em um capítulo anterior, a disciplina de Deus pode vir em forma de fraqueza, doença ou até mesmo morte prematura:

Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram. Mas, se nós tivéssemos o cuidado de examinar a nós mesmos, não receberíamos juízo. Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo (1 Co. 11:30-32).

Não devemos concluir automaticamente, que todas as doenças são resultado da disciplina de Deus (o caso de Jó vem à mente). Contudo, se doenças aparecerem é bom fazer um check-up espiritual, vermos se abrimos a porta através da desobediência para a disciplina de Deus.

Podemos evitar o julgamento de Deus se julgarmos a nós mesmos — isto é, assumir e nos arrepender de nosso pecado. Seria lógico concluir que seríamos candidatos à cura, uma vez que nos arrependemos, se nossa doença for resultado da disciplina de Deus.

Por meio do julgamento de Deus, Paulo disse que, na verdade, evitamos ser condenados com o mundo. O que ele quis dizer? A única coisa que poderia significar é que a disciplina de Deus nos leva ao arrependimento para não sermos lançados no inferno com o mundo. Para aqueles que acham que a santidade é opcional para os que vão para o céu, isso é difícil de aceitar. Mas aqueles que leram o Sermão do Monte de Jesus sabem que somente aqueles que obedecem a Deus entrarão em Seu Reino (veja Mt. 7:21). Portanto, se persistirmos no pecado e não nos arrependermos, corremos o risco de perdermos a vida eterna. Graças a Deus por Sua disciplina que nos leva ao arrependimento e nos salva do inferno!

Satanás Como Ferramenta do Julgamento de Deus (Satan as a Tool of God’s Judgment)

Várias passagens deixam claro que Deus pode usar a Satanás para Seus propósitos disciplinares. Por exemplo, na parábola do servo impiedoso, encontrada em Mateus 18, Jesus disse que o mestre do servo ficou “irado” quando soube que seu servo perdoado não tinha perdoado seu conservo. Consequentemente, ele entregou seu servo impiedoso “aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia” (Mt. 18:34). Jesus terminou essa parábola com as seguintes palavras solenes:

Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão (Mt. 18:35).

Quem são os “torturadores”? Parece provável que seja Satanás e seus demônios. Deus pode entregar um de Seus filhos desobedientes a Satanás para levá-lo ao arrependimento. Dificuldades e calamidades tem uma maneira de levar as pessoas ao arrependimento — como o filho pródigo aprendeu (veja Lc. 15:14-19).

No Velho Testamento, encontramos exemplos de Deus usando Satanás ou espíritos malignos para trazer Sua disciplina ou julgamento nas vidas das pessoas que merecem Sua ira. Um exemplo é encontrado no nono capítulo de Juízes, onde lemos que “Deus enviou um espírito maligno entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém” (Jz. 9:23) para trazer julgamento a eles por suas obras contra os filhos de Gideão.

A Bíblia também diz que “um espírito maligno, vindo da parte do Senhor” atormentava o rei Saul para que ele se arrependesse (1 Sm. 16:17). Contudo, Saul nunca se arrependeu e finalmente morreu em uma batalha por causa de sua rebelião.

Em ambos esses exemplos do Velho Testamento, as Escrituras dizem que os espíritos malignos foram enviados pelo Senhor. Isso não quer dizer que Deus tenha espíritos malignos no céu que esperam para servi-Lo. O mais provável é que Ele permita que esses espíritos ajam limitadamente com a esperança de que os pecadores se arrependam debaixo da aflição dos espíritos.

Outras Formas de Disciplina de Deus (Other Means of God’s Discipline)

Debaixo da antiga aliança, também vemos que Deus disciplinava Seu povo com frequência permitindo que problemas como falta de alimentos e inimigos estrangeiros que os dominavam, surgissem. Eventualmente, eles se arrependiam e Deus os libertava de seus inimigos. Quando se recusaram a se arrepender, depois de anos de opressão e avisos, Deus permitiu que um poder estrangeiro os conquistasse completamente e os deportasse como exilados.

Debaixo da nova aliança, é bem possível que Deus possa simplesmente disciplinar Seus filhos desobedientes permitindo problemas em suas vidas, ou pode permitir que seus inimigos os aflijam. Por exemplo, a passagem citada no início desse capítulo sobre a disciplina de Deus (Hb. 12:3-13) é encontrada no contexto de crentes hebreus que estavam sendo perseguidos por sua fé. Contudo, nem toda perseguição é permitida por causa de desobediência. Cada caso deve ser julgado separadamente.

Reagindo Corretamente à Disciplina de Deus (Rightly Reacting to God’s Discipline)

De acordo com a admoestação mencionada no início deste capítulo, podemos reagir de forma errada à disciplina de Deus de duas formas. Podemos desprezar “a disciplina do Senhor” ou nos magoar “com a sua repreensão” (Hb. 12:5). Se desprezarmos a disciplina do Senhor, significa que não a reconhecemos ou que ignoramos seu aviso. Magoar-se com a disciplina do Senhor é desistir de tentar agradá-Lo porque pensamos que Sua disciplina é muito severa. Ambas as reações são erradas. Devemos perceber que Deus nos ama e que a Sua disciplina é para o nosso bem. Quando reconhecemos Sua mão amorosa de disciplina, devemos nos arrepender e receber Seu perdão.

Uma vez que nos arrependemos, devemos esperar pelo alívio da disciplina de Deus. Contudo, não devemos necessariamente esperar o alívio das consequências inevitáveis de nosso pecado, mas podemos pedir a misericórdia e ajuda do Senhor. Deus responde “ao humilde e contrito de coração” (Is. 66:2). A Bíblia promete: “Pois a sua ira só dura um instante, mas o seu favor dura a vida toda; o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria” (Sl. 30:5).

Depois de Seu julgamento cair sobre os israelitas, Deus prometeu:

Por um breve instante eu a abandonarei, mas com profunda compaixão eu a trarei de volta. Num impulso de indignação escondi de você por um instante o meu rosto, mas com bondade eterna terei compaixão de você (Is. 54:7-8).

Deus é bom e misericordioso!

Para mais estudos a respeito da disciplina de Deus, veja 2 Crônicas 6:24-31, 36-39; 7:13-14; Salmos 73:14; 94:12-13; 106:40-46; 118:18; 119:67, 71; Jeremias 2:29-30; 5:23-25; 14:12; 30:11; Ageu 1:2-13; 2:17; Atos 5:1-11 e Apocalipse 3:19.

O Jejum

Capítulo Vinte e Seis (Chapter Twenty-Six)

 

O jejum é o ato voluntário de se abster de alimentos e/ou líquidos por certo tempo.

A Bíblia contém muitos exemplos de pessoas que jejuaram. Algumas se abstiveram de todo o tipo de comida e outras, de somente certos tipos durante seu jejum. Um exemplo do último seria o jejum de três semanas de Daniel, quando não comeu “nada saboroso… carne e vinho” (Dn. 10:3).

Há alguns exemplos nas Escrituras de pessoas que jejuaram de ambos, comida e água, mas esse tipo de jejum total era raro e deve ser considerado sobrenatural se durar mais de três dias. Por exemplo, quando Moisés ficou quarenta dias sem comer ou beber, ele estava na presença de Deus em pessoa, ao ponto de seu rosto brilhar (veja Ex. 34:28-29). Ele repetiu seu jejum de quarenta dias pouco tempo depois do primeiro (veja Dt. 9:9, 18). Os jejuns dele foram sobrenaturais, e ninguém deve tentar imitá-lo nisso. É impossível, a não ser pela ajuda sobrenatural de Deus, que uma pessoa sobreviva mais que alguns dias sem água. A desidratação leva à morte. A maioria das pessoas saudáveis pode sobreviver sem comida, mas apenas por poucas semanas.

Por que Jejuar? (Why Fast?)

O principal objetivo de jejuar é receber benefícios advindos de gastar tempo extra orando e buscando ao Senhor. Quase não há referência ao jejum na Bíblia sem que contenha uma referência à oração, levando-nos a crer que é inútil jejuar sem orar.[1] Ambas as referências ao jejum no livro de Atos, por exemplo, mencionam oração. No primeiro caso (veja At. 13:1-3), os profetas e mestres de Antioquia simplesmente “adoravam o Senhor e jejuavam”. Enquanto faziam isso, receberam uma revelação profética, e consequentemente enviaram Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária. No segundo caso, Paulo e Barnabé apontavam presbíteros para as novas igrejas na Galácia. Lemos:

Paulo e Barnabé designaram-lhes presbíteros em cada igreja; tendo orado e jejuado, eles os encomendaram ao Senhor, em quem haviam confiado (At. 14:23).

Talvez, nesse segundo caso, Paulo e Barnabé estivessem seguindo o exemplo de Jesus, de quando Ele orou a noite inteira antes de escolher os doze (veja Lc. 6:12). Decisões importantes, como designar líderes espirituais, requerem oração até que a pessoa esteja certa de que tem a direção do Senhor, e o jejum tende a reservar mais tempo à oração para esse fim. Se o Novo Testamento recomenda abstinência sexual temporária entre casais para aumentar à devoção a oração (veja 1 Co. 7:5), podemos entender facilmente como a abstinência temporária de alimentos pode servir ao mesmo propósito.[2]

Portanto, quando precisamos orar pela direção de Deus sobre importantes decisões espirituais, o jejum vai servir para esse fim. Orações para muitas outras necessidades podem ser feitas em um tempo relativamente curto. Não precisamos jejuar, por exemplo, para fazer a oração do Pai nosso. Orações por direcionamentos levam mais tempo por causa de nossa dificuldade em “discernir a voz de Deus em nossos corações”, já que, muitas vezes, a voz de Deus compete com desejos e motivações erradas, ou a falta de devoção, que podem estar em nós. Receber segurança pode requerer um período mais extenso de oração, e este é um dos momentos em que o jejum é benéfico.

É claro que gastar tempo em oração, por qualquer bom motivo, é considerado um benefício espiritual. Por esse motivo, devemos considerar o jejum um ótimo meio para obter força e eficiência espiritual — desde que nosso jejum seja acompanhado de oração. Lemos no livro de Atos que os primeiros apóstolos eram dedicados “à oração e ao ministério da palavra” (At. 6:4). Certamente, isso nos revela pelo menos parte do segredo, do poder e da eficiência espiritual deles.

Motivos Errados para Jejuar (Wrong Reasons to Fast)

Agora que estabelecemos uma razão espiritual para jejuar sob o Novo Testamento, também devemos considerar algumas razões não bíblicas para jejuar.

Algumas pessoas jejuam esperando que isso aumente a chance de Deus responder seus pedidos de oração. Contudo, Jesus nos disse que a principal maneira de receber resposta de oração é fé, não jejum (veja Mt. 21:22). O jejum não é um meio de “torcer o braço de Deus”, ou uma maneira de dizer a Ele: “É melhor você responder minha oração ou eu me matarei de fome!” Isso não é jejum bíblico — é greve de fome! Lembre-se de que Davi jejuou por vários dias para que seu filho, o bebê de Bate-Seba, vivesse, mas ele morreu, pois o Senhor estava disciplinando Davi. O jejum não mudou sua situação. Davi não estava orando com fé porque não tinha promessa em que se apoiar. Na verdade, ele estava orando e jejuando contra a vontade de Deus, como provado pelo resultado.

O jejum não é um pré-requisito ao reavivamento. Não há exemplo de alguém no Novo Testamento que jejuou por um reavivamento. Os apóstolos simplesmente obedeceram a Jesus pregando o evangelho. Se uma cidade não respondesse, eles obedeciam a Jesus novamente, tirando o pó de seus pés e indo à próxima cidade (veja Lc. 9:5; At. 13:49-51). Eles não ficavam parados jejuando e tentando “quebrar as fortalezas espirituais”, esperando por um reavivamento. Contudo, isso sendo dito, devo adicionar que jejum e oração, com certeza, podem beneficiar os que ministram o evangelho, fazendo-os agentes mais eficientes do reavivamento. Muitos dos gigantes espirituais de quem ouvimos na história da Igreja foram homens e mulheres que tinham o hábito de orar e jejuar.

O jejum não é um modo de “desvalorizar a carne”, pois o desejo de comer é legítimo e não é pecado, diferente dos óbvios “desejos da carne” listados em Gálatas 5:19-21. Por outro lado, o jejum é um exercício de domínio próprio, e a mesma virtude é necessária para andarmos após o Espírito e não após a carne.

Jejuar pelo propósito de provar sua espiritualidade ou de fazer propaganda de sua devoção a Deus é uma perca de tempo e indicação de hipocrisia. Esse foi o motivo pelo qual os fariseus jejuavam, e Jesus os condenou por isso (veja Mt. 6:16; 23:5).

Alguns jejuam para obter vitória sobre Satanás. Mas isso não é bíblico. As Escrituras dizem que se resistirmos a Satanás pela fé na Palavra de Deus, ele fugirá de nós (veja Tg. 4:7; 1 Pd. 5:8-9). Jejum não é necessário.

Mas Jesus não disse que alguns demônios só podem ser expulsos por meio de “jejum e oração”?

Essa afirmação foi feita em referência a libertar alguém de certo tipo de demônio que o possui, não em referência a um crente que precisa ter vitória sobre os ataques pessoais de Satanás contra ele, algo a que todos os crentes são sujeitos.

Mas a afirmação de Jesus não indica que podemos ganhar maior autoridade sobre demônios através do jejum?

Lembre-se que quando Jesus ouviu um relatório de que Seus discípulos não conseguiram tirar um demônio de um menino, a primeira coisa que fez foi lamentar a falta de fé deles (veja Mt. 17:17). Quando Seus discípulos Lhe indagaram por que haviam falhado, Ele respondeu que era porque a fé deles era pequena (veja Mt. 17:20). Ele também pode ter comentado à parte: “Mas esta espécie só sai pela oração e pelo jejum” (Mt. 17:21). Digo que Ele pode ter adicionado essas palavra como nota de rodapé porque há evidências de que essa frase pode não estar incluída no evangelho original de Mateus. Um nota na margem da minha Bíblia (a New American Standard Version, uma versão em inglês muito respeitada) indica que muitos dos manuscritos originais do evangelho de Mateus não contém essa frase, o que significa que é possível que Jesus nunca tenha dito: “Mas esta espécie só sai pela oração e pelo jejum”. Falantes do inglês têm o benefício de ter muitos tipos diferentes de traduções bíblicas em sua língua, enquanto muitas traduções da Bíblia em outras línguas foram traduzidas, não dos manuscritos hebraicos e gregos originais, mas da Versão King James da Bíblia, uma tradução que tem mais de quatrocentos anos.

No registro de Marcos do mesmo incidente, Jesus diz: “Esta casta não pode sair senão por meio de oração” (Mc. 9:29)*, e está anotado na margem da Bíblia New American Standard que muitos manuscritos adicionam “e jejum” no fim do versículo.

Se Jesus realmente disse essas palavras, ainda estaríamos errados se concluíssemos que o jejum é necessário para que alguém expulse demônios com sucesso. Se Jesus dá a alguém autoridade sobre demônios, como fez com os doze discípulos (veja Mt. 10:1), essa pessoa tem autoridade, e o jejum não aumenta a autoridade de ninguém. É claro que ele pode dar a alguém mais tempo para orar, aumentando assim a sensibilidade espiritual e talvez sua fé em sua autoridade dada por Deus.

Também tenha em mente que se Jesus realmente tivesse feito a afirmação que estamos considerando, teria sido somente em referencia a um tipo de demônio. Mesmo que os discípulos de Jesus tenham falhado uma vez em expulsar uma espécie de demônio, eles obtiveram sucesso em expulsar muitos outros (veja Lc. 10:17).

Tudo isso é para dizer que não precisamos jejuar para ganhar vitória pessoal sobre os ataques de Satanás contra nós.

Ênfase demais a Respeito do Jejum (Overemphasis Regarding Fasting)

Infelizmente, alguns cristãos fizeram do jejum uma religião, dando a isso o lugar dominante em suas vidas cristãs. Contudo, não há referência alguma ao jejum nas epístolas do Novo Testamento.[3] Nenhuma instrução foi dada a crentes sobre como ou quando jejuar. Não há encorajamento ao jejum. Isso nos mostra que o jejum não é um aspecto de maior importância ao seguir a Jesus.

No Velho Testamento, o jejum é mencionado com mais frequência. Ele era associado a tempos de luto, como ligado à morte de alguém ou um tempo de arrependimento, ou com muitas orações durante tempos de crises nacionais ou pessoais (veja Jz. 20:24-28; 1 Sm. 1:7-8; 7:1-6; 31:11-13; 2 Sm. 1:12; 12:15-23; 1 Rs. 21:20-29; 2 Cr. 20:1-3; Ed. 8:21-23; 10:1-6; Ne. 1:1-4; 9:1-2; Et. 4:1-3, 15-17; Sl. 35:13-14; 69:10; Is. 58:1-7; Dn. 6:16-18; 9:1-3; Jl. 1:13-14; 2:12-17; Jn. 3:4-10; Zc. 7:4-5). Acredito que as razões desses versículos continuam válidas para o jejum hoje.

O Velho Testamento também ensina que a devoção ao jejum associado à negligência à obediência de mandamentos mais importantes, como cuidar dos pobres, é desbalanceada (veja Is. 58:1-12; Zc. 7:1:14).

Com certeza, Jesus não pode ser acusado de aumentar a importância do jejum. Ele foi acusado pelos fariseus de não praticá-lo (veja Mt. 9:14-15). Ele os repreendeu por dar mais importância ao jejum de que a coisas espirituais (veja Mt. 23:23; Lc. 18:9-12).

Por outro lado, Jesus falou sobre o jejum a Seus seguidores durante Seu Sermão do Monte. Ele os instruiu a jejuar pelos motivos certos, indicando que antecipava que Seus seguidores jejuariam às vezes. Também prometeu que Deus os recompensaria por seu jejum e, até certo ponto, também praticou jejum (veja Mt. 17:21). E disse que o tempo chegaria em que Seus discípulos jejuariam, quando Ele fosse tirado do meio deles (veja Lc. 5:34-35).

Por Quanto Tempo Alguém Deve Jejuar? (How Long Should One Fast?)

Como disse anteriormente, todos os jejuns de quarenta dias registrados na Bíblia podem ser classificados como sobrenaturais. Já consideramos os dois jejuns de quarenta dias de Moisés na presença do Senhor. Elias também jejuou por quarenta dias, mas foi alimentado por um anjo antes (veja 1 Rs. 19:5-8). Houve alguns elementos sobrenaturais no jejum de quarenta dias de Jesus: Ele foi levado pelo Espírito ao deserto de forma sobrenatural, passou por tentações sobrenaturais de Satanás e foi visitado por anjos no fim de Seu jejum (veja Mt. 4:1-11). Jejuns de quarenta dias não são a norma bíblica.

Se uma pessoa se abstém voluntariamente de fazer uma alimentação com o propósito de passar tempo buscando ao Senhor, ela jejuou. A ideia de que jejuns só podem ser medidos por dias é errônea.

Os dois jejuns mencionados no livro de Atos que já consideramos (veja At. 13:1-3; 14:23) não foram, aparentemente, muito longos. Eles podem ter sidos somente jejuns de carne.

Como o jejum visa principalmente ao propósito de buscar ao Senhor, minha recomendação é que você jejue pelo tempo necessário, até que ganhe o que está buscando de Deus.

Lembre-se, o jejum não força Deus a falar com você. O jejum só pode melhorar sua sensibilidade ao Espírito Santo. Deus fala com você quer você jejue ou não. Nossa dificuldade é distinguir a direção dEle de nossos próprios desejos.

Alguns Conselhos Práticos (Some Practical Advice)

Normalmente, o jejum afeta o corpo físico de várias formas. Uma pessoa pode sentir fraqueza, cansaço, dores de cabeça, náusea, tontura, cólicas e assim por diante. Se alguém tiver o hábito de tomar café, chá ou outras bebidas cafeinadas, alguns desses sintomas podem ser atribuídos à falta de cafeína. Em tais casos, seria uma boa ideia que esses indivíduos retirassem essas bebidas de suas dietas alguns dias antes de começar o jejum. Se alguém jejua regularmente, verá que seus jejuns se tornam cada vez mais fáceis, mesmo que sinta fraqueza durante as primeiras duas semanas. A pessoa deve ter certeza de que está bebendo bastante água durante seu jejum para que não se desidrate.

Jejuns devem ser quebrados cuidadosa e vagarosamente, e quanto maior o tempo de jejum, mais cuidado se deve tomar quando terminá-lo. Se o estômago de alguém não digeriu alimentos sólidos por três dias, seria tolice terminar o jejum comendo alimentos que são difíceis de digerir. Ele deve começar com comidas de fácil digestão e sucos de frutas. Quanto mais longo o jejum, maior o tempo para o sistema digestivo se ajustar a comer novamente, mas perder uma ou duas refeições não requer um período especial.

Alguns estão convencidos de que um jejum cuidadoso e moderado é, na verdade, um meio de promover saúde para nossos corpos; e eu sou um deles, tendo ouvido vários testemunhos de pessoas doentes que foram curadas enquanto jejuavam. Alguns acham que jejuar é um meio de descansar e limpar o corpo. Esse pode ser o motivo de o primeiro jejum de alguém ser, normalmente, o mais difícil de todos. Aqueles que nunca jejuaram são, provavelmente, os que mais precisam de limpeza física interna.

Na maioria dos casos, a fome vai embora entre dois a quatro dias do jejum. Quando a fome volta (normalmente depois de algumas semanas), isso é um sinal para que termine o jejum com cuidado, já que esse é o início da desnutrição, quando o corpo já usou toda a gordura acumulada e está agora usando células essenciais. As Escrituras dizem que Jesus teve fome depois de quarenta dias, e foi aí que terminou Seu jejum (veja Mt. 4:2).

 


[1] Já jejuei por sete dias sem receber benefício espiritual algum pelo simples fato de não ter um objetivo espiritual e não passar tempo extra em oração.

[2] A versão King James de 1 Coríntios 7:5 recomenda o consentimento entre maridos e esposas de se absterem de relações sexuais para que possam dedicar-se ao “jejum e oração”. A maioria das traduções modernas em inglês não mencionam jejum, somente oração.

* * Nota do tradutor: versículo da versão Revista e Atualizada.

[3]A única exceção seria a menção de Paulo a respeito do jejum feito pelos casais em 1 Coríntios 7:5, mas entre as traduções da Bíblia em inglês ela só é encontrada na Versão King James. O jejum involuntário é mencionado em Atos 27:21, 33-34, 1 Coríntios 4:11 e 2 Coríntios 6:5; 11:27. Contudo, esses não eram jejuns feitos com propósitos espirituais, mas somente por causa de circunstâncias graves ou por não haver comida.

Confrontação, Perdão e Reconciliação

Capítulo Vinte e Quatro (Chapter Twenty-Four)

Quando estudamos o Sermão do Monte de Jesus em um capítulo anterior, aprendemos como é importante que perdoemos os que pecam contra nós. Se não os perdoarmos, Jesus promete solenemente que Deus não nos perdoará (veja Mt. 6:14-15).

O que significa perdoar alguém? Vamos considerar o que as Escrituras ensinam.

Jesus comparou perdão com apagar as dívidas de alguém (veja Mt. 18:23-35). Imagine que alguém lhe deva dinheiro e, então, que você libera essa pessoa de sua obrigação de lhe pagar. Você destrói o documento que registra essa dívida. Você não espera mais pelo pagamento e não tem raiva de seu devedor. Agora, você o vê de forma diferente de quando ele lhe devia.

Também podemos entender melhor o que significa perdoar se considerarmos o que significa ser perdoado por Deus. Quando Ele nos perdoa de um pecado, não nos considera responsáveis pelo que fizemos para desagradá-Lo. Ele não tem mais raiva de nós por causa daquele pecado. Não nos disciplinará ou punirá pelo que fizemos. Somos reconciliados com Ele.

Da mesma forma, se realmente perdoo alguém, eu libero a pessoa em meu coração, superando o desejo de justiça ou vingança e mostro misericórdia. Não estou mais chateado com a pessoa que pecou contra mim. Estamos reconciliados. Se estiver nutrindo raiva ou ressentimento contra alguém, não o perdoei verdadeiramente.

Muitas vezes, os cristãos se enganam sobre isso. Dizem que perdoaram alguém, sabendo que é isso que devem fazer, mas ainda nutrem ressentimento contra o ofensor. Eles evitam o ofensor, pois isso traz a raiva suprimida de volta à superfície. Eu sei do que estou falando, pois já fiz isso. Não vamos nos enganar. Lembre-se de que Jesus não quer que tenhamos raiva de um companheiro cristão (veja Mt. 5:22).

Agora, deixe-me fazer uma pergunta: a quem é mais fácil perdoar, um ofensor que pede perdão ou um ofensor que não pede perdão? É claro que todos concordamos que é muito mais fácil perdoar alguém que admite seu erro e nos pede perdão. Aliás, parece bem mais fácil perdoar alguém que pede por perdão do que alguém que não pede. Parece impossível perdoar alguém que não pede perdão.

Vamos considerar isso por outro ângulo. Se, recusar-se a perdoar um ofensor que se arrepende e recusar-se a perdoar outro que não se arrepende forem ambos errados, qual é o maior pecado?Acho que, todos concordamos que se ambos estão errados, recusar-se a perdoar o ofensor que se arrepende é um mal maior.

Uma Surpresa das Escrituras (A Surprise from Scripture)

Tudo isso me leva a outra questão: Deus espera que perdoemos a todos os que pecam contra nós, mesmo aqueles que não se humilham, admitem seu pecado e pedem perdão?

Quando estudamos as Escrituras de perto, descobrimos que a resposta é “Não”. Para a surpresa de muitos cristãos, as Escrituras deixam claro que, mesmo que seja um mandamento amar a todos, incluindo nossos inimigos, não precisamos perdoar a todos.

Por exemplo, Jesus espera que simplesmente perdoemos um companheiro cristão que peca contra nós? Não, não espera. Caso contrário, não nos teria dito para seguirmos os quatro passos para a reconciliação listados em Mateus 18:15-17, passos que terminam com a exclusão do ofensor, se este não se arrepender:

Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. Se ele o ouvir, você ganhou seu irmão. Mas se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros, de modo que “qualquer acusação seja confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas”. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja; e se ele se recusar a ouvir também a igreja, trate-o como pagão ou publicano.

Obviamente, se chegar ao quarto passo (exclusão), o perdão não é garantido ao ofensor, já que o perdão e a exclusão são ações incompatíveis. Pareceria estranho ouvir alguém dizer: “Nós o perdoamos quando o excomungamos”, pois o perdão resulta em reconciliação e não punição. (O que você pensaria se Deus dissesse: “Eu te perdoo, mas de agora em diante não tenho mais nada com você”?) Jesus nos instruiu a tratar o indivíduo excomungado como “pagão ou publicano”, dois tipos de pessoas com os quais o povo judeu não se relacionava, e na verdade detestava.

Nos quatro passos que Jesus listou, o perdão não está no primeiro, segundo ou terceiro passo, a menos que o ofensor se arrependa. Se ele não se arrepender depois dos três passos, ele é levado ao próximo, ainda tratado como um ofensor não-arrependido. Somente quando o ofensor “o ouvir” (isto é, se arrepender), é que pode ser dito que “você ganhou seu irmão” (isto é, que foram reconciliados).

O objetivo da confrontação é para que o perdão possa ser liberado. Contudo, o perdão depende do arrependimento do ofensor. Portanto, nós (1) o confrontaremos com a esperança de que o ofensor (2) se arrependa para que possamos (3) perdoá-lo.

Tudo isso sendo verdade, podemos dizer com toda firmeza que Deus não espera que simplesmente perdoemos companheiros cristãos que pecam contra nós e que não se arrependem depois da confrontação. É claro que isto não nos dá o direito de odiar um ofensor cristão. Pelo contrário, confrontamos porque amamos o ofensor e queremos perdoá-lo e nos reconciliar com ele.

Mesmo assim, depois de todo esforço para a reconciliação através dos três passos que Jesus listou, o quarto passo extermina o relacionamento, em obediência a Cristo.[1] Assim como não devemos ter comunhão com cristãos professos que são adúlteros, alcoólatras, homossexuais e assim por diante (veja 1 Co. 5:11), não devemos ter comunhão com cristãos professos que se recusam a se arrepender quando o corpo inteiro entra em consenso. Tais pessoas provam que não são verdadeiras seguidoras de Cristo e trazem reprovação a Sua igreja.

O Exemplo de Deus (God’s Example)

Quando consideramos nossa responsabilidade de perdoar outros, também podemos nos perguntar por que Deus esperaria que fizéssemos algo que Ele mesmo não faz. Com certeza, Deus ama pessoas culpadas e estende Suas mãos de misericórdia como oferta de perdão. Ele contém Sua ira e lhes dá tempo para que se arrependam. Mas isso vai depender de seu arrependimento. Deus não perdoa culpados, a menos que se arrependam. Então, por que pensaríamos que Ele espera mais de nós?

Tudo isso sendo verdade, não é possível que o pecado de não perdoar, que é tão sério aos olhos de Deus, seja especificamente o pecado de não perdoar os que pedem nosso perdão? É interessante que logo depois de Jesus ter dado os quatro passos de disciplina da igreja, Pedro perguntou:

“Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim?Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Eu lhe digo: Não até sete, mas até setenta vezes sete (Mt. 18:21-22).

Pedro achava que Jesus esperava que ele perdoasse um irmão não-arrependido centenas de vezes por centenas de pecados quando Ele lhe disse, momentos atrás para tratar um irmão não-arrependido como gentio ou publicano por causa de um pecado? Parece pouco provável. Novamente, se você perdoa uma pessoa, não a trata como detestável.

Outra questão que nos deve fazer pensar é esta: Se Jesus esperava que perdoássemos um cristão centenas de vezes por centenas de pecados dos quais ele nunca se arrepende, mantendo assim nosso relacionamento, por que nos permite terminar um casamento por causa de apenas um pecado cometido contra nós, o de adultério, se nosso cônjuge não se arrepender (veja Mt. 5:32)?[2] Isso pareceria bem inconsistente.

Uma Elaboração (An Elaboration)

Logo após Jesus ter dito a Pedro para perdoar um irmão quatrocentas e noventa vezes, Ele contou uma parábola para ajudar Pedro a entender o que Ele quis dizer:

Por isso, o Reino dos céus é como um rei que desejava acertar contas com seus servos. Quando começou o acerto, foi trazido à sua presença um que lhe devia uma enorme quantidade de prata. Como não tinha condições de pagar, o senhor ordenou que ele, sua mulher, seus filhos e tudo o que ele possuía fossem vendidos para pagar a dívida. O servo prostrou-se diante dele e lhe implorou: “Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo”. O senhor daquele servo teve compaixão dele, cancelou a dívida e o deixou ir. Mas quando aquele servo saiu, encontrou um de seus conservos, que lhe devia cem denários. Agarrou-o e começou a sufocá-lo, dizendo: “Pague-me o que deve!” Então o seu conservo caiu de joelhos e implorou-lhe: “Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei”. Mas ele não quis. Antes, saiu e mandou lançá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Quando os outros servos, companheiros dele, viram o que havia acontecido, ficaram muito tristes e foram contar ao seu senhor tudo o que havia acontecido. Então o senhor chamou o servo e disse: “Servo mau, cancelei toda a sua dívida porque você me implorou. Você não devia ter tido misericórdia do seu conservo como eu tive de você?” Irado, seu senhor entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que devia. Assim também lhes fará meu Pai celestial, se cada um de vocês não perdoar de coração a seu irmão (Mt. 18:23-35).

Note que o primeiro servo foi perdoado porque pediu ao seu mestre. Note também, que o segundo servo também pediu humildemente por perdão ao primeiro servo. O primeiro servo não deu ao segundo o que tinha recebido, e foi isso que irou seu mestre. Portanto, Pedro pensaria que Jesus esperava que ele perdoasse um irmão não-arrependido que nunca pediu por perdão, algo que não foi ilustrado na parábola de Jesus?Parece pouco provável, ainda mais quando Jesus tinha acabado de lhe dizer para tratar um irmão não-arrependido, depois de ser propriamente confrontado, como gentio e publicano.

Parece ainda mais improvável que Pedro pensasse que era esperado que perdoasse um irmão não-arrependido em vista do castigo que Jesus nos prometeu se não perdoarmos nossos irmãos de coração. Jesus prometeu restituir todos os nossos pecados previamente perdoados e nos entregar aos torturadores até que paguemos o que nunca poderemos pagar. Isto seria um castigo justo a um crente que não perdoa um irmão, um irmão a quem Deus também não perdoa?Se um irmão peca contra mim, ele peca contra Deus, e Deus não o perdoa a menos que se arrependa. Deus pode nos castigar justamente por não perdoar alguém a quem também não perdoa?

Uma Sinopse (A Synopsis)

As expectativas de Jesus de perdoarmos nossos companheiros cristãos estão sucintamente estabelecidas em Suas palavras registradas em Lucas 17:3-4:

Se o seu irmão pecar, repreenda-o e, se ele se arrepender, perdoe-lhe. Se pecar contra você sete vezes no dia, e sete vezes voltar a você e disser: “Estou arrependido”, perdoe-lhe (ênfase adicionada).

Dá para ficar mais claro?Jesus espera que perdoemos companheiros cristãos quando se arrependem. Quando oramos: “Perdoe nossas dívidas assim como perdoamos os nossos devedores”, estamos pedindo a Deus para fazer conosco o que fazemos aos outros. Não podemos esperar que Ele nos perdoe se não pedirmos. Então, por que pensaríamos que Ele espera que perdoemos os que não pedem?

Novamente, isso não nos dá o direito de nutrir ressentimentos contra um irmão ou irmã em Cristo que pecou contra nós. Devemos amar uns aos outros. É por isso que fomos mandados confrontar um companheiro cristão que peca contra nós, para que possa haver reconciliação com ele e que ele possa se reconciliar com Deus, contra quem também pecou. É isso que o amor faria. Mesmo assim, muitas vezes, cristãos dizem que perdoam um ofensor cristão, mas é só uma desculpa para evitar a confrontação. Na verdade, eles não perdoam e isso fica claro por suas ações. Evitam o ofensor a qualquer custo e falam de suas feridas. Não há reconciliação.

Quando pecamos, Deus nos confronta com Seu Espírito Santo em nós porque nos ama e quer nos perdoar. Devemos imitá-lo, confrontando com amor companheiros cristãos que pecam contra nós para que haja arrependimento, perdão e reconciliação.

Deus sempre esperou que Seu povo amasse um ao outro com amor genuíno, um amor que permite a repreensão, mas que não permite ressentimentos. Dentro da Lei de Moisés está o mandamento:

Não guardem ódio contra o seu irmão no coração; antes repreendam com franqueza o seu próximo para que, por causa dele, não sofram as conseqüências de um pecado. Não procurem vingança, nem guardem rancor contra alguém do seu povo, mas ame cada um o seu próximo como a si mesmo. Eu sou o Senhor (Lv. 19:17-18, ênfase adicionada).

Uma Objeção (An Objection)

Mas e as palavras de Jesus em Marcos 11:25-26?Elas não inidicam que devemos perdoar a todos por tudo sem levar em conta se pedem ou não perdão?

E quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial lhes perdoe os seu pecados. Mas se vocês não perdoarem, também o seu Pai que está nos céus não perdoará os seus pecados.

Esse versículo não invalida todos os versículos que já consideramos no assunto. Já sabemos que algo grave para Deus é nossa recusa em perdoar quando alguém nos pede perdão. Portanto, podemos interpretar esse versículo sob a luz desse fato bem estabelecido. Jesus só está enfatizando aqui que devemos perdoar se quisermos o perdão de Deus. Ele não está nos ditando detalhes específicos sobre o perdão e o que alguém deve fazer para recebê-lo de outrem.

Note que Jesus também não diz aqui que devemos pedir a Deus por perdão para recebê-lo. Devemos, então, ignorar tudo o que as Escrituras ensinam sobre o perdão de Deus ser baseado em pedirmos por ele (veja Mt. 6:12; 1 Jo. 1:9)? Devemos assumir que não precisamos pedir perdão a Deus quando pecamos porque Jesus não menciona isso logo acima? Isto não seria sábio considerando o que lemos nas Escrituras. É igualmente tolice ignorar tudo o que elas nos ensinam sobre o perdão ser liberado quando pedido.

Outra Objeção (Another Objection)

Jesus não orou pelos soldados que estavam dividindo Suas vestes: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lc. 23:34)? Isso não indica que Deus perdoa as pessoas mesmo sem que elas peçam?

Sim, mas só até certo ponto. Isso indica que Deus mostra misericórdia aos ignorantes, uma medida de perdão. Por Deus ser perfeitamente justo, Ele só culpa as pessoas quando elas sabem que estão pecando.

A oração de Jesus pelos soldados não lhes garantiu um lugar no céu — só assegurou que não seriam considerados responsáveis por dividir as vestes do Filho de Deus, e somente por causa de sua ignorância sobre quem Ele era. Eles o consideraram somente mais um criminoso a ser executado. Portanto, Deus estendeu Sua misericórdia a um ato que merecia julgamento, caso soubessem o que realmente estavam fazendo.

Mas Jesus orou para que Deus perdoasse a todos os que eram de alguma forma responsáveis por Seu sofrimento? Não, não orou. A respeito de Judas, por exemplo, Ele disse que seria melhor que ele nunca tivesse nascido (veja Mt. 26:24). Com certeza, Jesus não orou para que Seu Pai perdoasse Judas. Na verdade foi o oposto — se considerarmos Salmos 69 e 109 como orações proféticas de Jesus, como Pedro considerou (veja At. 1:15-20). Jesus orou para que o julgamento caísse sobre Judas, alguém que não era um transgressor ignorante.

Como pessoas que estão lutando para imitar a Cristo, devemos mostrar misericórdia àqueles que são ignorantes pelo que fazem a nós, como no caso de incrédulos (como os soldados ignorantes que dividiram as vestes de Jesus). Jesus espera que mostremos aos ímpios misericórdia extraordinária, amando nossos inimigos, fazendo o bem para aqueles que nos odeiam, abençoando os que nos amaldiçoam e orando pelos que nos tratam mal (veja Lc. 6:27-28). Devemos tentar derreter o ódio deles com nosso amor, pagando o mal com o bem. Esse preceito foi prescrito até mesmo debaixo da Lei Mosaica:

Se você encontrar perdido o boi ou o jumento que pertence ao seu inimigo, leve-o de volta a ele. Se você vir o jumento de alguém que o odeia caído sob o peso de sua carga, não o abandone, procure ajudá-lo (Ex. 23:4-5).

Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele, e o Senhor recompensará você (Pv. 25:21-22).

É interessante que mesmo que Jesus nos tenha mandado amar nossos inimigos, fazer o bem aos que nos odeiam, abençoar os que nos amaldiçoam e orar pelos que nos maltratam (veja Lc. 6:27-28), Ele nunca nos mandou perdoá-los. Podemos amar as pessoas sem perdoá-las — assim como Deus as ama sem perdoá-las. Não só podemos como devemos amá-las, já que fomos ordenados por Deus para assim fazê-lo. E nosso amor por elas deve ser manifestado através de nossas ações.

O fato de Jesus ter orado para que Seu Pai perdoasse os soldados que estavam dividindo Suas vestes não prova que Deus espera que ignoremos tudo o que estudamos sobre esse assunto nas Escrituras e perdoemos a todos os que pecam contra nós. Só nos ensina que devemos perdoar automaticamente aqueles que são ignorantes de seu pecado contra nós e mostrar misericórdia extraordinária aos incrédulos.

E José? (What About Joseph?)

José, que graciosamente perdoou seus irmãos que o venderam à escravidão, é às vezes usado como exemplo de como devemos perdoar a qualquer um que peque contra nós, sem importar se o perdão foi pedido ou não. Mas é isso que a história de José nos ensina?

Não, não é.

José pôs seus irmãos a prova por pelo menos um ano de sucessivas provas e testes para levá-los ao arrependimento. Ele até aprisionou um deles por vários meses no Egito (veja Gn. 42:24). Quando finalmente, todos os seus irmãos foram capazes de confessar sua culpa (veja Gn. 42:21; 44:16), e um deles se ofereceu como resgate pelo atual filho favorito de seu pai (veja G. 44:33), José soube que eles não eram mais os mesmos homens invejosos e egoístas que o haviam vendido à escravidão. Somente depois José revelou sua identidade e falou palavras graciosas aos que haviam pecado contra ele. Se José os tivesse “perdoado” imediatamente, eles nunca teriam se arrependido. E esse é um dos erros da mensagem de “perdão instantâneo a todos” que é ensinada hoje. Perdoar nossos irmãos que pecam contra nós sem confrontá-los resulta em duas coisas: (1) Um falso perdão que não traz reconciliação e (2) ofensores que não se arrependem e, portanto, não crescem espiritualmente.

A Prática de Mateus 18:15-17 (The Practice of Matthew 18:15-17)

Mesmo que os quatro passos de reconciliação listados por Jesus sejam bem simples de entender, eles podem se tornar complicados para se praticar. Quando Jesus listou os quatro passos, Ele o fez da perspectiva de quando o irmão A está convencido (e corretamente) de que o irmão B pecou contra ele. Contudo, o irmão A pode estar errado. Então, vamos imaginar uma situação em que todos os cenários possíveis sejam considerados.

Se o irmão A está convencido de que o irmão B pecou contra ele, o irmão A deve ter certeza de que não está sendo crítico demais, encontrando um cisco no olho do irmão B. Deveria se fazer vista grossa e estender misericórdia a muitas ofensas pequenas. (veja Mt. 7:3-5). Se, contudo, o irmão A se encontra com ressentimentos contra o irmão B por uma ofensa significante, ele deve confrontá-lo.

Ele deve fazê-lo em secreto, obedecendo ao mandamento de Jesus, mostrando seu amor para com o irmão B. Seu motivo deve ser o amor e seu objetivo, a reconciliação. Ele não deve contar a mais ninguém sobre a ofensa. “O amor perdoa muitíssimos pecados” (1 Pd. 4:8). Se amamos alguém, não exporemos seus pecados; iremos escondê-los.

Sua confrontação deve ser gentil, mostrando seu amor. Ele deve dizer algo como: “Irmão B, eu valorizo muito nossa amizade, mas algo aconteceu que criou um muro entre nós. Não quero que este muro continue; portanto, devo explicar-lhe a situação para que possamos nos reconciliar. E se eu tiver feito algo que contribuiu para esse problema, quero que me diga”. Então, ele deve dizer gentilmente ao irmão B qual foi a ofensa.

Na maioria dos casos, o irmão B não terá percebido que ofendeu o irmão A, e assim que souber pedirá perdão. Se isso acontecer, o irmão A deve perdoá-lo imediatamente. A reconciliação aconteceu.

Outro cenário possível é que o irmão B tentará justificar seu pecado contra o irmão A dizendo que estava somente reagindo a uma ofensa cometida pelo irmão A contra ele. Se esse for o caso, o irmão B deveria ter confrontado o irmão A. Mas agora, pelo menos há diálogo e esperança de reconciliação.

Em tal caso, as partes ofendidas devem discutir o que aconteceu, admitir sua culpa e oferecer e receber perdão. A reconciliação foi cumprida.

Um terceiro cenário é quando A e B não são capazes de se reconciliar. Portanto, precisam de ajuda e é hora de partirem para o segundo passo.

Segundo Passo (Step Two)

Seria melhor se os irmãos A e B concordassem sobre quem deve se juntar a eles para ajudar a chegarem à reconciliação. O ideal seria que os irmão C e D conhecessem e amassem ambos, A e B, para assegurar a imparcialidade. E somente os irmão C e D devem saber sobre o problema, por amor e respeito a A e B.

Se o irmão B não cooperar nesse ponto, o irmão A deve encontrar um ou dois outros que possam ajudar.

Se os irmãos C e D forem sábios, não darão seu pronunciamento até que tenham ouvido ambos os lados. Uma vez que C e D se pronunciarem, A e B devem se submeter à decisão deles, pedir perdão e fazer as reconciliações que forem recomendadas a um ou ambos.

Os irmãos C e D não devem forçar ser imparciais para correr menos riscos pessoais, recomendando que os irmãos A e B se arrependam quando, na verdade, somente um precisa. Eles devem ter em mente que se o irmão A ou B rejeitar seu julgamento, a situação será levada à igreja e seu julgamento covarde se tornará evidente a todos. Essa tentação que C e D têm de tentar manter a amizade com A e B comprometendo a verdade é uma boa razão do porquê dois juízes é melhore do que um, já que podem fortalecer a verdade. Além do mais, a decisão deles vai ter mais peso para A e B.

Terceiro Passo (Step Three)

Se A ou B recusar o julgamento de C e D, o problema deve ser levado a toda a igreja. Esse terceiro passo nunca é tomado em igrejas institucionais — e por um bom motivo — pois resultaria em divisões quando as pessoas escolhessem um dos lados. Jesus nunca quis que igrejas locais abarcassem mais pessoas do que poderiam caber em uma casa. É nessa família congregacional menor, onde todos conhecem e se importam com A e B, que está o ambiente bíblico para o terceiro passo. Em uma igreja institucional, o terceiro passo deve ser feito no contexto de um pequeno grupo que consiste de pessoas que conhecem e amam A e B. Se eles forem membros de corpos locais diferentes, vários dos melhores membros de ambos os corpos poderiam servir como corpo de decisão.

Uma vez que a igreja der sua decisão, os irmãos A e B devem se submeter a ela, conhecendo as consequências da desobediência. Pedidos de perdão devem ser feitos, o perdão entregue e a reconciliação deve ocorrer.

Se A ou B se recusar a pedir perdão, ele deve ser excluído da igreja e ninguém da igreja deve ter comunhão com ele. Na maioria das vezes, a pessoa não-arrependida já terá se retirado voluntariamente e provavelmente já teria feito isso muito antes se não obtivesse o que queria em algum dos passos do processo. Isso revela sua falta de compromisso genuíno de amar sua família espiritual.

Um Problema Comum (A Common Problem)

Em igrejas institucionais, as pessoas normalmente resolvem as disputas deixando uma igreja e indo para outra, onde os pastores, que querem construir seus reinos a qualquer custo e não se relacionam com outros pastores, recebem essas pessoas e ficam do seu lado quando lhes contam o seu lado. Esse padrão neutraliza o mandamento dos quatro passos de Cristo para a reconciliação. E normalmente, é uma questão de meses ou anos para que a pessoa ofendida, a quem o pastor recebeu na igreja, saia e procure outra igreja, por estar mais uma vez ofendida.

Jesus esperava que igrejas fossem pequenas o suficiente para caberem em casas e que pastores/presbíteros/bispos locais trabalhassem juntos em um só corpo. Portanto, a exclusão do membro de uma igreja seria uma exclusão de todas as igrejas. É da responsabilidade de cada pastor/presbítero/bispo perguntar aos cristãos que estão se aproximando, sobre sua antiga igreja e contatar a liderança dessa igreja para determinar se tais pessoas devem ser recebidas.

A Intenção de Deus Para uma Igreja Santa (God’s Intention for a Holy Church)

Outro problema comum em igrejas institucionais é que muitas vezes consistem de pessoas que comparecem simplesmente pelo show, que não dão conta de suas vidas a alguém porque seus relacionamentos são puramente sociais. Portanto, ninguém, especialmente os pastores, tem ideia de como estão suas vidas, e as pessoas não-santas continuam a manchar as igrejas às quais comparecem. Então, os de fora julgam as pessoas que se dizem cristãs como não sendo diferentes de não-crentes.

Isso por si só deve ser prova suficiente para qualquer um de que a estrutura de igrejas institucionais não era a intenção de Deus para Sua santa Igreja. Pessoas não-santas e hipócritas sempre se escondem em grandes igrejas institucionais, trazendo descrédito a Cristo. Como lemos em Mateus 18:15-17, Jesus deixou claro que queria que Sua Igreja fosse composta de pessoas santas que fossem membros comprometidos de um corpo que se mantém puro. O mundo olharia para a igreja e veria sua santa noiva. Contudo, hoje ele vê uma grande meretriz, alguém infiel ao seu Esposo.

Esse aspecto divinamente planejado da igreja se manter pura ficou evidente quando Paulo escreveu a respeito de uma situação crítica na igreja de Corinto. Um membro aceito do corpo estava mantendo uma relação adúltera com sua madrasta:

Por toda parte se ouve que há imoralidade entre vocês, imoralidade que não ocorre nem entre os pagãos, ao ponto de um de vocês possuir a mulher de seu pai. E vocês estão orgulhosos! Não deviam, porém, estar cheios de tristeza e expulsar da comunhão aquele que fez isso? Apesar de eu não estar presente fisicamente, estou com vocês em espírito. E já condenei aquele que fez isso, como se estivesse presente. Quando vocês estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus, estando eu com vocês em espírito, estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor… Já lhes disse por carta que vocês não devem associar-se com pessoas imorais. Com isso não me refiro aos imorais deste mundo, nem aos avarentos, aos ladrões ou aos idólatras. Se assim fosse, vocês precisariam sair deste mundo. Mas agora estou lhes escrevendo que não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer. Pois, como haveria eu de julgar os de fora da igreja? Não devem vocês julgar os que estão dentro? Deus julgará os de fora “Expulsem esse perverso do meio de vocês.” (1 Co. 5:1-5, 9-13).

Não havia necessidade de levar esse homem pelos passos de reconciliação porque era óbvio que ele não era um verdadeiro cristão. Paulo se referiu a ele como alguém que se diz irmão e o chamou de “perverso”. Além do mais, alguns versículos mais adiante, Paulo escreveu:

Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus (1 Co. 6:9-10).

Está claro que Paulo acreditava, corretamente, que aqueles que são imorais, como o homem da igreja de Corinto, mostram a falsidade de sua fé. Alguém assim não deve ser tratado como irmão e levado pelos passos da reconciliação. Deve ser excluído, entregue a Satanás, para que a igreja não fortaleça seu próprio engano, e para que tenha esperança de ver que precisa de arrependimento para que “seja salvo no dia do Senhor” (1 Co. 5:5).

Em grandes igrejas ao redor do mundo hoje, há centenas de pessoas posando como cristãos, que, por padrão bíblico, são não-crentes e que devem ser excluídos. As Escrituras deixam claro que a igreja tem a responsabilidade de afastar os que não se arrependerem e que forem fornicadores, adúlteros, homossexuais, alcoólatras e assim por diante. Mesmo assim, tais pessoas, debaixo da desculpa da “graça” estão, hoje, muitas vezes em grupos de autoajuda da igreja, onde podem ser encorajadas por outros “crentes” com problemas parecidos. Isso é uma afronta ao poder de transformar vidas do evangelho de Jesus Cristo.

Líderes Caídos (Fallen Leaders)

Um líder arrependido deve ser imediatamente restaurado a sua posição se tiver caído em um sério pecado (como o adultério)?Mesmo que o Senhor perdoe o líder arrependido imediatamente (assim como a igreja deve), o líder caído terá perdido a confiança daqueles a quem ministra. A confiança é algo que deve ser merecida. Portanto, líderes caídos devem se retirar voluntariamente de suas posições de liderança e se submeter à vigilância espiritual até que possam provar sua fidelidade. Eles devem começar do início. Os que não estiverem dispostos a servir humildemente de maneiras menores para reconquistar confiança, não devem ser tratados como líderes pelas pessoas do corpo.

Resumindo (In Summary)

Como ministros discipuladores que são chamados para repreender, corrigir e exortar com toda a paciência e doutrina (veja 2 Tm. 4:2), não nos escondamos de nosso chamado. Ensinemos nossos discípulos a amar realmente uns aos outros por meio de tolerância misericordiosa sempre, confrontação gentil (quando necessário), mais confrontação com a ajuda de outros (quando preciso) e perdão (quando pedido). Isso é muito melhor que o falso perdão que não trás cura verdadeira a relações desfeitas. Vamos lutar para obedecer ao Senhor em todos os aspectos para mantermos Sua igreja pura e santa, um louvor ao Seu nome!

Para maiores estudos a respeito de confrontação e disciplina da igreja, veja Romanos 16:17-18; 2 Coríntios 13:1-3; Gálatas 2:11-14; 2 Tessalonissenses 3:6, 14-15; 1 Timóteo 1:19-20, 5:19-20; Tito 3:10-11; Tiago 5:19-20; 2 João 10-11.

 


[1] Parece lógico que se o excluído se arrependesse mais tarde, Jesus esperaria que o perdão fosse dado a ele.

[2] Se um cônjuge adúltero é cristão, devemos passar pelos três passos que Jesus listou para a reconciliação antes de continuar com o divórcio. Se o cônjuge adúltero se arrepende, é esperado que perdoemos de acordo com o mandamento de Jesus.

Como ser Guiado Pelo Espírito

Capítulo Vinte e Dois (Chapter Twenty-Two)

O evangelho de João contém várias promessas de Jesus a respeito do papel do Espírito Santo na vida dos crentes. Vamos ler algumas delas:

E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebê-lo, porque não o vê nem o conhece. Mas vocês o conhecem, pois ele vive com vocês e estará em vocês (Jo. 14:16-17).

Mas o Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o eu lhes disse (Jo. 14:26).

Mas eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei… Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora. Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês. Tudo o que pertence ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês (Jo. 16:7, 12-15).

Jesus prometeu aos Seus discípulos que o Espírito Santo habitaria neles. Ele também os ajudaria, ensinaria, guiaria e lhes mostraria algumas coisas que estavam por vir. Como discípulos de Cristo hoje, não temos razão para pensarmos que o Espírito Santo fará menos por nós.

O interessante é que Jesus disse aos Seus discípulos que era para o bem deles que Ele iria embora, caso contrário, o Espírito Santo não viria! Isso indicou a eles que a comunhão deles com o Espírito Santo seria tão íntima quanto se Jesus estivesse fisicamente presente com eles o tempo todo. Caso contrário, não seria para o bem deles ter o Espírito Santo ao invés de Jesus. Jesus está sempre conosco e dentro de nós através do Espírito Santo.

De quais maneiras podemos esperar que o Espírito Santo nos guie?

O Seu nome, Espírito Santo, indica que Seu papel principal em guiar-nos é nos levar a ser santos e obedientes a Deus. Portanto, tudo o que tem a ver com santidade e em cumprir a vontade de Deus na terra está dentro da liderança do Espírito Santo. Ele nos levará a obedecer a todos os mandamentos gerais de Cristo, assim como Seus mandamentos específicos que são pertinentes ao ministério único que Deus nos chamou para fazer. Portanto, se quiser ser guiado pelo Espírito a respeito de seu ministério específico, também deve ser guiado pelo Espírito em santidade em geral. Não dá para ter um sem o outro. Muitos ministros querem que o Espírito Santo os leve a grandes façanhas e milagres no ministério, mas não querem se preocupar com os aspectos menores da santidade em geral. Esse é um grande erro. Como Jesus guiou Seus discípulos? Principalmente, dando-lhes instruções gerais sobre santidade. Suas direções específicas para suas responsabilidades ministeriais eram raras, se comparadas. E assim é com o Espírito Santo que mora em nós. Portanto, se quiser ser guiado pelo Espírito, deve primeiramente, seguir Suas direções para ser santo.

O apóstolo Paulo escreveu: “porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm. 8:14). O que nos marca como filhos de Deus é sermos guiados pelo Espírito. Portanto, todos os filhos de Deus estão sendo guiados por Ele. É claro que depende de nós, como agentes morais livres, obedecer às Suas direções.

Tudo isso sendo verdade, nenhum cristão precisa ser ensinado como ser guiado pelo Espírito Santo, pois o Espírito Santo já guia cada cristão. Por outro lado, Satanás está tentando desviar os filhos de Deus, e ainda temos a velha natureza da carne dentro de nós tentando nos desviar da vontade de Deus. Então, crentes precisam aprender a discernir as direções do Espírito dessas outras direções. Este é um processo no caminho da maturidade. Mas o fato principal é: O Espírito sempre nos guiará de acordo com a Palavra escrita de Deus, e sempre nos levará a fazer o que é certo e agradável a Deus, o que Lhe trará glória (veja Jo. 16:14).

A Voz do Espírito Santo (The Voice of the Holy Spirit)

Mesmo que as Escrituras nos digam que, às vezes, o Espírito Santo pode nos guiar de formas espetaculares, como por visões, profecia, ou a voz audível de Deus, a maneira mais comum do Espírito Santo se comunicar conosco por nossos espíritos é por “impressões”. Isto é, se o Espírito quer que façamos algo, Ele nos “cutucará” — em nossos espíritos — e sentiremos um forte desejo de seguir em certa direção.

Podemos chamar a voz do nosso espírito de “consciência”. Todos os cristãos sabem como ouvir sua consciência. Quando somos tentados a pecar, não ouvimos uma voz audível dentro de nós dizendo: “Não ceda a essa tentação”. Simplesmente sentimos algo dentro de nós resistindo a ela. E quando cedemos a uma tentação, depois de um pecado ser cometido, não ouvimos uma voz audível dizendo: “Você pecou! Você pecou!” Simplesmente sentimos uma convicção por dentro, agora nos levando a nos arrepender e confessar nosso pecado.

Da mesma forma, o Espírito nos ensinará e nos guiará à verdade absoluta e ao entendimento. Ele nos ensinará transmitindo uma revelação repentina (sempre de acordo com a Bíblia) dentro de nós. Essas revelações podem levar dez minutos para descrevê-la a outra pessoa, mas podem vir pelo Espírito Santo em questão de segundos.

Da mesma forma, o Espírito Santo nos guiará nas questões ministeriais. Precisamos somente nos esforçar de forma consciente para sermos sensíveis a essas direções e impressões, e lentamente aprenderemos (por tentativas e erros) a seguir o Espírito a respeito das questões ministeriais. Mas quando permitimos que nossas cabeças (nosso pensamento racional ou não) entrem no caminho dos nossos corações (onde o Espírito está nos guiando), nos desviaremos da vontade de Deus.

Como o Espírito Guiou Jesus (How the Spirit Led Jesus)

Jesus era guiado pelo Espírito Santo por impressões interiores. Por exemplo, o evangelho de Marcos descreve o que aconteceu logo depois de Jesus ter sido batizado no Espírito Santo seguido de Seu batismo por João Batista:

Logo após, o Espírito o impeliu para o deserto (Mc. 1:12, ênfase adicionada).

Jesus não ouviu uma voz audível ou teve uma visão que O levou ao deserto — Ele foi simplesmente impelido a ir. Normalmente é assim que o Espírito Santo nos guia. Sentiremos uma direção, uma convicção dentro de nós de fazer algo.

Quando Jesus disse ao paralítico que tinha sido baixado pelo telhado que seus pecados foram perdoados, Ele sabia que os escribas que estavam presentes pensaram que Ele estava blasfemando. Como Ele sabia o que eles estavam pensando? Lemos no evangelho de Marcos:

Jesus percebeu logo em seu espírito que era isso que eles estavam pensando e lhes disse: “Por que vocês estão remoendo essas coisas em seu coração?” (Mc. 2:8, ênfase adicionada).

Jesus percebeu em Seu espírito o que eles estavam pensando. Se formos sensíveis aos nossos espíritos, também saberemos como responder àqueles que se opõe ao trabalho de Deus.

O Espírito Guiando o Ministério de Paulo (The Spirit’s Leading in the Ministry of Paul)

Depois de pelo menos vinte anos de servir no ministério, o apóstolo Paulo tinha aprendido bem como seguir à liderança do Espírito Santo. Até certo ponto, o Espírito mostrou a ele “coisas por vir” relativas ao seu futuro ministério. Por exemplo, enquanto Paulo concluía seu ministério em Éfeso, teve alguma ideia do curso que sua vida e ministério seguiriam pelos três próximos anos:

Depois dessas coisas, Paulo decidiu no espírito ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia. Ele dizia: “Depois de haver estado ali, é necessário também que eu vá visitar Roma” (At. 19:21).

Note que Paulo não decidiu sua direção em sua mente, mas em seu espírito. Isso indica que o Espírito Santo o estava guiando em seu espírito para ir primeiro para a Macedônia e Acaia (ambas localizadas na Grécia moderna), então para Jerusalém e finalmente para Roma. E este foi precisamente o caminho que seguiu. Se tiver um mapa em sua Bíblia mostrando a terceira viajem missionária de Paulo e sua viajem a Roma, pode seguir seu caminho de Éfeso (onde decidiu sua rota em seu espírito) através da Macedônia e Acaia, por Jerusalém e alguns anos mais tarde, a Roma.

Mais precisamente, Paulo viajou através da Macedônia e Acaia, então voltou pela Macedônia novamente, contornando a costa do Mar Egeu e, então, viajou descendo a costa do Egeu da Ásia Menor. Durante essa jornada, ele parou na cidade de Mileto, chamou os presbíteros da igreja para perto de Éfeso e lhes deu um discurso de adeus em que dizia:

Agora, compelido pelo Espírito, estou indo para Jerusalém, sem saber o que me acontecerá ali. Só sei que, em todas as cidades, o Espírito Santo me avisa que prisões e sofrimento me esperam (At. 20:22-23, ênfase adicionada).

Paulo disse que foi “compelido pelo Espírito”, significando que tinha uma convicção em seu espírito que o estava guiando a Jerusalém. Ele não tinha a imagem completa a respeito do que ia acontecer quando chegasse lá, mas disse que em toda cidade em que parava em sua viajem, o Espírito Santo o avisava que prisões e sofrimento esperavam por ele. Como o Espírito Santo lhe avisou das prisões e sofrimento que esperavam por ele em Jerusalém?

Dois Exemplos (Two Examples)

No 21o capítulo de Atos, encontramos dois incidentes que respondem a essa pergunta. O primeiro exemplo é quando Paulo aportou na cidade porto mediterrânea de Tiro:

Encontrando os discípulos dali, ficamos com eles sete dias. Eles, pelo Espírito, recomendavam a Paulo que não fosse a Jerusalém (At. 21:4).

Por causa desse versículo, alguns comentaristas concluíram que Paulo desobedeceu a Deus quando continuou seu caminho para Jerusalém. Contudo, sob a luz do resto das informações dadas a nós no livro de Atos, não podemos chegar a essa conclusão. Isso se tornará claro enquanto progredimos na história.

Aparentemente, os discípulos em Tiro eram sensíveis espiritualmente e discerniram que problemas esperavam por Paulo em Jerusalém. Consequentemente, tentaram convencê-lo a não ir. A tradução de William do Novo Testamento confirma isso, quando traduz esse mesmo versículo: “Pelas impressões feitas pelo Espírito, eles continuaram recomendando a Paulo que não fosse para Jerusalém”.*

Contudo, os discípulos em Tiro não obtiveram sucesso, pois Paulo continuou sua viajem a Jerusalém à despeito de suas recomendações.

Isso nos ensina que devemos ter muito cuidado para não colocarmos nossa própria interpretação a revelações que recebemos em nossos espíritos. Paulo sabia bem que problemas aguardavam por ele em Jerusalém, mas também sabia que era a vontade de Deus que fosse para lá, apesar disso. Se Deus revela algo a nós através do Espírito Santo, não significa necessariamente que devemos contar, como também devemos ter cuidado para não colocarmos nossa própria interpretação ao que o Espírito revelou.

Parada em Cesareia (Caesarea Stop Over)

A próxima parada na viajem de Paulo a Jerusalém foi na cidade porto de Cesareia:

Depois de passarmos ali vários dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo. Vindo ao nosso encontro, tomou o cinto de Paulo e, amarrando as suas próprias mãos e pés, disse: “Assim diz o Espírito Santo: ‘Desta maneira os judeus amarrarão o dono deste cinto em Jerusalém e o entregarão aos gentios’” (At. 21:10-11).

Aqui está outro exemplo do Espírito Santo avisando a Paulo que “prisões e sofrimento” esperavam por ele em Jerusalém. Mas note que Ágabo não disse: “Assim diz o Senhor: ‘Não vá a Jerusalém!’”. Não, Deus estava levando Paulo a Jerusalém e simplesmente preparando-o através da profecia de Ágado para os problemas que esperavam por ele. Note também que a profecia de Ágabo só confirmou o que Paulo já sabia em seu espírito meses antes. Nunca devemos ser guiados por profecias. Se profecias não confirmam o que já sabemos, não devemos segui-las.

A profecia de Ágabo é o que podemos considerar de “direção impressionante”, pois foi além de uma impressão interior no espírito de Paulo. Quando Deus dá “direção impressionante”, como uma visão ou a voz audível de Deus, é porque sabe que nosso caminho não será fácil. Precisaremos dessa segurança extra que a direção impressionante trás. No caso de Paulo, ele quase seria morto por uma multidão e passaria anos na prisão antes de sua ida a Roma como prisioneiro. Contudo, por causa da direção impressionante que recebeu, pôde manter a perfeita paz, sabendo que o fim seria favorável.

Se não receber direção impressionante não deve se preocupar, pois se precisar, Deus lhe dará. Contudo, devemos sempre tentar ser sensíveis e guiados pelo homem interior.

Acorrentados e na Vontade de Deus (In Chains and in God’s Will)

Quando Paulo chegou a Jerusalém, foi amarrado e encarcerado. Mais uma vez ele recebeu uma direção impressionante na forma de uma visão de Jesus:

Na noite seguinte o Senhor, pondo-se ao lado dele [Paulo], disse: “Coragem! Assim como você testemunhou a meu respeito em Jerusalém, deverá testemunhar também em Roma” (At. 23:11).

Note que Jesus não disse: “Paulo, o que você está fazendo aqui? Tentei te avisar para não vir a Jerusalém!” Não, na verdade, Jesus confirmou a direção que Paulo tinha sentido em seu espírito meses antes. Paulo estava no centro da vontade de Deus em Jerusalém para testificar a favor de Jesus. E eventualmente, proclamaria sobre Cristo em Roma também.

Devemos lembrar de que o chamado original de Paulo foi para testificar não só a judeus e gentios, mas também a reis (veja At. 9:15). Durante a prisão de Paulo em Jerusalém e mais tarde na Cesareia, recebeu a oportunidade de testificar ao governador Félix, Pórcio Festo e ao rei Agripa, que foi quase convencido a crer em Jesus (veja At. 26:28). Finalmente, Paulo foi enviado a Roma para testificar a Nero, imperador romano, em pessoa.

No Caminho para Ver Nero (On the Way to See Nero)

A bordo do navio que o levava a Itália, Paulo, sendo sensível ao seu espírito, recebeu outra direção de Deus. Enquanto o capitão e o piloto do navio tentavam escolher em que porto deviam passar o inverno na ilha de Creta, Paulo recebeu uma revelação:

Tínhamos perdido muito tempo, e agora a navegação se tornara perigosa, pois já havia passado o Jejum. Por isso, Paulo os advertiu: “Senhores, vejo que a nossa viagem será desastrosa e acarretará grande prejuízo para o navio, para a carga e também para a nossa vida” (At. 27:9-10, ênfase adicionada).

Paulo viu o que ia acontecer. Obviamente, sua visão foi como uma impressão dada pelo Espírito.

Infelizmente, o capitão não ouviu a Paulo e tentou alcançar outro porto. Como resultado, o navio foi pego em uma violenta tempestade por duas semanas. A situação estava tão perigosa que a tripulação lançou fora toda a carga no segundo dia e no terceiro, jogaram até a armação do navio. Algum tempo depois, Paulo recebeu outra direção:

Não aparecendo nem sol nem estrelas por muitos dias, e continuando a abater-se sobre nós grande tempestade, finalmente perdemos toda a esperança de salvamento. Visto que os homens tinham passado muito tempo sem comer, Paulo levantou-se diante deles e disse: “Os senhores deviam ter aceitado o meu conselho de não partir de Creta, pois assim teriam evitado este dano e prejuízo. Mas agora recomendo-lhes que tenham coragem, pois nenhum de vocês perderá a vida; apenas o navio será destruído. Pois ontem à noite apareceu-me um anjo do Deus a quem pertenço e a quem adoro, dizendo-me: ‘Paulo, não tenha medo. É preciso que você compareça perante César; Deus, por sua graça, deu-lhe a vida de todos os que estão navegando com você’. Assim, tenham ânimo, senhores! Creio em Deus que acontecerá do modo como me foi dito. Devemos ser arrastados para alguma ilha” (At. 27:20-26).

Acho que é óbvio porque Deus deu a Paulo mais uma “direção impressionante” à luz dos apuros presentes. Além dessa experiência penosa, Paulo logo teria que encarar o apuro do naufrágio. Pouco depois, seria picado por uma cobra venenosa (veja At. 27:41-28:5). É bom ter um anjo que te diga com antecedência que tudo vai ficar bem!

Alguns Conselhos Práticos (Some Practical Advice)

Comece a olhar para seu espírito por essas percepções e impressões que são as direções do Espírito Santo. Provavelmente cometerá alguns erros no início pensando que o Espírito Santo está te guiando quando não está, mas isso é normal. Não fique desencorajado; continue.

Passar tempo em um lugar quieto, orando em línguas e lendo a Bíblia também ajuda. Quando oramos em outras línguas, é nosso espírito que ora, e naturalmente, somos mais sensíveis a ele quando isso acontece. Ler e meditar na Palavra de Deus também nos torna mais sensíveis aos nossos espíritos, pois a Palavra de Deus é alimento espiritual.

Quando Deus te leva em certa direção, ela não diminui. Isso significa que deve continuar orando por decisões maiores por certo tempo para ter certeza de que é Deus quem está te guiando e não suas próprias ideias ou emoções. Se não tiver paz em seu coração quando orar sobre certa direção, não a siga até que tenha paz.

Se receber direção impressionante, tudo bem, mas não tente “acreditar” para ter uma visão ou ouvir uma voz audível. Deus não prometeu nos guiar dessa forma (mesmo que às vezes o faça de acordo com Sua soberana vontade). Contudo, podemos sempre confiar que Ele nos guiará através do homem interior.

Por último, não adicione nada ao que Deus te falou. Ele pode te revelar algum ministério que preparou para você no futuro, mas você pode assumir que isso se cumprirá em algumas semanas, quando pode levar anos para acontecer. Sei disso por experiência. Não assuma nada. Paulo sabia algumas coisas sobre o que aconteceria no seu futuro, mas não sabia tudo, pois Deus não revelou tudo a ele. Deus quer que continuemos a andar pela fé, sempre.

 


* * Nota do tradutor: versículo traduzido do inglês.