A Bíblia está cheia de momentos em que homens e mulheres receberam habilidades sobrenaturais do Espírito Santo. No Novo Testamento, essas habilidades são chamadas de “dons do Espírito”. São dons, no sentido de que não podem ser merecidos. Contudo, não devemos esquecer de que Deus promove aqueles em quem pode confiar. Jesus disse: “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito” (Lc. 16:10). Portanto, esperaríamos que os dons do Espírito fossem mais provavelmente entregues àqueles que têm provado sua fidelidade diante de Deus. Ser inteiramente consagrado e rendido ao Espírito Santo é importante, já que é mais provável que Deus use este tipo de pessoa de forma sobrenatural. Por outro lado, Deus usou um burro para profetizar; portanto, pode usar a quem quiser. Se tivesse que esperar até que estivéssemos perfeitos para usar-nos, não poderia contar com nenhum de nós! No Novo Testamento, os dons do Espírito estão listados em 1 Coríntios 12 e existem nove ao todo:
Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento; a outro, fé, pelo mesmo Espírito; a outro, dons de curar, pelo único Espírito; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas (1 Co. 12:8-10).
Saber definir cada dom individualmente não é crucial para ser usado por Deus com dons espirituais. Todos os profetas, sacerdotes e reis do Velho Testamento, assim como os ministros da igreja primitiva do Velho Testamento, operaram os dons do Espírito sem conhecimento de como categorizá-los ou defini-los. No entanto, porque os dons do Espírito estão categorizados para nós no Novo Testamento, deve ser algo que Deus quer que entendamos. De fato, Paulo escreveu: “Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que vocês sejam ignorantes” (1 Co. 12:1).
Os Nove Dons Categorizados (The Nine Gifts Categorized)
Os nove dons do Espírito têm sido categorizados nos tempos modernos em três grupos: (1) dons de discurso, que são: vários tipos de línguas, interpretação de línguas e profecia; (2) dons de revelações, que são: palavras de sabedoria, palavras de conhecimento, e discernimento de espíritos; e (3) dons de poder, que são: milagres, fé especial e dons de cura. Três desses dons dizem algo; três deles revelam algo; e três deles fazem algo. Todos esses dons foram manifestados debaixo da antiga aliança com a exceção de vários tipos de línguas e a interpretação de línguas. Esses dois dons são distintos da nova aliança.
O Novo Testamento não dá instruções a respeito do uso próprio de qualquer dos “dons de poder” e poucas sobre o uso dos “dons de revelação”. Contudo, uma quantidade significante de instrução é dada por Paulo a respeito do uso correto dos “dons de discurso”, e a razão disto é provavelmente dupla.
Primeiro, os dons de discurso são manifestados na maioria das vezes em reuniões de igrejas, enquanto dos dons de revelação se manifestam com menos regularidade e os dons de poder, menos ainda. Portanto, precisaríamos de mais instruções sobre os dons que se manifestam com mais frequência em reuniões de igrejas.
Segundo, os dons de discurso parecem requerer maior cooperação humana e são, portanto, os mais prováveis de serem usados de forma errada. É bem mais fácil aumentar e arruinar uma profecia que destruir um dom de cura.
Como o Espírito Quer (As the Spirit Wills)
É importante entender que os dons do Espírito são dados como o Espírito deseja e não como a pessoa quer. A Bíblia deixa bem claro:
Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer (1 Co. 12:11, ênfase adicionada).
Deus também deu testemunho dela por meio de sinais, maravilhas, diversos milagres e dons do Espírito Santo distribuídos de acordo com a sua vontade (Hb. 2:4, ênfase adicionada).
Certa pessoa pode ser usada frequentemente com alguns dons, mas não possuir nenhum deles. O fato de você ser ungido uma vez para fazer um milagre não significa que pode fazer milagres sempre que quiser; e também não garante que possa ser usado novamente para fazer outro milagre.
Vamos estudar e considerar alguns exemplos bíblicos de cada dom. Contudo, lembre-se de que Deus pode manifestar Sua graça e poder de infinitas maneiras; portanto, é impossível definir exatamente como cada dom será operado todas as vezes. Além do mais, não há definições dos nove dons nas Escrituras — tudo o que temos são suas classificações. Assim sendo, tudo o que podemos fazer é olhar exemplos na Bíblia e tentar determinar a que categoria cada dom pertence, definindo-os, por fim, por suas diferenças aparentes. Por existirem tantas maneiras pelas quais o Espírito Santo pode Se manifestar através dos dons sobrenaturais, pode ser insensatez tentar ser restrito demais em nossas definições. Na verdade, alguns dons podem ser combinações de vários outros. Sobre o mesmo assunto, Paulo escreveu:
Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação [ou operação], mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum (1 Co. 12:4-7, ênfase adicionada).
Os Dons de Poder (The Power Gifts)
1) Os dons de cura: Obviamente, os dons de cura têm algo a ver com pessoas doentes sendo curadas. Muitas vezes, são definidos como dons sobrenaturais repentinos para curar fisicamente pessoas doentes, e não vejo razão de questionar isso. No capítulo anterior vimos um exemplo de um dom de cura sendo manifestado através de Jesus quando este curava o homem aleijado no tanque de Betesda (veja Jo. 5:2-17).
Deus usou Eliseu para curar Naamã, o leproso sírio, que era um adorador de ídolos (veja 2 Rs. 5:1-14). Como aprendemos quando examinamos as palavras de Jesus a respeito da cura de Naamã em Lucas 4:27, Eliseu não podia curar qualquer leproso quando quisesse. De repente, ele foi inspirado de forma sobrenatural a instruir Naamã a mergulhar no Rio Jordão sete vezes, e quando este finalmente obedeceu, foi limpo de sua lepra.
Deus usou Pedro para curar o homem paralitico na porta do templo chamada Formosa através de um dom de cura (At. 3:1-10). Além de curar o homem, o ato sobrenatural atraiu muitas pessoas para ouvir o evangelho através de Pedro, e mais ou menos cinco mil pessoas se juntaram à Igreja naquele dia. Muitas vezes, dons de cura têm o propósito duplo de curar pessoas doentes e atrair incrédulos a Cristo.
Quando Pedro estava pregando para aqueles que se reuniram naquele dia, ele disse:
Israelitas, por que isto os surpreende? Por que vocês estão olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar por nosso próprio poder ou piedade? (At. 3:12).
Pedro reconheceu que não foi por poder algum que possuía ou por sua grande santidade que Deus o usou para curar o aleijado. Lembre-se de que apenas dois meses antes desse milagre, Pedro negou que conhecia a Jesus. O fato de Deus ter usado Pedro milagrosamente nas primeiras páginas de Atos deve reforçar nossa convicção de que Deus também nos usará como desejar.
Quando Pedro tentou explicar como o homem havia sido curado, é bem improvável que tenha categorizado o dom como “dom de cura”. Tudo o que sabia é que ele e João estavam passando por um homem aleijado e de repente se viu ungido com fé para que o homem fosse curado. Então, mandou que o homem andasse no nome de Jesus; segurou-o pela mão direita e o levantou. O aleijado os seguiu “andando, saltando e louvando a Deus”. Pedro explicou desta forma:
Pela fé no nome de Jesus, o Nome curou este homem que vocês vêem e conhecem. A fé que vem por meio dele lhe deu esta saúde perfeita, como todos podem ver (At. 3:16).
Pegar um homem aleijado pela mão, levantá-lo e esperar que ande requer uma fé especial! Juntamente com este dom de cura em particular, o fornecimento de fé também seria necessário para que ele acontecesse.
Alguns sugeriram que a razão desse dom estar no plural (isto é, “dons” de cura) é porque existem diferentes dons que curam diferentes tipos de doenças. As pessoas que têm sido usadas frequentemente com dons de cura, às vezes, descobrem que, através de seus ministérios, algumas doenças em particular são curadas com mais frequência que outras. Por exemplo, o evangelista Filipe parecia ter mais sucesso em curar paralíticos e mancos (At. 8:7). Alguns evangelistas do século passado, por exemplo, eram melhores com cegueira, surdez, problemas de coração e assim por diante, dependendo de quais dons de cura eram manifestados através deles mais frequentemente.
2) O dom de fé e o dom de fazer de milagres: O dom de fé e o de fazer milagres parecem bem próximos. O indivíduo que é ungido com ambos os dons, de repente recebe fé para o impossível. Várias vezes, a diferença entre os dois é descrita da seguinte forma: com o dom de fé, o ungido recebe fé para receber um milagre para si mesmo; enquanto com o dom de fazer milagres, o indivíduo recebe fé para fazer um milagre para outros.
Às vezes, o dom de fé é mencionado como “fé especial” porque é uma concessão repentina de fé que vai além da fé habitual. Normalmente a fé vem ao ouvir uma promessa de Deus, enquanto a fé especial é uma concessão repentina pelo Espírito Santo. Os que já experimentaram esse dom de fé especial dizem que coisas que antes consideravam impossíveis se tornam possíveis de repente, e na verdade, eles acham impossível duvidar. O mesmo se aplica ao dom de fazer milagres.
A história dos três amigos de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego nos dá um ótimo exemplo de como a “fé especial” faz com que duvidar se torne impossível. Quando foram lançados na fornalha em chamas por se recusarem a se ajoelhar diante do ídolo do rei, todos os três receberam o dom de fé especial. Seria necessário mais que fé normal para sobreviver às chamas ardentes! Vamos dar uma olhada nesses três jovens apresentados diante do rei:
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego responderam assim: Ó rei nós não vamos nos defender. Pois, se o nosso Deus, a quem adoramos, quiser, ele poderá nos salvar da fornalha e nos livrar do seu poder, ó rei. E mesmo que o nosso Deus não nos salve, o senhor pode ficar sabendo que não prestaremos culto ao seu deus. Nem adoraremos a estátua de ouro que o senhor mandou fazer (Dn. 3:16-18, ênfase adicionada).
Note que o dom estava operando mesmo antes de serem lançados na fornalha. Não havia dúvida em suas mentes de que Deus os salvaria.
Elias operou o dom de fé especial quando foi alimentado diariamente por corvos durante os três anos e meio de fome do reinado do malvado rei Acabe (veja 1 Rs. 17:1-6). É necessário mais que fé normal para confiar que Deus usará pássaros para lhe trazer comida todas as manhãs e noites. Mesmo que Deus não nos tenha prometido em Sua Palavra que corvos nos trarão comida todos os dias, podemos usar nossa fé normal para confiar que Deus suprirá nossas necessidades — pois essa é uma promessa (veja Mt. 6:25-34).
A operação de milagres foi bem frequente durante o ministério de Moisés. Ele operou com esse dom quando abriu o Mar Vermelho (veja Ex. 14:13-31) e quando as várias pragas sobrevieram no Egito.
Jesus operou milagres quando alimentou os 5.000 multiplicando alguns pães e peixes (veja Mt. 14:15-21).
Outro exemplo da operação de milagres seria quando Paulo fez com que Elimas, o mago, ficasse cego durante certo tempo por estar atrapalhando seu ministério na ilha de Chipre (veja At. 13:4-12).
Os Dons de Revelação (The Revelation Gifts)
1) A palavra de conhecimento e a palavra de sabedoria: O dom da palavra de conhecimento é, muitas vezes, definido como uma concessão sobrenatural de alguma informação, passada ou presente. Deus, que possui todo o conhecimento, às vezes concede uma pequena porção dele, e talvez por isso, seja chamada de palavra de conhecimento. Uma palavra é uma porção fragmentada de uma frase , e uma palavra de conhecimento seria uma porção fragmentada do conhecimento de Deus.
A palavra de sabedoria é bem parecida com a palavra de conhecimento, mas às vezes, é definida como uma concessão sobrenatural repentina de conhecimento de eventos futuros. O conceito de sabedoria normalmente envolve algo a respeito do futuro. Novamente, essas definições são um tanto especulativas.
Vamos dar uma olhada em um exemplo do Velho Testamento sobre a palavra de conhecimento. Depois de Eliseu ter limpado Naamã, o leproso sírio, este ofereceu a Eliseu uma grande quantia de dinheiro em gratidão pela sua cura. Eliseu recusou o presente, para que ninguém pensasse que a cura de Naamã tivesse sido comprada, ao invés de dada graciosamente por Deus. Contudo, Geazi, servo de Eliseu, viu uma oportunidade para ganhar riqueza pessoal e recebeu secretamente parte do pagamento de Naamã. Depois de Geazi ter escondido seu ganho fraudulento, ele apareceu diante de Eliseu. Então, lemos:
Este [Eliseu] perguntou: “Onde é que você foi?” “Eu não fui a lugar nenhum!”, respondeu Geazi. Mas Eliseu disse: “O meu espírito estava com você quando aquele homem desceu do carro para falar com você.” (2 Rs. 5:25b-26a).
Deus, que conhecia bem a obra suja de Geazi, a revelou de forma sobrenatural a Eliseu. Contudo, essa história deixa claro que Eliseu não “possuía” o dom da palavra de conhecimento; isto é, ele não sabia tudo sobre todos, o tempo inteiro. Se esse fosse o caso, Geazi nunca teria imaginado que poderia esconder seu pecado. Eliseu só sabia das coisas de forma sobrenatural quando Deus as revelava a ele ocasionalmente. O dom operava como o Espírito desejava.
Jesus operou o dom da palavra de conhecimento quando disse à mulher no poço de Samaria que ela havia tido cinco maridos (veja Jo. 4:17-18).
Pedro foi usado com esse dom quando soube de forma sobrenatural que Ananias e Safira estavam mentindo para a congregação sobre dar à igreja todo o dinheiro que tinham recebido pela terra recém-vendida (veja At. 5:1-11).
Quanto ao dom da palavra de sabedoria, vemos frequentes manifestações desse dom através de todos os profetas do Velho Testamento. Sempre que prediziam um evento futuro, a palavra de sabedoria estava sendo operada. Jesus também recebia esse dom com bastante frequência. Ele predisse a destruição de Jerusalém, Sua própria crucificação e eventos que aconteceriam ao mundo antes de Sua segunda vinda (veja Lc. 17:22-36; 21:6-18).
O apóstolo João foi usado com esse dom quando os julgamentos do período de Tribulação foram revelados a ele. Esses, ele registrou para nós no livro de Apocalipse.
2) O dom de discernimento de espíritos: O dom de discernir espíritos é muitas vezes definido como uma repentina habilidade sobrenatural de ver ou discernir o que está acontecendo no reino espiritual.
Uma visão recebida através dos olhos ou mente de um crente pode ser classificada como discernimento de espíritos. Esse dom pode permitir que um crente veja anjos, demônios ou até mesmo Jesus, como aconteceu com Paulo em várias ocasiões (veja At. 18:9-10; 22:17-21; 23:11).
Quando Eliseu e seu servo estavam sendo perseguidos pelo exército sírio, se encontraram em uma armadilha na cidade de Dotã. Nesse momento, o servo de Eliseu olhou por cima do muro da cidade e, vendo a quantidade de soldados reunidos, ficou preocupado:
O profeta respondeu: “Não tenha medo. Aqueles que estão conosco são mais numerosos do que eles”. E Eliseu orou: “Senhor, abre os olhos dele para que veja”. Então o Senhor abriu os olhos do rapaz, que olhou e viu as colinas cheias de cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu (2 Rs. 6:16-27).
Você sabia que anjos podem andar em cavalos e carruagens espirituais? Um dia você os verá no céu, mas o servo de Eliseu recebeu a habilidade de vê-los na terra.
Através desse dom, um crente pode discernir um espírito maligno oprimindo alguém e ter a habilidade de identificar qual é o tipo de espírito.
Esse dom incluiria mais que somente ver o reino espiritual, mas também discernir coisas dentro dele. Por exemplo, pode envolver ouvir algo do reino espiritual, como a própria voz de Deus.
Por ultimo, não é, como muitos pensam, “o dom de discernimento”. Muitas vezes, as pessoas que dizem tê-lo pensam que podem discernir o motivo dos outros, mas isso poderia ser descrito como o “dom de criticismo e julgamento de outros”. A verdade é que você provavelmente teve esse dom antes de ser salvo e, agora que é, Deus quer te libertar dele permanentemente!
Os Dons de Discurso (The Utterance Gifts)
1) O dom de profecia: O dom de profecia é a habilidade sobrenatural repentina de falar por inspiração divina na própria língua. Pode começar assim: “Assim diz o Senhor”.
Este dom não é de pregação ou ensino. Pregação e ensino inspirados têm um pouco de profecia por serem ungidos pelo Espírito, mas não são profecia em seu sentido mais estrito. Muitas vezes, um pregador ou professor ungido dirá coisas por repentina inspiração que não planejou dizer; mas mesmo sendo profético, não é profecia.
O dom de profecia por si só serve para edificar, encorajar e consolar:
Mas quem profetiza o faz para edificação, encorajamento e consolação dos homens (1 Co. 14:3).
Assim sendo, o dom de profecia não contém revelação. Isto é, ele não revela algo sobre o passado, presente ou futuro como a palavra de sabedoria e a palavra de conhecimento. Contudo, como afirmei anteriormente, os dons do Espírito podem trabalhar em combinação com um outro dom e, portanto, a palavra de sabedoria ou a palavra de conhecimento podem ser expressadas por meio de profecia.
Quando ouvimos em uma reunião alguém profetizar sobre coisas futuras, não ouvimos somente a profecia; ouvimos uma palavra de sabedoria sendo expressada através do dom de profecia. O simples dom de profecia será muito parecido com alguém lendo exortações da Bíblia, como: “Sejam fortes no Senhor e na força de Seu poder” e “Eu nunca o deixarei ou abandonarei”.
Alguns acreditam que a profecia do Novo Testamento nunca deve conter algo de negativo, caso contrário ela supostamente não preenche os parâmetros de “edificação, encorajamento e consolação”. Contudo, isto não é verdade. Limitar o que Deus pode dizer ao Seu povo, permitindo que Ele só diga coisas que consideram “positivas” mesmo que mereçam alguma repreensão, é exaltar-se acima de Deus. Definitivamente, exortação se encaixa em ambas as categorias de edificação e encorajamento. Percebi que as mensagens do Senhor às sete igrejas da Ásia, registradas no Apocalipse de João, com certeza têm exortação. Devemos descartá-las? Acho que não.
2) O dom de variedade de linguas e a interpretação de línguas: O dom de vários tipos de línguas é a repentina habilidade sobrenatural de falar uma língua desconhecida ao falante. Esse dom seria normalmente acompanhado do dom de interpretação de línguas, que é uma habilidade sobrenatural de interpretar o que foi dito em uma língua desconhecida.
Ele é chamado de interpretação de línguas e não a tradução de línguas. Portanto, não devemos esperar traduções de palavra por palavra das mensagens em línguas. Por este motivo, é possível ter uma “mensagem em línguas” curta e uma interpretação maior e vice-versa.
O dom de interpretação de línguas é muito parecido com a profecia, pois também não contém revelação e normalmente serve ao propósito de edificação, encorajamento e consolação. Quase podemos dizer que de acordo com 1 Coríntios 14:5, línguas mais interpretação é igual a profecia:
Gostaria que todos vocês falassem em línguas, mas prefiro que profetizem. Quem profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que as interprete, para que a igreja seja edificada.
Como disse anteriormente, não há instruções na Bíblia a respeito de como usar os dons de poder; poucas, sobre como usar os dons de revelação, mas muitas instruções sobre como usar os dons de discurso. Por causa da confusão na igreja de Corínto a respeito do uso dos dons de discurso, Paulo dedicou quase todo o capítulo quatorze de 1 Coríntios ao assunto.
O maior problema era sobre o uso próprio das línguas, porque como já aprendemos no capítulo sobre batismo no Espírito Santo, todos os crentes que são batizados no Espírito Santo têm a habilidade de orar em línguas na hora que desejar. Os coríntios estavam falando muito em línguas durante seus cultos, mas, muitas vezes, fora de ordem.
Os diferentes Usos de Outras Línguas (The Different Uses of Other Tongues)
É de importância vital que entendamos a diferença entre o uso público de línguas desconhecidas e o uso privado. Mesmo que todos os crentes batizados no Espírito possam falar em línguas a qualquer hora, não significa que Deus os usará com o dom de línguas em público. O objetivo principal de se falar em línguas é a vida devocional privada de cada crente. Contudo, os coríntios estavam se reunindo e falando em línguas simultaneamente sem qualquer interpretação, e, é claro, ninguém era edificado com isto (veja 1 Co. 14:6-12, 16-19, 23, 26-28).
Uma maneira de diferenciar entre o uso de línguas em público e privado é classificar o privado como orar em línguas e o público como falar em línguas. Paulo menciona ambos os usos no capítulo quatorze de sua primeira carta aos coríntios. Quais são as diferenças?
Quando oramos em línguas, nossos espíritos estão orando a Deus (1 Co. 14:2, 14). Contudo, quando alguém é repentinamente ungido com o dom de vários tipos de línguas, é uma mensagem de Deus para a congregação (veja 1 Co. 14:5) e é entendida, uma vez que a interpretação é entregue.
De acordo com as Escrituras, podemos orar em línguas quando nós quisermos (veja 1 Co. 14:15), mas o dom de vários tipos de línguas só opera quando o Espírito Santo deseja (veja 1 Co. 12:11).
O dom de vários tipos de línguas seria normalmente acompanhado pelo dom de interpretação de línguas. Contudo, o uso privado de orar em línguas não seria normalmente interpretado. Paulo disse que quando orava em línguas sua mente ficava infrutífera (veja 1 Co. 14:14).
Quando alguém ora em línguas, somente ele é edificado (veja 1 Co. 14:4), mas toda a congregação é edificada quando o dom de vários tipos de línguas é manifestado acompanhado do dom de interpretação de línguas (veja 1 Co. 14:4b-5).
Cada crente deve orar em línguas todos os dias como parte de sua comunhão com o Senhor. Uma das maravilhas de orar em línguas é que não requer o uso de sua mente. Isto significa que você pode orar em línguas mesmo quando sua mente tem que estar ocupada com trabalho ou outras coisas. Paulo disse aos coríntios: “Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês” (1 Co. 14:18, ênfase adicionada). Ele devia passar bastante tempo falando em línguas para falar mais que toda a igreja de Corinto!
Paulo também disse que quando oramos em línguas podemos, às vezes, “louvar a Deus” (1 Co. 14:16-17). Tive minha língua de oração entendida três vezes por alguém presente que conhecia a língua em que eu estava orando. Todas as três vezes eu estava falando em japonês. Uma vez eu disse ao Senhor em japonês: “O Senhor é tão bom”. Outra vez, disse: “Muito obrigado”. Em outra ocasião, disse: “Venha depressa, venha depressa; estou esperando”. Isto não é maravilhoso? Nunca aprendi se quer uma palavra em japonês, mas pelo menos três vezes “louvei ao Senhor” em japonês.
As Instruções de Paulo sobre o Falar em Línguas (Paul’s Instructions for Speaking in Tongues)
As instruções de Paulo para a igreja de Corinto foram bem específicas. Em qualquer reunião, o número de pessoas que poderiam falar em línguas em público era limitado a dois ou três. Eles não deveriam falar todos ao mesmo tempo, mas deveriam esperar por sua vez (veja 1 Co. 14:27).
Paulo não quis dizer necessariamente que somente três “mensagens em línguas” eram permitidas, mas que somente três pessoas deveriam falar em línguas em qualquer culto. Alguns acham que se mais de três pessoas fossem usadas frequentemente pelo dom de vários tipos de línguas, qualquer um poderia render-se ao Espírito e receber uma “mensagem em línguas” que o Espírito desejasse que fosse manifestada na igreja. Se isto for verdade, a instrução de Paulo estaria, na verdade, limitando o Espírito Santo por limitar o número de mensagens em línguas que poderiam ser manifestadas nas reuniões. Se o Espírito Santo não desse mais de três dons de vários tipos de línguas em uma reunião, não haveria necessidade de Paulo ter dado tal instrução.
O mesmo pode ser verdade para a interpretação de línguas. Pensam que talvez, mais de uma pessoa na assembleia pode ceder ao Espírito e dar a interpretação de uma “mensagem em línguas”. Tais pessoas seriam consideradas “intérpretes” (veja 1 Co. 14:28), já que seriam usadas com frequência com o dom de interpretação de línguas. Se isto for verdade, talvez seja a isto que Paulo se referia quando instruiu: “alguém deve interpretar” (1 Co. 14:27). Talvez não estivesse dizendo que somente uma pessoa deve interpretar todas as mensagens em línguas, mas estava exortando contra “interpretações competitivas” da mesma mensagem. Se alguém interpretasse uma mensagem em línguas, não era permitido que outro interpretasse a mesma mensagem, mesmo que pensasse que poderia dar uma interpretação melhor.
Em geral, tudo deve ser feito “com decência e ordem” em reuniões de igrejas — elas não devem ser uma bagunça com declarações simultâneas e confusas ou até mesmo com intenções competitivas. Além do mais, crentes devem ser sensíveis a quaisquer incrédulos que possam estar presentes em suas reuniões, assim como Paulo escreveu:
Assim, se toda a igreja se reunir e todos falarem em línguas, e entrarem alguns não instruídos ou descrentes, não dirão que vocês estão loucos? (1 Co. 14:23).
Era exatamente este o problema em Corinto — todos falavam em línguas simultaneamente, e muitas vezes não havia interpretações.
Algumas Instruções a Respeito de Dons de Revelação (Some Instruction Concerning Revelation Gifts)
Paulo deixou algumas instruções a respeito das manifestações dos “dons de revelação” através dos profetas:
Tratando-se de profetas, falem dois ou três, e os outros julguem cuidadosamente o que foi dito. Se vier uma revelação a alguém que está sentado, cale-se o primeiro. Pois vocês todos podem profetizar, cada um por sua vez, de forma que todos sejam instruídos e encorajados. O espírito dos profetas está sujeito aos profetas. Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz. Como em todas as congregações dos santos (1 Co. 14:29-33).
Assim como havia membros do corpo em Corinto que aparentemente eram usados frequentemente com o dom de interpretação de línguas e eram conhecidos como “intérpretes”, assim também havia aqueles que eram usados com frequência com os dons de profecia e revelação e eram considerados “profetas”. Estes não eram profetas na mesma classe que os do Velho Testamento ou mesmo alguém como Ágabo no Novo Testamento (veja At. 11:28; 21:10). Seus ministérios eram limitados ao corpo de suas igrejas locais.
Mesmo podendo haver mais de três profetas presentes em uma reunião de igreja, Paulo novamente colocou restrições, limitando o ministério profético a “dois ou três” profetas. Novamente, isto sugere que quando o Espírito estava dando dons espirituais em uma reunião, mais de uma pessoa poderia render-se ao Espírito para receber esses dons. Se não for desta maneira, as instruções de Paulo poderiam resultar em que o Espírito estaria dando dons que nunca seriam aproveitados pelo corpo, já que Paulo limitou quantos profetas poderiam falar.
Se houvesse mais de três profetas presentes, os outros, mesmo restringidos de falar, poderiam ajudar julgando o que foi dito. Isto também mostraria suas habilidades em discernir o que o Espírito estava falando e possivelmente indicar que poderiam ter se rendido ao Espírito para serem usados com os mesmos dons que estavam sendo manifestados por outros profetas. Caso contrário, só poderiam julgar profecias e revelações de modo geral, vendo se concordavam com as revelações que Deus já havia dado (como as Escrituras), algo que qualquer cristão maduro pode fazer.
Paulo também disse que esses profetas poderiam profetizar sequencialmente (veja 1 Co. 14:31) e que “o espírito dos profetas está sujeito aos profetas” (1 Co. 14:32), indicando que cada profeta poderia se conter de interromper outro, mesmo quando recebe uma profecia ou revelação do Espírito para compartilhar com a congregação. Isto mostra que o Espírito pode dar dons ao mesmo tempo a vários profetas presentes em uma reunião, mas cada profeta pode e deve controlar quando suas revelações ou profecias devem ser compartilhadas com o corpo.
Isso também se aplica a qualquer dom de discurso que possa ser manifestado através de qualquer cristão. Se uma pessoa recebe uma mensagem em línguas ou profecia do Senhor, ele pode guardá-la até a hora oportuna em uma reunião. Seria errado interromper a profecia ou o ensino de outra pessoa para dar a sua profecia.
Quando Paulo disse: “todos podem profetizar, cada um por sua vez” (1 Co. 14:31), lembre-se que ele estava falando no contexto de profetas que tinham recebido profecias. Infelizmente, alguns tiram as palavras de Paulo do contexto, dizendo que todos os crentes podem profetizar em todas as reuniões do corpo. O dom de profecia é dado como o Espírito quer.
Hoje, assim como sempre, a Igreja precisa da ajuda, poder, presença e dons do Espírito Santo. Paulo instruiu os crentes de Corinto: “busquem com dedicação os dons espirituais, principalmente o dom de profecia” (1 Co. 14:1). Isto mostra que nosso nível de busca tem algo a ver com a manifestação dos dons do Espírito, caso contrário, Paulo não teria dado tal instrução. O discipulador, desejando ser usado por Deus para a Sua glória, buscará com dedicação os dons espirituais e ensinará seus discípulos a fazerem o mesmo.